Início › Fóruns › Questões sobre Filosofia em geral › Qual é o sentido da vida? › O que é a felicidade?
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03/03/2002 às 13:13 #75990Miguel (admin)Mestre
ideias/símbolos/lógica
“Olho, como numa extensão ao sol que rompe nuvens, a minha vida passada; e noto, com grande pasmo metafísico, como todos os meus gestos mais certos, as minhas ideias mais claras, e os meus propósitos mais lógicos, não foram, afinal, mais que bebedeira nata, loucura natural, grande desconhecimento”.
F.PessoaVou pensar nesses esquemas de que falou…
abs.04/03/2002 às 17:47 #75991Miguel (admin)MestreIsabel …
ref. felicidade/recusa da finitude .-
se te compreendi bem, vc associa a finitude humana com um estado de incompletude , dentre outros e menciona q nada do que nos seja oferecido pode bastar ….
ref. Spinoza …
mas se nos colocarmos como agentes da atividade infinita, na medida em que reconhecemos que além de ser parte do todo da Natureza, tomamos parte dela, descobrindo que somos o q fazemos e sentimos , sendo potência, essência e existência idênticas, formando uma identidade atemporal, de existir, ser e agir. A eternidade, na minha leitura, sempre precisará de um segundo e de um amor infinito q o faça significar ainda no presente do segundo e no passado do primeiro.
O mesmo pode suceder com a felicidade, não como algo improvável, utópico, mais dinâmico e real , na medida que pode ser vista como uma ação , alma enquanto ativa , no sentido de por exemplo, como diz Spinoza, “não gozamos da felicidade por refrearmos as paixões, mas, ao contrário , gozamos dela por podermos refrear as paixões. ”
compreendi melhor o aspecto ou carácter amnésico da felicidade mencionado anteriormente, mas continuo discordando, na medida em que a felicidade por ter essa característica , não deve estar associado ao esquecimento de tudo o resto, pois tudo o resto é inerente a esse estado de felicidade, eu acho.
perseguir .- no sentido de perseguir o último desejo …. continuo enquadrando como conquista, e nesse sentido concordo que venha a ser um projecto do incoformismo.
Alex …
“o que admitamos muito deve ser verdade “.-
eu acho q o “deve ser” indica o caracter relativo dessa realidade admitida.
“tudo o que satisfaz a alma é verdade “.-
alma como receptor do externo q a satisfaz ou de algo interno e portanto inerente a ela própria que se satisfaz …. essa frase gera algumas certas ambiguidades na minha forma de compreendê-la e de entendê-la…
tc.
05/03/2002 às 0:29 #75992Miguel (admin)Mestrekaren:
Sim, a finitude tem a ver com essa incompletude que caracteriza o ser humano. Essa incompletude contrasta com o desejo de absoluto e de infinitude e daí que nada do que seja oferecido possa, efectivamente, bastar…nesse registo, obviamente.
A eternidade é esse desejo de perdurar que se consubstancializa em momentos fugazes…Em relação ao carácter amnésico da felicidade penso que devo explicar-me melhor…tem toda a razão quando afirma que ” tudo o resto” é inerente à felicidade, certamente que sim. O que eu pretendi sublinhar é que a felicidade enquanto tal, implica o esquecimento de tudo o resto, não porque não se relacione com ele, mas porque ela implica a vivência de um tempo diferente, aquilo a que os gregos chamavam o kayrós,à semelhança do que acontece com dois amados que se encontram, portanto, enamorados, vivendo uma paixão. Cada momento vivido na presença um do outro parece entrar numa outra dimensão de tempo, de tal maneira que parece que “tudo o resto” deixa de existir, fica entre parêntesis, existindo apenas os amados e a sua paixão. É isso que, a meu ver, se poderá passar com a felicidade. Ela implica ou remete, à semelhança da paixão, para o esquecimento de “tudo o resto”, já que isso é condição da sua própria vivência. É claro que ela não existe isolada e é o resultado da confluência de uma série de factores. No entanto, a sua vivência enquanto tal, remete para a dimensão de esquecimento na justa medida do que acabei de referir acima. Por isso eu atrás dizia que a felicidade implica que não se pense e, como tal, teríamos a tal hipótese felicidade=suspensão do pensamento.
Fez referência a Espinosa Karen…mas Espinosa considera que os homens são infelizes e pretende torná-los felizes! No prefácio da sua obra Tratado Teológico-Político, ele retrata o homem (como acima já referi…) como desejo sem medida.Não será esta concepção de homem uma das razões para a adversidade e para a infelicidade humanas???
Para Espinosa, a felicidade é sabedoria, é a virtude. O saber não é um recalcamento das paixões, como bem referiu, mas é um poder refrear as paixões não as refreando mas transmutando-as em paixões positivas, delineadas pela razão. O poder de refrear as paixões nasce da própria felicidade!!!Eis a súmula do racionalismo!
O desejo é a própria essência do homem, desejo que nasce da alegria ou da tristeza. Enquanto desejo, o homem é o eterno aspirante ao bem supremo. O que alimenta a tensão é a desmesura entre o desejo e o desejado.Repare, a dimensão do desejo é a sua insaciedade…
abs.
(Mensagem editada por isabel em Marco 04, 2002)(Mensagem editada por isabel em Marco 04, 2002)
05/03/2002 às 2:00 #75993márcioMembroA felicidade (na minha opiniao) é uma ilusao. Provocada pelo nosso amigo cerebro.
Qual a finalidade da felicidade ? Porque o cerebro nos provoca tal ilusao ? Deve ser algo relacionado ao processo de manutencao da vida … Sera que a a ilusao de felicidade produzida pelo cerebro ativa alguma quimica que nos torne mais aptos a manter o processo ? Podemos tomar alguma droga nos traga felicidade ?05/03/2002 às 4:41 #75994Miguel (admin)Mestre“Qual a finalidade da felicidade ? Por que o cérebro nos provoca tal ilusão ? Deve ser algo relacionado ao processo de manutenção da vida …”
Uma vez que a felicidade é posta como ilusão, a infelicidade também seria uma ilusão…assim como: medo e “paz de espírito”, ódio e amor, tudo¹…
E sim, isso exerce influência em nossa experiência de vida, ou como o colega diz, processo de manutenção da vida.
Para tratarmos desta ilusão, o cérebro e a mente devem estar incluídos na discussão. Acho que um novo tópico seria o certo para isso.Abraços.
¹ Relativo à percepção humana, toda.
http://www.terravista.pt/ancora/2254/apoio/kant.htm
(link interessante sobre A Problemática do Conhecimento, já que falei em percepção.)05/03/2002 às 13:54 #75995márcioMembroPor mim tudo bem, embora entenda que possamos continuar por aqui mais um pouco afinal o foco continua sendo a felicidade.
Daniel, concordo com sua extensao de que muita coisa (tudo é meio forte) é ilusao. Permita-me incluir mais uma na sua lista: dor.
A ilusao de felicidade/infelicidade pode ser um agente de mudança provocado pelo cerebro quando este esta no “piloto automatico” ou na ausencia de pensamentos na mente.
Exemplo: se por algum motivo as minhas condicoes de manutencao da vida nao estivem bem, o cerebro induz na mente uma sensacao de infelicidade e eu inicio um processo de mudança.Porem, entendo que nos tambem podemos iludir o nosso cerebro (treinamento), induzindo-o a uma condicao artificial de felicidade/infelicidade.
Essas condicoes artificiais acabam por nos levar a entrar naquele imenso loop/circulo que no limite pode nos trazer de volta a origem.
05/03/2002 às 14:47 #75996Miguel (admin)MestreMárcio
Droga que traga a felicidade propriamente dita, eu penso que não…mas um bocadinho de Prosac ajuda nesse embuste de felicidade!….Será por isso que ele vende como aspirina???Só há felicidade em “frascos” e tem de ser prescrita…preciso do outro para ser feliz!!!
Sucedâneos de felicidade, Marcio, tem toda a razão.05/03/2002 às 15:12 #75997Miguel (admin)MestreDaniel
Não vejo por que colocar a felicidade no registo da ilusão implique também colocar a infelicidade nesse registo igualmente. A felicidade tem o seu polo, o seu desvalor que é a infelicidade. Não têm de ser as duas ilusão…pelo contrário, penso que só podemos ter consciência do que é ilusão por referência ao que é supostamente contrário, isto é, a realidade (é claro que poderíamos ir por aqui fora a perguntar por aquilo que é a realidade, etc,etc…),logo, a ilusão da felicidade suporia a realidade da infelicidade…
05/03/2002 às 16:50 #75998Miguel (admin)MestreIsabel,
Entendi seu ponto de vista.Deixe-me explicar minha visão:
Quando postei a última mensagem, eu não fiz a divisão entre felicidade e infelicidade; coloquei estas duas palavras como parte de um mesmo objeto, assim como o “tudo”: resultado da percepção. Estas vertentes, embora pareçam opostas em seus sentidos(feliz – infeliz, dor – prazer), são iguais; sentimentos. Têm pólos apenas no que é referido ao cognitivo. Eis minha pobre idéia: se um sentimento é uma ilusão, supõe-se(eu suponho) que todos os outros também sejam. É claro que há muita discussão sobre isso, pois, como diz: “(…) só podemos ter consciência do que é ilusão por referência ao que é supostamente contrário, isto é, a realidade (…)”.Dentro do cognitivo, e se usássemos a idéia de positivo(+) e negativo(-), teríamos uma rua de mão dupla: poderia então a felicidade ser real enquanto a infelicidade é ilusão?…Vice-versa…vice-versa…
E o que seria a linha divisória entre real e imaginário? Seria o Pensamento?…Ou esse estaria dentro de uma das duas partes?…Espero não ter sido muito confuso…
05/03/2002 às 22:11 #75999Miguel (admin)MestreIsabel
ref. finitude /incompletude .-
a finitude q contrasta com o desejo absoluto e a infinitude / eternidade , de modo que tudo o que nos seja oferecido não bastará ….. o problema é esperar que a felicidade, vista como o desejo absoluto perpetuado – nos seja outorgado , a felicidade é um estado que está implícito na própria condicionalidade do homem, na medida em que consegue se elevar acima de toda essa condicionalidade e de resistir às forças contrárias graças ao poder de resistência do espírito.
Nesse sentido, discordo um pouco da visão de Spinoza , na medida em que afirma q a essência do homem é o desejo ( desejo psíquico), que enquanto realizado aumenta a força de existir ( alegria) e enquanto desejo frustrado, diminue essa força de pensar e de existir (tristeza), colocando a tríade desejo, alegria e tristeza como variáveis de todo o resto ; concordo em partes, na medida em que coloca em igualdade de condições o corpo-alma, pois uma forma de atuação seria passional e passiva ( não adequada) e por outro lado livre e ativa ( adequada), naturalizando a paixão, no entanto, acredito que essa transmutação como vc mencionou em paixões positivas, não seja mediada por uma razão digamos imperialista, capaz de exercer um pleno império da alma sobre o corpo, e sim acredito que deva ser efectuada mediante um processo , não de raciocínio lógico, e sim um processo q envolva sentimentos, vontades e pensamentos corretos, e uma decisao que não quer dizer que o corpo comande a alma , nem a alma comando o corpo.
Acredito que , nesse sentido, a felicidade vista sob o óptica desse desejo transcenda o que entendemos por desejo usualmente, e/ou mesmo como força de vontade interior, pois seria reduzir a felicidade a uma visão parcial , nem sempre o que desejamos é bom …. e nem sempre é bom porque o desejamos.ref. carácter anmésico da felicidade .-
compreendi o aspecto da suspensao do pensamento e do fato de vivenciar em outro nível ou tempo.- mas continuo discordando , ainda utilizando um recorte de Spinoza :
” Da mesma maneira ainda, aqueles que foram deixados por suas amantes só pensam na inconstância das mulheres e na sua falsidade e outros defeitos femininos bem decantados; e tudo isso é esquecido se as amantes os recebem de novo “.
penso q seria conveniente para elucidar o carácter anmésico da felicidade, ou mesmo no caso de amantes apaixonados q vivem num tempo surreal, não só concordo como já vivi esse lapso anmésico, mais discordo de esquecer de tudo resto, pois para que a felicidade seja de fato felicidade , deve-se conhecer a natureza dessa paixão, no caso das amantes, talvez o sujeito ao invés de esquecer deveria avaliar o acontecido para poder refletir sobre a situação e dar proseguimento ou não, caso contrário corre o risco de se iludir, e no caso dos amantes apaixonados , a paixão vai ser amadurecida e vivenciada realisticamente com tudo o que isso implique, a “felicidade” não deve ser desculpa para agir de forma inadequada ( paixão negativa ) ou como pretexto para se iludir.
Concordo que remete a uma dimensão de não pensamento, mais é temporária e pode pode vir a ser perturbadora ou alienante, na medida em que esse desejo insaciável poderá vir se transmutar em uma carência insaciável.
ref. felicidade Spinoza .-
o pouco q li sobre a filosofia de Spinoza me remete a uma filosofia da felicidade e da alegria, na medida em que busca um estado de contentamento e de plenitude, … vc menciona não ser esta concepção de homem uma das razões para a adversidade e para a infelicidade humana ?
se colocarmos no nível do desejo versus o desejado, o adverso vai estar implícito nessa tensão e a infelicidade vai ser eterna, pois está fadado à frustração, enquanto desejo, mas , por outro lado, se colocarmos a felicidade como algo q consiste em um amor para com um Deus , na linha de Spinoza e ao mesmo tempo fazendo uma interpretação holística da felicidade , como algo que , como mencionei anteriormente, está num nível tácito, e não fragmentado, essa felicidade depende muito da qualidade do ser e do todo ao qual nos unirmos por amor.
Márcio …
a felicidade sob a óptica de ilusão … será q admitir a felicidade implicaria em admitir tb sua sutileza em termos espirituais e portanto fica mais confortável enquadra-la como uma ilusão ?
a dor mais tangível e por vezes cruel e mestre, sob a óptica da realidade, implicaria numa mutação dessa própria realidade ? ….
tc.
05/03/2002 às 22:39 #76000márcioMembroEssas coisas da mente realmente nos confundem.
Falar é facil, mas entendo que uma pessoa infeliz pode tomar uma atitude puramente mental e ficar feliz. Seria tudo uma questao de ajuste nas ilusoes, ou como diz o Daniel, nos pensamentos que de uma forma geral, modificam favoravelmente (ou nao) o nosso cerebro tornando-nos implicitamente felizes ou infelizes.
Entendo que fatores externos interferem imensamente na nossa felicidade/infelicidade, mas entendo tambem ser possivel neutralizar boa parte dessa ameaca externa apenas ajustando a mente.05/03/2002 às 22:51 #76001márcioMembroKaren, acho que nao alcancei sua colocacao sobre “felicidade em termos espirituais”.
O enquadramento em termos de ilusao é simplesmente porque ela (a felicidade) esta dentro da mente (que tem a capacidade de ver as ilusoes).05/03/2002 às 22:54 #76002Miguel (admin)MestreAlex,
vou retomar uma frase sua “a felicidade como uma masturbação .. (alegria) …
Freud, por exemplo, focaliza a adição como substituição ao ato sexual, existindo uma ligação com a masturbação e, por outro lado, como forma de evitar o desprazer e buscar a felicidade .
será que a adição, a masturbação seria mecanismos de ajustes mentais ou seria um desejo recusado, uma felicidade/desejo utópico e portanto recusado ?
tc.
05/03/2002 às 23:18 #76003Miguel (admin)MestreDaniel
De facto, acho que me tinha escapado qualquer coisa. Felicidade e infelicidade fazem parte de um todo segundo diz, são iguais embora não pareçam, porque são sentimentos, certo? É isso?
Ora bem…penso que a diferença é a que existe entre a ilusão e a “realidade”…Com o que disse fez-me lembrar Heraclito “A estrada que sobe e a que desce são uma e a mesma” (fgt.60), isto é, a Identidade corre através da Diferença e a Diferença está no próprio coração da Identidade!!! Por isso Heraclito diz que “em, nós é a mesma coisa a vida e a morte, a vigília e o sono, a juventude e a velhice, porque estas se transformam naquelas e, inversamente, aquelas se transformam nestas”.
Quando pergunta pela linha divisória entre o real e o imaginário…bom, isso é muito complicado. Penso que o pensamento está na consciência do estado de infelicidade, porque a felicidade, como já referi, implicaria a suspensão do mesmo, não? Assim, partindo do suposto que só poderá ser real (muito polémico mesmo assim…) aquilo de que temos consciência (mesmo que a realidade disso se resuma à percepção individual) e tendo só consciência da infelicidade, então essa é a realidade e a felicidade ilusão. Pergunto eu, agora, muito confuso? Deixe-me tentar “imitar” o estilo do Marcio na lógica e clareza que imprime às coisas….
Se Realidade=>ter consciência
e ter consciência=>infelicidade
logo
realidade=infelicidade
e
Ilusão=felicidade…abs.
06/03/2002 às 0:38 #76004Miguel (admin)MestreKaren:
“a felicidade é um estado que está implícito na própria condicionalidade do homem, na medida em que consegue se elevar acima de toda essa condicionalidade e de resistir às forças contrárias graças ao poder de resistência do espírito”, disse.Eu não tenho essa visão optimista do homem…penso que numa pequena minoria de pessoas isso poderá acontecer, de resto, se olharmos à nossa volta vemos demasiada frustração, negatividade, desespero, vazio…
“a essência do homem é o desejo ( desejo psíquico)”- o desejo é para Espinosa o apetite de que se tem consciência, isto é, ele racionaliza o desejo e, ao fazê-lo, transforma-o em necessidade. A questão do desejo é que quanto mais desejo, mais desejo desejo; quanto mais sei mais quero saber…o desejo é a raíz das paixões.É o tal desejo sem medida a que me referia quando deixei no ar a pergunta “não será esta concepção de homem (desejo sem medida) uma das razões para a adversidade e infelicidade humanas?”. Para Espinosa todos vivem na adversidade só que nem todos têm consciência disso!…
“talvez o sujeito ao invés de esquecer deveria avaliar o acontecido para poder refletir sobre a situação”…aí está a racionalizar e isso é incompatível com o estado nascente da paixão. Quando racionaliza, avalia, já está noutro patamar, já está a querer construir, fundamentar o seu sentimento…aí está a entrar num outro registo.
“esse desejo insaciável poderá vir se transmutar em uma carência insaciável”- isso é o que define a paixão (não?) enquanto estado e é isso, ao mesmo tempo, que a torna efémera dando lugar a um outro patamar-o amor.
abs.
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