MIGUEL CALMON DU PIN E ALMEIDA (Marquês de Abrantes)

Biblioteca Academia Paulista de Letras – volume 7.

História da Literatura Brasileira TOMO I. vol 3.

 LIVRO PRIMEIRO Época de Transformação (século XIX) 2º período (Fase Patriótica)

Artur Mota (Arthur Motta) (1879 – 1936)

Capítulo V – PRIMEIRO IMPÉRIO — ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE (continuação)

 

MIGUEL CALMON DU PIN E ALMEIDA (Marquês de Abrantes)

Nasceu a 26 de outubro de 1794, (13> na vila, hoje cidade de Sto. Amaro (província da Bahia), no distrito de Patativa, onde se achavam os engenhos do pai, e batizou-se a 11.2.1795, na capela da fazenda.

BIBLIOGRAFIA

1) Relatório dos trabalhos do Conselho Interino do governo da província da Bahia, em prol da regência e império de D. Pedro e da independência política do Brasil. Bahia. 1823, 24 págs.

2) Resposta justificada à declaração franca que fez o General Labatut de sua conduta enquanto comandou o exército imperial e pacificador da província da Bahia. Bahia, 1824, 58 págs. com um mapa.

3) Cartas políticas de Americus. Londres, R. Greenhaw, 1825-26, 2 vols. in 8.°, de IV-IX-262 e 11-241 págs. <")

4) Documentos com que instruiu o seu relatório o Ministro da Fazenda, etc, na sessão de 1828. Rio de Janeiro. 1828.

5) Falas sustentando o orçamento do Ministério da Fazenda, nas sessões da Câmara dos Deputados de 21 e 28-8-1829. Rio de Janeiro, 1829, 39 págs.

(13) Sacramento Blake indica a data do nascimento como sendo 22 de dezembro de 1796.

(14) Inocêncio Silva julga que "Americus" tivesse sido o jornalista José Joaquim Ferreira de Moura. Diz que as "Cartas políticas" foram primeiramente publicadas no "Padre Amaro" ou "Sovela política", jornal redigido por Joaquim Ferreira de Freitas. Declara, porém, que também eram atribuídos a Miguel Calmon. Sacramento Blake atribui a autoria a Miguel Calmon, que partiu para a Europa, quando foi dissolvida a nossa Constituinte, e esteve com Joaquim Ferreira de Freitas em Londres, onde era publicado o "Padre Amaro", desde 1820. Achava-se na Europa em 1825.

Tancredo de Barros Paiva, no "Dicionário de pseudônimos", dá "Americus" como sendo Miguel Calmon.

6) Ensaio sobre o fabrico do açúcar, oferecido à Sociedade Agr. Com. e Ind. da província da Bahia, Bahia, 1834.

7) Memória sobre a cultura do tabaco, oferecida à Sociedade Agr. Com. e Ind. da Bahia. Bahia, 1835, 41 págs.

8) Memória sobre o estabelecimento de uma companhia de colonização nesta província. Bahia, 1835.

9V Memória sobre os meios de promover a colonização do Brasil — Berlim, 1846, 64 págs.

10) A missão especial do Visconde de Abrantes, de outubro de 1844 a outubro de 1846. Rio de Janeiro, Tip. de Paula Brito, 1853, 2 vols., de 333 e 488 págs.

11) Terras devolutas e colonização, discurso proferido na sessão do Senado de 3-8-1850, etc. Encontra-se nos "Anais do Senado" e no "Auxiliador da Indústria Nacional", 1850, pág. 81.

12) Discurso recitado pelo Sob G. M. G. Com. da Ord. Maç. no Brasil, na sessão de G. O. em o dia 16-4-1861, Rio de Janeiro, 1861, 4 págs.

13) Estatutos do Imp. Inst. Fluminense de Agr. — Rio de Janeiro, 1860, 12 págs.

Há, do Marquês de Abrantes, vários relatórios apresentados à Assembléia Legislativa, como ministro de Estado.

Na "Rev. do Inst. Hist. e Geog. Bras." encontram-se os seguintes trabalhos: "Qual a origem da cultura e comércio do anil entre nós e quais as causas do seu progresso e da sua decadência?" (1851) vol. 15, pág. 42; "Discurso pronunciado pelo conselheiro…" em 14.3.1844, como orador da deputação nomeado pelo Instituto, para cumprimentar S. M. pelo aniversário natalício da Imperatriz", vol. 6, pág. 132; "Carta ao Marquês de Rezende" (1829), vol. 80, pág. 376.

FONTES PARA O ESTUDO CRÍTICO

 Barão de Vasconcelos — Arquivo Nobiliárquico Brasileiro, pág. 26.

 Dicionário biográfico de brasileiros célebres, pág. 161.

 Eunápio Deiró — Diário do Comércio, 19 de abril de 1891.

 Heitor Muniz — O Brasil de ontem, pág. 237.

 Lopes de Mendonça — Memórias de literatura contemporânea, pág. 343.

Era mais propenso à feição do economista do que à missão do financeiro; mas reconhecia que, sem resolver os complicados problemas de finanças, não podia desenvolver qualquer plano referente a assuntos econômicos.

Sobre as qualidades que lhe definiam a arte oratória, assim se externou o seu parente Pedro Calmon, no carinhoso estudo sobre a individualidade do seu antepassado:

"A seu serviço, teve a palavra caudalosa, de uma eloqüência grave, sem demasias tropicais nem ênfases, principalmente correntia e sonora, como um rio límpido que se desdobrasse velozmente em leito igual. Sentia-se orador político à moda inglesa, e, toda a vida, cultivou essa retórica desataviada, mas incisiva, que era um raciocínio em marcha, fluente e abundante, desprezando o aparte, desdenhoso das interrupções, como um dardo que se lança ao alvo numa trajetória segura. Nos "Anais" da Assembléia Geral não se lhe depara um diálogo, nem se lhe descobre, senão raramente, traço de uma cólera em que se envolvesse o tribuno. Falava, na sua vez, senhor dos seus nervos, dominado pelas suas intenções, e dizia tudo, como se uma distância inesperada o afastara do recinto turbulento e aquela tribuna fosse tão alta que mal lhe chegasse o burburinho da platéia. Puseram-lhe a alcunha de "Canário", tanto pelo harmonioso timbre de voz, como pela imperturbabilidade dela." (15)

Sobre a fluência do orador, outros testemunhos oferecem os contemporâneos, como o historiador Armitage. (16) Joaquim Nabuco afirma que seu pai, Nabuco de Araújo, em 1828 e 29 "corria à galeria das Câmaras para ouvir Vasconcelos, Ledo, Calmon, Paula Sousa, D. Romualdo, Lino Coutinho". (17) E Machado de Assis assim se exprimiu, evocando o velho Senado: "De Abrantes dizia-se que era um canário falando. Não sei até que ponto merece a definição; em verdade achava-o fluente, acaso doce, e, para um povo mavioso como o nosso, a qualidade era preciosa…".

Como ministro de estrangeiros, pautou a sua atitude e os seus hábitos nos moldes ingleses, segundo as lições de Canning, Brummell e Chattam. Introduziu as recepções diplomáticas, o uso da sege suntuosa, a cortesia polida de um chanceler, a sociabilidade aristocrática, a reforma de costumes aceita por alguns sucessores, como a ensaiar o futuro salão da Marquesa de Abrantes, no segundo reinado, sem descurar, todavia, das magnas questões internacionais.

Dirigiu-se novamente para a Europa, profundamente magoado pela demissão intempestiva.

(15) Pedro Calmon — "O Marquês de Abrantes", pág. 88.

(16) Armitage — "História do Brasil".

(17) Joaquim Nabuco — "Um estadista do Império".

No salão da marquesa exibiram-se as melhores cantoras de companhias líricas: Candiani, Stolz…; ali se exibiram Carlos Gomes, Gotschalk, Gianini…; ali se criou a arte fina da conversação; ali apareciam o. Marquês de Olinda, Sapucaí, Caxias, Abaeté, Ita-nhaém, Tamandaré, Rio Branco, Cotegipe, Saraiva, Zacarias, Junqueira, Ferraz e tantos outros políticos de nomeada. O salão nobre, de austero gosto artístico, onde as mais belas damas do tempo exibiam as toaletes do Wallerstein, com ademanes aristocráticos, quando dançavam minuetos, era freqüentado pelos homens de letras: Alencar, Macedo, Taunay, Maciel Monteiro, Paranapiacaba, Torres Homem, Justiniano da Rocha… Mesmo D. Pedro II comparecia aos bailes do casal Abrantes. Deixou fama de centro de elegância requintada, de fina cultura e de luxo feminino.

Serviu de modelo a outros salões: do Conde da Boa Vista, do Visconde de Cavalcanti, de Pereira da Silva e de tantos mais.(18)

A missão especial que levou Abrantes à Europa, para tratar da situação do Prata, perante os governos da Inglaterra, França e Alemanha, em reiteradas conferências com lord Alberdeen, Guizot e Bulow, encontra-se bem explanada e discutida em sua obra principal. (19)

Além dos serviços prestados ao país, na administração pública, nas missões diplomáticas, na restauração financeira, em problemas econômicos e na política geral, o Marquês de Abrantes dedicou-se à caridade pública, continuando a ação de José Clemente, na provedoria da Santa Casa da Misericórdia. Prestou relevantes serviços, durante 15 anos, à Sociedade Auxiliadora da Indústria, e outros tantos à Sociedade de Agricultura da Bahia. Foi sócio fundador da Academia de Música e Ópera Nacional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, do Instituto Histórico Baiano e de outras associações.

A questão de Christie constituiu a sua última vitória, tornou-se o seu canto de cisne.

A história registra essa importante vitória do ministro de estrangeiros, em face da arrogância insólita e atrevida do ministro inglês.

Não fossem a energia inflexível e o bom senso do Marquês de Abrantes, seria declarada a guerra entre o Brasil e a Inglaterra. Soube ele refrear a ação impulsiva de Christie e deslocar a questão para o terreno em que devia ser discutida. O árbitro escolhido, o governo da Bélgica, decidiu o caso a nosso favor e tivemos a reparação da ofensa recebida.

(18) Vide Elísio de Carvalho — "O esplendor e a decadência da sociedade brasileira"; Heitor Moniz — "O Brasil de ontem"; Pedro Calmon — "O Marquês de Abrantes".

(19) "A missão especial", 2 volumes.

 

O marquês teve o prazer de conhecer o resultado da sua atitude enérgica, em face da agressão irrefletida e bastante censurada por parte de Christie. Morreu satisfeito.

SUMÁRIO PARA O ESTUDO COMPLETO

No solar do senhor de engenhos — A vida no recôncavo — Es tu dos em Nazaré — O curso universitário — A situação no Brasil quando terminou os estudos — Sua missão no regresso à pátria — Os acontecimentos na Bahia — Na Constituinte — Ação do deputado -O ministro da fazenda em vários gabinetes — O chanceler — Sua viagens à Europa — No salão da Marquesa de Abrantes — O sena dor — Títulos de benemerência — O político prestimoso — O teste munho da guerra da Independência — As "Cartas políticas" — Medi das financeiras — Contribuições para o desenvolvimento da agricul tura e da indústria — "A missão especial" — A colonização do pai — A questão Christie — O canário — Canto de cisne.

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