OS GRANDES FILÓSOFOS GREGOS

O livro das Maravilhas da Filosofia

Henry Thomas

GRANDES FILÓSOFOS GREGOS

Antigos filósofos gregos – Estranhas noções a respeito do mundo

OS antigos filósofos gregos tinham Idéias caracterís-ticas a respeito da natureza do mundo em que vivemos. Tales (cerca de 636 anos A. C.) acreditava que cada coisa, incluindo o sol, a lua, as estrelas, a terra, as árvores, as flores, os animais, as aves e os seres humanos que habitam a terra, provieram, originalmente, de uma única e mesma substância: a água.

Outro dos antigos filósofos, Anaxímenes, dizia que tudo era feito de ar. A vida, explicava êle, é ar. Lançado pelas narinas, formou o coração, os pulmões, os músculos, o sangue e todas as outras partes do corpo. O ar se condensou para formar o vapor. O vapor solidificou-se para formar a água. A água condensou-se para formar lodo, areia e rochas. E assim por diante, por toda a escala da criação.

Ainda outros filósofos acreditavam que o fogo era a substância criadora de todas as coisas. O sol era puro fogo. As estrelas eram centelhas brotadas do sol na infinita fogueira dos céus. A terra era fogo resfriado em rochedos. As flores eram pedaços de chama colorida, com a forma de leves e fragrantes pétalas. E o homem um punhado de cinzas, ardendo na chama da vida, graças ao benigno calor do sol.

São estas algumas das engenhosas e poéticas teorias a respeito do mundo. Os antigos gregos eram grandes poetas, mas não eram cientistas. Eram as crianças ainda não amadurecidas da espécie humana. O pensamento duma criança é imaginativo. Para se tornar científico necessita de um intelecto amadurecido.

Quando o pensamento grego começou a desenvolver-se, as teorias dos filósofos tornaram-se menos especulativas e mais analíticas. Principiaram a raciocinar, em vez de fazer conjecturas. Seu raciocínio era ainda rude e suas conclusões muitas vezes espantosas. "Nada há tão absurdo, escrevia Cícero, que se não encontre nos livros dos filósofos". Não obstante foram eles gradualmente traçando o seu caminho. Nas suas cegas apalpadelas, dirigiam-se instintivamente para a luz. Para eterna glória de Atenas, foi que um de seus antigos filósofos, Demócrito, descobriu a teoria atômica 2.400 anos antes de nossa era atual.

O professor de suicídio

NOS seus primitivos tacteios em busca da verdade, os filósofos gregos embrenharam-se em curiosos desvios de especulação. Um desses filósofos, Hegesias, chegou à convicção de que a vida era um engano trágico e que todos os homens o melhor que tinham a fazer era morrer. Em consequência dedicou toda a sua vida à pregação do ideal da morte. Organizou numerosos clubes de suicidas e induziu muitos rapazes ao suicídio. Quanto a êlc mesmo, viveu até a bem madura idade de oitenta anos. Quando lhe perguntavam porque êle próprio não praticava o que pregava, dava uma resposta bem lógica. "Sou a única pessoa na Grécia que pode induzir os jovens ao suicídio. Se eu morrer, não haverá ninguém que me tome o lugar. É, pois, meu dever penoso viver, afim de poder ensinar aos outros o prazer delicioso da morte".

Sócrates – O filósofo governado pela mulher Xantipa

MOSTROU ao mundo o caminho para as estrelas.

Mas sua mulher era quem o levava pelo nariz. Foi a sina de Sócrates, olhado por muitos como o homem mais sábio da história.

Sócrates era feio como um palhaço e manso como um santo. Só havia um tipo de homem a quem êle odiava: o hipócrita. Sentia prazer especial em chamar a atenção para aqueles que pensavam uma coisa e diziam outra, e especialmente para aqueles que pretendiam ser sábios, quando não passavam de tolos. Chamava a si mesmo de moscardo, porque estimulava as pessoas a pensar. Outro apelido favorito, que lhe era grato dar a si mesmo, era o de parteira intelectual, porque auxiliava muita gente a dar nascença a suas próprias idéias.

Com o corpo envolto num áspero manto, a cabeça descoberta e os pés descalços, vagava pelas ruas de Atenas e permitia a todos que se abeberassem avidamente na sua inesgotável taça de sabedoria. Tinha a profissão de escultor, mas raramente nela trabalhou. Preferia moldar idéias abstratas, em vez de afeiçoar estátuas concretas. Sua maior ambição era ser não somente um mestre, mas um benfeitor da humanidade. Seu coração era tão grande quanto seu pensamento. Desejava ver a justiça social estabelecida em todo o mundo. E contudo — estranho milagre de contradições que êle era — deixava que sua família morresse de fome. Tratava dos negócios alheios e esquecia os seus. Não é de admirar, portanto, que sua mulher o recebesse, nas suas infrequentes visitas ao lar, com trovões e chuva: o trovão de sua língua e a chuva de seu barril.

Sua mulher chamava-se Xantipa (que significa Cavalo Amarelo) e esse nome passou a denominar até os nossos dias uma mulher de mau gênio e briguenta.

Para Xantipa, Sócrates era um mandrião, mas para os jovens atenienses um deus. Convidavam-no a ir a suas casas e o escutavam cheios de admiração, quando êle desenvolvia suas extraordinárias idéias. Tinha êle um meio característico de expressar suas idéias. Afim de transmitir o saber, jamais respondia a perguntas. Pelo contrário, fazia perguntas. Afirmava com insistência que nada sabia. "Sou o homem mais sábio de Atenas, dizia, porque só eu sei que nada sei." Por isso tentava aprender de to-<ios e no processo de aprender, ensinava a seus mestres.

A essência de todo o seu ensinamento pode ser condensada nestas palavras: Conhece-te a ti mesmo. O saber, de acordo com Sócrates, é uma virtude. Se os homens cometem crimes é que são ignorantes. Não conhecem outra coisa melhor. Diferentemente do filósofo chinês Lao-tze, Sócrates acreditava que o melhor remédio para o crime era a educação. Por isso deu como objetivo à sua vida ensinar aos outros.

Infelizmente, nem todos queriam ser educados. Pensar era coisa penosa e muitos tratavam de evitar essa pena. Além disso, os políticos de Atenas não gostavam de seu método de fazê-los parar na rua para dirigir-lhes perguntas embaraçantes. E então se reuniram e resolveram livrar-se de Sócrates. Um dia, quando chegava êle ao mercado, para seu cotidiano debate filosófico, encontrou o seguinte aviso, colocado na tribuna pública:

"Sócrates é criminoso. É ateu e corruptor da mocidade, A pena de seu crime é a morte."

Foi preso e julgado por um juri de todos aqueles políticos cuja hipocrisia denunciara nas praças públicas. Não estavam dispostos a conceder-lhe perdão. E mesmo se assim se mostrassem, Sócrates estava decidido a marchar altivamente para a morte. Não pediria misericórdia. Pelo contrário, disse a seus juízes que sua obrigação era falar a verdade e não defender-se em juízo.

Os juízes consideraram-no culpado. Quando lhe perguntaram qual deveria ser a sua punição, êle sorriu sar-caaticamente e disse: "Pelo que fiz por vós e pela vossa cidade, mereço ser sustentado até o fim de minha vida a expensas públicas."

Mas os juízes não podiam concordar com semelhante coisa. Condenaram-no à morte. E assim o mais sábio homem de todos os tempos, foi obrigado a acabar a vida como um criminoso. Durante trinta dias conservaram-no numa cela funerária e depois deram-lhe a beber uma taça de veneno. Seus mais queridos amigos, presentes ao seu último momento, choravam como crianças. Unicamente Sócrates permanecia calmo, discutindo tranquilamente a significação da vida c o mistério da morte. Quando afinal sentiu que seus membros esfriavam, despediu-se deles com as mesmas imortais palavras, com que se dirigira aos juízes que o haviam julgado:

"E agora chegamos à encruzilhada dos caminhos. Vós, meus amigos, ides para vossas vidas; eu, para a minha morte. Qual seja o melhor desses caminhos, só Deus sabe".

PLATÃO – O estupendo prestidigitador de idéias

UM dos mais jovens discípulos de Sócrates foi um aristocrata ateniense, chamado Platão. Era campeão de atletismo (Platão significa de ombros largos), estudante brilhante e membro de uma família ateniense, altamente respeitada e riquíssima. Foi, na verdade, um dos poucos filhos favoritos da fortuna que já existiram. Contudo sua amizade por Sócrates quase lhe custa a vida. Foi obrigado a deixar a cidade e somente doze anos depois é que pôde ter certeza de que não havia perigo em regressar.

Passou esses doze anos viajando e estudando. Absorveu a sabedoria dos egípcios, dos chineses, dos indús e dos judeus, transformando em uma filosofia própria o que o pensamento destes povos tinham de melhor. Essa filosofia é geralmente olhada como a maior aproximação da sublimidade jamais atingida pelo pensamento humano.

Quando regressou a Atenas, na idade de quarenta anos, abriu uma escola filosófica que tomou o nome de Academia pela razão de se reunirem mestres e discípulos nos jardins de um rico cidadão chamado Acádemo.

Sua filosofia baseava-se na vaidade das coisas e na importância das idéias. As coisas desaparecem, as idéias ficam. As coisas desfazem-se em pó; as idéias permanecem. As coisas, em suma, são mortais, as idéias são eternas. "O mundo em que vivemos, dizia êle, não é senão uma prisão, escura cela em que nada mais podemos ver e ouvir senão fracos esboços de belas imagens. É como se estivéssemos acorrentados numa caverna, onde podemos ver as coisas apenas parcialmente, e, como que através dum baço espelho, os esplendores dos céus que se desdobram lá por fora, por cima da entrada da caverna. Os objetos que vemos nesse espelho embaciado (o espelho de nossos sentidos terrenos) são simples sombras da realidade. O mundo perfeito, o mundo real, existe como uma Idéia Divina no céu, e o mundo em que vivemos é apenas uma imagem imperfeita dessa Idéia Divina."

E assim o filósofo-atleta corria da terra para o céu e fazia prestidigitação com suas idéias, de estrela para estrela. Tão sutis eram os lampejos de sua fantasia que os mais profundos pensadores do mundo só com a maior dificuldade podem acompanhá-lo. Mas uma vez por outra. Platão descansava, de sua esbaforida jornada através dos céus, pousando sobre a terra. E então podemos ver o seu estupendo espírito, a bem curta distância, e nossos próprios espíritos se incendeiam diante do brilho e da beleza do pensamento dele. Tem-se a veracidade desse acerto ao ler-se a sua celeste descrição do paraíso terrestre: a famosa República de Platão.

Sua República é a primeira Utopia da história.

Lancemos um olhar a essa imaginária terra desejada pelos corações. As crianças dessa República ideal estão sob especial cuidado do estado. Até a idade dos vinte anos, recebem todas a mesma educação. Essa educação consistirá, em larga escala, de ginástica e música, ginástica, para desenvolver a simetria do corpo e música, para desenvolver a harmonia da alma.

Depois de inteiramente educadas nesses dois campos, as crianças devem ser submetidas a uma cuidadosa escolha (na idade de vinte anos). As dotadas apenas de pe-que na capacidade mental hão de ser relegadas para as classes mais baixas: as dos lavradores. As restantes têm de continuar sua educação por mais dez anos. Essa educação adiantada, ou de colégio, consistirá num estudo completo das ciências: aritmética, geometria e astronomia.

E depois, na idade de trinta anos, vem a secunda prova. Os que fracassarem nos exames são reunidos para formar a classe média: a dos soldados. Os restantes têm permissão para continuar sua educação superior. Sua principal disciplina é agora a filosofia e a ciência do governo. São exercitados para governar, porque deverão ser os dirigentes do estado. Esse adestramento superior dura uns cinco anos ainda.

Os estudantes da escola superior têm agora trinta e cinco anos de idade. Durante os seguintes quinze anos, servem como "aprendizes da vida", porque devem "tomar o fluxodo mundo, antes de ficarem prontos para governá-lo.

E agora, finalmente, esses filósofos, amadurecidos quer na teoria, quer na prática, devem tomar o leme do estado em suas inteligentes mãos. O estado ideal, insiste Platão, deve ser governado por filósofos. "A menos que os filósofos se tornem governantes, ou os governantes estudem filosofia, não terão fim os dissabores humanos." A finalidade desses governantes-filósofos é estabelecer a justiça universal entre os homens.

Lançámos até agora uma vista para a Cidade de Justiça, de Platão, do lado de fora. Penetremo-lhes as portas e vejamos que espécie de lugar é ela. Como podereis prontamente verificar, é na verdade um lugar estupendo. Primeiramente, Platão expulsou todos os poetas dessa cidade — e o próprio Platão era um dos maiores poetas! Por que tão drástica expulsão? Porque os poetas enchem nossas cabeças de histórias imaginárias e isso nos incapacita para a vida prática. Outro aspecto surpreendente dessa cidade é a minguadíssima estima em que são tidos os homens de negócio. Os negócios, dizia Platão, são degradantes. É impossível ter êxito neles e ser honesto ao mesmo tempo. Um comerciante, portanto, é um homem digno de desprezo. Um criminoso, por outro lado, é um homem digno de piedade. Se um homem comete um crime, é porque é ignorante ou louco. Se é ignorante, deveis tentar ensiná-lo; se é louco, deveis tentar curá-lo. Em nenhuma condição, deveis puní-lo com espírito de vingança.

A doença física, como a doença mental, são devidas à ignorância. Curai os doentes e educai-os para ser sãos. Os que não podem ser curados, devem ser misericordiosamente condenados à morte.

O crime e a doença devem, pois, ser eliminados por meio duma sábia educação. A lei, outro dos males da República de Platão, deve ser eliminada por meio duma sábia legislação. Não haverá advogados na República. Onde há justiça, acredita Platão, não há necessidade de lei.

Estas são apenas algumas das características da República de Platão. Quando êle concebeu o plano de seu Estado Ideal, seu pensamento compreensivo examinou quase todas as possíveis atividades humanas, de quase todos os possíveis ângulos de visão. Suas simpatias eram totalmente modernas, porque totalmente universais. Discutiu, no quinto século, antes de Cristo, numerosas questões vitais, que ainda não foram firmadas no século XX, depois de Cristo.

Advogou, entre outras coisas, o amor livre, a restrição da natalidade, a igualdade dos sexos, a abolição da pro-priedade privada, a proibição do álcool e o casamento eu-gênico. Acima de tudo, porém, pregou a doutrina da justiça social e da universal fraternidade humana.

Realmente, não só pregou a doutrina da fraternidade, mas tentou pô-la em prática. A convite de Dionísio, rei de Siracusa, foi para a Sicília e tentou mostrar àquele monarca, como governa um filósofo. Dionísio, porém, amedrontou-se diante de certas idéias estranhas de Platão. Afim de ie ver livre dele, vendeu-o como escravo.

Platão foi libertado, graças à" generosidade de um de seus amigos. Voltou a Atenas, onde continuou suas gloriosas "conversas com seus alunos", até o fim de sua vida. Morreu aos oitenta c um anns, esse rei sem coroa da República dos maiores filósofos do mundo.

ARISTÓTELES – O mais versátil filósofo da história

ARISTÓTELES foi um estupendo milagre do saber.

Reunia ele na sua cabeça a sapiência de centenas de homens. Era aprendiz de todos os negócios e profissões e entendido em tudo. Podia falar e escrever, com igual autoridade, de assuntos tão diversos, como política, drama poesia, física, medicina, psicologia, história, lógica, astronomia, ética, história natural, matemáticas, retórica e biologia. Foi talvez o mais harmonioso e o mais lógico pensamento, que jamais existiu.

Diferente da maioria dos filósofos, Aristóteles foi um homem do mundo. Não somente gostava de flensar

sobre a vida, mas gostava de vivê-la. Em rapaz, fora um estróina. Esbanjou o dinheiro que o pai lhe herdara e parecia estar destinado, como a maior parte de seus companheiros, a um fim rápido, dissoluto e apagado.

Mas sofreu a influência de Platão. Durante vinte anos estudou diligentemente e questionou violentamente com seu professor. Aristóteles chamava Platão de velho pedante, e Platão revidava, chamando Aristóteles de ingrato potro que mamou sua mãe até secar-lhe os peitos e depois escoiceou-a. Contudo, a despeito de suas brigas, mestre e discípulo adoravam-se mutuamente.

Quando Platão morreu, Aristóteles abriu escola própria. Sua reputação como professor cresceu tão prontamente que o rei Filipe da Macedónia chamou-o a palácio, para se tornar o tutor de Alexandre. Este jovem filho do velho guerreiro macedónio foi o mais indomável aluno da história. Aristóteles foi relativamente bem tratado pelo real maroto. Foi apenas jogado de escadas abaixo umas poucas vezes. Alguns dos outros professores de Alexandre, que ousaram admoestá-lo, quando se encontrava embriagado, foram mortos imediatamente.

Aristóteles permaneceu com Alexandre durante dois anos. E depois se separaram: o soldado partiu a afogar o mundo em sangue, e o filósofo ficou a alimentá-lo de sabedoria.

A sabedoria de Aristóteles chegou até nós numa série de livros notáveis. Mas estes representam um simples balde d’água tirado do oceano de seu gênio. Escreveu 400 livros — alguns entendidos dizem que 1.000 — e hoje possuímos apenas um punhado deles. Contudo esse punhado é, em si mesmo, uma enciclopédia inteira, a primeira enciclopédia que já foi compilada. Contém, praticamente, os começos de todas as nossas modernas artes e ciências. Aristóteles foi o pai da Lógica: ensinou a todos quantos vieram depois dele a pensar com clareza. Foi o fundador da Biologia; ensinou ao mundo como observar corretamente. Foi o organizador da Psicologia: mostrou à humanidade como estudar a alma cientificamente. Foi o mestre da Moral: demonstrou como é possível amar e odiar racionalmente. Foi professor de Política: ensinou os governantes a governar com justiça. E deu origem à Retórica: foi o primeiro a demonstrar a bela arte de escrever com eficiência. Houve jamais no mundo homem igual ?

O fim desse grande homem foi trágico. Quando Alexandre morreu, irrompeu em Atenas uma grande explosão de ódios, não somente contra o conquistador macedónio, mas contra todos os seus admiradores e amigos. Ora, um dos mais íntimos amigos de Alexandre era Aristóteles. Estava prestes a ser preso, quando conseguiu escapar em tempo. Deixou Atenas, dizendo que não daria à cidade oportunidade de cometer segundo crime contra a filosofia.

Pouco tempo depois do exílio que se impusera, adoeceu. Desiludido com a ingratidão dos atenienses, decidiu pôr fim à vida bebendo, como Sócrates, uma taça de cicuta. E assim, depois de tudo, foi Atenas culpada dum segundo crime contra a filosofia.

EPICURO – O profeta do prazer

É UMA das ironias da sorte que o homem, que deu origem à filosofia epicurista do prazer desenfreado, não tivesse sido êle próprio um epicurista. A palavra epicurista hoje indica a excessiva indulgência no comer e no beber. E’ sinônima de intemperança. Contudo Epicuro, o fundador dessa escola filosófica, foi um dos homens mais temperantes do mundo. Longe de comer em excesso, contentava-se com uma simples refeição de bolo de cevada e água.

Como aconteceu então que Epicuro aparece na história como o filósofo do prazer ? A resposta é que há duas espécies de prazer: os prazeres do estômago e os mais tranquilos prazeres do pensamento. Epicuro advogou essa segunda espécie de prazer.

Epicuro era na realidade um pessimista. Mas um pessimista sorridente. A vida, dizia êle, é quando muito uma tragédia. Não somos os filhos de Deus, asseverava êle, mas os enteados da Natureza. Nascemos, vivemos e morremos por acaso. E depois da morte não há outra vida. Epicuro não acreditava na imortalidade. Mantinha contudo que era um dever do homem tornar a sua vida presente a melhor possível. E a melhor espécie de vida, dizia êle, era uma vida de prazer — não de prazer turbulento, mas de prazer refinado. Cultivai a felicidade da vida simples. Aprendei a gozar do pouco que tendes, e evitai os ex-citamentos de ambicionar mais. Sede contentes. Cultivai um tranquilo senso do humor. Adiantai-vos, por assim dizer, pelas linhas laterais do desordenado jogo da vida. Aprendei a sorrir diante das loucas ambições de vossos amigos. Mas aprendei também a auxiliá-los nas suas necessidades. Desenvolvei o talento de adquirir amigos. Não podeis ser mais felizes do que quando partilhais vossa felicidade com vossos amigos. De todos os prazeres do mundo, o maior e o mais duradouro é a amizade.

Epicuro mostrou-se um amigo tão devotado porque era um egoísta. E nisso, como vereis, não há paradoxo. Epicuro pregou a doutrina do egoísmo. Mas era uma nova espécie de egoísmo: era um egoísmo esclarecido- Esse egoísmo esclarecido baseia-se na regra do dar e tomar, Deveis dar prazer afim de receber prazer. Ora, usando isso em termos negativos, não deveis infligir qualquer injúria, se não desejais sofrer qualquer injúria. Vivei e deixai viver. Por outras palavras, o mais sensível meio de ser egoísta é não ser egoísta. Sereis vosso melhor amigo, sendo um bom amigo para os outros.

E assim a filosofia de Epicuro baseia-se no prazer, da amizade. O próprio Epicuro tinha o talento da amizade. Sua maior felicidade era comer na presença de seus amigos. "E’ mais importante, dizia ele, saber com quem comeis, do que o que comeis."

Epicuro foi dessa forma o profeta do prazer e o após-tolo da amizade. E, além disso, tem outro motivo de ser lembrado. Foi o primeiro homem da história, pelo que sabemos, a sugerir a teoria darwiniana. Escreveu um esboço, extraordinariamente moderno, da evolução, 2.300 anos antes de Darwin.


Fonte: Maravilhas do Conhecimento Humano, 1949. Tradução e Adaptação de O. Mendes

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