PROCISSÃO DAS ALMAS – conto de assombração

PROCISSÃO DAS ALMAS

Passou-se na Velha Capital. Fazia muito calor.

Naquele tempo, como ainda hoje, era costume entre as gentes do lugar, nas noites de verão muito forte, ficarem as pessoas à porta das casas, em grandes rodas de palestras, ou darem umas voltas pela cidade até muito tarde, esperando o calor diminuir e assim poderem dormir melhor.

Os mais idosos preferiam sentar à janela, "tomando a fresca", antes de dormir. Esse era o caso de uma velha puxeira que morava atrás do Rosário, na esquina do Beco de Mingu.

Sozinha, a velha não tinha sua roda para uma prosa. Velha, não podia dar suas voltas, então punha-se à janela.

Pois bem, um dia, lá estava ela "fazendo tempo" para dormir, apreciando o luar que estava uma beleza, e esperando a noite refrescar.

A rua estava claríssima e já era tarde. 0 sino da cadeia já dera o sinal de "silêncio" e não havia mais ninguém nas portas. Tudo quieto. Era tarde, bem tarde, e a velha à janela. Talvez sofresse de insónia também.

Uma hora, ela olha para baixo e vê, da ponta da rua, subindo uma procissão.

Não me lembro do nome da beata, mas sei que fazia puxa para vender. Fazia sabão e vela. Era uma senhora muito conhecida, e de sua palavra ninguém duvidava.

Como eu ia dizendo, vinha vindo a procissão tão quieta que nem se ouviam os passos das pessoas. Então a puxeira garrou a pensar: — Procissão a estas horas? Mas Frei Germano não avisou na igreja… que procissão será essa?… O sino não tocou…

E vinha o cortejo, vinha vindo, vinha subindo.

Quando chegou mais perto, a velha observou que todo mundo estava embuçado, vestiam roupas longas, brancas, e por mais que se esforçasse, não conseguia ver a cara de. ninguém. Como era muito religiosa, esperou com devoção a passagem daquela gente embiocada, que parecia nem pisar o chão, antes deslisava mansamente. Tudo esquisito, mas era uma procissão…

Então foi, uma hora, uma das pessoas, ao passar por baixo de sua janela, apagou a vela que trazia e lhe entregou dizendo com uma voz meio fanhosa: — "Guarda aí que amanhã quando eu voltar eu apanho de novo".

Quando todo mundo acabou de passar, o calor também já havia melhorado, a beata guardou a vela e foi dormir.

Sabe o que aconteceu? Credo! Nem gosto de me lembrar, veja como fico arrepiada.

No dia seguinte, a puxeira acordou e se lembrou da procissão. Foi ver a vela, aquela vela que havia recebido das mãos de uma pessoa que afinal de contas não sabia quem era, e sabe o que encontrou na gaveta onde guardou o presente?

Achou um, osso. Uma canela de defunto. E de anjinho. A velha "deu" três desmaios.

Depois chamou as vizinhas e lhes contou o que vira na noite anterior: Foi a procissão das almas, só podia ser. E como é que não havia de ser? Ela não viu todo mundo embiocado?

Havia barulho de passos? — Não havia. — O sino tocou? — Não tocou. Frei Germano avisou na Igreja? — Não avisou. — Mais alguém viu a procissão? — Ninguém. Só ela, e já podia ser meia-noite. Ela que era devota das almas.

Credo! Agora é que ia rezar mais pelas almas do purgatório.

Isso ela jurou, mas cadê coragem de ficar de novo à janela esperando a volta da procissão?

Regina Lacerda: Jornal "Oió", n.° 16. Goiânia, 1958.

 

Fonte: Estórias e Lendas de Goiás e Mato Grosso. Seleção de Regina Lacerda. Desenhos de J. Lanzelotti. Ed. Literat. 1962

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