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AriadneMembro
Nietzsche desenvolveu uma ideologia aristocrática. Era avesso ao cristianismo, nesse sentido era um ateu convicto. Entretanto, dada à sua atividade profissional, filólogo, escarafunchou sociedades antigas e, impressionado com o helenismo, cultuou de forma exagerada, fanática, o mito de Dionísio, sugerindo que a força vital do Homem está nos instintos. Nesse sentido, parece-me fugir do ideal aristotélico de equilíbrio. Não acho que Nietzsche tenha emulado os aspectos saudáveis da cultura helenista, pelo culto à dualidade, Apolo e Dionísio. Ele tende, isto sim, a privilegiar de forma fanática a importância do segundo em detrimento do primeiro. Também noto uma tendência fanático-religiosa em Nietzsche pela relação que estabelece com a Natureza, como se esta fosse uma espécie de divindade a qual o Homem deveria se submeter. Isto está diretamente relacionado com a necessidade nietzschena de acreditar na existência de homens "escolhidos", naturalmente extraordinários, em contraposição aos que estão predestinados a ser "escravos", a plebe pela qual ele declara sentir nojo. É curioso que muitos ateus convictos, alguns dos quais fanáticos, se apegam à Nietzsche pela aversão daquele ao cristianismo, mas não parecem compreender aspectos essenciais da filosofia nietzscheana que fariam o autor de Zaratustra muito provavelmente repudiar grande parte de seus leitores contemporâneos, uma vez que seu pensamento se volta ao combate da ascensão social das pessoas comuns, não-"aristocráticas". Ele odiava a possiblidade de intelectualização dos homens comuns. Estes, para Nietzsche, deveriam se submeter à sua própria natureza, à moral de escravos. Nietzsche era um determinista. Daí porque falava tanto em Amor Fatti, aceitação do destino. Talvez por esse caráter aristocrático dele sirva como uma espécie de guia de auto-ajuda para muita gente que se sente fraca, mas anseia parecer forte, ser poderosa, coisas do tipo. Contudo, estes seriam os mais repudiados por Nietzsche, que desenvolveu uma filosofia para aqueles que, em sua loucura, ele consideraria escolhidos, naturalmente superiores. Excetuando alguns reflexões pontualmente interessantes do perspectivismo nietzscheano, inclusive a inspiração nos estóicos da aceitação da dor, do destino trágico do Homem, acho que Nietzsche é um filósofo que não faz o menor sentido no mundo contemporâneo, é datado, situa-se claramente no contexto da sociedade européia aristocrática do século XIX. O culto a Nietzsche em países do mundo novo, como o Brasil, essencialmente pobres, sem uma cultura clássica sólida, para mim beira o ridículo e o absurdo. Não digo que não seja um pensador a mais a ser pesquisado, conhecido. Mas existe uma clara idolatria a Nietzsche, especialmente entre adolescentes, que é de uma infantilidade e boçalidade simplesmente patéticos.
AriadneMembroBrasil, vc é contra a existência de Banco Central? É contra a figura da autoridade financeira representada pelo Estado? Se sim, suas idéias se aproximam nesse aspecto daquelas apregoadas pelos chamados liberais radicais. Para eles, bancos centrais deveriam ser abolidos e o sistema financeiro deveria ser auto-regulado, pela iniciativa privada, sem qualquer intervenção do Estado.
25/10/2008 às 6:08 em resposta a: Alguem´pode me ajudar a responder essa pergunta sobre Nietzsche??? #85390AriadneMembro“A civilização não é o universo, nem tampouco necessária. A civilização que de certa forma triunfou, baseado no judaico-cristianismo romano, é uma dentre muitas possíveis. Foi esta que Nietzsche acusa de estar decadente. Baseando-se em sua erudição, encontrou uma grande energia no mundo antigo que foi capaz de criar o modelo do ocidente, Grécia e Roma, mas que já naquela época encontrou dentro de si a semente de sua destruição, como a abstração do conceito socrático; o mundo antigo também criou a unidade conceitual máxima que é a idéia de deus, porém toda essa força chegou até a modernidade de forma dissipada, incompleta. O mundo moderno não merece o período longo, que o servilismo em relação à palavras destituídas de poder promulgou.” Se me permite a pergunta, de onde vem sua certeza de que a força dos antigos chegou à modernidade dissipada, incompleta? Das pregações do santo Nietzsche? Vc seria uma espécie de devoto que toma as palavras de Nietzsche sobre o mundo antigo como a expressão da verdade? Nietzsche era filólogo, pesquisou os antigos e fantasiou um bocado também em torno da realidade do mundo deles. Impressionado com os nobres guerreiros, "idealizou" uma sociedade que vivesse em estado de guerra permanente. Usou a mitologia grega para impor sua própria religião. Com seu fanatismo delirante, quis substituir um Deus por outro deus, num culto doentio, regressivo, primitivo às forças da natureza. O fato é que as civilizações antigas viviam uma realidade duríssima, povos eram dizimados da noite para o dia, por conta de catástrofes naturais, pestes, guerras sangrentas. Nietzsche fala como se os antigos vivessem em eterna lua-de-mel com a vida, quando muitos preferiam morrer a continuar levando uma vida de sacrifícios. Como disse um velho sábio daqueles tempos: "Melhor que morrer cedo, só nunca ter nascido". Os valores nietzscheanos, extraídos da grécia antiga, calcados na obsessão pela coragem, bravura, simplesmente não têm o menor sentido na sociedade contemporânea do século XXI. Nietzsche era um louco com pretensões arisctrocráticas. Um eugenista que, não fosse os ranços nazistas que ainda existem, não teria nenhum lugar num mundo como o contemporãneo, que aspira a democracia, que reconhece conquistas como os direitos humanos. Mas, devido à própria megalomania e ao caráter histérico de seu anticristianismo, exerce fascínio especialmente sobre adolescentes querendo se auto-afirmar.
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