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AriadneMembro
“Bem, penso que o critério deveria ser a observação do número de pessoas que grafam de uma forma e o número de pessoas que grafam de outra forma, devendo permanecer a forma que é grafada pelo maior número de pessoas. Já que pretendemos igualar, então deveríamos igualar a minoria à maioria e, não o contrário. Este critério deveria então obedecer o padrão adotado pela maioria de pessoas. ” Este é um dos raros casos em que discordo de sua opinião, Brasil. Não acho que a observação do que é feito pelo maior número de pessoas deva ser critério para nada, nem para a definição de regras ortográficas. Fosse assim, em sociedades com baixo nível de desenvolvimento e sem regras institucionais racionalmente estabelecidas, e que, por isso, vivem em conflito permanente, o comportamento primitivo e irracional, que determina boa parte desses conflitos, deveria ser adotado como "regra". Normas ortográficas devem ser estabelecidas com base em critérios relacionados a certas variáveis, a depender dos interesses em jogo, sendo que uma dessas variáveis pode ser a unificação da língua. Mas não com base no "costume", pois isso tenderia a um nivelamento de todos por baixo. A valer esse critério em contextos onde a população tem baixo nível educacional e de escolaridade, a nova "regra" seria estabelecida justamente para se adaptar àqueles que, por desinformação, das duas uma, ou desconheciam as antigas regras ou não possuíam disciplina educacional suficiente para segui-las. Essse seu ponto de vista me parece próximo do que defendem os chamados lingüistas (desculpe, ainda não me adaptei à abolição do trema) em oposição aos gramáticos. Os primeiros tendem a ser favoráveis à aproximação da linguagem escrita à falada. Os gramáticos defendem a prevalência da norma culta na escrita, com o que concordo totalmente, pois o caráter disciplinar é um dos aspectos essenciais ao processo de educação.
AriadneMembro“Todo discussão é importante, relevante e profunda. No entanto o q torna uma discussão salutar é o respeito q se tem pelas opiniões diferentes, assim como as diferenças.” O que torna uma discussão efetivamente importante, no meu entender, é o nível de conhecimento dos debatedores. O respeito é conseqüência natural. Um debatedor que nada conhece e não respeita seus interlocutores não é digno de atenção. Um debatedor que muito conhece não é obrigado a "respeitar" argumentos ruins ou adotar uma postura paternalista num debate intelectual, o que não significa desrespeitar as pessoas.
AriadneMembro“Achei muito interessante suas colocações acerca do risco em se esperar que aprendamos a ler e escrever corretamente para começarmos a filosofar, pois, isso é querer manter a grande massa da população no mais completo estado de alienação e não o contrário como preconizado pelo caro Brasil. ” Esse comentário me parece confundir ideologia com Filosofia. Do ponto de vista filosófico, são tão distintas as interpretações para o termo "alienação" que não faz sentido invocar a Filosofia de maneira a compromotê-la com apenas um entre muitos conceitos possíveis. Para filosofar com competência, creio ser preciso no mínimo conhecer bem mais do que a mera noção vulgar de alienação (difundida pelo marxismo e Escola de Frankfurt) que, de tão banalizada, chega a ser "alienante" e quase inútil à reflexão. Se filosofar é amar o saber, a Filosofia não pode ser refém de uma única ideologia e interpretada como sinônimo desta. Exemplo: para Lévi-Strauss, a alienação é condição universal do homem em sociedade. Outro exemplo: segundo Gadamer, alienação seria a não participação no sistema de valores em que vive o ator social (algo como o chamado estado de anomia em Durkheim, resultante do enfraquecimento ou ausência de leis e normas sociais, sem as quais os indivíduos não sabem como agir e se entregam às paixões, à ganância, ao crime, "marginalizam-se").
AriadneMembroHesito, mas não resisto[:D], em transcrever, no contexto deste tópico, um pequeno trecho de um livro de reflexões autobiográficas de Eric Voegelin que estou lendo: "Uma das virtudes que ele [Max Weber] considerava indispensáveis em um homem de ciência era a "intellektuelle Rechtschaffenheit", que podemos traduzir por honestidade intelectual. Não consigo ver nenhuma razão para a escolha das ciências sociais -- ou das ciências humanas em geral -- como área de atuação se não existe a intenção honesta de examinar a estrutura da realidade. As ideologias constroem edifícios intelectualmente insustentáveis. Isto nos leva a indagar por que pessoas que são de resto inteligentes, além de honestas em seus afazeres diários, cedem à desonestidade intelectual tão logo entrem em jogo questões científicas. De que a ideologia é uma manifestação de desonestidade intelectual não resta a menor dúvida; todas as várias ideologias, afinal, já foram submetidas a rigoroso exame crítico[...] No plano mais imediato que se impunha, isto me levou à oposição a toda e qualquer ideologia -- marxismo, fascismo, nacional-socialismo, seja qual for; todas se mostraram igualmente incompatíveis com a ciência, entendida no sentido racional de análise crítica. Remeto ainda a Max Weber, o grande pensador que trouxe esse problema à minha atenção. Até hoje sustento que não se pode, em hipótese alguma, ser ao mesmo tempo um ideólogo e um cientista social competente."
AriadneMembro“Concepção segundo a qual o conhecimento do real é impossível à razão humana. Portanto, o homem deve renunciar à certeza, suspender seu juízo sobre as coisas e submeter toda afirmação a uma duvída constante.” Antes de mais nada, registro que não estou defendendo a existência de uma verdade absoluta, embora eu defenda a possibilidade de identificação de verdades e mentiras, em graus variados. Dito isso, observo, sobre as frases acima, que o fato de o conhecimento do real ser, hipoteticamente, impossível à razão humana não significa que o real, ou a verdade, inexista.
AriadneMembro“Sinto-me feliz em ver vosso interesse no assunto.Primeiramente responderei a Ariadne, que a resposta é menor.A única filosofia, pelo meu parco conhecimento, que defende que "não há verdade" é a cética. A verdade é que, na verdade, há várias verdades (!). " [blue]O ceticismo não é a postura de negação da verdade e sim de questionamento constante. A noção de que existem muitas verdades possíveis não é nova, já foi abordada inclusive pelos antigos gregos de forma competente. No contexto do chamado pós-modernismo, contudo, transformou-se num vício a embotar o próprio discernimento.[/blue] "Talvez você veja esse "perspectivismo" porque, na sua região, se estude muito Nietzsche... " [blue]Eu não estava entrando no mérito do currículo escolar, pois não disponho de dados a respeito. Estava simplesmente fazendo uma distinção entre disciplinas que considero básicas e disciplinas a meu ver complementares, caso da Filosofia, que por esse motivo a meu ver não devem ser introduzidas no ensino básico, quando o aluno ainda carece de base em disciplinas fundamentais sem as quais o ensino de Filosofia é inútil ou mesmo prejudicial ao desenvolvimento e disciplina intelectual. E, quanto à Nietzsche, não refiro-me à minha região e sim à influência deste em âmbito global no chamado pensamento filosófico pós-moderno, o que é uma lástima...
AriadneMembro“A respeito da influência de Nietzsche, discordo totalmente. Talvez você esta se referindo a um certo “relativismo” que permeia o estudo da filosofia. Mas isto respeita justamente ao seu método. Ela admite que não há verdade definitiva. Eis que seu ensino não é dogmático, como é o de algumas disciplinas. ” Afirmar que não existe verdade pode ser tão dogmático quanto dizer o contrário. Tão pouco fazer esse tipo de proclamação é "filosofar". Pelo contrário, o largo uso dessa idéia tem promovido a estagnação e preguiça mental, não o aprofundamento da reflexão...
AriadneMembro“Ademais, julgar necessário o conhecimento científico para entender filosofia é incorreto. As duas esferas são complementares, mas possuem autonomia. Certamente, quem conhece melhor uma pode conhecer melhor a outra. Mas aí estamos falando de excelência do conhecimento, o que já seira outro assunto.” Em primeiro lugar, obrigada pelas boas-vindas. Em segundo, voltei apenas para discordar um pouquinho do que disse. Concordo que a filosofia e a ciência sejam complementares (como são a zetética e a dogmática). Contudo, continuo achando que a ciência deve anteceder a filosofia no contexto contemporâneo em que vivemos, por uma simples razão: porque a filosofia está muito contaminada com o perspectivismo nietzscheano (que tornou-se hegemônico), gerando uma atitude niilista em relação ao conhecimento científico, empírico, dogmático, metodico, metodológico e disciplinado (que, assim, é comodamente negligenciado a priori), sem o qual todo o "conhecimento" é inevitavelmente superficial, capenga e, sobretudo, inútil (não chega a nenhum lugar)...
AriadneMembroNão estou entrando no mérito de sugerir haver motivos além dos alegados. Estou simplesmente partindo do princípio de que os motivos alegados não justificam a iniciativa, frente a seus custos e imensas desvantagens, sendo que exemplifiquei uma entre muitas delas…
22/01/2009 às 15:33 em resposta a: Seria possível, nos dias atuais, existir uma sociedade que não usasse dinheiro? #81260AriadneMembro“Se o dinheiro não corroesse os homens, até o capitalismo seria bom.” O dinheiro é só um meio de troca. O que corrói os homens são os valores que atribui ao dinheiro, ou melhor, ao bens que podem ser obtidos por este meio de troca ou não.
AriadneMembro“azendo, como é de praxe na filosofia, indagações a respeito das raízes dos problemas, se chegará a estudar história da filosofia. Mas, se esse interesse surgir no aluno, então a maior parte do trabalho já terá sido feita.” Vou me imiscuir na discussão dos dois para discordar desse aspecto. Considero uma temeridade o questionamento sem base. Logo, penso que, antes de enveredar pela investigação filosófica de qualquer assunto, o aluno tem de atender a um requisito básico, ser bem informado e formado nas disciplinas básicas.
AriadneMembro“Qualquer resposta é subjetiva, é pessoal, é “conceito”… ” Essa afirmação é "conceito" também, não custa lembrar. No mundo não há lugar apenas para a zetética, pois esta inexistiria sem a dogmática.
AriadneMembroFazer a vida ter algum sentido, inspirando-se no “belo” e no “bom”. Dar aquilo que estiver ao próprio alcance por um mundinho um pouco melhor.
AriadneMembroFora as dificuldades inerentes à administração pública, sobre as quais o Brasil discorreu com muita lucidez, eu acho que a questão da deterioração do ensino público no Brasil é colocada de maneira enviesada. Não dá para comparar o ensino público do passado e do presente, pelo seguinte motivo: porque até a gestão de FHC os índices de evasão escolar eram elavadíssimos. Quando o país assumiu naquela adminstração o compromisso com a chamada universalização do ensino básico, reduzino o nível de analfabetismo até então escandaloso do país, passou a enfrentar, no âmbito educacional, desafios até então inexistentes, quando o ensino público era destinado a uma minoria, a uma elite de classe média apenas. Com a universalização do ensino público básico, o desafio na área de educação passou a envolver até questões ligadas a segurança pública, como o tráfico de drogas e violência nas escolas...
AriadneMembroEu acho que esse argumento não tem o menor sentido. Por duas razões. A primeira é que não acredito na possibilidade de aproximação por regras ortográficas, uma vez que a distância entre o português de Portugal e do Brasil são muito maiores na linguagem falada que na escrita. Na escrita, até outros idiomas latinos, como o espanhol, são compreensíveis para pessoas alfabetizads em língua portuguesa. Além disso, o inglês americano e britânico divergem muito em ortografia, mas nem por isso deixam de ser um mesmo idioma. Simplesmente, não consigo ver um só aspecto positivo na imposição das novas regras. Já defeitos...
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