Ariadne

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Visualizando 15 posts - 46 até 60 (de 93 do total)
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  • Ariadne
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    Em princípio tendo a concordar que discutir o senso comum que abarca e contamina uma premissa verdadeira, desfigurando seu real grau de veracidade, embora importante, possa ser secundário, no caso desta discussão, diante da importância em combater o mal maior, a pobreza. Já fiz por diversas vezes o mesmo tipo de reflexão. Mas, por outro lado, repenso e constato que uma coisa não necessariamente exclui a outra. Ambas as discussões me parecem fundamentais, pois o que está em jogo é a própria viabilidade da vida em sociedade. Por mais modesto que pareça o comentário, devo confessar que não consigo imaginar como uma sociedade desprovida de certos valores pode prosperar. Também me parece ser preciso distinguir o não atendimento das necessidades básicas dos cidadãos (como saúde, alimentação etc.), a miséria, que considero inaceitável em qualquer projeto de sociedade civilizada, de baixo poder aquisitivo. Além disso, um dos aspectos que me chama a atenção na questão da criminalidade é que, embora seja atribuída frequentemente à pobreza, boa parte dos crimes não está ligada às condições econômicas. A punição é que parece ser aplicada aos de baixo poder aquisitivo, em favor dos mais abastados, que, com respaldo financeiro, sempre encontram brechas em nossa legislação. Mas o fato concreto é que a prática do crime parece se banalizar pelas mais diferentes razões. E entendo que algo precisa ser feito nesse sentido, do contrário a sociedade pode se deteriorar a ponto de se tornar inviável, creio eu.

    Ariadne
    Membro

    Contudo, a analogia feita em seu post, usando a teoria do Equilíbrio Dinâmico, sugere essa noção, ao considerar que, tendo o sistema de ensino atingido um dado estágio evolutivo, o aprendizado passa a se dar de forma natural. Creio que o comentário também envolve uma idéia romântica sobre o estudo, que identifiquei em todos os seus posts sobre o tema, segundo a qual pode se converter atividades como essa exclusivamente em prazer, como se fosse perfeitamente possível dispensar o essencial papel da disciplina, por exemplo, no processo educacional e de aprimoramento intelectual, ainda que este, no final das contas, acabe sendo efetivamente prazeroso quando, de tão exercitado, se transforma num hábito. Mas isso, por mais que o sistema de ensino evolua, não dispensa certa cota de sacrifícios.

    Ariadne
    Membro

    Sou muito ressabiada em relação às conseqüências de “adaptar” especulações ou mesmo teorias científicas tipicamente pós-positivistas, caso também da chamada Teoria do Caos, a fenômenos sociais. Entre outras razões, porque acredito que os fenômenos sociais são potencializados pela cultura, o que não ocorre no caso das ciências físicas, por exemplo, que analisam fenômenos de ordem natural.Sua analogia me parece levar a uma suposição equivocada segundo a qual a evolução do ensino pode ser medida pela supressão dos expedientes punitivos. Isso me parece um erro não porque eu defenda o uso da palmatória. Mas sim porque não acho que a abolição desta permita dizer com um mínimo de objetividade que a evolução do sistema de ensino caminha no sentido de suprimir todos os recursos que premiam a disciplina e punem a indisciplina. A palmatória era um castigo físico violento e por isso inaceitável. Mas a partir da abolição da palmatória não se pode concluir que a evolução do sistema de ensino deva se manifestar pela supressão de todo e qualquer recurso punitivo. Vivemos hoje numa sociedade bastante diferente da que adotou e mesmo daquela que viveu a abolição da palmatória. Os problemas de nosso sistema de ensino e os desafios que esse tem de enfrentar já são outros, de outra ordem, talvez muito mais complexos, mas certamente bem diferentes daqueles tempos em que os pais de maneira geral consentiam e até estimulavam castigos físicos a seus filhos, hoje, corretamente, considerados inaceitáveis.  Tudo bem, você pode me dizer: “Bem, mas no dia em que o sistema de ensino evoluir, só aí poderá efetivamente abolir quaisquer recursos punitivos, ainda que isso não seja possível hoje”. Ocorre que eu penso que não se pode medir a evolução do sistema de ensino com base nesse critério. Mesmo porque há dois elementos que, embora diretamente relacionados, não se podem misturar nessa questão. Um desses elementos é a qualidade do professor. Outro é o perfil do aluno. O método e o sistema de ensino devem no meu entender evoluir de modo a compatibilizar esses dois elementos. Só que a supressão de expedientes “punitivos” não reflete necessariamente essa compatibilização, uma vez que o aprimoramento de um dos dois elementos não implica em aprimoramento automático do outro.   É preciso, sem dúvida, refletir sobre os meios necessários para melhor qualificar os professores. Mas, do lado do aluno, não se pode negligenciar variáveis fundamentais, porém, constantemente deixadas de lado, como educação familiar, valores do aluno (que também são difundidos via cultura de massas), etc. Ou seja, existem variáveis nessa equação que são externas ao sistema de ensino. Não estou dizendo, com isso, que nosso sistema de ensino seja satisfatório, muito longe disso. Apenas considero que a permanência de um algum tipo de instrumento punitivo (não estou me referindo a castigos físicos, espero que seja óbvio) não atesta essa falha. Assim como também não acho que a abolição de tais expedientes é indício da evolução de um sistema de ensino, pois este tem de encontrar meios para lidar também com falhas externas a ele.(continua...)

    Ariadne
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    “parece-me que estamos diante de uma grave divergência vocabular, apenas isso…” Ao reler o histórico deste tópico, notei que a minha reação a sua mensagem não denuncia, como eu havia admitido, simplesmente meu desvio de foco da questão, menos ainda se tratava de divergência vocabular tão somente. Foi, isto sim, uma reação a um certo viés ideológico que percebei em seus posts. Não me refiro à polaridade ideológica esquerda x direita, mas a algo mais complexo e, no meu entender, um tanto perigoso, do ponto de vista social, que é o chamado relativismo moral. E esse viés (presente em mensagens que inclusive dirigiu a mim, associando, por exemplo, a defesa da disciplina no âmbito da educação como tendência “sadomasoquista”, entre outras coisas que já nem me lembro), estava presente também na mensagem que eu respondi, de forma um pouco desorganizada, em tom irritado e com alguns adjetivos pejorativos, dificultando a correta interpretação do que eu tentei expressar.  Relendo os posts, também notei que, quando você ponderou que tirar dos professores a autoridade para expulsar alunos poderia trazer um “desequilíbrio dinâmico”, sua linha argumentativa muda em relação ao que vinha sugerindo sobre o tema, aderindo a uma postura reflexiva, digamos, mais conseqüente do que até então. Só que faz isso, a meu ver, apenas em concessão à “Teoria do Equilíbrio Dinâmico”, o que não deixa de ser coerente com o conjunto de idéias até então defendidas (já que utilizar teorias válidas no campo das ciências naturais para fazer análises sociais é uma das características desse viés ideológico ao qual me refiro).  (continua...)

    Ariadne
    Membro

    “Então o que é conversa mole e ladainha de moleque NÃO é a idéia ou premissa empiricamente constatada de que os crimes provêm do não atendimento das necessidades do cidadão E SIM O USO OPORTUNISTA desta premissa, nos casos de exceção.  Ah bom! Agora tá explicado… Concordo.  O uso oportunista e inoportuno de QUALQUER  premissa é algo abominável.Acho que não divergimos em nada neste assunto. " Creio que nem sempre conscientemente oportunista. A correlação entre pobreza e crime, tendo em vista justificá-lo, pode ter se tornado um discurso tão hegemônico que, me parece, nem sempre se lança mão dele de forma imprópria com segundas intenções. 

    Ariadne
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    “Cara Ariadne, eu não colocaria isto que vou dizer como uma premissa absoluta, mas sim como uma premissa estatística. Há exceções!  Mas na contemplação geral, onde o cidadão tem efetivamente as suas necessidades atendidas a criminalidade é menor. Posso estar errado e, nem por isso me considerarei um moleque, mas gostaria de ver argumentos.” Olá, Brasil Vou aproveitar que caí da cama para comentar o que penso agora, depois eventualmente desenvolvo minhas ideias melhor. Antes de mais nada, observo que não só concordo com essa estatística como deixei claro, em meu post que o levou a fazer as considerações acima, que a noção de que a criminalidade pode ser, em parte, também consequência de carências econômicas vem da constatação de um fato, empiricamente observado, embora, neste caso, a meu ver, também ideológica e culturalmente construído, com todas as consequências que isso tem sobre a psicologia humana, reforçando o fato a ser empiricamente constatado. O problema é que, a partir da constatação de um fato e de sua difusão logo vem a vulgarização, com todas as consequências negativas. E, neste caso, uma delas me parece ser a extrapolação de noções que derivam da constatação do fato para outras situações em que não se aplica. Exemplo: um aluno indisciplinado ser identificado como economicamente carente ainda que não seja, uma vez que indisciplinado. Logo, se a raiz do problema da indisciplina do aluno for outra, jamais será encontrada, uma vez que já se assume, a priori, uma causa para seu comportamento, descartando automaticamente outras possibilidades. Fora isso, a explicação viciada para o referido fenômeno, ao ser incorporada pela sociedade, também pode ser usada como falsa justificativa por aquele que opta pela prática do crime ou, no caso de meu exemplo acima, pelo aluno que, assim, vê um estímulo externo à sua indisciplina, não o contrário, como penso que seria desejável. O problema é que também existe o perigo em sentido contrário, que me parece, sinceramente, ainda mais perverso, isto é, a condenação sumária, sem levar em conta os atenuantes (como a necessidade financeira) para certos tipos de comportamento. Ocorre que a banalização da ideia que leva a atribuir, de forma automática e irrefletida, atenuantes até em situações as mais descabidas gera justa indignação da sociedade, mesmo pq reforça comportamentos socialmente prejudiciais que colocam em risco permanente a própria integridade física das pessoas e, com isso, acaba justamente alimentando a sanha punitiva de certos segmentos da sociedade, num círculo vicioso cruel em que problemas que poderiam ser melhor investigados e mais precisamente identificados deixam de efetivamente ter solução possível... PS: Ainda sobre a correlação entre crime e pobreza, também vale lembrar das exceções, caso da Índia, que apontam para outros fatores determinantes da criminalidade.

    Ariadne
    Membro

    “Sim, minha querida, se você estiver usando esta premissa para o âmbito geral e não para um caso específico. Que é o caso! Você perdeu o raciocínio que referia-se à autonomia de um professor poder ou não expulsar um aluno, e adentrou em questões das mais diversas e diferentes da questão tratada.” -- Pode até ser, mas porque percebi que o apego à idéia embutida na frase em seu sentido mais amplo, que expus acima e nos post anterior, foi o que a trouxe até este debate, não tendo sido o contexto o fator decisivo para sua utilização e sim a vaga e genérica noção de que o mal se justifica, sempre, pela NECESSIDADE. "Eu continuo a manter a minha opinião de que antes de usar de demagogia para proibir o professor de expulsar o aluno, devemos estar atentos se isto não agrava mais a situação já tão desordenada. Para proibir a expulsão é necessário SIM, que se diminua ANTES os índices de CASOS passíveis de expulsão. Nada mais lógico e sensato. " -- Não tenho opinião formada sobre se professores deveriam ter ou não autoridade para expulsar alunos, mas, em princípio, essa não me parece uma boa ideia, uma vez que pode estimular a prática de comportamento autoritário por parte dos docentes. Contudo, gostaria de saber COMO diminuir os casos passíveis de expulsão, pois não me parece que suprir as necessidades dos alunos, por exemplo, necessariamente traga esse tipo de resultado, uma vez que as razões para os casos de expulsão existirem me parecem outras e bem mais complexas... "Confesso que não achei em seu comentário nenhum indício de maturidade... Uma vez que ele foi feito embasado num entendimento evidentemente equivocado quanto ao que estava sendo dito, desviando-se e afastando-se muito em relação do que estava sendo efetivamente abordado e discutido.  Sua crítica e suas impressões quanto à desinformação e infantilidade "observadas", foi direcionada a algo do qual NÃO estávamos discutindo. " -- Eu acho que meu comentário não foi hábil, mas não me parece fazer sentido atribuir "imaturidade" a quem desvia do assunto num debate, ou melhor, faz intervenções sobre aquilo que efetivamente inspirou determinados comentários, independente do contexto, sem a adequada sutileza, por inabilidade ou imprecisão. Já minha acusação vem da constatação de que a idéia, onipresente e adaptada às mais diferentes situações, de que o mal praticado por um cidadão é motivado pelo não atendimento de suas necessidades é conversa mole, ladainha surrada de moleque! 

    Ariadne
    Membro

    “Bem, eu não sei do que você está falando. A “retirada de algo mal” a que Lekso se referia era a retirada do direito ou da autonomia de um professor expulsar um aluno! ” -- Pera lá, a frase foi usada, sim, no contexto da discussão, mas é uma frase a qual foi atribuída sabedoria por ela em si e não de forma restrita à questão sobre a autonomia de um professr expulsar um aluno. "Vejo que você não fez uma leitura atenta da mensagem...  Ninguém está se referindo a nenhum segmento específico da socioedade caracterizado pelas condições que você descreveu, e sim aos estudantes! De onde você tirou essa idéia de que estamos falando sobre "tragédias sociais" ou "indivíduos que não têm sequer suas mais básicas necessidades satisfeitas"?  Estamos falando DOS NOSSOS ESTUDANTES. " -- E eu não disse que ninguém estava se referindo a segmentos específicos da sociedade caracterizados pelas condições que descrevi. Eu disse simplesmente que a ideia embutida na frase "não bastará a retirada de algo mau, sem que sejam surpridas as necessidades que lhe conferem propósito" me parece se inspirar na noção de que o mal, no caso de um aluno delinquente, assim como no de um indvíduo criminoso, deriva exclusivamente do não suprimento das necessidades básicas deste... Essa idéia me pareceu ter sido adaptada à questão sobre se os professores devem ter autonomia de expulsar um aluno, não o contrário, tendo sido atribuída uma suposta sabedoria da frase em seu sentido genérico, embora utilizada em contexto específico.  "não bastará a retirada de algo mau, sem que sejam supridas as necessidades que lhe conferem propósito.""(...)Talvez a sociedade ainda não comporte a abrupta "abolição da expulsão". Talvez lhe falte um substituto à altura.""Entendo que o que Lekso disse seja que não adianta proibir a expulsão sem antes fazer com que não precisem serem expulsos.Continuo achando que são sábias palavras." -- E eu continuo achando meras palavras e acreditando que foram usadas por simples condicionamento neste contexto, como seria usada em qualquer outro, de forma automática...  (continua...)

    em resposta a: O que significa "Deus"? #86213
    Ariadne
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    “O que torna uma discussão efetivamente importante, no meu entender, é o nível de conhecimento dos debatedores. O respeito é conseqüência natural. Um debatedor que nada conhece e não respeita seus interlocutores não é digno de atenção. Um debatedor que muito conhece não é obrigado a “respeitar” argumentos ruins ou adotar uma postura paternalista num debate intelectual, o que não significa desrespeitar as pessoas.”Ninho escreveu:"Não foi isso que eu disse? Contudo, com uma diferença, eu usei minhas proprias palavras." -- Bem, em primeiro lugar, o que eu disse tem sentido bem diferente do que vc me pareceu tentar dizer. Em segundo, eu usei minhas próprias palavras no meu texto! Ou vc imagina que eu usei as suas palavras também? Cada uma...

    Ariadne
    Membro

    “Bem, Ariadne, já que você se interessa pelo que se passou em minha mente” -- Não me interesso nenhum pouco pelo que se passou ou se passa em sua mente. Apenas achei previsível o comentário, pelo padrão de seu texto e o nível das idéias que até o momento apresentou.  "quando citei a palmatória (supondo que você queira saber...), é que tenho impressão de que muitos discursos apológicos da disciplina encobrem tendências sadomasoquistas." -- Não me espanta sua "impressão", mesmo porque associar disciplina com tendências sadomasoquistas é um clichê! " (Sei lá... talvez eu tenha feito uma projeção...)" -- Quanto a isso, não tenho a menor dúvida.

    Ariadne
    Membro

    “(…)como vc mesmo observou, quem determina tais regras são as pessoas que conhecem bem o idioma, são especialistas, logo têm tal atribuição.(...) Em se tratando de regras linguísticas, acho que é evidente que, se a maioria não sabe escrever não seria esta que deveria definir as regras da escrita.Mas você não acabou de concordar que quem determina as regras ortográficas são os especialistas? Em todo e qualquer lugar do mundo uma maioria é ignorante e uma minoria é culta... Até aí, sem novidades...  Sendo as regras ortográficas feitas pelos especialistas,  não há porque especular sobre a maioria ignorante que é comum em qualquer lugar!  Às vezes você perde o “fio condutor” da questão... " -- Talvez eu tenha fugido um pouco da questão basicamente pq especulando se sua abordagem sobre o critério da maioria na questão ortográfica também fugia, partindo, digamos, da noção de que este fosse válido como critério amplo de decisão em qualquer outro contexto, com o que eu tenderia a discordar. Mas, já disse, diante de suas explicações sobre a pertinência neste contexto, ao qual sua mensagem, também como esclarecido, se restringia, não tenho nenhuma objeção a apresentar nem apresentei em minha última mensagem. Ao contrário, acatei sua cobrança de foco, porque além de considerá-lo um debatedor de alto nível (algo raro), acho que o rigor em detalhes como esse só ajuda a elevar o nível do debate...  "Essa “maioria” é referente à maioria de pessoas sob “aqueles” padrões gráficos de escrita! Não tem nada a ver com a maioria ignorante que é  verificada em qualquer lugar. " -- Sim, mas isso eu já disse que foi esclarecido depois. "Concordo, exceto com a afirmação segundo a qual eu teria dito que as populações ignorantes regulamentam o padrão do idioma. O que eu disse é que não deveriam regulamenar, daí minha atitude preventiva em relação ao critério da maioria que vc apresentou, embora, no caso, desnecessária, como mostram seus esclarecimentos. O que encerra nossa discussão, me parece. Sim, foi desnecessária essa sua preocupação,  pois eu não poderia estar me referindo à essa maioria que você imaginou...  Não teria lógica...  A maioria importa, e como importa! Mas quem faz as regras e evidentemente deve fazer os acordos ortográficos são os especialistas do idioma e não o “costume” da maioria como você entendeu." -- Acho que vc está exagerando um pouquinho, não está não? Tudo bem que eu tenha fugido do foco, acreditando que vc pudesse, ao mostrar a pertinência do critério da maioria nessa questão, sugerir que essa fosse uma boa maneira de resolver impasse em outras situações, com o que, como já disse, discordo. Mas, uma vez esclarecido, não fiz objeção, de maneira que não vejo motivo de estender a discussão. Bem, é isso.

    Ariadne
    Membro

    “Concordo que a disciplina seja uma qualidade desejável, mas creio que haja formas mais úteis de ensiná-la do que colocando a criança para decorar em quais palavras é xis e em quais é zê. (Quando li esse “caráter disciplinar” acima, cheguei a sentir cheiro de palmatória…)” -- Sim, isto é óbvio. Também me parece óbvio pq, ao ler a expressão "caráter disciplinar", sentiu cheiro de palmatória, afinal, dado o perfil infantilizado de nossa sociedade, já é do senso comum atribuir sentido pejorativo a palavras como moral, disciplina e qualquer outra que remeta à idéia de "sacrifício" pessoal, mesmo que sacrificar vontades imediatas possa ser o preço necessário para atingir determinados objetivos, como aqueles relacionados ao difícil processo de aprendizado (claro, em se tratando de aprendizado de fato). Quanto a haver formas mais úteis de aprender, além de regras, pode até ser, mas dificilmente se aprende algo de fato quando não se ultrapassa nem a etapa das regras. Além disso, tudo depende muito também da disciplina, pois, num curso de ortografia, por exemplo, decorar regras não é simplesmente importante, indispensável, mas essencial.

    Ariadne
    Membro

    “É mesmo? Por que necessariamente o costume deve estar errado ou estar “por baixo”?  -- Neste caso em particular, porque, como vc mesmo observou, quem determina tais regras são as pessoas que conhecem bem o idioma, são especialistas, logo têm tal atribuição. "Sim, não com base no costume e sim com base na maioria, isso é o que eu disse. Em todo caso; com base em que, afinal, você entende que deve ser feita a tal unificação?" -- Bem, eu acho que simplesmente não deveria ser feita, mas estou procurando entender as razões para fazê-lo, embora deva admitir que até o momento não encontrei motivos que efetivamente justifiquem, frente a todo o investimento que será necessário, desgaste, reaprendizado, etc., a mudança... "Quem disse que onde há maioria as regars estão niveladas  “por baixo”? De onde você tirou isso? "-- Em se tratando de regras linguísticas, acho que é evidente que, se a maioria não sabe escrever, não seria esta que deveria definir as regras da escrita. Em relação a outras situações, cada caso é um caso. Na política, por exemplo, acho o critério da maioria válido em determinas situações, não em outras. No caso de uma democracia representativa é fundamental que a maioria escolha, decida, seus representantes, pelo voto. Contudo,  matérias que exigem conhecimento especializado, como, por exemplo, a política econômica a ser adotada, não podem ser decididas pelo voto da maioria. E por aí vai...  "Ao que parece você não entendeu o meu ponto de vista, pois linguagem é convenção e, convenção se rege pela MAIORIA." -- Ao contrário, esse seu comentário mostra que eu havia entendido antes seu ponto de vista, que é menos ressabiado que o meu em relação a escolhas com base no critério de maioria apenas, embora tal critério, no contexto desta discussão, restrito a regras já estabelecidas por especialistas e, assim, legitimadas, não tenha as implicações que poderia ter em outros casos... Mas isso, como vc bem observou, foge do foco da discussão. "Esse negócio de “nivelamento por baixo” não tem o menor cabimento!  Quem disse que o nosso padrão de grafia ou o padrão de grafia dos angolanos ou dos caboverdianos está “errado”, “certo”, “por cima” ou “por baixo”? De onde você tirou essas avaliações: “Por cima” e “por baixo”?  Quem regulamenta o padrão do idioma são os letrados que falam e são especialistas no idioma! Não são as populações ignorantes etc., como você disse. Quando falo em “maioria” não estou me referindo a quantas pessoas são letradas e quantas são ignorantes e sim a quantas pessoas estão sob aquelas regras e padrões. Padrões que foram orientados por letrados... Padrões que não podem ser considerados “errados”,  pois são convenções regionais." -- Concordo, exceto com a afirmação segundo a qual eu teria dito que as populações ignorantes regulamentam o padrão do idioma. O que eu disse é que não deveriam regulamenar, daí minha atitude preventiva em relação ao critério da maioria que vc apresentou, embora, no caso, desnecessária, como mostram seus esclarecimentos. O que encerra nossa discussão, me parece.

    Ariadne
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    “As regras já existem e já são definidas! O que se está fazendo é unificar ou igualar os poucos e diferentes padrões de grafia que existem entre os diversos países que falam a língua. Isto muda sobremaneira o foco do que está aqui sendo discutido em relação ao que você está dizendo . Não estamos discutindo as regras e nem explicando como devem ser convencionadas e sim discutindo se devem ser IGUALADAS e como igualá-las. ” -- De fato, sendo este exclusivamente o sentido que deu à decisão pelo critério da maioria, retiro as objeções que apresentei, embora minhas objeções continuem existindo, mas não mais ao critério que vc, o contexto, apresentou, e sim à unificação em si, até porque a nova ortografia, ao que me consta, prevê casos onde são mantidas ou até criadas variações, não havendo portanto a pretendida unificação, me parece...  "Quando me refiro ao “número de pessoas”, não estou me referindo ao número de pessoas que falam e escrevem perfeitamente e nem ao número de pessoas que falam e escrevem precariamente, eu estou me referindo ao número de pessoas que têm o seu idioma SOB AQUELAS REGRAS. Seriam as regras adotadas pelo PAÍS que tem o maior número de pessoas que falam o idioma em questão, ou seja, pela maioria." -- Ok, agora isso ficou claro. A propósito, não desconsiderei, em minha interpretação, que se tratasse basicamente das regras válidas para a maioria, não a falta de regras da maioria as pautando, apenas achei que o uso do critério da maioria nessa questão poderia sugerir o transbordamento para outras situações... "Eu não sei de onde você tirou essa idéia de “sociedades com baixo nível de desenvolvimento e sem regras institucionais estabelecidas”... Quem define regras, correções e unificações ortográficas num idioma são os letrados que falam aquele idioma e não essas infelizes sociedades que você referiu." -- Exatamente. Por isso falei que a maioria não poderia definir as regras, uma vez que a maioria não é formada pelos letrados, aos quais cabe tal tarefa. Mas suas observações, acusando-me de desviar o foco, são pertinentes e eu mesma cheguei a considerá-las ao escrever a mensagem anterior, ainda que tenha preferido fazê-lo até porque fiquei em dúvida se sua menção ao critério da maioria, ainda que contextualizada, tivesse um sentido mais amplo... (continua...)

    Ariadne
    Membro

    “não bastará a retirada de algo mau, sem que sejam supridas as necessidades que lhe conferem propósito.” Sábias palavras. Em linguagem popular seria: Não se deve “forçar a barra”. Ou: Não se deve colocar o carro adiante dos bois. -- Discordo. A constatação de tragédias sociais em que determinados indivíduos não têm sequer suas mais básicas necessidades satisfeitas, somada a determinadas correntes da pseudo psicologia que se popularizaram particularmente na década de 70, na esteira da chamada contracultura, deu margem à disseminação dessa idéia de forma simplista e profundamente equivocada. Com isso, tornou-se senso comum acreditar que todo o mal decorre da não-satisfação das necessidades dos indivíduos, o que é um equívoco absoluto dos mais perigosos. Em primeiro lugar, porque nem todo delito é cometido com o propósito de satisfazer necessidades básicas que se caracterizam como um direito humano universal, caso da alimentação, saúde, etc. Há pessoas que cometem determinados tipos de delitos porque são perversas, psicopatas, amorais, egoístas ou, alguns casos, não estão nem aí com coisas como a moral porque foram doutrinadas a interpretá-la exclusivamente como um instrumento de "dominação burguesa", seja como for. Inclusive, ao cometer um delito, mesmo uma justificativa aceitável, como a necessidade de alimentar a famíilia, um indivíduo pode não só estar violando regras sociais básicas estabelecidas como pode estar VIOLENTANDO o direito de outro que igualmente luta pela sobrevivência e por garantir o alimento de sua família. Em segundo lugar, porque é um ponto de vista não só desinformado como, sobretudo, infantil, uma vez que viver envolve saber lidar com a "frustração". Ao atingir o estágio de desenvolvimento adulto uma pessoa deve estar preparada para a não-satisfação de todas as próprias vontades, uma vez que esse é requisito básico da vida em sociedade. Aliás, mais que isso, é um meio para se atingir uma vida de plena liberdade, pois um indivíduo incapaz de exercer controle sobre a própria vontade não passa de escravo desta, como já sabiam os antigos filósofos e como séculos e séculos depois Freud também viria nos mostrar. Portanto, dizer que não basta tirar algo mau sem que sejam supridas as necessidades que lhe conferem propósito é uma frase muito simplista ou no mínimo bastante incompleta, frente à complexidade que a questão envolve...

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