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AriadneMembro
Bem, sobre a pergunta do tópico, as mudanças foram PÉSSIMAS em minha opinião. Uma das virtudes do português escrito é que antes era possível uma pessoa alfabetizada ler um texto fluentemente, sem paradas obrigatórias. Agora não há como. Ao deparar com um vocábulo como, por exemplo, para, vc só vai saber se é relativo ao verbo parar ou uma preposição depois que passar à palavra seguinte, dificultando ou mesmo impossibilitando completamente o uso da entonação adequada.
AriadneMembroTendo a achar amor quase incompatível com sexo. Deve haver alguma explicação em alguma escola de psicologia para isso, mas o segundo parece estar muito mais relacionado ao sentimento de ódio que amor, daí a expressão sexo selvagem. No entanto, não creio ser satisfatório do ponto de vista emocional. Por outro lado, existe a possibilidade de conciliar sexo com amor e esse é um ideal buscado por uma parcela dos humanos, na qual me enquadro. Aliás, creio que o sexo do ponto de vista ético se define pela associação com o sentimento de amor. Mas creio ser uma impossibilidade prática uma vida emocional e afetiva satisfatória com a ânsia sexual. Sexo com amor é possível. Mas sexo selvagem, ao contrário, parece ter como estímulo sentimentos que não são nada, digamos, nobres.
AriadneMembroConfesso que tenho uma certa admiração por Nietzsche, pela coragem que ele “tem” de dizer coisas óbvias, atribuindo-lhes caráter genial e sendo, a partir disso, tomado como um gênio por boa parte da humanidade. Nietzsche decretou que não existe nada além das aparências, algo que até uma criança de 5 anos de idade poderia declarar, sem hesitação. Percebeu o poder da irracionalidade sobre os humanos, ainda que, equivocadamente, pressupondo que estaria nela (a irracionalidade) a chave para a "felicidade". Parece que não estava no caminho certo, pois, numa ironia do destino, teve uma vida desgraçada e morreu de forma indigna, contrariando todas as suas pretensões, mentalmente incapacitado e depende dos cuidados alheios. Nietzsche intuiu, de forma correta, a importância da estética. Contudo, esqueceu-se, lamentável, da ética. Foi, para mim, um religioso no sentido mais puro do termo: acreditou que, se nascemos num mundo essencialmente perverso, então nós, seres humanos, devemos nos submeter a tal perversidade resignadamente, lutando eternamente como bárbaros uns contra os outros, como se a Natureza selvagem, sagrada para ele, não pudesse ser tocada, aprimorada, modificada. Como se a lei das selvas fosse uma espécie de lei divina. Se eu fosse religiosa e acreditasse em divindadades, talvez aceitasse sem qualquer questionamento as idéias de Nietzsche. Como não sou, prefiro constatar os fatos da realidade como se apresentam, observando que nascemos num mundo essencialmente perverso e selvagem, mas que, a despeito de todos as limitações, está ao alcance do homem modificá-lo para melhor. Acho que, bem ou mal, fizemos isso ao longo do processo civilizatório, com grande débito à herança deixada pelo cristianismo...
AriadneMembro“Cara Ariadne, eu não sou especialista em economia e nem a minha leitura sobre o assunto é excessivamente ideológica. Lido com as informações disponíveis na mídia geral. Tenho absoluta certeza de que nenhuma destas informações que eu coloquei são novidades pra você!! Simplesmente eu pego as informações disponíveis e faço um confronto com a lógica. Já virou chavão o termo “alienação”, assim como também toda e qualquer opinião contrária à maioria, já virou “conspirologia”. Mas o fato é que as pessoas estão alienadas e a toda e qualquer opinião contraria à maioria, dá-se o nome de conspirologia ou radicalismo. Dá-se logo o rótulo de ideologia. Concordo que as minhas observações sobre o assunto não são as mais convencionais, alias, a hipótese de um mundo sem dinheiro eu jamais vi alguém cogitar, mas as minhas observações sobre o assunto não carregam esta ideologia, elas apenas fazem um confronto do que é proposto pelo contrato social que existe entre o Estado e o cidadão, e o que realmente acontece de fato.Ligue o rádio agora em algum noticiário e eu aposto que você irá ouvir a cotação da Bolsa de Valores e o Índice Dow Jones... Agora eu te pergunto: Você aplica na Bolsa? Eu apostaria meu braço que 99% dos leitores deste fórum NÃO aplicam na Bolsa nem fazem a menor questão de saber o Índice Dow Jones. Mas, ouvimos todos os dias, de manhã, de tarde e de noite.Eles nos dizem: “Você faz parte deste sistema. Não ouse colocar-se contra ele! Você será apenas uma peça fora da máquina.”Aí eu analiso os meus mais individuais e imediatos problemas, e assim como todas as outras pessoas, resignado digo: Que seja... " Caro Brasil, sou uma grande admiradora de pessoas idealistas, como vc, e o respeito pela sua inquestionável inteligência e cultura, mas não concordo com suas palavras acima e acho que posso resumir minha posição a respeito com as seguintes observações: "Este é o sistema que temos. Se não existisse este, existiria outro. Contesto algumas coisas de nosso sistema e, opondo-me a elas, busco viver tão à margem quanto possível. Mas não conheço outro sistema melhor nem acredito na viabilidade de propostas alternativas, como a sua. Portanto, assim como contesto dentro do que considero necessário, também aceito boa parte das regras do jogo. Na falta de um sistema melhor, não vejo razões para simplesmente sabotar literalmente o que o homem de mais avançado até aqui construiu... "O termo “governo mundial” não orbita somente nas esferas “conspirológicas”. Se analisarmos bem, o fato de ser uma instituição PRIVADA e pertencente a uma sociedade entre vários banqueiros de diversas nacionalidades, a instituição que fornece dinheiro a juros à maior potência bélica e “econômica” mundial e, considerarmos o fato de que essa potência bélica é na verdade o país que tem a maior dívida pública do mundo, perceberemos que as guerras e as constantes interferências internacionais não acontecem por “espírito ético” ou qualquer bom-samaritanismo dos EUA. E sim sob interesses privados de alguns banqueiros espalhados pelo mundo. Ousam desrespeitar até resoluções da ONU, como aconteceu por ocasião da Invasão do Iraque. " Concordo com tudo o que escreveu no parágrafo acima, mas fico na dúvida se você considera que as coisas são invariavelmente assim ou se alguma margem de manobra, a depender do grupo que ocupa o poder? Em outras palavras, não sei se quando critica a invasão ao Iraque está apontando o erro do governo Bush ou afirmando que as coisas só funcionam dessa forma, invariavelmente. Da mesma maneira que fico na dúvida se sua crítica embute a idéia de que a invasão ao Iraque foi exclusivamente motivada por interesses da indústria bélica ou por uma estratégia do governo norte-americano, tendo em vista avançar sobre uma das maiores reservas de petróleo do mundo. Ou se ela considera que, entre tais razões, também podem ter concorrido interesses genuinamente associados à preservação da democracia e dos direitos humanos. "Por outro lado, e principalmente nos países “afetados” pela turbulência da crise, muitas instituições que não foram avisadas pelos mafiosos do FED e realmente perderam dinheiro, são socorridas pelos seus governos locais TOTALMENTE comprometidos política e eleitoralmente com estas instituições. Elas são socorridas com dinheiro público. O que assegura que TODOS os que têm estreita relação com o poder, tendo ou não perdido dinheiro na crise, serão beneficiados.As preciosidades brasileiras que já alegaram ter perdido dinheiro na “crise”: Sadia, Votorantin, Vale, GM, FIAT e mais um monte... Tadinhos!! O Lulu vai resolver... Os bancos não declaram nada publicamente, pois se disserem que não têm dinheiro, aí é que eles quebram mesmo, mas lá na orelha do Lulu eles já estão buzinado há tempos e, estão tranquilos." Concordo perfeitamente que o socorro pode atender a interesses de grupos poderosos e tanto mais quanto mais a política, seja de grupos de esquerda ou direita, se submete exclusivamente a interesses corporativos (de empresários ou entidades de classe poderosas, em detrimento dos interesses da sociedade como um todo). Mas creio que, a depender de certas variáveis, pode atender também ao interesse comum, isto é, da sociedade como um todo, uma vez que a quebradeira do sistema financeiro tem implicações negativas sobre a sociedade em geral... "Agora eu te convido a uma reflexão: Você acha que quando um banco ou uma grande empresa quebra, os seus respectivos donos perdem todo o seu patrimônio? Assim como "aconteceu" com o Banco Nacional ou com a Construtora Encol ? Já te digo que NÃO!" No caso do Nacional, pelo menos, ao que me consta houve de fato confisco dos bens da família Magalhães Pinto... "Ocorre que NUNCA os valores declarados atingem nem sequer 10% do valor dos rombos que elas provocam ao quebrar. Mas, seus proprietários respondem SOMENTE pelo valor declarado. Ou seja, um banco ou uma empresa lucra por 10, 20, 30 anos, manda dinheiro pra fora, etc., e quando quebra, só responde por aquele valor declarado em seu Contrato Social. O que der pra pagar com este valor, será pago, o que não der... Já era. " Mas há que se buscar meios legais para evitar esse tipo de mutreta. Só existe um jeito, a sociedade pressionar e a classe política atuar nesse sentido. Na ocasião do famoso Proer, por exemplo, acabou-se com brechas na legislação que até então permitiam qeu bancos quebrasse, mas os banqueiros saíssem ricos. Porque o tão controvertido Proer efetivamente determinava a expropriação da ação dos controladores, depois a execução dos bens pessoais de todos eles... "Primeiro porque a redução dos juros ocorreu para conter a recessão iminente, depois dos atentados.Como eu te disse, eu não creio que a queda de alguns prédios traria risco de recessão iminente àquele país. Essa estória é a versão da mídia, uma versão fantasiosa, superficial e totalmente descompromissada com a realidade. Na verdade essa é a versão da mídia estadunidense, repassada sem críticas e sem questionamentos pela nossa mídia. Pode ter certeza de que lá, essa estória de "atentados islâmicos" e "risco de recessão iminente" por causa de alguns prédios derrubados, está sendo questionada. Já aqui não, pois, "não é um problema nosso"." Respeito sua posição, mas acho que, assim como alguns segmentos da imprensa e agências de notícidas difundem visões fantasiosas, há muita fantasia também sobre tais fantasias, sem falar que há grupos de lobbistas antagônicos às versões favoráveis aos estadunidenses que também produzem e difundem livremente sua versão dos fatos em ambientes democráticos... Se você estiver disposta a analisar argumentos contrários aos da mídia geral, sobre os atentados de 11/9, assista o documentário Loose Change 2:http://video.google.com/videoplay?docid=695524731610937717&hl=enAgradeço a sugestão, mas não tenho como assistir, uma vez que não instalei caixas de som em meu computador. Mas, justamente para não ter uma visão parcial dos fatos, comprei há algum tempo o livro 11 de Setembro, de Noam Chomsky, que comecei a ler e pretendo agora terminar... "A expansão de crédito se tornou demasiada, trazendo o risco de inflação, e isso exigiu a elevação da taxa de juros, de 1% para 5%.É muito simples: Se eles não quisessem estourar a bolha que eles mesmos produziram, bastaria aumentar os juros SEM EFEITO RETROATIVO. Ou seja, os financiamentos já feitos continuariam com as mesmas taxas de juros que incidiam sobre as prestações à época do início do financiamento. Será que eles não pensaram nisso?Será que para afastar o risco de inflação era preciso alterar os valores dos financiamentos já em curso, já em fase de amortização? Este aumento não deveria ser somente para NOVOS financiamentos? Reflita isto e tente encontrar uma resposta aceitável para isto... " Eu não afirmei, apenas especulei sobre essa possibilidade, mas continuarei buscado entender, da forma menos parcial quanto possível. Certamente, considerarei seus comentários a respeito ao refletir, uma vez que, reitero, admiro sua inquestionável inteligência, base cultural sólida e, sobretudo, postura humanista e idealista diante da vida.
AriadneMembro“Ariadne disse que vê em Nietzsche uma tendência fanático-religiosa… Eu diria que é uma tendência fanático-ateísta. ” Brasil, eu considero o comportamento fanático-ateísta o lado mais óbvio da filosofia de Nietzsche. Mas eu acho que, numa observação mais atenta do autor, depara-se com um legítimo fanático religioso mesmo, no pior sentido do termo. Nietzsche era um determinista influenciado inclusive pela noção de "povo escolhido" de fundo religioso, embora antagônica à filosofia cristã, baseada na possibilidade de conversão de TODOS. A relação que o alemão estabelecia com a Natureza é a mesma que se estabelece com uma divindade. Cabe ao Homem, na perspectiva nietzschena, tão somente aceitar o seu destino, ser escravo ou nobre.
AriadneMembro“Bom, a despeito da “energia” gasta na letras – criança batendo perna -, como é típico de quem não sabe do que diz em filosofia, não há citação, não há base e, claro, não está no tema proposto. Nietzsche era ateu, como mostrei com citações do autor; até aqui, de resto, há “fraseologia”.” Acho que ao Filosofia, sobra arrogância e falta não só conhecimento da obra de Nietzshce, mas raciocínio lógico elementar. Nietzsche era anti-cristão. Isso até as pedras sabem e ninguém está a negar. Já ateu, uma coisa é o que o que ele diz, outra COMO pensa. Nietzsche se declarava ateu, mas era traído pelas próprias palavras. A relação que estabelece com a Natureza, para construir sua ideologia aristocrática, com base numa suposta predestinação dos homens à "nobreza" ou "escravidão", é tipicamente religiosa. Sem falar no fanatismo por Dionísio, cultuado como um mito mais do que sagrado pelo alemão.
AriadneMembroBrasil, eu não sou, como vc, especialista em economia, mas, apesar de respeitar seus argumentos, acho sua leitura excessivamente ideológica, especialmente neste caso. Seguem minhas observações: "Não. Eles só se chamam “títulos” porque houve um financiamento que gerou uma dívida. A dívida só passa a existir após o financiamento. Portanto, na OCASIÃO DO FINANCIAMENTO a denominação “subprime” ou “de alto risco” ainda não existe. O que existe nesta ocasião é um financiamento feito sob a avaliação de especialistas, com base nas projeções feitas por eles mesmos para as TAXAS DE JUROS e com base no valor da renda do financiado. Portanto, o “outro lado”, o lado do devedor, não considera um financiamento de alto risco. Uma vez que, o país segue em franco crescimento, COM BAIXAS TAXAS DE JUROS e o financiamento é feito com projeções nas taxas de juros FUTURAS." -- Não entendo detalhes econômicos para avaliar sua explicação, mas a impressão que eu tenho é que vc condena as intervenções do FED como se tivessem sido tomadas na intenção de enriquecer banqueiros, passando por cima dos motivos por trás de cada uma dessas decisões. Primeiro porque a redução dos juros ocorreu para conter a recessão iminente, depois dos atentados. Isso aqueceu o mercado, gerando um aumento descontrolado na concessão de crédito, que é onde está a origem da crise. Os chamados "subprime" são hipotecas de alto risco, que foram concedidas a clientes com altas chances de não efetuar o pagamento de suas dívidas. A expansão de crédito se tornou demasiada, trazendo o risco de inflação, e isso exigiu a elevação da taxa de juros, de 1% para 5%. A mim parece que a crise é resultante do descontrole, da incapacidade de manter o excesso de crédito relativamente controlado, evitando pressão inflacionária, que por sua vez exigiria aumento das taxas de juros. Portanto, tendo a crer que faltou intervenção, não houve excesso de intervenção, uma vez que as conseqüências dos atentados de 11 de setembro demandaram ações para evitar a ocorrência de uma recessão. Não acho que tudo isso foi "planejado pelo governo Bush" na intenção de favorecer o mercado financeiro, que, por sinal, está agonizando com essa crise. Iludido como TODOS NÓS SOMOS! Pois na ocasião do financiamento TODAS as projeções apontavam para a estabilidade econômica do sistema: Franco crescimento da economia do país e baixas taxas de juros. O que poderia representar alto grau de risco nestas alturas? Só mesmo uma intervenção arbitrária... -- Ok, msa todos estavam igualmente iludidos, inclusive o mercado financeiro! Obviamente, os créditos não foram concedidos na certeza de que seriam impagáveis...
AriadneMembroDe onde você tirou a informação de que os devedores “não apresentavam reais condições de arcar com as dívidas feitas”?-- Do fato de que os títulos subprime se caracterizam como de MAIOR GRAU DE RISCO justamente por oferecer risco dos dois lados... O crédito é concedido a quem oferece risco maior de não pagar, sob a condição de arcar com maiores riscos também. Proveito? Que proveito? Perder a casa e o dinheiro pago é tirar proveito? Existe sim, casos de pessoas inadimplentes que chegam a perder seus bens, mas quando essas pessoas passam a ser a maioria... Aí eu acho que estamos falando de outra coisa e não de índices naturais de inadimplência. -- Ninguém, a menos que seja um louco, contrai uma dívida ciente de que não poderá pagá-la. Contrai ou porque pode efetivamente pagá-la ou porque iludido a respeito das próprias condições de arcar com ela... Isso é óbvio. Mas, respondendo a sua pergunta sobre quem está sendo efetivamente beneficiado, eu diria que são os que estão recebendo os generosos subsídios dos governos.E quem está sendo efetivamente prejudicado são os contribuintes, que convictos em suas ideologias individualistas e cheias de vícios, vêem resignados o dinheiro público indo para o ralo, ou melhor, indo para as contas de bilhardários. -- Honestamente, não sei em que condições estão sendo realizados esses acordos de injeção de liquidez, mas não acredito (não por fé, mas pelo que se pode claramente depreender das informações menos parciais e emocionais veiculadas) que as financeiras tenham saído beneficiadas da crise, muito menos que tudo isso “não passou de um plano maquiavélico do governo Bush para enriquecer banqueiros a custa da população". De qualquer forma, percebo que esse discurso tem boa receptividade entre segmentos expressivos da esquerda, assim como de liberais... E como você faz para saber se o dono do banco subsidiado pelo governo não é também dono do banco “irresponsável” que gerou a crise? Bancos e financeiras são sociedades anônimas, você não tem como saber quem são os donos, sabe-se apenas quem são os administradores! -- No meu texto pressuponho que são. Só não acho que o socorro possa ser evitado (mas eu devo admitir aqui que, não sendo especialista em economia, estou me fiando na opinião dos mais respeitados especialistas, de diferentes matizes ideológicos, com exceção dos ultra liberais), uma vez que as conseqüências poderiam ser muito mais desastrosas que com intervenção e não recairiam exclusivamente sobre os “irresponsáveis”, mas puniriam, isto sim, a sociedade em geral, pagadora de impostos...
AriadneMembro“É aí que se encontra o erro no sistema. A Política, nos dias de hoje, longe de ser o que Aristóteles descreveu, é antes de tudo, uma ferramenta usada pelos poderosos para manter e aumentar seus patrimônios particulares. Vide os lobbys que se encontram em todas as casas legislativas e executivas. O que acaba muitas vezes em sérios conflitos e desarranjos sociais e econômicos. Desarranjos e conflitos em nível mundial, às vezes…As interferências políticas, no atual contexto, raramente são justas e acertadas. São, na melhor das hipóteses, medidas paliativas que pretendem suprir alguma deficiência evidente e comprometedora; “consertar o estrago”, “tapar buracos” e esconder falhas na estrutura. Isso ocorre em todos os âmbitos da política, não só na Economia. " -- Aristóteles é de fato sublime! Mas vc parece estar se esquecendo que a política, embora, deva ser um instrumento para distribuir, de forma justa, riqueza e poder, naqueles tempos legitimava uma divisão da sociedade em castas na qual muitos estavam condenados a nascer e morrer na condição de ESCRAVOS... "Pois ainda não me entrou na cabeça o que teria levado uma potência econômica mundial, como eram os EUA à época de Clinton, que diga-se de passagem, zerou o déficit da economia americana antes de entregar o governo ao Bush" -- Bem, buscando fugir de maniqueísmos, mesmo não nutrindo grande simpatia por Bush, gostaria de lembrar que a desregulação do mercado que culminou na crise imobiliária norte-americana foi em boa parte obra do governo Clinton, não do demonizado Bush: http://www.dissentmagazine.org/article/?article=1229 "Alias, a Torre 7, um prédio bem mais baixo, que ao que parece foi implodido, pois nenhum avião o atingiu e mesmo assim ele veio abaixo, abrigava alguns escritórios da CIA com mais de 200 processos referentes ao então “último” escândalo financeiro de Wall Street. Existe uma grande corrente de estadunidenses que acreditam piamente que houve uma deliberada eliminação de provas com a “implosão” do prédio e pedem uma investigação. " -- É possível que sim, é possível que não. Mas há muito antiamericanismo por parte de ideólgos sectários, portanto eu não me fiaria com tanta certeza nessa versão. De qualquer forma, sempre dá o que pensar... "Sim, é verdade, tudo que expressamos está carregado de ideologias, por menos que percebamos... No meu caso a coisa é explícita mesmo... " -- É verdade, só que uns parecem carregar mais, outros menos. No seu caso, mesmo que fosse muito carregado de ideologia, faz isso de forma honesta, além de ser uma pessoa inteligente e articulada... "Mas o excesso de crédito foi produzido pelo Federal Reserve!! Quando baixou os juros para 1%. E o estouro da bolha também! Uma vez que os credores haviam repassado esses títulos podres a outras instituições financeiras e o Fed Reserve aumentou drasticamente os juros.O Fed Reserve criou a bolha e a estourou. Se ele não tivesse aumentado os juros, a bolha “murcharia” naturalmente ao longo do tempo com a amortização dos financiamentos!Sabia-se que os devedores daqueles títulos eram pessoas com grande parte de suas respectivas rendas, comprometidas. Daí o inevitável e previsível estouro da bolha." -- Amortização dos financiamentos como, se os devedores dos títulos não apresentavam reais condições de arcar com as dívivdas feitas? Minha impressão sincera (e posso estar enganada) é que vc está apenas procurando um bode expiatório no aumento dos juros, pois a raiz do problema (há unanimidade a respeito entre economistas os mais gabaritados, nos mais diversos espectros ideológicos, com exceção de liberais radicais e anarco-capitalistas primários) não é esta e sim a combinação de juros reduzidos com a desregulação do mercado... "Coloco as ideologias fora dessa conta, uso apenas a matemática. Uso também um pouco do espírito maquiavélico, mas não na mesma dose que políticos e mega-investidores usam em suas estratégias políticas e financeiras. " -- Não acho que vc esteja usando a matemática, mas apenas "raciocinando" por meio de ideologia mesmo... rs Sinceramente eu não acredito que alguém compraria uma casa financiada sem ter perspectivas de paga-la, sob pena de perde-la junto com o dinheiro já pago, caso não conseguisse honrar a dívida. Isso é muito pra minha cabeça! -- Imagine, se as pessoas adquirem até bens não-duráveis que não podem pagar, que dizer de bens duráveis, como a casa própria, tirando proveito de crédito excessivamente facilitado! Eu não acho isso tão improvável assim, mas respeito sua posição, claro... Mas certamente não pode referir-se à extensão de benefícios ou prejuízos públicos que elas venham a causar. -- Mas quem está sendo efetivamente beneficiado? Vc acha que os grupos financeiros que forneceram crédito de forma irresponsável foram premiados pela crise, devido ao socorro ao mercado financeiro? Eu acho esse tipo de "denúncia" importante, faz parte do custo da decisão iresponsável que tomaram, daquilo que os americanos chamam como "moral hazard", as financeiras irresponsáveis devem ser punidas não só financeiramente como moralmente, mas eu, sinceramente, vejo muito exagero e fantasia nas acusações...
AriadneMembroOlá, Brasil, com atraso, comento suas respostas ao meu post anterior (trechos da sua mensagem aparecem entre aspas; meus comentários, depois de travessão): "Realmente eu não entendo de Economia. Mas se o que chamam de “fundamentalismo de mercado”, não tiver relação com a crise do capitalismo, então eu acho que o capitalismo está muito mais condenado ao fracasso do que eu pensava. Pois a atual crise imobiliária ao menos vem mostrar que as teorias do Capitalismo, ou seja, as mais atuais teorias econômicas, estavam erradas. Em minha opinião, quem entender que estavam certas, automaticamente tem de concordar que o socorro estatal também está certo." -- Se buscarmos uma explicação fundamentalista para o ocorrido, em termos de 0 ou 100, a situação dá margem a dois tipos de interpretação completamente antagônicas. A esquerda radical pode alegar que a crise é prova do completo fracasso do modelo liberal, da mesma maneira que a direita radical pode alegar que a crise resultou da interferência do governo. Se analisarmos a situação, a segunda interpretação está até mais correta, contudo, incorre no erro, ao menos do meu ponto de vista, de ignorar o papel da política, que é interferir em determinadas situações. E, honestamente, sem querer sair em defesa de Bush, mas a iminência de recessão causada pelo 11 de setembro me parece uma delas... "Também não concordo com a denominação da atual crise imobiliária como “fundamentalismo de mercado”. O que me parece que aconteceu é que após os ataques de 11/9, os EUA entraram em crise e o Federal Reserve abaixou sobremaneira os juros, a pretexto de dar uma injeção de ânimo no mercado... Aumentando pirotecnicamente a oferta de crédito, obviamente tornou “fácil” o financiamento de imóveis para pessoas de baixa e média renda. Com isso os números na aceitação do governo do Sr. Bush também aumentaram, tanto que ele se reelegeu... Agora no final do jantar (opa) do mandato, o Fed Reserve aumentou os juros tornando as prestações das casas financiadas, impagáveis. Isso não me parece um “fundamentalismo de mercado”, parece um golpe mesmo. " -- Alega-se fundamentalismo pelo fato de a crise ter sido gerada pela falta de regulação do mercado financeiro. Quanto ao seu comentário relativo ao governo Bush, de fato, foi um governo desastrado, mas eu acho que há muito de ideologia na crítica a ele e na sua análise também. Mesmo porque, pelo que me consta, não foi "o aumento dos juros no final do jantar", como vc diz, que gerou a crise. A crise foi gerada pelo excesso de crédito. Independente dos juros terem posteriormente aumentado, a bolha já estava formada e pronta para estourar, pois foram feitos empréstimos irresponsáveis para um público que não teria condições de arcar com a dívida que fez. "Não são sinônimos, mas as mais recentes teorias econômicas aplicadas pelos países desenvolvidos são as liberais." -- Sim, mas liberalismo é uma ideologia, não um sistema econômico. O capitalismo é um sistema econômico, que pode ser ultra liberal ou moderadamente intervencionista. "Sim, o problema está nestas intervenções “moderadas”, as quais parecem ser imprescindíveis para o “perfeito” funcionamento da Economia. Se o Estado tem o poder de intervir quando quer, e segundo você, estas interveções são recomendáveis, então estamos na dependência das “pessoas de todos os tipos” que compõem o Estado, e que não são confiáveis, conforme você citou. Não é verdade? Percebe a "encruzilhada" histórica a que eu me referi, e o vazio em que as ideologias capitalitas então entrando diante disso? " -- Ocorre que, sendo as intervenções moderadas, os riscos são menores, uma vez que o Estado não concentra poderes sozinho. Daí inclusive o papel da dialética, a crítica permanente de determinados setores aos excessos da iniciativa privada e, do outro lado do front, aos excessos do Estado, o que, a meu ver, gera um certo equilíbrio de forças nas democracias... "As ideologias vão caindo junto com os muros... As de Esquerda, cairam junto com o Berlin Wall e as de Direita cairam junto com a Wall Street." -- Depende do que se quer caracterizar como ideologias de esquerda ou direita. Os radicalismos tendem a cair, porque o pêndulo vai de um lado ao outro, tendendo a se equilibrar, mas, devido às crenças ideológicas cegas, inevitavelmente a partir de excessos que se contrapõem... Pelo menos, é assim que estou vendo. "Você acha que o discurso liberal radical, ou a sua aplicação na prática, limita o Capitalismo? " -- Sem dúvida, é o que esta crise inclusive nos mostra... "Pois, se ela surge criada pelo país do capitalismo, aquele que prega uma cartilha capitalista cheia de recomendações econômicas aos outros países... O que pensar?" -- O que eles pregaram nos últimos anos foi o modelo ultra liberal, de um capitalismo desregulado. O capitalismo, pelo que se vê, não prescinde de um certo nível de regulação.
AriadneMembro“Utopias à parte, eu penso que dentro do atual sistema, encontramo-nos em uma encruzilhada histórica. É o fim de uma ideologia e o início de um vazio intelectual e ideológico nas políticas econômicas mundiais, seja de esquerda ou de direita. Todos falam mas ninguém diz nada, os exemplos e os fatos desmentem a todos.Compete ao Estado regular a Economia ou não? Quem ousa afirmar categoricamente? " Espanta-me tal afirmação sobre "vazio intelectual e ideológico", uma vez que parte de um falso pressuposto, o de que a atual crise do chamado fundamentalismo de mercado tem alguma relação com uma hipotética crise do capitalismo, quando se tratam de coisas totalmente distintas. Capitalismo e liberalismo não podem ser confundidos, Brasil. Não são sinônimos. O capitalismo convive com intervenções moderadas do Estado na economia em todos os países desenvolvidos, especialmente na Europa, mas também nos EUA. Quanto a competir ao Estado regular a economia, muitas teorias tornam recomendável que seja o mais discreta possível e a prática confirma. Tanto que, com a crise das economias européias, na década de 80, precisou-se recorrer à desconcentração da atividade econômica nas mãos do Estado em favor da iniciativa privada. Da mesma forma como a pregação neoliberal dos "Chicago Boys", nos EUA, que estimulou o fundamentalismo de mercado desde os anos 80, culminou em mais uma crise que, a exemplo do que ocorreu no New Deal, exige medidas por parte das autoridades financeiras governamentais. Não quero parecer antipática, mas acho importante tratar esses conceitos com cuidado. Uma coisa que sempre me incomodou é o discurso liberal radical, que limita o capitalismo ao chamado fundamentalismo de mercado. E agora venho me incomodando com a forma oportunista, no caso de alguns, equivocada, no de outros, que tentam usar a crise do fundamentalismo de mercado como se tratasse de uma crise do próprio sistema capitalista. Isso é completamente falso.
AriadneMembro“O Estado existe porque o bicho Homem não é confiável. Se algum jovem que esteja começando a interessar-se por política ler o que você escreveu, entenderá que nos regimes capitalistas a usurpação do poder público não ocorre ou ocorre com menor freqüência.” Bem, observado, Brasil. Mas da mesma maneira como o Estado também é constituído por homens (de todos os tipos), logo não sendo também confiável. Daí porque o chamado sistema de pesos e contrapesos, próprio de regimes democráticos, por precários que sejam, na prática comprovam mais eficiência que os sistemas centralizados, baseados na concentração de poder nas mãos do Estado.
AriadneMembro“E quanto a alienação do trabalhador, é mais que claro que ele está alienado,(no termo marxista da expressão) a divisão organizacional do trabalho moderno impõe isto! Veja só, estou em uma fábrica em Camaçari/ba, sou responsável pelos serviços de telefonia, e não sei qual o nome do(s) produto(s) final(is) que saem daqui, isto não é desinformação, é alienação, não me sinto parte do produto, estou alienado. ” Pretendo ler mais detidamente as mensagens do tópico e participar desta discussão. No entanto, ao deparar com o termo alienação, é irresistível lembrar que a palavra está saturada, expressando muito mais impressões pessoais, a partir de um dado ponto de vista, quase sempre superficial, do que um fenômeno em si. Aliás, a perspectiva de Gadamer enriquece muito essa questão, ao considerar que, ao optar por um sistema de valores, seja qual for, renunciamos a outro.
AriadneMembroBrasil, na doutrina marxista a mercadoria, o mercado e o dinheiro são a alienação. O que Marx propõe é completamente absurdo. Numa sociedade complexa não se pode decidir politicamente qual a quantidade de cada tipo de produto se irá produzir. Isso só pode ser regulado pela existência de uma moeda, de um mercado. Consumidores precisam ser soberanos, ter autonomia em relação ao Estado, tanto do ponto de vista do consumo como da produção. O mercado, no entanto, também tem seus limites de funcionamento? Sim. Daí a necessidade de adequá-lo a determinadas regras, segundo Keynes.
AriadneMembroOlá, Brasil, não digo bom samaritanismo, mas que estes tenham, a partir de regras estabelecidas para impor limites (como as que sucederam o escândalo Enron), de atuar dentro de princípios aceitáveis tanto do ponto de vista de uma economia mais saudável, como de um capitalismo mais ético, digamos assim, e conseqüentemente mais viável também…
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