Por que Marx errou?

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  • #73798

    Estava relendo todas as opiniões postadas neste fórum. Algumas delas me chamaram a atenção:

    Sofia (já leu o mundo de Sofia? É excelente!) diz : “como todos os outros pensadores, (Marx) não a escreveu para que tentássemos justificar ou condená-los, mas para que a partir de algumas diretrizes pudéssemos mudar alguma coisa” Bem dialético esse pensamento!

    Raquel: “costumo dizer que ainda falta saltar para as bancas o “Livro Negro do Capitalismo” e quando isso acontecer se acontecer, iremos todos por “as mãos na cabeça”…Concordo com ela. Muitas coisas ainda não sabemos sobre o capitalismo.

    André Luiz Martins expôs muito bem que: “A teoria da mais valia de Marx é atualíssima. A horda de desempregados, chamados por Marx de exército de reserva do capitalismo continua crescendo e sustentando a liberdade do capital circular e concentrar riqueza e poder por um lado, pobreza e guerras por outro lado.”
    Além disso, caro André, o exército reserva de desempregados faz pressão para que o cidadão que tem emprego não saia, não desista, não reclame do chefe ou do salário. O cidadão tem que agüentar, por que se ele desistir há vários a fim de tomar o lugar dele.

    Gostei muitíssimo do texto do L. Niarlathorth: “O sistema capitalista tem como essência a competição e divisão dos homens em duas parcelas: os possuidores de bens e os não possuidores de bem e sobre este patamar acredito eu que ele (o capitalismo) … é vitorioso pois é exatamente o que vemos.” – E eu acrescento que a condição de existência do capitalismo é a necessidade de haver concentração de riqueza por poucos. Se é condição de existência, logo o capitalismo NUNCA vai abarcar uma sociedade sem exploração. Parabéns, L. Niarlathorth, pelo seu texto.

    Nahuina: “MUITAS VEZES o homem faz aquilo que critica e/ou aquilo que mais odeia….” Uma opinião bem Freudiana. Gostei.

    E. Mileto de Souza (esse cara já tem nome de filósofo): “Afinal de contas, qual a síntese que não acaba se transformando em tese para as novas antíteses da vida?”

    O ponto principal que eu sustento é que Marx pode e deve ser criticado, repensado, revisado e atualizado. Mas para isso devem pré-existir condições muito sistemáticas. Antes de qualquer coisa, Marx deve ser estudado à exaustão, para que não se cometam erros como chamar Marx de determinista, mecanicista, ingênuo etc. Isso, na minha opinião, são erros interpretativos. Não quer dizer que a pessoa que afirme isso seja ignorante, ela só não leu o suficiente ou leu há muito tempo e já se esqueceu de certos detalhes. Lembrem que nossa memória é interpretativa e seletiva, e nosso nível de atenção influencia nisso também.
    Novamente recomendo o excelente “Comunismo e filosofia, revisões do marxismo hoje” de Maurice Cornforth. Neste livro, os mitos que o senso-comum cria sobre marxismo, ideologia, comunismo, materialismo histórico/dialético etc são desfeitos pelo autor. Ele justifica Marx em vários pontos e mostra como algumas das críticas feitas ao moço são fundamentadas em interpretações vazias ou pouco consistentes. Não obstante Cornforth também defende que uma revisão e atualização são necessárias (dentro de certas condições metodológicas). Mas isso, na minha opinião, não é tarefa fácil. Esta tarefa requer muito senso crítico-interpretativo e principalmente, muuuita leitura.

    O nível do debate está muito bom. Espero vê-los à noite.
    Novamente, parabéns pelo site!

    #73799

    A frase inicial do Manifesto Comunista,”a história de todas as socieddades até hoje existentes é a história da luta de classes”, levou alguns marxistas ingênuos a acreditar, enganosamente, que as classes sempre foram uma característica da sociedade humana. Na verdade, Engels mais tarde acrescentou uma nota ao texto, para evitar essa concepção errônea, esclarecendo “isto é, toda história escrita” e observando que isso não se aplicava a sociedades primitivas nas quais nenhuma classe de havia ainda formado.

    Trecho de Comunismo e filosofia, dogmas e revisões do marxismo hoje. autor: Maurice Cornforth

    Vejam que interessante (retirado do mesmo livro):

    …uma lição que aprendi…dada por um trabalhador em estradas numa área remota de North Essex. Disse ele: “É engrassado que a imprensa capitalista diga mentiras que soem como verdade, enquanto nós dizemos a verdade e quase sempre ela soa como mentira”

    O que acham?

    #73800

    Renan,

    Muito interessante esta citação destacada. Me fez recordar uma propraganda veiculada pelo Governo do Estado-Ba na TV, esta semana em pleno horário nobre; no intervalo do JN. Na referida propaganda o Governo apresenta uma diversidade de números onde levaria um espectador deconhecedor da realidade a concluir que as Universidades estaduais estariam entre as melhores do Brasil, tanto em termos de estrutura física e quantidade de professores. Este anúncio, estratégico, é resultado de uma greve dos professores destas universidades que já dura quase 30 dias. Os motivos? Aqueles que a propaganda não mencionou aliás, mascarou: estrutura física degradante, dívidas com fornecedores que levou a cortes de energia, água e telefone em diversos ocasiões, salários defasados, etc, ou seja, nada de novo… Agora vou esperar – sentado – que o sindicato dos professores desembolsem uma grana considerável e paguem uma réplica no mesmo horário nobre, para esclarecer as “verdades” do Governo do Estado.

    E para não fugir da questão central do debate- POR QUE MARX ERROU? – gostaria de acrescentar um dado: Não devemos esquecer que alguns marxistas do início do século passado trataram de popularizar as idéias de Marx, pois precisavam arregimentar um maior apoio da classe operária, e para isso “simplificaram” algumas das teorias de Marx, que resultou em alguns dos erros destacados por Renan; determinismo, mecanicismo, etc…

    #73801

    “alguns marxistas do início do século passado trataram de popularizar as idéias de Marx…e para isso “simplificaram” algumas das teorias de Marx, o que resultou em alguns dos erros”

    esse é um ponto muito importante e voce lembrou bem. Geralmente as críticas que ouço sobre Marx são feitas a partir dessas idéias simplificadas no senso-comum, o que nem tangencia a verdadeira essencia de Marx e Engels

    #73802

    Ultimamente se ouve muito falar no PÓS-MODERNISMO (falta de referências, sociedade sem valores consistentes, tudo se tornando descartável) . Veja como MARX ainda é SUPER ATUAL em algumas teses:
    Obs: as notas entre parênteses são de minha interpretação.

    “A burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os instrumentos de produção, e conseqüentemente as relações humanas de produção, e com estas todas as relações sociais (família, amizade, etc). O revolucionamento constante da produção (através das novas tecnologias, por exemplo), a perturbação ininterrupta de todas as condições sociais, a permanente incerteza (falta de referências) e agitação distinguem a época burguesa de todas as épocas anteriores…Todas as relações novas tornam-se antiquadas antes de se consolidar (as amizades, por exemplo). Tudo o que é sólido se desmancha no ar, tudo o que é sagrado é profano (falta de valores consistentes)”. Marx e Engels, em Manifesto Comunista.

    Isso é pós-moderno.
    ATUALISSIMO!!!

    Outra muito boa:

    “A partir da própria contradição entre interesse do individuo e o da comunidade, este (interesse da comunidade) assume uma configuração autônoma enquanto Estado, separada dos interesses reais do individuo e da comunidade.” Marx e Engels, em A Ideologia Alemã.

    Isso está acontecendo agora.

    #73803
    nahuina
    Membro

    Renan: Voltei!
    Concordo, Marx teve uma visão do mundo e da sociedade tão inteligente, que muitas das coisas que ele descreveu/explicou e nem estavam totalmente consolidadas se concretizam HOJE e A CADA MOMENTO, ñ só na economia ou na relação das classes sociais, ele falou sobre religião de forma brilhante, ou de alienação em si;…Mas sabe qual é o problema do Marx?Eu acho que, por um lado, as criticas eram ótimas! Mas as propostas deixam a desejar bastante. Vc ñ acha?
    Eu particularmente prefiro as idéias anarquistas, ñ que sejam possíveis nem impossíveis; ambas são tão prováveis quanto utópicas, mas entre a ditadura do proletariado e a abolição plena de qualquer relação de poder, eu escolho a segunda…
    O q vc diz?

    #73804

    Se for isso, não concordo com o que o Marx fala sobre a burguesia. Uma coisa não tem nada a ver com a outra (revolucionar produção/incerteza de valores).

    O que mata todo o bom-senso é a má distribuição de renda, a não participação nos lucros da produção e o Estado não-interventor despreocupado com a qualidade de vida de seus cidadãos…

    #73805
    nahuina
    Membro

    “(…)e o Estado não-interventor despreocupado com a qualidade de vida de seus cidadãos…”
    Mas o estado é opressor!A idéia de um estado que ampare os cidadãos chega a ser contraditória. O estado no mundo em que vivemos é perfeito e cumpre a sua função muito bem, o erro se dá quando nós achamos que o estado deveria ser uma coisa que essencialmente vai contra a idéia de Estado… A abolição do estado* seria mais útil…

    *e das igrejas..jaja..

    #73806

    …o erro se dá quando nós achamos que o estado deveria ser uma coisa que essencialmente vai contra a idéia de Estado…

    Aí eu discordo. O Estado não é um universal, é um Ser-para-si…

    #73807

    Oi pessoal,

    Em resposta a Nahuina:

    Você escreveu: “Mas sabe qual é o problema do Marx? Eu acho que, por um lado, as criticas eram ótimas! Mas as propostas deixam a desejar bastante. Vc ñ acha?
    Eu particularmente prefiro as idéias anarquistas”

    Resposta:
    Ainda não formulei uma idéia muito concreta sobre a anarquia. A anarquia, entendo eu, é um tipo de marxismo heterodoxo. Acho válido, mas preciso analisar mais profundamente as propostas anarquistas.

    Mileto,
    gostaria de retomar o tema que você desenvolveu em 11 de Junho de 2005 -12:52pm: “Não, a Constituição não OBRIGA, ela apenas PRESCREVE como um dever…”

    Concondo inteiramente com você. Essas palavras (prescreve e obriga) têm significado muito diferente.
    Observe o contexto em que o verbo “OBRIGAr” foi usada por você: “A solução é simples, dentro do próprio capitalismo: é só fazer uma Constituição que OBRIGUE o Estado a fomentar as necessidades básicas do cidadão” (Enviado em 11 de Junho de 2005 – 11:46 am)

    Minha opinião é:
    sua idéia é muito boa, mas ela não e SIMPLES como voce afirmou. Não há soluções simples para problemas complexos.

    Voce pode, se quiser, reelaborar sua proposta, acresentando as dificuldades, os pontos positivos e negativos. Será que é de interesse político que se haja essa Constituição?

    #73808

    Interesse político, não. Interesse pessoal. Pena que os meus interesses pessoais nem sempre sejam o da maioria.

    Mas, você certo quando diz que não é tão simples produzir uma constituição que torne obrigatórios os atos que instituem e preservam a qualidade de vida dos cidadãos, ao invés de, simplesmente, prescrevê-los como deveres.

    Inicialmente, poderíamos pensar em impostos só para aqueles que tem mesmo capacidade de pagar.

    Uma modelo, um jogador de futebol, por exemplo, ou um cantor podem ganhar somas de dinheiro “incalculáveis”. Por que tanto dinheiro?

    Qual a contribuição de um show de rock para os benefícios sociais? Ora, são esses que deveriam pagar a maior taxa de impostos e, não, os cidadãos que mal conseguem se sustentar…

    #73809
    nahuina
    Membro

    Aí eu discordo. O Estado não é um universal, é um Ser-para-si…

    O estado é um ser-para-si?

    Mas ele é, com suas caracteristicas próprias…o nosso erro ocorre por não entendermos as caracteristicas reais do estado ….nós acreditamos na mentira que nos vendem….

    #73810

    Aí descordo totalmemte.
    Acho que suas criticas são dirigidas aos objetos errados.

    Modelos, artistas, esportistas, médicos,advogados etc são todos trabalhadores. Por mais que eles ganhem bem, é através do trabalho, sendo assim é o valor justo. Além disso, a indústria fonográfica, cinematográfica, os proprietários etc é que ganham dinheiro mesmo. Esses acumulam dinheiro a partir do trabalho dos artistas (se vc acha que um cantor ganha bem, imagine quanto ganha a SOM LIVRE em cima não só daquele cantor, mas de vários outros)
    Critique os governos, as indústrias, a burguesia se quiser. O trabalhador não (pelo menos não nesse contexto).

    “Qual a contribuição de um show de rock para os benefícios sociais?”
    A arte, assim como a filosofia, é muito importante para a humanidade. Não precisa nem dizer porque.

    #73811

    O Estado é universal. Como? Ele é uma organização intrísseca à natureza humana?
    O Estado é um ser-para-si. COMO? Ele existe por si proprio?

    O Estado burgues é uma instituição (impessoal) que visa manter a propriedade privada. Só para isso que ele existe e por isso foi criado.

    #73812
    nahuina
    Membro

    “A arte, assim como a filosofia, é muito importante para a humanidade. Não precisa nem dizer porque”.
    Concordo plenamente…

    O Estado burguês é uma instituição (impessoal) que visa manter a propriedade privada”, é verdade!
    Acho que vc vai gostar:
    (…) Não hesito em dizer que o Estado é o mal, mas um mal historicamente necessário, tão necessário no passado quanto o será sua extinção completa, cedo ou tarde. O Estado absolutamente NÂO È a sociedade, é apenas uma forma histórica tão brutal quanto abstrata. Nasceu historicamente, em todos os países do casamento da violência, da rapina e do saque (isto é, da guerra e da conquista) com os deuses criados sucessivamente pela fantasia teológica das nações. Foi, desde sua origem e permanece ainda hoje, a sanção divina da força brutal e da iniqüidade triunfante.
    (…) A revolta é muito mais fácil contra o Estado, porque há na própria natureza do Estado alguma coisa que leva à revolta. O Estado é a autoridade, é a força, é a ostentação e a enfatuação da força. Ele não se insinua, não procura converter: sempre que interfere, o faz de mau jeito, pois sua natureza não é a de persuadir, mas de impor-se, de forçar. Inutilmente tenta mascarar esta natureza de violador legal da vontade dos homens, de negação permanente da sua liberdade. Então, mesmo que determine o bem, ele o estraga, precisamente porque o ordena, e pq toda ordem provoca e suscita revoltas legítimas da liberdade; e porque o bem, no momento moral humana, não divina, do ponto de vista do respeito humano e da liberdade, torna-se um mal.(…)Exploração e governo, o primeiro dando os meios de governar e constituindo a base necessária assim como o objetivo de todo governo, que por sua vez garante e legaliza o poder para explorar, são os dois termos inseparáveis de tudo o que se chama política. (…)
    A exploração é o corpo visível e o governo é a alma do regime burguês.E, como acabamos de ver, uma e outra, nessa ligação tão intima, são, tanto do ponto de vista teórico como prático, a expressão necessária e fiel do idealismo metafísico, a conseqüência inevitável desta doutrina burguesa que procura a liberdade e a moral dos indivíduos fora da solidariedade social. Esta doutrina leva ao governo espoliador de um pequeno grupo de privilegiados, ou de eleitos, à escravidão espoliada da maioria e, todos, à negação de toda moralidade e de toda liberdade.

    1871 – Michael Alexandrovich Bakunin

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