O ROMANCE DA LITERATURA INGLESA

O ROMANCE DA LITERATURA INGLESA

Henry Thomas

Quem escreveu as peças de Shakespeare?

TEM havido grande controvérsia entre os estudiosos para saber se as chamadas peças de Shakespeare foram escritas por Shakespeare ou por Bacon.

Os baconianos sustentam que Shakespeare foi um inculto ’empregado de açougue, crescido num meio ignorante e totalmente jejuno do vasto cabedal de cultura, que entra na criação das peças, vindas a lume com seu nome.

A este argumento respondem os shakespearianos que, em primeiro lugar, Shakespeare não era totalmente inculto, e, em segundo lugar, que há muitos casos na literatura de homens de pouco cultivo haverem produzido obras geniais. A inspiração, dizem eles, é muito mais importante do que a educação. Além disso, apontam eles o fato de cometer sempre Shakespeare enganos tais que Bacon jamais poderia cometer. Porque Shakespeare é um poeta c Bacon um erudito. Shakespeare, cuja inspiração é maior do que seus conhecimentos, atribue um litoral à Boêmia, que não passa de um país interno; faz Heitor citar Aristóteles, que viveu cerca de 700 anos depois de Heitor; e dá o nome de Lupercais, que eram uma festa romana, a uma colina de Roma. Além disso, declaram os shakespearianos, Bacon jamais poderia alçar-se às culmi-nâncias poéticas de Shakespeare. Todo o vigor de Bacon como filósofo acentua sua fraqueza como poeta. Um homem, cujo pensamento é todo precisão, nunca pode elevar-se nas asas loucas da fantasia.

E assim a controvérsia entre os baconianos e os shakespearianos continua divertidamente acesa. Para um observador de fora, parece espantoso não tanto que Shakespeare pudesse ter escrito as suas sublimes peças, mas que um cérebro humano pudesse tê-las concebido. Porque nenhum escrito terreno jamais se aproximou tanto da interpretação da misteriosa linguagem dos anjos.

A melhor frase a propósito da controvérsia bacon-shakespeariana talvez tenha sido a de Mark Twain. "Acredito, diz êle, que as peças de Shakespeare não foram escritas por Shakespeare, devem ter sido escritas por outro camarada do mesmo nome".

O poeta cego

CURIOSA travessura do destino é que um dos maiores músicos da história fosse surdo e que muitos dos maiores poetas fossem cegos. A natureza parece gostar de contradições. O poeta inglês Milton (1608-1674) foi um deles.

Milton perdeu a vista a serviço de sua pátria, não como soldado, mas como reformador. Quando Cromwell se tornou ditador da República Inglesa, nomeou Milton um de seus secretários. O jovem poeta abandonou seus versos e dedicou-se de corpo e alma à causa da liberdade. Os deveres, que êle mesmo se impunha, conservavam-no frequentemente preso à escrivaninha até altas horas da noite, sob a luz fraca duma vela vacilante. Esse esforço deu-lhe cabo da vista.

A recompensa que teve por esse trabalho foi uma ordem de prisão. Porque a revolução inglesa foi derrotada e todos os partidários de Cromwell tratados como inimigos do Estado.

Saído da prisão, Milton voltou ao seu velho amor, as Musas. E então transformou o passivo de sua cegueira em ativo. Incapaz de enxergar os costumeiros espetáculos do mundo, voltou sua visão interior para as glórias do Céu. O poema épico que escreveu, quando cego, é um dos tesouros literários do mundo. Depois das peças de Shakespeare, considera-se o Paraíso Perdido, de Milton, geralmente, como o ponto culminante da literatura inglesa.

O Paraíso Perdido baseia-se na Queda do Homem, tal como a relata a Bíblia. Satanaz, tendo-se rebelado contra Deus, é arremessado no baixo mundo subterrâneo. Seu poder desapareceu, mas sua rebeldia permanece. "É melhor, exclama êle, reinar no Inferno, que servir no Céu".

Logo que se encontra nas regiões profundas, principia a tramar novas teias de males e crimes. Fica sabendo que um novo mundo foi criado e que as criaturas que o habitam se chamam homens e mulheres. Essas criaturas, contam-lhe, estão destinadas a se tornar maiores do que êle. Sua inveja imediatamente se alteia. Determina conduzi-las, se possível, para fora do Paraíso e conservá-las para sempre impossibilitadas de a êle voltar.

Em consequência, transforma-se numa serpente e tenta Eva a partilhar o fruto da Árvore da Ciência. Ela deixa-se tentar e acha o fruto tão doce que insiste com Adão, para que desobedeça, como ela mesma havia desobedecido. Adão horroriza-se, mas decide comer o fruto para ser solidário com Eva. Quaisquer que sejam os sofrimentos que ela deva suportar, Adão está decidido a afrontá-los com ela. A despeito de sua desobediência, Adão ainda a encara como "sagrada, divina, boa, amiga e delicada". Seu pecado, verifica êle, foi mais devido à fraqueza que à maldade. Não se enraivece contra ela, mas apenas sente compaixão. Dirige-lhe palavras de piedade e de ternura. "Ó tão enganada, tão fraca e infeliz Eva", diz-lhe êle.

Mas a sentença deles está lavrada. Por causa dos pecados de Eva devem ambos ser expulsos do Paraíso. O anjo Miguel desce do Céu, e, com uma espada de fogo na mão, leva o casal faltoso para fora das portas. E assim os aflitos Adão e Eva, "de mãos dadas, a passos errantes e vagarosos, empreendem a sua jornada solitária através do Éden".

Mas há um conforto na sua aflição. Porque o anjo lhes profetiza que seu banimento não será para sempre Tempo virá em que o Filho de Deus se erguerá em toda a Sua glória, majestade e compaixão. E Êle perdoará os pecados dos homens e conduzirá seus passos errantes de regresso às portas de ouro do Paraíso.

O romance premiado dos tempos

TRAVEMOS conhecimento com Henry Fielding, bravateador e barulhento gigante, com mais de um metro e oitenta de altura, de longos membros e pesados punhos, robusto comilão e extravagante perdulário, amante do bom vinho e das mulheres de má vida, espírito grosseiro, casca-grossa, blasfemador e fanfarrão escudeiro inglês do século XVIII.

Travemos conhecimento com Henry Fielding, marido carinhoso, pai afetuoso, amigo bravo, leal e generoso, homem muitas vezes mergulhado na pobreza, mas sempre vindo à tona sorridente, homem doente que fez de sua doença uma pilhéria, grande criança simples e pura, sem pompa ou vaidade, odiando o fingimento, saudável e simpático romancista inglês do século XVIII, embora sem odiar os homens, delicado, sensível.

São estes os dois contraditórios retratos de Fielding, que tiramos de seus biógrafos. Não obstante, ambos os retratos são essencialmente fiéis. É um homem de tão contrastantes sombras e cores que produz aquilo que a quase unanimidade dos críticos escolheu como o mais extraordinário romance de todos os séculos: A história de Tom Jones.

A história é comprida e o enredo complicado. Traçarei aqui um simples esboço. Tom Jones é um enjeitado. O velho e bondoso sr. Allworthy (cujo nome condiz admiravelmente com seu caráter, (*) torna-se seu pai adotivo.

O sr. Allworthy tem uma irmã. Miss Bridget Allworthy, que se casa com certo capitão Blifil e dá à luz um filho. Blifil Júnior. Tom Jones e Blifil Júnior são criados na mesma casa. Tom Jones é um menino amável, que sempre se mete em daninhas travessuras. Blifil Júnior é um hipócrita desprezível, cujo procedimento está acima de censura, mas cujo coração é tão negro como a noite.

O sr. Allworthy, Miss Bridget e a maior parte das outras figuras do livro crêm que Tom Jones seja um velhaco e Blifil Júnior um santo. Porque só podem julgar pelas aparências externas. E Blifil Júnior faz o que pode para alvejar seu próprio caráter ç, enegrecer o de Tom, sempre que há oportunidade.

Crescidos, vêm a conhecer Sofia Western, a formosa filha do sr. Western. Tom Jones apaixona-se por ela e ela retribue sua afeição. Mas Blifil Júnior também tem seus desígnios a respeito dela. Deseja desposá-la, não por amor, mas para apoderar-se de sua fortuna.

Blifil, por meio de manhosas insinuações e abertas acusações, consegue a expulsão de Tom Jones da casa de seu pai adotivo.

(•) Seu nome traduzido seria Perfeitamente Digno. (N. do T.) (•) Nome familiar dado à cidade de Boston. (N. do T.).

Tom segue para Londres. Sofia acompanha-o. O sr. Western e Blifil acompanham Sofia. E começa então uma série de aventuras, perseguições, encontros e desentendimentos, que conservam atônitas as figuras do livro e divertido o leitor, até atingirmos o ponto culminante. Este, que termina com um duelo, está a ponto de pôr um fim à carreira de Tom Jones, porque Tom fere gravemente seu adversário, um tal Fitzpatrick, e é lançado na prisão.

Fitzpatrick, porém, recupera a saúde e Tom Jones é posto em liberdade. Toda a companhia de perseguidores e perseguidos se encontra em Londres. Ali se descobre que Tom Jones, a despeito de sua rudeza, é realmente um excelente rapaz; e que Blifil, a despeito de sua solenidade, é afinal de contas um patife. E, a mais surpreendente de todas as descobertas, vem-se a saber que Tom Jones é irmão uterino de Blifil, isto é, filho de miss Bridget Allworthy.

Suas escapadas são perdoadas e consentem que se case com Sofia.

Mesmo Blifil, o desprezível vilão da história, consegue escapar de qualquer punição, graças à generosidade do autor. Porque não é do feitio de Henry Fielding fazer os outros sofrerem. Censura-lhes as faltas, é certo. "A natureza humana, diz êle, é em toda a parte objeto de ódio e de desprezo… Não há quem esteja livre de faltas". Contudo, todos os homens, até mesmo Blifil, possuem, para usar a frase de Goethe, um instintivo anseio de luz. Como exprime Fielding, "eles têm, no íntimo, a despeito de sua baixeza, grande bondade de coração." E assim vemos Blifil despedido com um bonacheirão dar de ombros e renda suficiente para conservá-lo a salvo de necessidades, até o fim de seus dias. Como o desconhecido poeta, acredita Fielding na tolerância e no perdão:

"Há no pior de nós tanta bondade E no melhor de nós tanta maldade, Que mau será querer a todo instante Descobrir falta em nosso semelhante."

O romance de Walter Scott

SIR Walter Scott (1771-1832) foi o grande mestre das histórias heróicas. Contudo nunca narrou a história de seu próprio heroísmo. Quando criança, era doente e aleijado. Não obstante, sobrepujou de tal maneira esse obstáculo, que era tido como o melhor lutador e saltador da cidade.

Seu sofrimento físico perseguiu-o durante toda a vida. Às vezes seu tormento era tamanho que não podia escrever. Dois de seus maiores romances, A Noiva de Lammermoor e Ivanhoé, foram ditados enquanto o autor estava padecendo tão agudas caimbras, que frequentemente se via obrigado a dar altos gritos. Mas quando seu secretário lhe pediu que repousasse, recusou-se.

"Não, Willie, disse êle. Trate apenas de ver se as portas estão bem fechadas, para que não me ouçam os gritos".

Aos cincoenta anos, a casa editora de que era sócio comanditário faliu e deixou-o responsável por dívidas, no montante de treze mil contos. Embora nada houvesse êle feito para acarretar com essas dívidas, assumiu o encargo de seu pagamento. Estava doente naquela ocasião; sua mulher, incapaz de suportar aquela tensão, não resistiu e morreu; mas Scott continuou intratavelmente para diante, de coração partido, mas com a heróica resolução de liquidar a dívida.

Dentro de dois anos pagou quatro mil contos. Depois seu espírito decaiu em parte. Com "metade de um cérebro", mas com redobrada coragem, prosseguiu. Restituiu outros dois mil contos. Em seguida, foi vítima de um ataque de paralisia. Logo que se restabeleceu, continuou. Escreveu O Conde Roberto de Paris e Castelo Perigoso, e a dívida ficou reduzida de outros dois mil contos. Mas depois sua grande inteligência deu-se por vencida. Felizmente seu último ano de vida foi alegrado por estranha alucinação. Acreditava haver pago toda a dívida. Foi nessa crença que morreu, deixando ainda por pagar cinco mil contos.

Seu seguro reduziu a dívida a três mil contos. O restante foi pago com os direitos de autor e propriedade literária de seus livros. No prazo de quinze anos a dívida foi liquidada até o último vintém.

Tal foi a heróica tarefa que a si mesmo se impôs esse "mágico do norte". Scott havia escrito os maiores romances históricos do mundo. Talvez um ainda maior reste a ser escrito: O romance de Walter Scott.

A curiosa história das viagens de Gulliver

SWIFT foi um satirista. Sua vida (1667-1745) partiu da pobreza e acabou em sofrimento. Sua carreira foi um fracasso. Nunca alcançava nada daquilo que desejava. Seu melhor livro, portanto, assemelha-se a um sorriso amargo. Suas Viagens de Gulliver entre os Liliputianos, que eram demasiado pequenos para fazer idéia do tamanho de Gulliver, são, na realidade, uma narração satírica das viagens de Swift entre os políticos, que eram demasiado pequenos para compreender a grandeza de Swift.

Mas esqueçamos a sátira das Viagens de Gulliver e vejamos a história. Porque a história é uma das perenes delícias da literatura.

Gulliver conta a curiosa história de suas aventuras, na primeira pessoa. Era cirurgião a bordo do Antílope, diz-nos êle, quando o navio naufragou e me achci como único sobrevivente.

Nadei para a praia duma estranha terra, onde, exhausto de fadiga, adormecí.

Quando despertei, surpreendi-me por achar-me amarrado firmemente e cercado por exércitos dos homens menores que jamais havia visto. Como vim a saber mais tarde, era justamente 1724 vezes maior que qualquer daqueles liliputianos.

Levaram-me à sua capital, onde me libertaram e permitiram que ficasse como objeto de curiosidade. Ao andar pelas suas ruas, evitava, com bastante dificuldade, esmagar os homens ou derrubar suas casas. Um dia, os liliputianos foram atacados pela esquadra dos Blefusca-nos, outra raça de minúsculos seres humanos. Amarrei todos juntos cincoenta navios dos Blefuscanos, com barbantes, e entreguei-os aos liliputianos. Foi o fim da guerra.

Esperava que os liliputianos me honrassem pelo serviço que lhes havia prestado. Em vez disso, começaram a ter inveja de mim e conspirar contra mim. Prenderam-me, processaram-me, e condenaram-me a perder a vista. Mas felizmente escapei para a terra dos Blefuscanos.

Os minúsculos habitantes dessa terra foram muito bondosos para comigo e me pediram que ficasse com eles. Mas desejei voltar para o meio dos meus semelhantes. Descobri um bote navegando perto da praia. Encheram o bote de muitas centenas de gado pigmeu como provisão. Fiz-me ao mar e, em três dias, fui apanhado por um navio mercante.

Voltei salvo para casa, mas em breve me senti novamente inquieto. Dessa vez partí a bordo do Aventura; e um dia, ao ancorar numa baía desconhecida, para tomar água, desembarquei e me perdi. Vagando desamparadamente por aquela região desconhecida, caí nas mãos dos Brobdingnags, raça de gigantes de dezoito metros de altura.

Meus captores levaram-me à presença de seu rei, que me exibiu como uma curiosidade e depois me deu como brinquedo à filha de um de meus captores. Ela era uma menina com nove metros de altura e fez uma algazarra enorme ao me ver. Eu era a sua preciosa boneca. Quando saía à rua, punha-me no bolso de sua túnica de linho.

Essa situação me trazia bem envergonhado de minha dignidade humana. Mas me livrei disso dentro em breve. Minha pequena adoeceu certa vez e me entregou aos cuidados dum pagem. O rapaz levou-me num cesto até a praia, aonde ia êle à procura de ovos de pássaros. Quando êle estava de costas, o cesto em que eu jazia foi agarrado por imensa ave e largado no meio do oceano.

Felizmente um navio inglês passava por ali precisamente naquele instante. Fui salvo e levado para a Inglaterra.

Não estavam, porém, findas as minhas aventuras. Em uma de minhas últimas viagens, dei com uma ilha que voava pelos ares. Os habitantes dessa ilha volante eram uma gente muito singular. Não podiam olhar nem diretamente para a frente, nem para a esquerda, nem para a direita. Porque um de seus olhos estava voltado para cima e o outro para dentro. E, mais estranho ainda, por causa daquela imperfeição de sua visão, consideravam-se a raça mais adiantada do globo.

Mais uma vez voltei para casa, e em seguida ocorreu a mais estranha de todas as aventuras. Naufraguei na região dos Houyhnhnms. Os houyhnhnms eram as criaturas mais sábias e mais virtuosas que jamais encontrei. Eram uma raça de cavalos, e utilizavam os Yahoos, ou seres humanos, como bestas de carga. Os yahoos eram tão repugnantes que me senti envergonhado de ser um deles. Em consequência pedi aos Houyhnhnms que me adotassem, de modo que pudesse tornar-me cidadão de seu país. Mas eles não confiaram em mim, sentindo que era demasiado animal humano para que me pudesse tornar um nobre cavalo.

E assim permitiram que construísse um bote e voltasse para casa. Sendo agora demasiado velho para ulteriores aventuras, estabeleci-me e fiquei Yahoo para o resto de meus dias.

Livro com prefácio no meio

RISTRAM SHANDY, o tão extraordinário romance, é um livro escrito sem plano. Começa no meio, acaba em nenhuma parte especial e está às avessas da primeira à última página. O autor desse livro, Laurence Sterne (1713-1768) "consentia que os personagens o levassem pelo nariz", como expressou um de seus críticos. E eles o levaram às mais divertidas e absurdas situações. O resultado é "um livro inteligente, costurado a fio de absurdo".

O autor é um humorista que gosta de arreliar o leitor. Gosta do escândalo, porque pensa que todos igualmente o aborrecem. É o carneiro preto da família literária inglesa, mimalho que põe tachas na cadeira do vigário, que desgosta os convidados para jantar, com histórias impróprias para serem narradas em público, e que delicia, confundindo-se a si mesmo e aos demais em tão vertiginosas absurdezas, que ninguém sabe o que os outros vão fazer depois.

Tristram Shandy, como observa Taine, na História da Literatura Inglesa, deveria ser lido em dias de desequilibrado tempo, quando estamos prontos a jogar a lógica pela janela afora. "Efetivamente, os personagens desse livro são tão desarrazoados como o autor". Mas se puderdes manter segura a vossa cabeça, gozareis u, falso, porém, inegavelmente interessante espetáculo da atividade humana. Tristram Shandy, é o retrato dum mundo louco. Mas que retrato divertido! Seria ótimo veículo para os modernos mestres da diversão maluca: os irmãos Marx.

O louco poeta romântico

DE acordo com os antigos, um poeta não era ser humano, mas uma criatura surgida do fogo e da tempestade, que acidentalmente caiu na terra para sofrer e para causar admiração. Esta definição certamente se aplica ao poeta inglês, Byron (1788-1824). Esse composto de inspiração inflamada e tempestuosa paixão, nasceu de uma família anormal. Seu tio-avô foi assassino; seu pai era um ébrio e sua mãe uma histérica exaltada. Quando se encolerizava, estraçalhava seus vestidos e seus chapéus. Chamavam-na a "leoa", e ;la transmitiu a seu filho poeta a têmpera dum leãozinho.

Nasceu coxo e nas suas explosões de fúria insana sua mãe chamava-o "fedelho aleijado". Esse escárneo enraivecia-o tanto que um dia quase se suicidou. Foi com dificuldade que lhe arrancaram das mãos a faca que havia empunhado.

Desde a mais tenra infância, Byron amou e odiou violentamente. Suas "amizades eram as paixões". Era predisposto, tanto literal como figurativamente, a sofrer toda casta de torturas em defesa de seus amigos. Um dia, quando estava na escola, um valentão começou a bater num amiguinho seu. Byron era pequeno demais para lutar com o valentão. Mas avançou para êle, corajosamente, e perguntou-lhe quantas pancadas tencionava dar era seu amigo.

"Por que, que diferença faz isso para você?" escarneceu o valentão.

"Porque, senhor —e Byron inclinava seus corajosos ombrozinhos — eu gostaria de receber a metade desses murros".

Antes dos vinte anos, apaixonou-se violentamente por mais de uma vez. E viveu e amou com a inconciência de um perdulário. "Gastarei minha mocidade agradável e rapidamente, dizia êle, e depois, boa noite".

Seus amigos, que o adoravam, atestam que êle, às vezes, era louco, e outras vezes, sublime.

Tinha um agudo apetite de alimento, bebida e aventuras físicas e mentais de toda a espécie. Comia, porém, com parcimônia, porque era vaidoso de sua figura bela e esbelta. De seus outros apetites abusava sem restrição. Vivia ansioso de experimentar todas as emoções humanas e, um dia, exprimiu seu pesar de nunca ter sentido a sensação do assassínio. Era generoso e briguento. Estava constantemente a ajudar seus amigos, e constantemente provocava o desagrado deles, por causa de seu procedimento contrário às convenções.

E foi sua generosidade e sua turbulência que afinal o levaram à morte, na prematura idade de trinta e seis anos. A Grécia achava-se revoltada e Byron, que se prestara certa vez a suportar a metade da surra de um menino, agora novamente se dispunha a enfrentar a dôr, e se preciso fosse, a morte, partilhando a sorte duma nação fraca. Alistou-se no exército e morreu como um heróico exilado em terra estrangeira.

Byron, como muito bem observaram, era um cruzado nascido acidentalmente num século errado. E assim, em vez de ser um famoso paladino, tornou-se um dos maiores poetas do mundo.

O rei Artur e seus intrépidos cavalheiros

TALVEZ tenha sido Alfredo Tennyson (1809-1892) o mais observador dos poetas ingleses. O mais curioso é que seu poder de observação provinha dum defeito de visão. Era miope e por isso obrigado a examinar tudo cuidadosamente, bem perto dos olhos. Dai ter-nos dado tão intensas e acuradas descrições de árvores, flores, aves, animais e criaturas humanas. Como Milton, que transformou sua cegueira numa visão mais profunda, Tennyson transformou sua miopia num conhecimento minu-dente das belezas do mundo em que viveu.

Esse conhecimento, não só da beleza externa, mas do pensamento interior, encontra-se melhor talvez nos seus Idílios do Rei.

Essa epopéia conta a história do rei Artur e de seus Cavalheiros da Távola Redonda. Conta-se interessante lenda a respeito da fabricação dessa mesa. A princípio os cavalheiros se sentavam a uma mesa oblonga. Mas em breve surgiu entre eles a questão de saber a qual dos cavalheiros caberia a cabeceira da mesa. A questão chegou aos ouvidos do rei, que ordenou aos operários que fizessem uma mesa redonda. "Dessa forma, disse êle, todos os cavalheiros ocuparão posição de igual categoria". De acordo com essa lenda, o rei Artur foi um dos primeiros chefes democratas da história inglesa.

A história do rei Artur é uma das gemas preciosas da literatura universal. Com sua espada mágica, Exca-libur, na mão, livra seu reino de seus perigosos adversários. "Aclara os lugares escuros e introduz a lei". Reúne depois em torno de si um círculo de cavalheiros nos quais "a gentileza está casada com a coragem". Guiados pelo valor de seu rei e pela sabedoria do mágico Merlino, envolvem-se numa série de aventuras, em defesa de sua terra e de sua fé.

O mais destacado desses intrépidos cavalheiros é sir Lancelot. Tão gentil como belo e tão belo como bravo, é o companheiro de confiança do rei. Mas apaixona-se pela rainha Guinevra e seu coração se dilacera entre a lealdade para com o rei e o amor pela rainha.

Enquanto Lancelot alimenta sua secreta paixão pela rainha Guinevra, outra moça apaixona-se por êlc. Essa jovem é "Elaine, a lirial donzela de Astolat". Certa vez, quando êle foi ferido num combate, é ela quem o trata. Logo que se restabelece, deixa-a para voltar à corte do rei Artur. E somente quando êle parte é que ela vem a saber de seu amor por Guinevra. A vida nada mais significa para ela agora que perdeu o seu cavalheiro. Chora e definha. Seu pai e seu irmão tentam chamá-la à razão, mas ela só escutará os conselhos de seu coração.

Afinal adoece e morre. Seu pai e seu irmão, de acordo com seu pedido de moribunda, colocam-lhe o corpo numa barca funerária, empavesada de brocado negro. Velho criado da casa dirige a barca rio abaixo, até o palácio onde Lancelot e a rainha a avistam:

"… com seu louro cabelo esparso em ondas. . .
Áurea mortalha o corpo lhe cobria
Té a cinta. Branco como seu rosto
Era o vestido e aquele rosto pálido
Belo inda se mostrava, parecendo
De quem dormisse a face sorridente."

Com a morte de Elaine, Lancelot lamenta-se e cen-sura-se "não sabendo se morrerá como homem santo". Sua alma se purificará por meio duma nobre tarefa.

E então seguimos a outras aventuras, a mais bela das (piais é a procura, pelos cavalheiros, do Santo Graal. O Santo Graal é o cálice, com que, de acordo com as antigas lendas, o Senhor distribuiu o vinho na última eeia. Depois da crucificação, o Santo Graal, segundo dizem, desapareceu e foi uma das missões dos Cavalheiros da Távola Redonda descobrí-lo de novo.

Muitos dos cavalheiros puseram-se em febril procura do Graal. O primeiro de todos foi Sir Percival. Mas a meio da jornada, cedeu aos prazeres dos sentidos: gula, amor e poderio. Esquecendo-se de sua santa busca, tentou assenhorear-se daqueles deleites terrestres. Mas estes se transformaram em pó e cegaram-lhe a visão das coisas celestiais. Não lhe seria dado contemplar o esplendor do Santo Graal.

Vem em seguida, Sir Gauvain. A caminho, encontra-se com um grupo de belas mas levianas moças, num pavilhão. Canta e dansa todo o tempo com elas, até que uma súbita rajada de vento as arrebata. O Santo Graal está reservado para os que são feitos de metal mais duro.

Outro cavalheiro que sai em busca do Santo Graal é Sir Bors. Esse homem é mais nobre do que os outros. Consente em se deixar prender por causa de seu ideal. Contudo sua vida passada não está livre de censura. Em consequência, os poderes celestes permitem que êle contemple o Graal, de dentro de sua prisão. Está distante e indistinto, como se fosse visto através de espesso véu. A homens como Sir Bors, só é concedida parcial visão do Santo Graal.

Outro ainda dos que buscam a "visão esplêndida" é Sir Lancelot. Êle, também, é "um nobre cavalheiro mas não sem mácula". Depois de incontáveis obstáculos e de laboriosa ascensão de milhares de degraus, avista o Santo Graal, como Sir Bors, de grande distância e envolto em pesado véu.

De todos os cavalheiros que buscam o Santo Graal, um somente consegue uma visão mais próxima de seu esplendor. Esse cavalheiro é o jovem, bravo e irreprochável Sir Galahad. No caminho encontra Sir Percival. Juntos lidam, em todas as direções durante algum tempo, até que Percival desiste da procura. Os desejos terrenos são demasiado fortes para êle. "Vai, apressa êle Sir Galahad, vai sozinho",

E é sozinho, que Galahad completa a laboriosa jornada através de rios e vales e sobre perigosos precipicios e gargantas, sempre para cima, sempre para o alto, sempre na direção da visão espléndida. E cada vez que êle atravessa uma ponte, esta se desvanece no ar. Não há possibilidade de regresso para aqueles que estão decididos a encontrar o Santo Graal.

E afinal êle o descobre. De todos os mortais, somente Sir Galahad foi capaz de passear os olhos na contemplação do Santo Graal, enquanto vivo.

Enquanto Sir Galahad conduz sua vida sem mácula a um nobre fim, os outros cavaleiros pecam, sofrem e morrem um a um. Afinal o próprio rei, triste pelo desaparecimento dos dias da honesta cavalaria, é ferido em combate e levado para o oceano (da Morte) pelas três Compassivas Rainhas de Fé, Esperança e Caridade. A grande era da cavalaria havia passado e nova era surgia para o mundo.

"A velha ordem mudou, cedendo lugar à nova,

E os caminhos do Senhor se cumprem mais uma vez."

Quanto ao próprio rei Artur, vai "para um clima mais feliz, onde não cai saraiva, chuva ou neve, e onde todas as feridas e tristezas do mundo são curadas afinal".

O poeta vagabundo

OLIVER GOLDSMITH era um homem sem lar que, no seu Vigário de Wakefield, pintou "o mais deleitoso quadro do lar, em toda a literatura". Essa citação, vinda da pena de Washington Irving, representa o consenso da opinião crítica sobre o trabalho de "Noli" Goldsmith.

Goldsmith começou a vida com coisa nenhuma. E terminou-a com menos de nada. Devia, quando morreu, de acordo com a estimativa de seus amigos, a quantia de duzentos contos.

Durante sua breve existência viu-se privado de muitas das necessidades da vida. Contudo um luxo êle gozou. "Aprendera o luxo de fazer o bem".

A bondade natural de seu coração é a característica saliente de sua obra literária. Esplende como uma jóia dentre seus poemas, histórias e dramas. Contudo foi essa mesma bondade que deu causa à sua ruína física. Pobre como era e desesperadamente necessitado dos menores ganhos, sempre se dava ao trabalho de encontrar gente mais pobre e mais necessitada, que precisava mais de seu dinheiro que êle próprio. Certa feita, tinha um convite para almoçar com um amigo. Não aparecendo na hora marcada, o amigo foi procurá-lo em seus aposentos. Achou Goldsmith, na cama, coberto de penas até o pescoço. O jovem poeta havia dado suas roupas e até mesmo a roupa de cama a um pobre homem, na noite anterior, e só deixara as penas com que se cobria.

Nascido numa aldeia irlandesa, em 1728, viveu durante todos os seus dias a vida de "um rude e generoso irlandês". Na escola era o tipo mais feio e o mais popular de sua classe. Retaco, corpulento, marcado de varíola, mas borbulhante de irreprimível humor, era constantemente ora o autor, ora o alvo de engenhosas piadas. Tinha sempre uma bela canção a cantar e uma boa história a contar. E estava sempre pronto a gastar o último vintém para dar prazer a seus amigos.

Custeou seus estudos executando as mais subalternas espécies de trabalhos, tais como esfregar os soalhos e varrer os páteos dos edifícios do colégio. E, como acréscimo à sua humilhação, era obrigado a usar um uniforme especial: grosseira batina preta e sem mangas e ordinário barrete preto sem borla. Era o distintivo dos criados do colégio.

Incapaz de aguentar o rude trabalho e a insolência dos estudantes mais ricos, fugiu do colégio e se pôs a vagabundear. Induzido a voltar, acabou o curso, recebeu seu diploma e em seguida saiu a vagabundear. Durante dois anos viajou através da Flandres, da Alemanha, da Suíça e da Itália, ganhando muitas vezes seu sustento com cantar para os camponeses e tocar uma flauta, porém, mais frequentemente, andando mesmo sem comer coisa alguma. Ocasionalmente, quando chegava a uma grande cidade, assistia as aulas de medicina e afinal, em 1755, recebeu grau de doutor, em Pádua.

Voltou para Londres, onde abriu consultório num sótão. Mas sua pobreza e sua feiura eram contra êle. Exercia a medicina apenas entre seus amigos, que eram geralmente tão pobres quanto êle e que por isso raramente pagavam seus serviços. Até mesmo os boticários o olhavam com desprezo e muitas vezes discutiam com êle a respeito de suas receitas. Achavam que um homem com aquele aspecto não poderia ser bom médico. Um dia, prescreveu um remédio para uma cliente chamada senhora Sidebo-tham. O boticário começou a discutir a respeito da quantidade de drogas a empregar. A cliente tomou o partido do boticário. Diante disso Goldsmith largou-se da casa, encolerizado. "De agora em diante, gritou êle, estou decidido a deixar de receitar para meus amigos"! "Isso mesmo, doutor — replicou sarcasticamente o boticário. — Quando começar a matar, mate apenas seus inimigos".

Goldsmith passou da medicina ao magistério. Mas aí, também, seu aspecto pouco atraente foi-lhe contrário. Seus alunos não o respeitavam. Uma vez, quando disse aos rapazes de sua classe que se conduzissem como cavalheiros, um dos mais moços olhou para êle com desprezo e disse:

"Quer dizer a nós que você sabe o que seja ser um cavalheiro?"

Infeliz no magistério como fora na medicina, Golds-mith tentou em seguida escrever por distração. E para espanto de todos, executou algumas das maiores obras-primas de seu tempo. Uma moça, sua conhecida, quando leu seu poema O Viajante, observou: "Sempre pensei que o Dr. Goldsmith fosse feio. De agora em diante, jamais pensarei de novo assim".

Derramou-se sobre Goldsmith um tesouro de louvores … mas sem dinheiro. Os maiorais da terra honraram-no com sua generosa aprovação, mas sua generosidade não se estendeu até a sua bolsa. Seus melhores amigos não estavam em condições de auxiliá-lo, visto como a maioria deles era tão pobre quanto o próprio Goldsmith. Por acaso, conseguiu, emprestada, dum conhecido, peque» nina soma, mas nunca teve dinheiro suficiente para pagar suas dívidas. Gradualmente essas pequenas dívidas atingiram a um montante que se afigurava a Goldsmith como alguma coisa vertiginosa. Acrescente-se à carga de suas dívidas, a inveja de seus menos talentosos rivais de profissão literária. Naqueles dias o correio era frequentemente utilizado para conduzir insultos pessoais da mais vil natureza. Quando sua grande obra-prima, Ela se humilha para conquistar, apareceu em Londres, recebeu êle uma carta anônima que dizia, em parte, o seguinte:

"Senhor: A feliz habilidade que aprendeu de louvar suas próprias composições me incita a apresentar-me… Até mesmo a gente mais louca do mundo pode perceber sua charlatanice e descobrir a cara de macaco e o pé de bode do doutor. Sua vaidade poética é tão imperdoável quanto sua vaidade pessoal. Pode um homem acreditar, ou uma mulher suportar, se lhe contam que durante horas o grande Goldsmith permanece examinando num espelho o seu grotesco focinho de orangotango?…

Senhor Goldsmith, corrija a sua arrogância, reduza a sua vaidade e procure acreditar que, como homem, o senhor é da mais vulgar espécie… e como autor, apenas um fastidioso pedaço de mediocridade".

Isso era demasiado. Esgotado pela pobreza, pelo rude trabalho e por essa degradação final, sua saúde arruinou-se, não porém antes que seu gênio versátil houvesse dado ao unindo um dos seus maiores romances, O Vigário de Wakefield, um de seus mais perfeitos dramas, Ela se humilha para conquistar e um de seus mais sublimes poemas, A Aldeia Abandonada.

Morreu aos quarenta e seis anos. E seus amigos, que haviam deixado de auxiliá-lo durante sua vida, puse-ram-sc a chorar amargamente a sua morte. Seu enterro foi acompanhado por grandes e por pequenos: os grandes que admiravam seu gênio, os pequenos que adoravam a sua generosidade. Porque Goldsmith foi mais do que um grande poeta: foi um homem bom.

Imagens de escritores da Literatura Inglesa

esquerda para a direita: John Keats, Sir Walter Scott, William Wordsworth, Elizabeth rret Browning, Bobert Browning, Percy Bysshe Shelley, Charles Dickens, Lorde Macaulay,
esquerda para a direita: John Keats, Sir Walter Scott, William Wordsworth, Elizabeth rret Browning, Bobert Browning, Percy Bysshe Shelley, Charles Dickens, Lorde Macaulay,Oliver Goldsmith.

Harriet Beeeher Stowe Autora de "A CABANA DO PAI TOMAZ Gravura de J, A. J. Wilcox.


Trad. e adapt. de Oscar Mendes.

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