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Ésquines e Demóstenes. A invasão

Ésquines, rival de Demóstenes na eloqüência e que pusera seu talento oratório ao serviço de Filipe, -levou o conselho anfictiônico a reclamar a intervenção do rei da Macedónia num segundo incidente de campo profanado, desta vez pelos lócrios, caso portanto de guerra sagrada. A oposição armada de Atenas e Tebas, erguidas à voz de Demóstenes, foi infrutífera: bateu-as Filipe, apesar de uma obstinada resistência, em Cheronéia (338 a. C.) na Beócia, e assim firmou seu poderio. Para o justificar, reuniu em Corinto um congresso das cidades gregas e proclamou a guerra nacional, sob seu comando, ao inimigo tradicional — o persa.

Alexandre e o helenismo na Ásia

A sorte impediu-o de levar por diante o seu desígnio. Filipe foi assassinado por um dos seus generais e a seu filho, Alexandre, pertenceu a missão histórica de transportar o helenismo ao coração da Ásia, levar ao seu auge o imperialismo grego, converter num grande império continental essa expansão em suma costeira, que disseminara colônias por todo o litoral do Mediterrâneo. Da mesma forma que coube a um corso propagar pela Europa no limiar do século XIX a cultura revolucionária francesa, coube a um macedónio propagar pelo Oriente a cultura filosófica helénica. No espírito, Napoleão era porém tanto um francês quanto era Alexandre um grego, discípulo até de Aristóteles, a quem Filipe convidara para preceptor do filho.

Sua carreira militar

Contava Alexandre 20 anos apenas quando recolheu a pesada herança paterna e teve de fazer frente às revoltas com que a Grécia logo procurou escapar ao domínio a que andava sujeita. Seu modelo era Aquiles, de quem sua mãe dizia descender, mas havia nele alguma coisa de Ulisses, lembrando a sagacidade de Filipe. Investido da autoridade de generalíssimo, transpôs o Helesponto em 334 a. C. e iniciou com 30 000 infantes e 5 000 cavaleiros a campanha extraordinária que o levou vitorioso até a Índia.

Suas conquistas. Alexandre e o helenismo na Ásia

Derrotas sucessivas fizeram os persas recuarem. Grânico, na Ásia Menor, em 334 a. C, Isso, na fronteira da Cilicia e da Síria, em 333 a. C, Arbelas, perto de Nínive, onde o inimigo perdeu 300 000 homens, em 331 a. C, foram o Marengo, o Austerlitz e o Wagram daqueles tempos, abrindo esta última vitória a Napoleão as portas de Viena. O grande conquistador da antiguidade foi-se gradualmente assenhoreando da costa ocidental da Ásia Menorj. da Frigia, onde cortou com a espada o nó górdio em vez de o desatar, não deixando por isso de obter o prêmio prometido pelo oráculo a quem desfizesse aquele nó que ligava uma canga à lança de um carro guardado no templo de Gordium, prêmio que era o domínio da Ásia; da Capadócia e da Síria, Tiro e Judéia, sendo o cerco da cidade fenícia, que durou sete meses, considerado o seu maior feito d’armas; do Egito, onde os sacerdotes de Tebas o proclamaram filho de Anon e onde determinou o local do futuro grande empório de Alexandria; da Mesopotâmia, Suziana, Média, Partia, Bactriana e Sogdiana, toda a região a oeste do planalto do Irã, indo ao norte até a margem do Mar Cáspio e no centro até Cabul, isto é, abrangendo o Turquestão e o Afganistão de hoje, fundando em toda essa extensão cidades portadoras do seu nome glorioso.

Sua morte. Babilônia e Alexandria

Descendo em seguida o Indo até sua foz, voltou através da Gedrósia (Beluchistão de hoje), da Carmânia e da Pérsia a Babilônia, enquanto seu almirante Nearco explorava o Mar Arábico e o Golfo Pérsico, entre a foz do Indo e a do Eufrates. O limite das conquistas de Alexandre foi o Rio Hifasis, na índia, banhando o reino de Poro. Seu desejo era seguir até o Ganges, mas seus soldados estavam cansados de aventuras. Em Babilônia a morte o ceifou aos 32 anos (323 a. C). De Babilônia pensara êle fazer não só a capital política do seu império, como o empório do tráfico entre a índia, talvez mesmo a China, e o Mediterrâneo oriental. Foi no entanto Alexandria do Egito que se tornou o elo entre o Mediterrâneo e a grande península hindostânica através da Síria e da Mesopotâmia ou pelo caminho do Mar Vermelho.

A pilhagem dos tesouros persas

A pilhagem das cidades reais persas — Susa, Pasargades e Persépolis — foi espantosa: eram incalculáveis os tesouros acumulados nos seus palácios e que Alexandre mandou remover. Segundo Quinto Cúrcio, o historiador latino, de Pasargades saíram 20 000 muares e 3 000 camelos carregados. Diz-se que o ouro e prata ali amontoados e postos então em circulação, bastariam para as necessidades monetárias do mundo até a exploração das minas americanas.

 

A soberania universal pela fusão do Oriente e Ocidente. Alexandre e Napoleão

Para Alexandre as batalhas, os morticínios, os incêndios, os saques, eram o acompanhamento inevitável de uma guerra necessária, pois que tendiam a fundir os dois mundos, oriental e ocidental, ficando êle como o soberano universal. Como Napoleão, que desposou a filha dos Césares, Alexandre tomou por esposa uma filha do monarca persa, Barcina, e aconselhava seus soldados a tomarem mulheres persas. Ambos os conquistadores, o antigo e o moderno, deixaram-se impressionar pela tradição e seduzir pelo fausto, fazendo uma e outro servirem sua grandeza. Como Napoleão, à medida que dilatava suas conquistas, ia-se Alexandre despindo da simplicidade macedónica e assumindo um luxo asiático, querendo ser tratado, não só com deferência, mas com servilismo.

Caráter de Alexandre e sua política

Seu caráter era aliás feito de contrastes, unindo a generosidade com a ferocidade, a temeridade com o senso de governo e a visão política com a intemperança. Não havia, pois, na sua personalidade o simples apetite de mando. Além de incorporar territórios e arrastar povos ao cativeiro, havia a preocupação utilitária de ligar terras e populações pelos laços do comércio; havia mesmo a intenção de helenizar o mundo, dando-lhe leis comuns, costumes comuns e uma língua comum. O grego tornou-se de fato a linguagem universal da cultura naquela época, e cessaram, por assim dizer, as distinções entre heleno e bárbaro, ampliando-se as simpatias humanas.

A influência oriental e o cosmopolitismo

A influência oriental já datava de muito tempo: ela materializara mesmo a religião grega de um modo sensível, com a introdução de superstições do Egito, da Trácia e da Ásia Menor, e fornecera tons grosseiros à sua voluptuosidade por meio das orgias e dos mistérios de Eleusis. A aproximação mais íntima dos dois mundos constituía porém um preparo para o advento do credo cristão, fadado ao cosmopolitismo e cuja difusão seria facilitada pela posição internacional do idioma grego. Graças a Alexandre e às suas campanhas de dez anos, o mundo antigo fêz seu primeiro ensaio de unidade econômica e intelectual sob a capa da cultura helénica.

Desagregação do império macedónico. Os novos reinos

A obra guerreira realizada pelo conquistador macedónio perduraria sob certos aspectos morais, porquanto seu império propriamente se esfacelaria com sua morte. O regente Perdicas não pôde assegurar o trono ao irmão desassisado e ao filho póstumo de Alexandre. Sobrevieram rixas de família e os generais disputaram à mão armada a suprema autoridade, sem que nenhum a pudesse englobar. Duraram estas lutas intestinas quase um quarto de século e formaram-se afinal com os despojos, a que escaparam ainda assim as regiões mais remotas, três reinos: o da Síria ou Ásia Ocidental, o do Egito, com a Arábia e Palestina, e o da Macedónia e Grécia.

Podem-se contar quatro reinos com o de Lisímaco, abrangendo a Trácia e a Bitínia, que depois, por morte do fundador, se dividiu entre o último e o primeiro daqueles outros.

Seleuco e Antíoco

Não ficou contudo aí a dissolução. Seleuco, a quem coubera na verdade o antigo império assírico-babilônico, aumentado da Ásia Menor e da Síria, e que tinha grande predileção por fundar cidades, levantou Antioquia e Selêucia, esta sobre o Tigre e aquela ao norte da Síria — 312 a. C. é o ano da fundação desse reino —, e um dos seus sucessores, Antíoco o Grande (233-187 a. C), chegou, como Alexandre, ao Indo e também ocupou a Fenícia e a Palestina. Atacou-o no entanto Roma, por haver ele dado asilo a Aníbal e ter invadido a Grécia a pedido dos etólios, e venceu-o em Magnésia (190 a. C.) Cipião, o asiático, perdendo ele em favor dos romanos a Ásia Menor a oeste do Tauro.

Irrupção do fator romano. Citas e partas

Um novo fator histórico aparecera, portanto, que constituiria o maior império da antiguidade e o ia formando com sucessivas anexações das monarquias que se desintegravam. O reino de Pérgamo, independente desde o falecimento de Seleuco em 281 a. C, protegido pela República romana e sede de uma brilhante cultura artística e literária, foi legado ao povo romano pelo seu soberano; a Judéia, depois de novamente independente sob a dinastia nacional dos As-moneus, foi tomada pelas legiões romanas; vassalo de Roma era o reino da Bitínia. A resistência maior veio do reino do Ponto, no Mar Negro, que os macedônios nunca tinham conquistado completamente e onde lutou quanto pôde contra a absorção o espírito guerreiro de Mitridates, o qual destroçou até os citas, nômades que erravam pelo que hoje constitui a Rússia, o Turquestão e a Sibéria ocidental, sem que outros conquistadores os tivessem logrado humilhar; veio também dos partas, cujo domínio, situado na margem meridional do Mar Cáspio, ainda sustentou com êxito sua independência contra o império romano, só sendo esta eliminada pelo persa Artaxerxes quando fundou o segundo império pérsico.

Circe transforma os companheiros de Odisseu. Pintura de um lécito arcaico.
Circe transforma os companheiros de Odisseu. Pintura de um lécito arcaico.

A confederação de Rodes

O que restava do reino dos Selêucidas, que era propriamente a Síria, foi convertido em província romana sob Pompeu. As cidades gregas do litoral e das ilhas adjacentes não gozaram porém por longo tempo da autonomia que se tinham novamente arrogado no meio da desordem da Ásia Menor, colocando-se Rodes à testa de uma confederação local que se assinalou por poderio naval e por prosperidade comercial, tornando-se o empório do Mediterrâneo oriental, e também como foco de cultura helénica, adquirindo fama na arte e na eloqüência.

As escolas de Rodes

Júlio César e Cícero foram discípulos das escolas de retórica de Rodes. No domínio da escultura denotava porventura o gosto do descomunal, característico da imaginação artística oriental, o "de Rodes estranhíssimo colosso" que, figurando o sol, se destacava à entrada do porto, e que aliás já tinha um precursor no Zeus de Fídias, de 23 metros de tamanho, que sentado no seu trono presidia os jogos

Fim da independência grega. A província de Acaia

Não durou muito mais a independência grega. Persistiram as dis-senções, motivando desta vez a intervenção romana que redundou na captura da mais importante das cidades da liga acaica, Corinto, a qual foi incendiada depois de despojada das suas riquezas, sendo trucidados os homens e vendidas em cativeiro as mulheres e as crianças. Acaia se ficou chamando a nova província romana que espiritualmente dominou sua soberana, mesmo porque era ela a pátria da real liberdade e da real civilização. Nas repúblicas gregas começou verdadeiramente a vida política e intelectual do mundo moderno. A civilização helénica educou a civilização latina, a qual se submeteu voluntariamente à sua ação sugestiva, reconhecendo-lhe a superioridade mental encarnada nos mestres exímios de que os romanos se tornaram ótimos discípulos.

 

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