Início › Fóruns › Questões sobre Filosofia em geral › Qual é o sentido da vida? › O que é a felicidade?
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10/03/2002 às 3:58 #76020márcioMembro
Os neurologistas chamam a mente de “produto do cerebro”. Eu acho que o produto do cerebro sao os pensamentos, representados na figura por “ondas” (pretas e azuis) emitidas pelo cerebro. Algumas dessas ondas, ou pensamentos, sao tao fortes (as pretas) que acabam sendo percebidas por uma regiao que acabamos chamando de mente.
As ondas (pensamentos) nao tao intensos (as azuis), sao percebidos apenas pelo “piloto automatico” que executa todas as ondas ou pensamentos (pretos e azuis).
Entendo que a mente nao seja apenas um observador passivo. Ela possui um mecanismo de feedback.
Possuindo a capacidade de “ver” pensamentos e outra de emitir feedback, e o cerebro tendo a capacidade de se alterar em funcao desse feedback, temos na mente um agente de mudança permanente.
(apenas uma hipotese de trabalho)10/03/2002 às 4:22 #76021márcioMembroNessa sua linha de pensamento eu interpreto o papel do “piloto automático” como sendo o de nos fazer retornar ao ponto zero quando nos tornamos incapacitados para “viver”,
Bom, eu interpreto diferentemente. É a mente que nos torna incapacitados de “viver” e é a mente que pode (atraves do feedback) “zerar” a nossa referencia com relacao a felicidade/infelicidade.ou seja, parece-me que o papel da parte do cérebro que vemos é, afinal, bem mais secundário do que poderia parecer…
Nao diria secundario. Diria paralelo. O ponto interessante de se notar é que mesmo quando estamos conscientes (com a mente funcionando a todo vapor) ainda estamos sob a influencia de pensamentos que estao sendo executados pelo “piloto automatico”.é o “piloto automático” que nos salva da loucura.
Ai complica. O mecanismo de feedback da mente pode comprometer seriamente o cerebro, de forma que mesmo aqueles pensamentos “menores” que somente o “piloto automatico” capta poderao estar comprometidos tambem.
Nesse caso, somente a mente pode por ordem no caos novamente.Portanto, à partida, tenho alguma dificuldade em aceitar que esteja ao nosso (consciente) alcance fazer esses ajustes…penso que tudo é mais problemático…
Eu continuo acreditando que esta ao nosso alcance.
Acho que é uma especie de arte a ser aprendida.10/03/2002 às 4:55 #76022márcioMembroKaren, voce colocou uma quantidade de informacao muito grande de uma vez so. Permita-me abordar em partes.
…temos duas opçoes ou modos de encarar : ou estamos mais próximos da morte ou , por outro lado, estando vivendo intensamente cada instante,
Entendo pela sua colocacao que o fato de estar mais perto da morte implica em nao viver intensamente cada instante. Nao acho que esteja perto da morte (quem sabe ?) mas a principio nao concordo com essa afirmativa.
Curiosidade: Qual seria a condicao que leva uma pessoa a crer que esta perto da morte ? idade ? doença ? …Nao que esse pedaço do seu raciocinio comprometa toda a sua formulacao, mas nao custa alinharmos esses pontos.
10/03/2002 às 5:10 #76023márcioMembroKaren,
…talvez a felicidade implique em se submeter de forma incondicional à vida,
Ou colocaria, talvez a felicidade implique em se submeter de forma incondicional à sua qualidade de vida naquele momento.
Um ponto interessante é que talvez a felicidade possa ser confundida com ausencia de infelicidade. Ou seja, se voce conseguir “zerar” sua referencia para a “qualidade de vida” daquele periodo, teoricamente nao estariamos nem felizes nem infelizes, porem essa condicao poderia ser interpretada como um estado de felicidade em funcao da ausencia de infelicidade.
10/03/2002 às 13:15 #76024márcioMembroIsabel, parte2 (hipotese de trabalho)
Imagine a repeticao do seguinte feedback da mente para o cerebro: o azul do ceu é muito bonito.
Com o passar do tempo, o cerebro comeca a “ecoar” pensamentos de pequena intensidade (ondas azuis no desenho) que acabam sendo percebidas pelo “piloto automatico”, mas nao pela mente.
Implicitamente ficamos felizes quando o ceu esta azul.
Imagine agora a repeticao do seguinte feedback da mente para o cerebro: o ceu azul representa uma ameaça em funcao da radiacao do sol estar majorada devido a reducao da camada de ozonio.Com o passar do tempo, o piloto automatico comeca a captar o eco e ficamos implicitamente infelizes ao olhar o ceu azul, mesmo sem pensar (ou ter na mente) nada.
10/03/2002 às 13:22 #76025márcioMembroJa que chegamos ate aqui, vamos um pouco mais alem.
Tanto a mente como o “piloto automatico” possuem a capacidade de ler pensamentos. Porem dentro do mesmo individuo.
Como o “piloto automatico” tem uma capacidade maior que a da mente (sempre hipoteses) talvez fosse possivel que este (piloto automatico) de alguma forma captasse os pensamentos mais intensos provocados pelo cerebro de outro individuo. Porem a nossa mente nao percebe (“ve”) o que esta acontecendo. Podemos acabar ficando implicitamente infelizes na presenca de outros, sem um motivo aparente.10/03/2002 às 15:14 #76026Miguel (admin)MestreAh, Marcio, com calma…ainda estou a digerir as suas mensagens anteriores, ainda não li as últimas duas!!!
Bem, deixe-me organizar as ideias…é assim…em situações-limite, quando as minhas condições de manutenção da vida são postas em causa eu poderei regressar ao ponto zero, regresso esse levado a cabo pela mente em função de uma informação do cérebro nesse sentido. A partir daí, se as condições melhoram isso traduz-se em sensações de felicidade e, se pioram, em sensações de infelicidade, certo? É isso, não é?
Ora bem, assim numa dada siuação “x”, 1ª situação de reajuste, o ponto zero é colocado muito baixo; na situação “y”, o ponto zero é colocado mais acima; na “z”,mais acima e assim sucessivamente ao ponto de, quando se torna necessário “resetar” a minha percepção eu já só consiga colocar o ponto zero num nível tão alto que nada poderá melhorar em relação a essas condições, isto é, a partir de um certo nº de reajustes, eu já não posso esperar sensações de felicidade…sim, porque este processo é, acima de tudo, irreversível, ou não? Acha que é possível entrar no tal loop que inicialmente referiu e regressar ao princípio dos princípios??Outra coisa…a imagem que anexou é, de facto, bastante esclarecedora, no entanto,há um aspecto que julgo não ter compreendido muito bem…o “piloto automático” é uma parte do cérebro que não se “vê”. Ele percebe todos os pensamentos, os mais intensos e os menos intensos. Terá ele o papel de “filtro”, por assim dizer, em relação aos pensamentos que (hipoteticamente) poderão chegar à mente? E se sim, por que os filtraria? Desculpe, se calhar esta pergunta está descontextualizada, mas de repente veio-me à “mente” a estrutura do psiquismo segundo Freud e surgiu a analogia cérebro-inconsciente/piloto-automático-subconsciente/mente-consciente…
As questões da mente são, como disse, muito complexas…penso, no entanto, que essa capacidade de fazer os reajustes é bastante limitada, mesmo treinada. Entendo que existe uma série de variáveis parasita, não contabilizadas, que alteram todo o processo e o fazem até abortar, de forma que, quando julgamos estar a jogar estamos sim, simplesmente, a ser jogados…
Em relação à parte da colocação da Karen que refere, eu também concordo consigo embora ache que quando a Karen se referiu às duas opções “ou estamos ,mais próximos da morte ou (…) estamos vivendo intensamente cada instante”, penso que ela se queria referir ao facto de não devermos viver aprionados com a ideia da morte porque isso impedir-nos-ia de viver realmente. No entanto, julgo que só se pode viver intensamente porque há consciência da morte, senão, por que fazê-lo?
Teoricamente estamos todos à mesma distância da morte excluindo apenas os indivíduos que a procuram. penso que F. Savater traduz muito bem esta ideia ao dizer que a morte pode ser mais ou menos provável, mas ela é sempre possível.Para terminar (já vai longo o texto…) Marcio, queria falar-lhe de um livro que comecei antes de ontem a ler (se calhar conhece)e que certamente lhe interessaria:”Imagens da mente” de Michael I. Posner e Marcus E. Raichle que ganhou o prémio William James da Associação Americana de Psicólogos.
Agora sim ,já posso ir ler as suas duas últimas mensagens!
Abs.10/03/2002 às 15:22 #76027Miguel (admin)MestreResposta à parte 2…
Assim, ao contrário do que eu julguei perceber inicialmente, a mente terá um papel fulcral nessas sensações de felicidade ou infelicidade já que tem essa função de feed-back…
Mas, o que é que condiciona esse feed-back? O que é que está no momento decisivo quando eu associo o céu azul à beleza ou, pelo contrário, lhe associo um perigo? O que é que decide esse momento crucial que, afinal de contas, condiciona implicitamente a minha (in)felicidade?10/03/2002 às 15:27 #76028Miguel (admin)MestreBem, isso já seria entrar num campo minado, no domínio da quase telepatia…então aí estaríamos na presença dos tais factores externos que não poderiamos controlar Marcio. Essa ameaça externa já não seria neutralizável com sugeriu atrás…
10/03/2002 às 23:47 #76029márcioMembro1. a estrutura do psiquismo segundo Freud e surgiu a analogia:
cérebro <=> inconsciente
piloto-automático <=> subconsciente
mente <=> consciente
Interessante, mas nao conheço muito sobre filosofia, Freud em particular, por isso estou usando esses termos, digamos primitivos, para justamente nao trazer junto, referencias implicitas que eu desconheca. Mas se estiver alinhado, nao vejo problema em usar essa terminologia, porem mantendo a analogia (para facilitar meu raciocinio por favor).2. Terá ele (“piloto automatico”) o papel de “filtro”, por assim dizer, em relação aos pensamentos que (hipoteticamente) poderão chegar à mente?
Hipotese interessante. Nao sei, mas imagino que a possibilidade de termos o “piloto automatico” interpretando e executando pensamentos “menores”, de certa forma represente uma reducao na aparente “liberdade” da mente, o que talvez possa ser entendido como uma especie de “filtro”.3. Mas, o que é que condiciona esse feed-back?
Acho que é capacidade da mente de tomar uma decisao (racionalmente ou nao).4. O que é que decide esse momento crucial que, afinal de contas, condiciona implicitamente a minha (in)felicidade?
Uma ilusao. A ilusao de que o ceu azul é mais bonito do que perigoso. A mente é o espaço da ilusao. Essa ilusao torna-se “realidade” para o cerebro atraves do feedback proporcionado pela mente. Uma vez estabelecida essa “realidade” no cerebro, o resto fica implicitamente a cargo do “piloto automatico”.
(tratar como hipotese de trabalho)5. campo minado
Certo. Deixa para la.10/03/2002 às 23:54 #76030Miguel (admin)MestreA felicidade é um estado natural nato, portanto é inerente à vontade do ser. Faz parte do “kit corpo-mente”. Esta ligada diretamente aos órgãos do sentido, sujeito às variações e oscilações naturais da vida.
A felicidade pode brotar espontaneamente sem a necessidade de estímulos, por ser uma ação decorrente de uma descarga cerebral (hormonal), que por sua vez pode ou não advir de satisfações prazerosas (comer, dormir, frio, calor, etc).
Ela é subjetiva quando provem do sentimento, pois os sentimento-prazer difere de pessoa para pessoa, de época e intensidade.
Quando falo em “estado provocado”, quero dizer que há motivação ou conforto físico ou espiritual. Ela seria mais monitorizada por fatos ou fatores de busca e estaria suscetível no seu contexto.
11/03/2002 às 0:50 #76031Miguel (admin)MestreMarcio:
Mantendo a sua terminologia mas procurando explicar de onde retirei essa analogia…o cérebro conterá uma quantidade incalculável de informação que tende, por natureza, a passar para o nível da mente. Algum desse material é causador de angústia e então o “piloto-automático” encarregar-se-á de não deixar passar esse material, censurando-o. Teremos assim a ilusão da felicidade porque esse material será recalcado. No entanto, a partir de certos limites isso poderá conduzir a comportamentos neuróticos que ultrapassam o nosso controle…infelicidade? Sem entrar em pormenores de Freud, só para clarificar…“4. O que é que decide esse momento crucial que, afinal de contas, condiciona implicitamente a minha (in)felicidade?
Uma ilusao. A ilusao de que o ceu azul é mais bonito do que perigoso. A mente é o espaço da ilusao. Essa ilusao torna-se “realidade” para o cerebro atraves do feedback proporcionado pela mente. Uma vez estabelecida essa “realidade” no cerebro, o resto fica implicitamente a cargo do “piloto automatico”. ”Seria, então, a esse nível que o Marcio fala no reajuste das ilusões? Por exemplo, eu terei mais chances de “ser feliz” enviando ao cérebro a ideia de que o céu é azul?Ou, pelo contrário, situando-me num nível inferior-o céu azul é sinónimo de perigo-terei melhores hipóteses de “sobrevivência”?
abs.11/03/2002 às 1:05 #76032Miguel (admin)MestreMarise:
“A felicidade é um estado natural nato, portanto é inerente à vontade do ser”…podemos entender a felicidade, ou melhor o desejo de a atingir, como algo “inscrito” na natureza humana simplesmente porque o homem tem necessidade de acordo com o mundo…Contudo…
“Faz parte do “kit corpo-mente””, aí, honestamente, não gosto muito da expressão…faz-me lembrar um conjunto de coisas básicas de baixa qualidade, modo geral, no sentido de satisfazer necessidades imediatas, dá a ideia de que o homem veio “equipado” com um conjunto de funções básicas, entre elas a felicidade…penso que é bem mais complexo.
“A felicidade pode brotar espontaneamente sem a necessidade de estímulos”…há sempre um estímulo, que não tem de ser nada de físico, mas isso são, na minha óptica fugazes momentos de…
“Ela é subjetiva quando provem do sentimento”…claro que sim…por isso a estamos aqui a discutir…
abs11/03/2002 às 2:50 #76033Miguel (admin)MestreVou ler com calma o contéudo para melhor compreender … esta semana q entra retomo as questões …
abs a todos …
11/03/2002 às 22:14 #76034márcioMembroIsabel, apenas ligando alguns pontos: O Vinny colocou algum tempo atras no debate sobre “suicidio”, o seguinte artigo: Ciência – The New York Times, 19 de fevereiro de 2002: Maioria das decisões cotidianas são tomadas pelo subconsciente.
Certo: “piloto automatico” parece ser plagio do subconsciente (tenho que ler Freud, depois do livro da mente que voce sugeriu). Portanto, vou procurar usar essa terminologia (subconsciente).
Talvez se faça razoavel tambem, um ajuste no (meu) conceito (extremista) de “o cerebro conspira contra a Manutencao da Vida” para “a Mente conspira contra”. Por outro lado, “o Subconsciente conspira a favor”.
Quantas vezes o subconsciente nos diz para fazer uma coisa (ou nao fazer) e usamos a mente para forçar uma situacao diferente ?
Com a felicidade pode ser a mesma coisa. O subconsciente nos poe em um estado de infelicidade (solicitando uma acao para manter a vida) e a mente reverte essa situacao.
Certamente, acoes racionais geradas pela mente tambem podem levar a manutencao da vida e vice-versa (acoes do subconsciente podem levar a nao manutencao da vida). É um jogo. Podemos deixar o subconsciente conduzir ou nao.
O ponto que eu levanto, é que atraves do “feedback”, a mente pode modificar o cerebro de forma que o proprio subconsciente fique modificado.Isso tudo, tambem esta relacionado com aquela historia do horizonte e do imenso looping.
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