O que quer dizer Deus para a filosofia ?

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  • #71959
    márcio
    Membro

    O que quer dizer Deus para a Filosofia ?
    Mais uma forma de tentar entender o ser humano (e suas crenças).

    E, porque nao, ca estamos nos, fazendo isso aqui atraves de uma modalidade de debate aberto. Mas nao creio que ninguem aqui se proclame um grande filosofo, ou sabio, etc.

    Valenic, com todo o respeito, acho interessante entender as origens de sua crença.

    #71960

    De minha parte, nada contra a filosofia, mas…
    “Bom, diante do exposto e da falta de argumentos compatíveis com a ciência, e mais, nem sequer um autor de apoio,…”(Dr. Vinny)

    ” O filósofo que não encontra significado no mundo, não está preocupado exclusivamente com um problema na pura metafísica; ele está também preocupado em provar a inexistência de uma válida razão para que ele pessoalmente não deva fazer como ele quer fazer . . Para mim, como sem dúvida para a maioria dos meus contemporâneos, a filosofia da ausência de significação era essencialmente um instrumento de liberação. A liberação que desejávamos era simultaneamente a liberação de um certo sistema político e econômico e a liberação de um certo sistema de moralidade. Nós nos opúnhamos à moralidade porque ela interferia com a nossa liberdade sexual”—*Aldous Huxley, “Confessions of a Professed Atheist,” Report: Perspective on the News, Vol. 3, June 1966, p. 19.
    A Origem do Big Bang
    Emmanuel Swedenborg, em 1734, admitiu que lhe havia sido dito em uma sessão espírita que gás no espaço exterior se revirou e se auto-transformou no que é hoje o sol e as estrelas. Propagou esta teoria entre outros, tornando-se assim a fonte primária para a Teoria da Hipótese Nebular.
    George Gamou, em 1949, publicou a Teoria do Big Bang, segundo a qual o nada se juntou e explodiu dando origem a hidrogênio, o qual então se transformou no que são as estrelas, os planetas, etc…Desenhava quadrinhos com termos intrigantes (como o ylem) fascinando os cientistas evolucionistas. George Gamov decidiu passar a receber por seus quadrinhos de estórias de ficção científica e passou a escrever para o público em geral. Vários anos depois, ele apresentou a astrônomos uma seqüela do Big Bang. Era o ciclo de oitenta bilhões de anos, chamado ‘A Teoria do Universo Oscilante’, onde uma expansão exterior do universo era seguida por um colapso interno transformando-se em um ponto menor do que uma polegada, e que depois explodiu para fora, de novo.
    Fred Hoyle, em 1948, publicou a Teoria do Estado Estável do Universo, a qual ensina a geração espontânea de matéria (hidrogênio) no espaço exterior. Uma década depois, ele também se tornou um escritor de ficção científica em tempo integral, escrevendo por vários anos e mais tarde repudiando sua teoria como sem nenhum valor.
    Eis de onde procedem as tais teorias: não do trabalho de pesquisadores armados com fatos científicos, mas de uma sessão espírita e de dois escritores de ficção científica, os quais puseram em papéis seus sonhos e incitaram a outros. (The Origin of Matter/ Harvestime Books).

    Um abraço a você também Sr. Daniel e igualmente meus respeitos ao Sr. Márcio.
    Ps.Que tal conferir as fontes Dr. Vinni? Tudo o de que necessita é um pouco de trabalho e paciência. Mas, afinal, se é em prol da busca pela verdade… certamente que terá valido o esforço.
    Cordialmente,
    Valenic

    #71961

    Caro valenic sou obrigado a concordar com o vinny, gostaria de saber suas fontes(se é que elas existem diante da relutancia em mostralas)para que também outras pessoas possam ler e tirar suas próprias cnclusões, é muito fácil criticar tudo que a ciência conquistou até hoje, mas querer provar que elas estão erradas somente com críticas já é outra história.
    Com relação ao assunto, deus para a filosofia é uma hipótese de trabalho em busca da verdade, que não necessáriamente seja a existência de deus, e como hipótese não pode ser descartada antes que se chegue a uma conclusão.

    Ps.Valenic só mais uma coisa sessão espírita em 1734 é um pouco impossível, sndo que o espiritismo surgiu em 1857.

    (Mensagem editada por vdj em Fevereiro 15, 2002)

    #71962
    vinny
    Membro

    Se vc pudesse ouvir, estou eu agora batendo palmas para vc Valenic. Me diga, a terra gira em torno do sol ou tbm foi obra de ficção? Ou sessão espírita? Julio Verne que o diga!!! A pouco tempo atrás a terra era plana, hj sabemos que não. Gozado, ciência se aperfeiçoa, crença não. Olha, dei uma folheada nesse livro de ficção científica, O universo numa casca de noz, acho que é isso, e gostaria que vc tbm verificasse novas idéias etc. Muita coisa mudou de 1940 pra cá, ou de 10000 anos, a era sem dinossauros, se vc se interessar…Quanto as suas fontes, bom, não vi nenhuma. Trabalho e paciência não me assustam. Inércia científica e desvios tendenciosos servindo ao propósito da sua e somente sua crença, sim. Bom, não falarei sobre o óbvio mais, creio que nem vc, não é? Pois me parece óbvio que se o big bang é apenas delírio duma sessão espírita acontecida antes da revolução Francesa, sem comprovação científica nenhuma, nenhum indício sequer da possibilidade disso ser verdade, pex. da expansão do universo, medições etc, o universo foi criado por um deus poderoso e que sempre existiu, e num momento de tédio, criou o universo.. bom, suas palavras já são auto-destrutivas, portanto…
    Um abraço e te vejo no céu.

    #71963
    márcio
    Membro

    Valenic, permita-me expor como abordo esse assunto (Big-Bang): Uma hipotese de trabalho. Exatamente como o Valdir (vdj) mencionou, embora se referindo a outro tema.

    Essa hipotese, esta disponivel para qualquer cidadao trabalhar e prosseguir a partir dela.
    Ja li (embora nao recorde exatamente a fonte) que existem cientistas tentando derrubar essa hipotese, o que é extremamente valido, porem esta continua sendo a melhor hipotese de trabalho que temos atualmente. Inclusive a hipotese do Universo Inflacionario, apoia-se na hipotese do Big-Bang.

    Um dos maiores indicadores dessa fantastica explosao é um ruido de fundo (microonda) extremamente regular e que pode ser ouvido apontando um aparelho de radio para qualquer direcao do Universo, seja na Terra, seja nas sondas enviadas ao espaco. Alias ja foi enviada uma sonda ($$$) exclusivamente para fazer um mapeamento detalhado desse ruido de fundo. Segundo a hipotese do Big-Bang, esse ruido (correspondente a uma temperatura de 2 graus K) seria o que resta hoje (alem do Universo propriamente dito) daquela big explosao.

    Ciencia é assim … hipoteses, hipoteses, hipoteses, provas, provas, provas … e bom senso.

    #71964

    olá….

    concordo com o vinny e com o vdj sobre as mensagens de valenic

    a título de informação

    o filósofo sueco Emmanuel Swedenborg viveu no século XVIII. Swedenborg ganhou fama mundial por seu trabalho na Academia Real de Ciências da Suécia, é esta academia que concede até hoje o prêmio Nobel. Swedenborg era ídolo de issac newton(nascido em 1642) e que no início do século XVIII já havia se tornado uma pessoas célebre. Swedenborg viajou o mundo na tentativa de encontrar newton e não conseguindo ficou decepcionado, trancou-se em um quarto de hotel e, derepente, lhe apareceu um “ser de luz” que mais tarde seria chamado de anjo. este ser de luz é descrito em seu livro o mundo dos espíritos(ed razão social/BR). este ser de luz disse a swedenborg que não ficasse triste por não ter encontrado com newton, pois ele lhe mostraria coisas maravilhosas. em um determinado momento, que swedenborg não soube explicar, ambos(ele e o ser de luz) saíram “voando” e ingressaram “em um outro mundo”. os anjos do outro mundo lhe disseram que os valores que buscamos em nosso mundo são valores errados, e que o principal valor era o amor. o anjo tb respondeu que não havia nem céu nem inferno e que as pessoas iam para aquele mundo para aprenderem a amar, pois deus em seu imenso amor e sabedoria não poderia conceber nenhuma punição para o ser humano. deus era puro amor e perdão. o anjo tb disse que existiam muitos mundos paralelos e muitas dimensões, desta forma, cada pessoa ia para o mundo que mais lhe agradaria. uma pessoa má iria para um mundo habitado por pessoas más, e assim ela poderia continuar vivendo como sempre viveu. segundo o anjo isto não era uma forma de punição, mas sim uma forma de deixar a pessoa feliz, pois colocar esta pessoa em mundo onde havia santos seria maltratar esta pessoa. portanto, existiam mundos onde viviam os filósofos, os santos etc.

    bom depois disto swdenborg escreveu o seu livro e foi desacreditado e muito criticado.

    parece haver algo de espírita nisso tudo?

    sócrates tinha o seu daimon

    vdj, concordo muito com vc sempre, mas gostaria de fazer um apontamento quanto a sua mensagem anterior. acredito que o espiritismo foi institucionalizado( e não inventado, pois se o espiritismo é o que é[segundo a prória doutrina espírita] não surgiu de repente, certo?) na frança a partir de 1857, este fenômeno que hoje definimos como espiritismo é algo observado em muitos relatos antigos. sobre espiritismo sei pouco, mas não seria algo digno de estudos?

    abs.

    #71965

    Tenho lido com atenção as últimas participações no fórum e penso que é necessário manter-se o respeito pelas ideias de todos, com o necessário distanciamento e ponderação essenciais ao discurso racional…
    Não posso ficar indiferente à imagem da filosofia e dos filósofos que Valenic tem deixado transparecer, desgosta-me até profundamente. Porquê? Valenic refere que a filosofia tem servido como máscara para argumentações anti-Deus que diferentemente da filosofia a sabedoria não dá lugar à especulação e muito menos à fantasia, refere a expressão ateus mascarados de filósofos, que se a filosofia não buscar o verdadeiro saber (…) estará servindo de máscara para a sua negação
    Estas afirmações deixam transparecer uma certa relação estabelecida entre a filosofia e a fantasia, entre a filosofia e o ateísmo, entre outras conotações.Não posso deixar de vir a terreno defender a filosofia como de facto ela é e sempre originalmente foi:o exercício do livre exame. A filosofia não é ciência, não é matemática, ela não assenta na experiementação nem na observação, ela assenta no pensamento. Ela não tem métodos formais de prova. A filosofia faz-se colocando questões, ensaiando ideias, articulando argumentos possíveis em relação a essas ideias, procurando saber como funcionam os conceitos que usamos. A preocupação fundamental da filosofia é a do questionamento e da compreensão das ideias comuns que partilhamos,usamos no nosso dia-a-dia sem muitas vezes nelas pensarmos. E como não há coisas que possamos assumir como garantidas, a filosofia é uma actividade vertiginosa sendo os seus resultados sempre desafiáveis.Não há perfeição, não há sabedoria se por ela entendemos uma coisa estática, não há permanência.O cerne da filosofia está aí: o seu objectivo é a procura incessante, o “estar-a-caminho” de que K.Jaspers falava, ela é a procura de elucidação racional, justamente contra a fantasia e o obscurantismo. Ela é o exercício de autonomia, “sapre aude” dizia Kant. Ousa pensar!!!
    Peço desculpa…este não é um tópico sobre a importância da filosofia, ou sobre a sua definição,,mas sendo um tópico sobre “o que quer dizer Deus para a filosofia?”, julgo que não se pode avançar partindo de uma noção errada, desvirtuada daquilo que a filosofia efectivamnente é.

    #71966

    Saudações,
    Não escondo a satisfação de poder dialogar, ainda que desta forma virtual, com pessoas de intelecto versátil, investigativo e também um tanto criativo. De fato, o prazer do exercício intelectual não poderia ser considerado como vulgar, antes, pelo contrário, um exercício elevado, ainda mais quando comparado à imbecilizante cultura materialista e imediatista do prazer barato, o que hoje, mais do que nunca, é freqüente. Contudo, a vaidade e a presunção, obscurecedoras da pura razão, facilmente conduzem a mente para o terreno do sonho e para os braços do devaneio. Quando intencionalmente alienada de sua essência espiritual, a mente debilitada se permite à satisfação por tudo o que seja superficial e inconsistente, preza fácil se torna para a fantasia. E isto devido ao fato de se supor, equivocadamente, que o saber sempre se relaciona ao mensurável, ao calculável, ao que é demonstrável pelas noções introduzidas após Descartes, Galileu e Bacon, onde passa a ter lugar preeminente, porém não original, a idéia do racional. Busca-se a certeza através das hipóteses, pois se espera que estas, se algum dia demonstradas, satisfaçam o apetite de um entendimento moldado, artificializado e sequioso por demonstrar sua suposta infalibilidade. Desta forma afunda-se o homem nos resultados da sua arrogância e precipita-se ainda mais fundo na escuridão da cegueira espiritual. Procurando excluir de seu território a virtude da humildade, ao invés da submissão natural à quem de direito, prefere assim a escravidão e conseqüentemente tolera a opressão. Opressão da tristeza, da angústia, da insegurança, do medo e da solidão, nada disto hipotético, calculável ou demonstrável, porém tão real quanto a própria consciência invisível da certeza de existir. A razão, dissociada da virtude, é como um violino sem cordas ou como uma caneta sem tinta, ou seja, é infrutífera. A fé não se opõe à razão, antes a sustenta. Mas a razão sem a fé, é pior do que a irracionalidade, é loucura.

    #71967
    vinny
    Membro

    Cegueira espiritual???? Submissão natural à quem é de direito????
    Alguém pode me explicar isso?
    O racional sem fé é pior que o irracional?? E o irracional com fé que é racional…. Ora bolas.
    Se alguém puder me explicar, não entendi.
    Pq vc não fala abertamente que é um teísta fervoroso e acredita que o planeta terra, senão o universo, tenha apenas 6000 anos conforme alguns criacionistas bíblicos? Pelo menos assumiria uma posição da qual poderíamos compreende-lo.

    #71968

    A propósito de virtude, Valenic, não posso deixar de transcrever uma passagem de “Assim falou Zaratustra” de F. Nietzsche…um desafio a quem ousa pensar:
    “Passo no meio desta gente e guardo os olhos bem abertos: eles não me perdoam que eu não inveje suas virtudes.
    Procuram morder-me porque lhes digo:Para gente pequena, são necessárias virtudes pequenas – e porque custo a compreender que gente pequena seja necessária!
    (…)Desejariam, elogiando-me, atrair-me para a sua pequena virtude; para o tique-taque da pequena felicidade, deejariam persuadir o meu pé.
    Passo no meio desta gente e guardo os olhos bem abertos: tornaram-se mais pequenos, cada vez mais pequenos:mas isto se deve à sua doutrina da felicidade e da virtude.
    (…) Virtude é, para eles, o que torna modesto e manso; com isto, transformam o lobo em cão e o próprio homem no melhor animal doméstico do homem.
    (…) Estais vos tornando cada vez menores,gente pequena! Estais vos esborcinando, amigos do bem-estar. Ainda acabareis por perecer-De vossas muitas pequenas virtudes, de vossas muitas pequenas renúncias, de vossas muitas pequenas resignações!
    Demasiado delicado, demasiado fofo: tal é o solo do vosso mundo! Mas para tornar-se grande , uma árvore quer lançar duras raízes em torno de duras rochas!”.

    #71969
    carlos
    Membro

    Razão: Uma ferramenta de pensamento crítico que limita a verdade de uma proposição por testes de verificação (que evidência ou observações reproduzíveis a confirmam?), falsificabilidade (o que, teoricamente, a refutaria, e essas tentativas falharam todas?), parcimônia (é a explicação mais simples, requerendo o menor número de suposições?) e lógica (está livre de contradições e non sequiturs?).

    Razão com fé??? O que é a fé então?

    #71970
    carlos
    Membro

    Anteriormente intitulado “Os Cinco Polícias” (2000), Vuletic atualizou este ensaio para incluir mais pontos de vista, agora nove ao todo.

    “Quando a Sr.ª K. foi lentamente violada e assassinada por um criminoso comum durante uma hora e cinqüenta e cinco minutos, à vista de nove polícias completamente armados que estavam fora de serviço e que ignoraram os gritos aterrorizados dela suplicando por ajuda e que se limitaram a olhar até que o ato foi levado ao seu fim horrível, dei por mim enfrentando uma crise pessoal. Os polícias tinham sido meus amigos pessoais muito próximos, mas agora vi a minha confiança neles completamente abalada. Felizmente, pude falar com eles depois e perguntei-lhes como puderam simplesmente ficar ali sem fazer nada, quando podiam facilmente ter salvo a Sr.ª K.

    “Eu pensei em intervir”, disse o primeiro polícia, “mas ocorreu-me que obviamente era melhor para o assassino poder exercer o seu livre arbítrio do que tê-lo restringido. Lamento profundamente as escolhas que ele fez, mas esse é o preço a pagar por ter um mundo com agentes livres. Você preferia que todas as pessoas do mundo fossem robôs? As ações do atacante com certeza não estavam sob o meu controlo, portanto não posso ser responsabilizado pelas ações dele.”

    “Bem”, disse o segundo polícia, “a minha motivação era um pouco diferente. Eu estava prestes a puxar a minha arma contra o assassino quando pensei: 'Mas espera, não seria esta uma oportunidade perfeita para algum transeunte desarmado exercer heroísmo altruísta, caso passasse por ali? Se eu interviesse todas as vezes, como estava prestes a fazer, então ninguém poderia jamais exercer tal virtude. De fato, provavelmente ficariam todos muito mal habituados e centrados em si mesmos se eu fosse impedir todos os atos de violação e assassínio.' Foi por isso que não fiz nada. É pena que ninguém tenha aparecido para intervir heroicamente, mas esse é o preço a pagar por ter um universo onde as pessoas podem mostrar virtude e maturidade. Você preferia que o mundo fosse todo amor, paz e rosas?”

    “Eu nem sequer considerei a hipótese de intervir”, disse o terceiro polícia. “Eu provavelmente tê-lo-ia feito se não tivesse tanta experiência da vida como um todo, pois a violação e assassínio da Sr.ª K. parecem bastante horríveis quando considerados isoladamente. Mas quando você os coloca no contexto com o resto da vida, de fato acrescentam algo à beleza geral da imagem maior. Os gritos da Sr.ª K. eram como as notas discordantes que tornam uma excelente peça musical ainda melhor do que se todas as suas notas fossem perfeitas. De fato, quase não consegui evitar acenar com as minhas mãos à volta, imaginando que eu próprio estava a dirigir as deliciosas nuances da orquestra.”

    “Quando cheguei ao local, eu de fato saquei do revólver e apontei-o mesmo à cabeça do violador”, confessou o quarto polícia, com um olhar muito culpado na face. “Estou profundamente envergonhado de ter feito isso. Sabes quão perto cheguei de destruir todo o bem do mundo? Quero dizer, todos sabemos que não pode haver qualquer bem sem mal. Felizmente, lembrei-me disto mesmo a tempo, e invadiu-me uma onda de náusea tão forte quando me apercebi do que quase tinha feito, que fiquei prostrado no chão. Safa, foi por pouco.”

    “Olha, é realmente inútil eu tentar explicar-te os detalhes”, disse o quinto polícia, a quem tínhamos posto a alcunha 'Crânio' porque ele tinha um conhecimento enciclopédico de literalmente tudo e um QI que rebentava com a escala. “Há uma excelente razão pela qual eu não intervim, mas é demasiado complicada para tu perceberes, por isso nem sequer me vou dar ao trabalho de tentar explicar. No entanto, para que não haja qualquer mal entendido, deixa-me sublinhar que ninguém se podia ter preocupado com a Sr.ª K. mais do que eu, e que eu sou, de fato, muito boa pessoa. Isto resolve o assunto.”

    “Eu teria defendido a Sr.ª K.”, disse o sexto polícia, “mas isso simplesmente não era exeqüível. Você está a ver, eu quero que toda a gente acredite livremente que eu sou boa pessoa. Mas se eu interviesse constantemente quando ocorrem violações e assassínios, isso forneceria a toda a gente toda a evidência que eles precisam sobre a minha bondade, e desse modo forçá-los-ia a acreditar que sou bom. Consegue imaginar uma violação do livre arbítrio deles mais diabólica do que essa? Obviamente, foi melhor afastar-me e deixar a Sr.ª K. ser violada e assassinada. Agora todas as pessoas podem escolher livremente acreditar na minha bondade.”

    “Vou contar-lhe um segredo”, disse o sétimo polícia. “Momentos depois de a Sr.ª K. ter falecido, eu fiz com que ela ressuscitasse e fosse transportada para uma ilha tropical onde ela está agora gozando bênçãos extraordinárias, e o sofrimento dela não passa de uma memória distante. Estou certo que você concordará que isso é uma compensação mais do que adequada para o sofrimento dela, portanto o fato de eu ter simplesmente ficado ali a olhar em vez de intervir não tem nada que ver com a minha bondade.”

    O oitavo polícia surpreendeu-nos a todos quando revelou um segredo surpreendente sobre a Sr.ª K. “Eu criei-a através de engenharia genética a partir do nada. Eu fi-la, portanto ela é minha propriedade, e posso fazer o que quiser com ela. Eu próprio podia violá-la e assassiná-la se estivesse inclinado a isso, e não teria sido pior do que você rasgar uma folha de papel que possui. Portanto não se põe a questão de eu ser uma má pessoa por não ajudá-la.”

    E por fim, falou o nono polícia. “Eu contratei o oitavo polícia para criar a Sr.ª K. para mim, porque eu queria alguém que me amasse e adorasse. Mas quando abordei a Sr.ª K. sobre o assunto, ela afastou-se de mim, como se conseguisse encontrar significado e felicidade com outra pessoa qualquer! Por isso decidi que a coisa amorosa a fazer seria vergar o espírito dela fazendo com que fosse violada e assassinada por um criminoso comum, para que ela se virasse para mim no seu extraordinário sofrimento, cumprindo assim o propósito para o qual ela tinha sido criada. Bem, estou feliz por dizer: missão cumprida! Alguns segundos antes de morrer, ela estava tão enlouquecida com terror, dor e desespero que de fato convenceu-se que me amava, pois sabia que só isso podia pôr fim ao sofrimento. Nunca esquecerei o amor nos seus olhos quando ela me olhou uma última vez, suplicando por misericórdia, mesmo antes de o criminoso se inclinar e lhe cortar a garganta. Foi tão belo que ainda me traz lágrimas aos olhos. Agora só tenho de ir àquela ilha para que ela possa reclamar o seu prêmio por me ter servido.”

    Nesta altura, tinha ficado claro para mim que qualquer dificuldade que eu pudesse ter tido em reconciliar a suposta bondade dos polícias com o seu comportamento naquele dia era infundada, e que qualquer pessoa que tomasse posição contra eles, só o podia fazer por gostar da vitória do mal sobre o bem. Afinal, qualquer pessoa que tenha experimentado a amizade deles do mesmo modo que eu experimentei sabe que eles são bons. A bondade deles até é manifestada na minha vida — eu estava num estado de confusão mental antes de os conhecer, mas agora todas as pessoas reparam na pessoa mudada que sou, muito mais bondoso e feliz, visivelmente possuído de uma calma interior. E encontrei tantas pessoas que se sentem exatamente da mesma maneira sobre os polícias — tantas pessoas que, tal como eu, conhecem nos seus corações a verdade que outros tentam racionalizar com o seu frio raciocínio e lógica estéril. Estou envergonhado de alguma vez ter duvidado que os nove polícias merecem a minha lealdade e amor.

    Quando me preparava para ir embora, o primeiro polícia falou outra vez. “A propósito, também acho que deves saber que quando ficamos ali a ver a Sr.ª K. a ser violada e apunhalada vez após vez, nós estávamos a sofrer juntamente com ela, e sentimos exatamente a mesma dor que ela, ou talvez até mais.” E todos os que estavam ali, incluindo eu, acenaram a cabeça concordando.

    Pós-escrito

    Líderes religiosos, não fiquem ofendidos. Fiz esta parábola de forma tão descarada quanto pude, mas o meu objetivo não é insultar ou blasfemar. Reparei que crentes religiosos são muitas vezes condicionados a aceitar soluções simplistas para o problema do sofrimento, e que é impossível abalar esse condicionamento através de uma análise fria. A tentação de oferecer a uma entidade um cheque em branco simplesmente porque alguém lhe colou o rótulo de “Deus” é esmagadora na nossa cultura teísta. Daí esta tentativa de enfatizar o ponto através de um meio tão afastado da análise fria quanto possível. Mas, repito, é para enfatizar um ponto, não é para ferir ninguém. Não escrevi nada que não desejasse que me fosse dirigido quando eu próprio era um crente religioso.”

    #71971

    belo texto.

    “ai de vcs homens da lei”

    seja ela(a lei) qual for, lógica ou não…

    … é possível construir um problema semelhante com policiais que tomam decisões lógicas… não é ai que mora o segredo… “ai de vcs homens da lei”…
    … ao escrever o último parágrafo deste texto vc se coloca no lugar dos policias(“homens da lei”), ou na mesma lógica deles… vc pecou amigo…

    abs…

    #71972
    márcio
    Membro

    Cegueira espiritual: Permita-me uma tentativa de abordagem.
    Da mesma forma que polarizamos o debate em teista/ateista, imagino que podemos polarizar as rotas de evolucao em espiritualista/materialista. A rota materialista estaria associada a tecnologia e a rota espiritualista a religiao. Talvez a evolucao se processe mais ora numa rota ora noutra. Entendo que atualmente estamos imersos em uma poderosa onda materialista/tecnologica que aparentemente esta trazendo bons resultados embora tambem tenha a miseria como subproduto (nao que a outra rota tenha tido mais sucesso). Um dia talvez, essas duas rotas possam se alinhar e entrar em ressonancia harmonica produzindo maiores ganhos no processo de evolucao.
    Eu particularmente nao vejo como. Talvez o termo “cegueira espiritual” possa de certa forma, indicar isso. Nesses termos, eu me considero pelo menos miope. Se existe uma proposta que de alguma forma possa permitir esse alinhamento, acho que vale ser explorada (pelo menos para mim).

    #71973

    A “cegueira espiritual” é o homem sem paixão, um homem sem uma filosofia poética de zaratustra; sem o amor fati que contraria eruditos íntimos como overbeck e burkhardt. Uma paixão que desce da lógica à poesia, portanto, “submetendo-se a quem de direito” no momento e hora certa, pois se preferi a vida espiritual. Louco. Talvez! Mas só pode ser desta forma, uma vez que “um grande homem é um infortúnio público”. Pois não cativo, não poderia ser de outra forma o que é. “A maior parte da nossa atividade intelectual vem-nos inconscientemente e sem que percebamos… o pensamento, consciente… é o mais fraco.” Sendo que “a consciência pode ser considerada como secundária, quase como indiferente e supérflua, e provavelmente destinada a ser substituída pelo perfeito automatismo.”(HDH), o que significa que temos que tomar da ação perceptual a luz necessária para iluminar a consciência adquirindo a razão essencial para a meta que se propõe atingir, portanto, é a razão “a humana imitação da divindade”. Temos que destruir para depois construir(?). A “cegueira espiritual” não enxerga em níveis múltiplos, ela é regida pela lei da imoralidade que diz que “o que é bom para uma é próprio para outra”. este tipo(cativo) existe tanto na lógica quanto no credo. A “cegueira espiritual” é indiferente ao herói que tem mil faces; indiferente à significação mítica. Mas não podemos nos equivocarmos ante a hipótese darwinista como tantos fizeram, considerando-a como um sistema onde predomina a força e não a bondade. Equivoco este ajustado nos dias de hoje por Gaia(james lovelock e gregory bateson) e todas as escolas de ecologia. Devemos considerar o darwinismo um sistema de bondade e equilíbrio. O utilitarismo não dever se visto como bondade, mas sim como algo cruel, pois constrói autômatos. Estes devem, antes, destruir a cerca do rigor “moral” que foi construído ao seu redor e buscar “construir-se sólido de alma e corpo. Não apenas propagar, mas propagar-se para cima!”. A alternativa são doses de prozac. A “cegueira espiritual” não tem amor ao perigo e à luta[ e sabemos que “ter bondade é ter coragem”], prefere ela apegar-se a imperativos categóricos e propagá-los sem razão. Temos que destruir o velho e construir o novo. Preferível é a fé na compreensão e não a fé do conhecimento. Assim é mais fácil entender o culto ao invisível. E finalmente, a “cegueira espiritual” é não estar consciente de que canalizamos Gaia…. de que somos Gaia.

    A seguir acato a um conselho. Mas é tb providencial, afinal falamos sobre cegueira.

    “- Meu amigo, certa vez um homem quebrou a perna. Foi-lhe preciso andar com a ajuda de muletas. Essas muletas lhe eram muitas úteis, não só para caminhar, mas tb para inúmeros outros propósitos. Ele ensinou toda a família a andar de muletas, que se tornaram parte de sua vida normal. Todo mundo ambicionava possuir muletas. Algumas eram feitas de marfim, outras de ouro. Fundaram-se escolas para exercitar as pessoas no uso das muletas, cadeiras de universidades passaram a versar os aspectos mais nobres dessa ciência. Mas umas poucas, pouquíssimas, pessoas principiaram a andar sem muletas. Isso foi considerado escandaloso, absurdo. De mais a mais, havia tantas utilidades para as muletas! Algumas dessas pessoas recalcitraram e foram punidas. Elas tentavam demonstrar que as muletas podem ser usadas às vezes, quando necessário. Ou que muitos empregos das muletas podiam ser substituídos. Poucos as ouviram. Com intenção de superar os preconceitos, as pessoas capazes de andar sem ajuda das muletas passaram a comportar-se de maneira totalmente diferente da sociedade estabelecida. Mesmo assim continuaram sendo em número reduzido. Quando se descobriu que, depois de usar muletas por tantas gerações, pouca gente, na verdade, conseguia caminhar sem elas, a maioria 'provou' que elas eram necessárias. Aqui, disseram os defensores das muletas, aqui está um homem. Tentem fazê-lo andar sem muletas, Estão vendo? Não pode. 'Mas nós estamos andando sem muletas', intervieram os andantes comuns. Isso não é verdade; é apenas fantasia de vcs, retorquiam os aleijados – pq, a esse tempo, estavam ficando cegos tb; cegos pq não podiam ver.”

    abs.

    ps. O que quer dizer Deus para a filosofia?
    resp. A “Mente de Gaia”. Apenas uma hipótese de trabalho.

    abs.

    ps.2. fui censurado pelo soft(rs) é mole…ele rejeitou a palavra fé dentro de um contexto que tive que alterar. acho que este novo soft tem parentesco com o prof. pasquale.

    abs.

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