Livre-Arbítrio X Predestinação

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  • #81947

    Bom dia!Prezados companheiros gostaria de contribuir no debate. Confesso que trata-se de uma discussão que não possuo muitos elementos, contudo, tenho certeza que aprenderei bastante.Primeiramente, parece-me que, mesmo como forma de exemplificar, utilizar leis da natureza para apontar algumas questões acerca do livre-arbítrio, trata-se de um equívoco.Não consigo pensar que as relações sociais, sejam elas em quais esferas forem, sejam regidas por leis naturais. Entendo que os animais de maneira geral não possuem livre-arbítrio uma vez que não tem desenvolvida qualquer forma de consciência, mas sim, somente, seus instintos. Dessa forma, o exercício do livre-arbítrio pressupõe um sujeito consciente, dotado de escolha, o que não ocorre no mundo animal, onde as decisões são tomadas, ou melhor, programadas geneticamente, assim, os animais são predestinados a viver sua hereditariedade.Em relação aos sujeitos pensantes, portanto os homens, quanto mais esses desenvolvem sua consciência mais se afastam do seu estado natural e suas influências, mesmo que os custos do desenvolvimento do ser social tenham sido arcados por uma humanização totalmente desigual.Portanto, acredito na capacidade teleológica do ser social que é, par excellence, pensante, assim, dotado de escolhas, porém não livres, mas, condicionadas por uma série de fatores sociais, ou seja, uma vez que nosso processo de humanização é social e as aparências dos fenômenos não traduzem sua essência, assim, não podemos “consciencizar” qualquer fenômeno em sua totalidade, mas apenas apreender partículas de possibilidades latentes. Então, quanto mais o homem se desenvolve mais afasta o ser natural de si, não havendo espaço para predestinação. Essa talvez exista no mundo animal, mas chamaria de relação natural  na qual os animas estão fadados a cumprir as leis naturais.O ser social é potencialmente voltado para o sentido de liberdade nas suas mais diversas dimensões, entretanto, dadas as condições materiais que determinam o sentido da vida esse exercício não pôde, até então, ser realizado.O modo de produção da vida material condiciona o processo em geral de vida social, política e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência. (MARX, 1982, p.25)

    #81948
    Lekso
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    Prezado Sr. LUCIANOBORGES e caríssimo Sr. Oliveira, D..,Primeiramente cumpre esclarecer que não me agrada a ideia de predestinação. Apesar disso, tenho minhas dúvidas quanto à existência do livre-arbítrio, pelos motivos que pretendo expor abaixo.É uma simplificação grosseira supor que uma criança que nasce numa família flamenguista terá de ser fatalmente flamenguista. Se fosse dessa forma — para esse e outros fatores —, a predestinação estaria óbvia. Se pudéssemos afirmar com certeza qual seria a profissão de determinada pessoa ao nascer, etc; enfim, se a vida fosse facilmente previsível e calculável — assim como podemos calcular as posições finais das bolas de bilhar um instante após a tacada —, então não haveria o que se discutir. Mas talvez nos faltem apenas as ferramentas adequadas.O problema é que, embora a psique humana seja muito mais complexa que uma mesa de bilhar, nada há que nos prove que não está aí uma mera relação de quantidade; nada nos prova que se trata de uma diferença de qualidade, como se pretende supor. Por mais bolas que se coloquem numa mesa de bilhar — bolas com diferentes pesos, formas, formatos, texturas, composições — o resultado final da tacada será sempre essencialmente calculável. Não faz diferença se levaria um bilhão de anos para que um supercomputador nos fornecesse o resultado do cálculo: se é calculável, não é imprevisível. Pois, não há nada que nos garanta que exista nos seres humanos mais que o que as leis da física possam explicar (ou que possam um dia vir a explicar). Não há nada que nos garanta que na vida humana há mais que movimento de causa e efeito.Teoriza-se sobre a existência da alma; teoriza-se sobre as diferenças essenciais entre o homem — o animal superior, racional, dotado de consciência — e um cachorro — um "animal irracional"... São essas concessões hoje feitas à raça humana que tornam mais fácil admitir a predestinação nos animais que nos homens. Observe-se que, noutros tempos, a própria alma era privilégio dos "homens livres", classificação que excluía as mulheres e os escravos, considerados desprovidos de vontade própria. Pois, é também interessante observar que a inexistência de consciência em outros animais já é dificilmente sustentável (vide http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u387062.shtml). — Está muito claro que, a despeito do que deseja a grande maioria dos seres humanos, a inteligência não é privilégio nosso. Dessa forma, já tendo admitido forçosamente que os outros animais dispõem de alguma capacidade de raciocínio, ainda se pretende desesperadamente proteger o ser humano com uma distinção honrosa: a "consciência" — e assim se procede, como se houvesse aí uma distinção de qualidade em relação aos demais animais, embora se tenha, mais uma vez, apenas um limite, um parâmetro arbitrariamente convencionado de forma a nos conferir um status de superioridade, colocando uma fronteira imaginária no que de fato é apenas uma escalada gradual. Na essência, a diferença entre a mente do antílope e a do ser humano é a mesma diferença entre as mentes de dois seres humanos distintos: são todos essencialmente iguais, embora tenham diferenças de desenvolvimento. Dizer que só os seres humanos são dotados de consciência é como dizer que só dispõe de inteligência os seres capazes de resolver uma equação de segundo grau, desprezando qualquer inteligência inferior.Pois, retomando o assunto inicial, torno a sustentar que o livre-arbítrio não existe, pois todas as nossas supostas escolhas são consequências de algo que se iniciou anteriormente, numa ininterrupta cadeia de causa e efeito. Entendo que, se não há livre-arbítrio, há predestinação — embora possa ser estudado o uso de outro termo, menos carregado de viés místico. Pois, doravante passo a responder aos seus às suas mais recentes objeções, caro LUCIANOBORGES:

    Escolhas de outros nos afetam por isso nossa educação na infancia dependem dessas escolhas, mas não é porque seu pai quer que você estude medicina que voce deixará de fazer engenharia se quiser.

    Ocorre que nunca há apenas uma influência — o ser humano é complexo demais para isso. Pode-se dizer, a grosso modo, que, no caso, a influência que fez tender à engenharia foi mais forte. Como não se escolhem as influências, não se escolhe a escolha que dela decorra.

    As escolhas não dependem unicamente do desenvolvimento psicológco porque determinadas situações exigem escolhas que dependem dos atos de outras pessoas que contradizem sua fomação pscicológica.

    Pois, nas situações em que as escolhas dependem dos atos de outras pessoas, tem-se novo exemplo da ausência de livre-arbítrio: nesse caso claramente não foi o próprio interessado quem escolheu, mas sim uma consequência das contingências — e, em última análise, consequência do movimento do universo.

    As pessoas podem ser induzidas a tomar decisões. Eu nasci num lar evangélico e meu desenvolvimento psicológico me dizia que tinha que ser cristão e fui cristão por vinte anos, mas hoje não sou mais evangelico, portanto minha escolha não dependeu do meu desenvolvimento psicológico, mas de perceber alguns fatos ao meu redor.

    Como já vimos, ser induzido a tomar decisões é prova da ausência de livre-arbítrio. Prosseguindo, no que supostamente se fugiu da indução, uma análise mais profunda há de identificar que houve outras influências, que foram mais fortes — influências sem as quais se teria permanecido na mesma posição. Novamente, apenas causa e efeito.

    Pessoas que nasceram em lares tradicionais e conservadores  podem ficar casadas por trinta anos e depois se separarem. E como fica a dependencia psicológica nesses casos? tenho conhecimento de que alguns até viraram gays depois de velhos e conviverem  por muitos anos com suas esposas. Existe também o livre arbitrio e pelo fato de mudarmos o destino constantemente pelas nossas escolhas a predestinação tem vida muito curta e não dura. 

    Idem às minhas considerações anteriores. Apenas acrescento que só há que se falar em "mudança de destino" quando se conhece o suposto "destino". Pode-se entender que jamais houve mudança de destino; que todos estejamos, afinal, destinados a seguir uma estrada tortuosa, que ninguém é capaz de saber antecipadamente aonde dará — por falta de suficiente conhecimento das leis que nos regem e por falta de capacidade de processamento de dados, dentre outros problemas operacionais.Abraços, Lekso

    #81949
    Lekso
    Membro

    Livre-arbítrio é uma ideia, um fruto da nossa capacidade de conceber nossa própria atividade. É por termos essa capacidade (a consciência) que pensamos que temos livre-arbítrio.

    #81950

    Carissimo sr Lekso, Vejo que és um tanto determinista, já que deterministas sustentam que os acontecimentos, inclusive vontades e escolhas humanas são causadas por acontecimentos anteriores, logo o homem é fruto do meio. Essa visão me assusta.A ciência mostra que todo evento foi precedido ou causado por outro anterior o que eu não nego, apesar do principio de incerteza de heisenberg. Prefiro acreditar no compatibilismo. Se as pessoas são destituidas de liberdade, estando sob coerção, então isso fere meu senso de justiça, porque não me parece sensato condenar pessoas por atos que elas não poderiam evitar. Então como fica a responsabilidade moral? observe a seguinte proposição: " não matarás " - faz sentido pra você essa lei já que homens não tem liberdade de escolha? Por essas questões eu prefiro acreditar que podemos ter escolhas apezar de suas objeções. Abraço e obrigado.

    #81951
    Lekso
    Membro

    Caríssimo Sr. LUCIANOBORGES,Com certeza, é desagradável e socialmente inconveniente desacreditar do livre-arbítrio. Fazer o quê, se queremos ter liberdade?... — De qualquer forma, não faz diferença, pois ainda que a predestinação seja inevitável, o desejo de negá-la é natural. O "determinista" terá que admitir: somos predestinados a fazer escolhas...Grande abraço!...

    #81952
    Brasil
    Membro

    Ser leão é melhor que ser antílope. O fato de o antílope ser antíope — e não leão — prova que não existe livre-arbítrio, e sim predestinação.

    ha ha ha ha... Muito bom!  :biggrin_mini: Se houvesse livre arbítrio o antílope escolheria ser leão, claro! Como eu nunca havia pensado nisso antes?!!Senhor Lekso, por que em sua opinião é melhor ser leão do que ser antílope?

    #81953
    Fifi
    Membro

    Olá a Todos,Penso que Livre Arbítrio existe e todos nós o temos o próprio Livre Arbítrio.Para eu fazer uma comparação a vocês entre Livre Arbítrio e Predestinação creio que antes eu preciso definir cada um destes conceitos. Talvez a simples definição de ambos já exponha a diferença que vejo. Entao poderei dar exemplos de "meus" conceitos. Peço que definam também os dois conceitos - em poucas palavras, ou seja, sem jogo de palavras, sem exemplos, sem comparações e sem usar na definição a palavra que está sendo definida - de vocês.Minhas Definições :Livre Arbítrio: É a liberdade que um indivíduo tem de tomar a própria decisão dentro de um contexto ou situação em que está inserido.Predestinação: É a condição final de um indivíduo da qual ele não tem como alterar.Assim, me vejo predestinado a evoluir, pois ainda não percebi qualquer parte do TODO que não esteja evoluindo,  nesta etapa de minha existência (espiritual) na Terra com o livre arbítrio de tomar o caminho que eu preferir, dentro da situação que vivo, para cumprir a evolução de aspectos que eu mesmo ecolhi de acordo com o nível de minha consciência.Abraços

    #81954
    SE7MUS
    Membro

    Olá galera,GOSTEI MUITO DO TÓPICOGostaria também de comparitilhar isto:ESPERO QUE GOSTEM.. VALEU...!Abraços,SE7MUSA ilusão do Livre-ArbítrioA ilusão do livre-arbítrio foi um obstáculo no caminho do pensamento humano durante milhares de anos. Vejamos se o senso comum e o conhecimento não o podem remover.O livre-arbítrio é um assunto de grande importância para nós neste caso e devemos tratá-lo com os olhos bem abertos e com a inteligência bem desperta; não porque seja muito difícil, mas porque tem sido atado e torcido num emaranhado de nós cegos durante vinte séculos cheios de filósofos palavrosos e malsucedidos.O partido do livre-arbítrio clama que o homem é responsável pelos seus atos, porque a sua vontade é livre de escolher entre o certo e o errado.Respondemos que a vontade não é livre e que se fosse, o homem não poderia conhecer o certo e o errado enquanto não fosse ensinado.O partido do livre-arbítrio afirmará que, no que respeita ao conhecimento do bem e do mal, a consciência é um guia seguro. Mas eu já provei que a consciência não nos diz e não nos pode dizer o que está certo e o que está errado; apenas nos recorda das lições que aprendemos acerca do certo e errado.A “suave voz baixa” não é a voz de Deus: é a voz da hereditariedade e do meio.E agora para a liberdade da vontade.Quando um homem diz que a sua vontade é livre, ele quer dizer que é livre de todo o controle ou interferência; que pode dominar a hereditariedade e o meio.Respondemos que a vontade é governada pela hereditariedade e pelo meio.A causa de toda a confusão neste assunto pode ser mostrada em poucas palavras.Quando o partido do livre-arbítrio diz que o homem tem livre-arbítrio, eles querem dizer que ele é livre de agir como escolhe agir.Não há necessidade de o negar. Mas o que o faz escolher?Este é o eixo em torno do qual toda a discussão gira.O partido do livre-arbítrio parece pensar na vontade como algo independente do homem, como algo fora dele. Eles parecem pensar que a vontade decide sem o controle da razão humana.Se fosse assim, não provaria que o homem é responsável. “A vontade” seria responsável e não o homem. Seria tão ridículo censurar um homem pelo ato de uma vontade “livre” como censurar um cavalo pela ação do seu cavaleiro.Mas vou provar aos meus leitores, apelando ao seu senso comum e ao seu conhecimento comum, que a vontade não é livre; e que é governada pela hereditariedade e pelo meio.Para começar, o homem comum estará contra mim. Ele sabe que escolhe entre dois percursos a toda a hora, e frequentemente a todo o minuto, e pensa que a sua escolha é livre. Mas isso é uma ilusão; a sua escolha não é livre. Ele pode escolher e, de fato, escolhe. Mas ele pode apenas escolher como a sua hereditariedade e o seu meio o fazem escolher. Ele nunca escolhe e nunca escolherá a não ser como a sua hereditariedade e o seu meio — o seu temperamento e a sua formação — o fazem escolher. E a sua hereditariedade e o seu meio fixaram a sua escolha antes de ele o fazer.O homem comum diz “Sei que posso agir como desejo agir.” Mas o que o faz desejar?O partido do livre-arbítrio diz “Nós sabemos que um homem pode e efetivamente escolhe entre dois atos”. Mas o que decide a escolha?Há uma causa para todo o desejo, uma causa para toda a escolha; e toda a causa de todo o desejo e escolha tem origem na hereditariedade ou no meio.Pois um homem age sempre devido ao temperamento, que é hereditariedade, ou devido à formação, que é meio.E nos casos em que um homem hesita ao escolher entre dois atos, a hesitação é devida a um conflito entre o seu temperamento e a sua formação ou, como alguns o exprimem, “entre o seu desejo e a sua consciência”.Um homem está a praticar tiro ao alvo com uma arma quando um coelho se atravessa na sua linha de fogo. O homem tem os olhos postos no coelho e o dedo no gatilho. A vontade humana é livre. Se ele carregar no gatilho, o coelho é morto.Ora, como é que o homem decide se dispara ou não? Ele decide por intermédio do sentimento e da razão.Ele gostaria de disparar apenas para ter a certeza de que é capaz de acertar. Ele gostaria de disparar porque gostaria de ter coelho para o jantar. Ele gostaria de disparar porque existe nele o antiquíssimo instinto caçador de matar.Mas o coelho não lhe pertence. Ele não tem a certeza de que não se mete em sarilhos se o matar. Talvez — se ele for um tipo de homem fora do comum — sinta que seria cruel e covarde matar um coelho indefeso.Bem, a vontade do homem é livre. Se quiser, ele pode disparar; se quiser, ele pode deixar ir o coelho. Como decidirá ele? De que depende a sua decisão?A sua decisão depende da força relativa do seu desejo de matar o coelho, dos seus escrúpulos acerca da crueldade, e da lei.Além disso, se conhecêssemos o homem muito bem, poderíamos adivinhar como o seu livre-arbítrio agiria antes que tivesse agido. O desportista britânico comum mataria o coelho. Mas sabemos que há homens que nunca matariam uma criatura indefesa.De um modo geral, podemos dizer que o desportista desejaria disparar e que o humanitarista não desejaria disparar.Ora, como as vontades de ambos são livres, deve ser alguma coisa fora das vontades que faz a diferença.Bem, o desportista matará porque é um desportista; o humanitarista não matará porque é um humanitarista.E o que faz de um homem um desportista e de outro um humanitarista? Hereditariedade e meio: temperamento e formação.Um homem é, por natureza, misericordioso e outro cruel; ou um é, por natureza, sensível e outro insensível. Esta é uma diferença de hereditariedade.Um pode ter sido toda a sua vida ensinado que matar animais selvagens é “desporto”; o outro pode ter sido ensinado que é inumano e errado; esta é uma diferença de meio.Ora, o homem por natureza cruel ou insensível, que foi treinado para pensar que matar animais é um desporto, torna-se aquilo a que chamamos um desportista, porque a hereditariedade e o meio fizeram dele um desportista.A hereditariedade e o meio do outro homem fizeram dele um humanitarista.O desportista mata o coelho porque é um desportista, e é um desportista porque a hereditariedade e o meio fizeram dele um desportista.Isso é dizer que o “livre-arbítrio” é realmente controlado pela hereditariedade e pelo meio.Permitam-me que dê um exemplo. Um homem que nunca pescou foi levado à pesca por um pescador. Ele gostou do desporto e durante alguns meses praticou-o entusiasticamente. Mas um dia um acidente convenceu-o da crueldade que é apanhar peixes com um anzol e ele pôs de lado imediatamente a sua cana e nunca mais voltou a pescar.Antes da mudança, se era convidado, ele estava sempre ansioso por ir pescar; após a mudança, ninguém conseguia persuadi-lo a tocar numa linha. A sua vontade foi sempre livre. Como se transformou então a sua vontade de pescar na sua vontade de não pescar? Foi consequência do meio. Ele aprendeu que pescar é cruel. O conhecimento controlou a sua vontade.Mas, pode perguntar-se, como explica que um homem faça o que não deseja fazer?Nenhum homem alguma vez faz uma coisa que não deseja fazer. Quando há dois desejos impera o mais forte.Suponhamos o seguinte caso. Uma jovem recebe duas cartas no mesmo correio; uma é um convite para ir com o seu namorado a um concerto, a outra é um pedido para que visite uma criança doente num bairro de lata. A rapariga é uma grande apreciadora de música e receia bairros de lata. Ela deseja ir ao concerto e estar com o namorado; ela receia as ruas imundas e as casas sujas, e evita correr o risco de contrair sarampo ou febre. Mas ela vai ver a criança doente e não vai ao concerto. Por quê?Porque o seu sentido do dever é mais forte do que seu amor próprio.Ora, o seu sentido do dever é em parte devido à sua natureza — isto é, à sua hereditariedade — mas é principalmente devido ao meio. Como todos nós, a rapariga nasceu sem quaisquer conhecimentos e com apenas uns rudimentos de uma consciência. Mas foi bem ensinada e a instrução faz parte do seu meio.Podemos dizer que a rapariga é livre de agir como escolhe, mas ela age de fato como foi ensinada que deve agir. Este ensino, que faz parte do seu meio, controla a sua vontade.Podemos dizer que um homem é livre de agir como escolhe. Ele é livre de agir como ele escolhe, mas ele escolherá como a hereditariedade e o meio o fizerem escolher. Porque a hereditariedade e o meio fizeram com que ele seja aquilo que é.Diz-se que um homem é livre de decidir entre dois percursos. Mas na realidade ele é apenas livre de decidir de acordo com o seu temperamento e a sua formação…Macbeth era ambicioso; mas ele tinha consciência. Ele queria a coroa de Duncan; mas ele recuava perante a traição e a ingratidão. A ambição puxava-o num sentido, a honra puxava-o no outro. As forças opostas estavam tão uniformemente equilibradas que ele parecia incapaz de decidir-se. Era Macbeth livre de escolher? Até que ponto era ele livre? Ele era tão livre que não conseguia decidir-se e foi a influência da sua mulher que inclinou a balança para o lado do crime.Era Lady Macbeth livre de escolher? Ela não hesitou. Porque a sua ambição era de tal modo mais forte que a sua consciência que ela nunca teve dúvidas. Ela escolheu como a sua toda-poderosa ambição a compeliu a escolher.E a maior parte de nós nas nossas decisões assemelhamo-nos a Macbeth ou à sua mulher. Ou a nossa natureza é de tal modo mais forte do que a nossa formação, ou a nossa formação é de tal modo mais forte que a nossa natureza, que decidimos para o bem e para o mal tão prontamente quanto um rio decide correr colina abaixo; ou a nossa natureza e a nossa formação estão tão bem equilibradas que dificilmente podemos decidir.No caso de Macbeth a competição é clara e fácil de seguir. Ele era ambicioso e o seu meio ensinou-lhe a olhar a coroa como uma possessão gloriosa e desejável. Mas o meio também lhe ensinou que o assassinato, a traição e a ingratidão são perversos e deploráveis.Se nunca lhe tivessem ensinado estas lições ou se lhe tivessem ensinado que a gratidão é uma tolice, que a honra é uma fraqueza, e que o assassinato é desculpável quando leva ao poder, ele não teria de todo hesitado. Foi o seu meio que impediu a sua vontade…A ação da vontade depende sempre da força relativa de dois ou mais motivos. O motivo mais forte decide a vontade; tal como o peso mais pesado decide o equilíbrio dos pratos de uma balança…Como podemos, então, acreditar que o livre-arbítrio é exterior e superior à hereditariedade e ao meio? …“O quê! Um homem não pode ser honesto se escolher sê-lo?” Sim, se escolher sê-lo. Mas essa é apenas outra forma de dizer que ele pode ser honesto se a sua natureza e a sua formação o levarem a escolher honestamente.“O quê! Não posso satisfazer-me quer beba ou me abstenha de beber?” Sim. Mas isso é apenas dizer que não irás beber porque te apraz estar sóbrio. Mas apraz a outro homem beber, porque o seu desejo por bebida é forte ou porque a sua autoestima é fraca.E tu decides como decides e ele decide como decide, porque tu és tu e ele é ele; e a hereditariedade e o meio fizeram de ambos o que são.E o homem sóbrio pode passar por tempos maus e perder a autoestima, ou achar o fardo dos seus problemas maior do que aquilo que ele pode aguentar e cair na bebida para se consolar ou esquecer, e tornar-se um bêbado. Não acontece isto frequentemente?E o bêbado pode, devido a algum choque, ou a algum desastre, ou a alguma paixão, ou a alguma persuasão, recuperar a autoestima e renunciar à bebida e levar uma vida sóbria e útil. Não acontece isto frequentemente?E em ambos os casos a liberdade da vontade permanece intacta: é a mudança no meio que eleva os caídos e lança os honrados por terra.Podemos dizer que a vontade de uma mulher é livre e que ela poderia, se o desejasse, saltar de uma ponte e afogar-se. Mas ela não pode desejar. Ela é feliz, ama a vida e teme o rio frio e rastejante. E, no entanto, devido a alguma cruel volta da roda da fortuna, ela pode tornar-se pobre e infeliz; tão infeliz que odeia a vida e está ansiosa pela morte e, por isso, pode saltar para o temeroso rio e morrer.A sua vontade é tão livre numa altura como na outra. Foi o meio que forjou a mudança. Antigamente ela não podia desejar morrer; agora não pode desejar viver.Os apóstolos do livre-arbítrio acreditam que todos os homens são livres. Mas um homem pode apenas desejar aquilo que é capaz de desejar. E um homem é capaz de desejar aquilo que outro homem é incapaz de desejar. Negá-lo é negar os fatos da vida mais comuns e mais óbvios…Todos sabemos que podemos prever a ação de certos homens em certos casos, porque conhecemos os homens.Sabemos que nas mesmas condições Jack Sheppard irá roubar e que Cardinal Manning não irá roubar. Sabemos que nas mesmas condições o marinheiro irá namoriscar com a empregada de balcão e o padre não irá; que o bêbado se embebedará, e o abstêmio manter-se-á sóbrio. Sabemos que Wellington recusaria um suborno, que Nelson não fugiria, que Bonaparte agarrar-se-ia ao poder, que Abraham Lincoln seria leal ao seu país, que Torquemada não pouparia um herético. Por quê? Se a vontade é livre, como podemos estar certos, antes de o teste ocorrer, de como a vontade deve agir?Simplesmente porque sabemos que a hereditariedade e o meio formaram e moldaram de tal modo os homens e as mulheres que em certas circunstâncias a ação das suas vontades é certa.A hereditariedade e o meio tendo feito de um homem um ladrão, ele irá roubar. A hereditariedade e o meio tendo feito de um homem honesto, ele não irá roubar.Quer dizer, a hereditariedade e o meio decidiram a ação da vontade antes de ter chegado a altura da vontade agir.Sendo as coisas assim — e todos sabemos que são assim — o que acontece à soberania da vontade?Deixemos qualquer homem que acredite que pode “agir como lhe agradar” perguntar a si mesmo por que lhe agrada e ele verá o erro da teoria do livre-arbítrio e irá compreender por que a vontade é escrava e não mestre do homem: porque o homem é o produto da hereditariedade e do meio e estes controlam a vontade.Como queremos esclarecer tanto quanto possível este assunto, consideremos um ou dois exemplos familiares da ação da vontade.Jones e Robinson encontram-se e têm um copo de whisky. Jones pergunta a Robinson se quer outro. Robinson diz, “não, obrigado, chega um”. Jones diz “está bem; tome outro cigarro”. Robinson aceita o cigarro. Ora, temos aqui um caso em que um homem recusa uma segunda bebida, mas aceita um segundo cigarro. É porque iria gostar de fumar outro cigarro, mas não iria gostar de beber outro copo de whisky? Não. É porque sabe que é mais seguro não beber outro copo de whisky.Como sabe ele que o whisky é perigoso? Ele aprendeu-o — no seu meio.“Mas ele poderia ter bebido outro copo se o tivesse desejado.”Mas ele não poderia ter desejado beber outro copo, porque havia algo que ele desejava mais — estar seguro.E por que quer ele estar seguro? Porque ele aprendeu — no seu meio — que era prejudicial, inútil e indecoroso ficar bêbado. Porque ele aprendeu — no seu meio — que é mais fácil evitar adquirir um mau hábito do que eliminar um mau hábito uma vez adquirido. Porque ele deu valor à boa opinião dos seus vizinhos e à sua posição e perspectivas de futuro.Estes sentimentos e este conhecimento governaram a sua vontade e fizeram-no recusar o segundo copo.Mas não há nenhum sentimento de perigo, nenhuma lição bem aprendida de risco para impedir a sua vontade de fumar outro cigarro. A hereditariedade e o meio não o previnem contra isso. Assim, para agradar ao seu amigo e a si mesmo, ele aceitou.Agora suponha que Smith oferece a Williams outro copo. Williams aceita, bebe vários copos e vai depois para casa — como frequentemente vai para casa. Por quê?Em grande medida porque tem o hábito de beber. Não só a mente repete instintivamente uma ação, como, no caso da bebida, uma grande ânsia física é ativada e o cérebro enfraquecido. É mais fácil recusar o primeiro copo do que o segundo; mais fácil recusar o segundo do que o terceiro; é muito mais difícil para um homem que frequentemente se embebeda manter-se sóbrio.Assim, quando o pobre Williams tem de fazer a sua escolha, tem o hábito contra ele, tem uma grande ânsia física contra ele e tem um cérebro enfraquecido com que pensar.“Mas Williams poderia ter recusado o primeiro copo.”Não. Porque, no seu caso, o desejo de beber, ou de agradar a um amigo, era mais forte do que o seu medo do perigo. Ou pode não ter tido tanta consciência do perigo quanto Robinson. Ele pode não ter sido tão bem ensinado, ou pode não ter sido tão sensato, ou pode não ter sido tão cuidadoso. De modo que a sua hereditariedade e o seu meio, o seu temperamento e a sua formação, o levaram a tomar a bebida com tanta certeza quanto a hereditariedade e o meio de Robinson o levaram a recusar.E agora é a minha vez de fazer uma pergunta. Se a vontade é “livre”, se a consciência é um guia seguro, como é que o livre-arbítrio e a consciência de Robinson o fizeram manter-se sóbrio, enquanto o livre-arbítrio e a consciência de Williams o fizeram embebedar-se?A vontade de Robinson foi contida por certos sentimentos que não conseguiram conter a vontade de Williams. Porque no caso de Williams os sentimentos no outro sentido eram mais fortes.Foi a natureza e a formação de Robinson que o fizeram recusar o segundo copo e foi a natureza e a formação de Williams que o fizeram beber o segundo copo.O que teve o livre-arbítrio a ver com isto?Disseram-nos que todos os homens têm um livre-arbítrio e uma consciência.Ora, se Williams tivesse sido Robinson, isto é, se a sua hereditariedade e o seu meio tivessem sido exatamente como os de Robinson, ele teria agido exatamente como Robinson agiu.Foi porque a sua hereditariedade e o seu meio não eram o mesmo que o seu ato não foi o mesmo.Tinham ambos livre-arbítrio. O que levou um a fazer aquilo que o outro se recusou a fazer? Hereditariedade e meio. Para inverter a sua conduta teríamos de inverter a sua hereditariedade e o seu meio…Dois rapazes têm um emprego difícil e desagradável. Um deixa esse emprego e arranja outro, “sobe na vida” e é elogiado por ter subido na vida. O outro se mantém naquele emprego toda a sua vida, trabalha muito toda a sua vida e é respeitado como um trabalhador honesto e humilde; quer dizer, ele é visto pela sociedade como Mr. Dorgan era visto por Mr. Dooely — “ele é um excelente homem, mas eu desprezo-o”.O que faz com que estas duas vontades livres sejam tão diferentes? Um rapaz sabia mais do que o outro. Ele “conhecia mais”. Todo o conhecimento é meio. Os dois rapazes tinham livre-arbítrio. Era no conhecimento que diferiam: meio!Aqueles que exaltam o poder da vontade e menosprezam o poder do meio desmentem as suas palavras pelos seus atos.Porque eles não mandariam os seus filhos para o meio de más companhias ou permitiriam que eles lessem maus livros. Não diriam que as crianças têm livre-arbítrio e, portanto, o poder de agarrar o bom e largar o mau.Sabem muito bem que um mau meio tem o poder de perverter a vontade e que um bom meio tem o poder de dirigi-la pelo bom caminho.Eles sabem que as crianças podem ser tornadas boas ou más por uma boa ou má formação e que a vontade segue a formação.Sendo assim, eles devem também admitir que os filhos das outras pessoas podem ser bons ou maus por formação.E se uma criança tem uma má formação, como pode o livre-arbítrio salvá-la? Ou como pode ela ser censurada por ser má? Nunca teve oportunidade de ser boa. Que sabem isto é provado pelo cuidado que colocam em providenciar aos seus próprios filhos um meio melhor.Como disse antes, cada igreja, cada escola, cada lição de moral é uma prova de que os pregadores e os professores confiam no bom meio, e não no livre-arbítrio, para tornar as crianças melhores.Nesta, como em muitas outras matérias, as ações falam mais alto do que as palavras.Isto, espero eu, desata os muitos nós com que milhares de homens eruditos ataram o tema simples do livre-arbítrio e destrói a alegação de que o homem é responsável porque a sua vontade é livre. Mas há uma outra causa de erro, relacionada com este assunto acerca da qual gostaria de dizer umas quantas palavras.Ouvimos frequentemente dizer que um homem deve ser censurado pela sua conduta porque “ele conhece melhor”.É verdade que os homens agem erradamente quando conhecem melhor. Macbeth “conhecia melhor” quando assassinou Duncan. Mas também é verdade que frequentemente pensamos que um homem “conhece melhor” quando ele não conhece melhor.Porque não se pode dizer que um homem conhece uma coisa enquanto não acreditar nela. Se me disserem que a Lua é feita de queijo verde, não se pode dizer que sei que é feita de queijo verde.Muitos moralistas parecem confundir a palavra “conhecer” com a palavra “ouvir”.Jones lê novelas e toca música de ópera ao Domingo. O Puritano diz que Jones “conhece melhor” quando quer dizer que disseram a Jones que é errado fazer essas coisas.Mas Jones não sabe que isso é errado. Ele ouviu alguém dizer que é errado, mas não acredita nisso. Portanto, não é correto dizer que ele sabe.E igualmente no que respeita à crença. Alguns moralistas sustentam que é mau não acreditar em certas coisas e que os homens que não acreditam nessas coisas serão punidos.Mas um homem não pode acreditar numa coisa que lhe dizem para acreditar; ele pode apenas acreditar numa coisa em que ele pode acreditar; e ele pode apenas acreditar naquilo que a sua própria razão lhe diz que é verdade.Seria inútil pedir a Sir Roger Ball que acredite que a Terra é plana. Ele não poderia acreditar nisso.É inútil pedir a um agnóstico que acredite na história de Jonas e da baleia. Ele não poderia acreditar nela. Ele pode fingir que acredita. Ele pode tentar acreditar nela. Mas a sua razão não lhe permitiria acreditar nela.Portanto, é um erro dizer que um homem “conhece melhor” quando lhe disseram “melhor” e ele não pode acreditar no que lhe disseram.Essa é uma questão simples e parece muito banal; mas quanta má-vontade, quanta intolerância, quanta violência, perseguições e assassinatos foram causados pela estranha ideia de que o homem é mau porque a sua razão não pode acreditar no que para outra razão humana [é] absolutamente verdade.O livre-arbítrio não tem qualquer poder sobre as crenças de um homem. Um homem não pode acreditar por querer, mas apenas por convicção. Um homem não pode ser forçado a acreditar. Podes ameaçá-lo, feri-lo, bater-lhe, queimá-lo; e ele pode ser assustado, irritado ou atormentado; mas não pode acreditar, nem se pode obrigá-lo a acreditar. Até que seja convencido.Ora, embora isto possa parecer um truísmo, penso que é necessário dizer aqui que um homem não pode ser convencido nem pela ofensa nem pelo castigo. Ele pode apenas ser convencido pela razão.Sim. Se quisermos que um homem acredite numa coisa, teremos de encontrar umas quantas razões mais poderosas do que um milhão de pragas ou um milhão de baionetas. Queimar um homem vivo por não acreditar que o Sol gira em torno da Terra não é convencê-lo. O fogo é penetrante, mas não lhe parece ser relevante para a questão. Ele nunca duvidou de que o fogo queima; mas talvez os seus olhos moribundos possam ver o Sol a pôr-se no Oeste, à medida que o mundo gira no seu eixo. Ele morre com a sua crença. E não conhece “melhor”.•autor: Robert Blatchford •tradução: Álvaro Nunes •fonte: Filosofia e Educação •original: Guilty, Albert and Charles Boni, Inc., 1913

    #81955
    ppaulo
    Membro

    Com todo o respeito discordo da citação do Se7mus,A liberdade não está na vontade, mas na razão. Seguir a vontade é ser escravo das paixões; a vontade é o desejo do bom enquanto a razão nos diz do bem.O livre arbítrio existe, a predestinação também. O primeiro é a razão e o segundo a vontade.Ser livre é ser livre para escolher o correto. O contrário é ser escravo da vontade.

    #81956
    Acácia
    Membro

    Com todo o respeito discordo da citação do Se7mus,A liberdade não está na vontade, mas na razão. Seguir a vontade é ser escravo das paixões; a vontade é o desejo do bom enquanto a razão nos diz do bem.O livre arbítrio existe, a predestinação também. O primeiro é a razão e o segundo a vontade.Ser livre é ser livre para escolher o correto. O contrário é ser escravo da vontade.

    Olá!Estava com saudades!E o que seria este "correto" que se sobrepõe à paixão, à vontade, ao desejo, enfim, às delícias ???O correto para uns é defeito para outros... creio que a razão deve ser vista como parâmetro e finalidade de qualquer humano para a convivência humana. Homens irracionais no convívio dos racionais é que gera esta "bagunça" no nosso sistema do "evolucionismo". No entanto, se deixar aprisionar na "razão" como o "teto máximo" da evolução humana, creio que é compactuar com a "predestinação". Seria este o objetivo da vida? Nunca podermos exercer a própria liberdade? Precisamos mesmo ser escravos uns dos outros? Enquanto uns evoluem, outros ficam para trás. O que está na frente, geralmente é injusto, egoísta, e massacra a semente que poderia ainda germinar. É um pouco parecido com "o feitiço de Áquila". Afinal, os homens podem ou não serem livres? A cada dia me questiono quando me deparo com a minha luta interna (kremmer x kremmer) e com minha luta externa (desemprego, falta de saúde, falta de educação...) até perceber que as Leis que deveriam me amparar são minhas maiores inimigas...Será que aqueles que estão a exercê-las, evoluíram mais que eu? Eu nasci antes do meu filho mas, as Leis que me adotaram podem não mais servir para ele...desta forma, aceito que poderíamos eleger a RAZÃO para nossas PROPORCIONALIDADES.

    #81957
    SE7MUS
    Membro

    Com todo o respeito discordo da citação do Se7mus,A liberdade não está na vontade, mas na razão. Seguir a vontade é ser escravo das paixões; a vontade é o desejo do bom enquanto a razão nos diz do bem.O livre arbítrio existe, a predestinação também. O primeiro é a razão e o segundo a vontade.Ser livre é ser livre para escolher o correto. O contrário é ser escravo da vontade.

    Se ser livre é o "escolher o correto". Então quem mostrou o correto a ele se não for a RAZÃO MAIOR  que lhe foi ensinado?Ora, a RAZÃO MAIOR (aquela que mede as consequências - julgamento, verificação, etc. ) direciona as vontades. Logo, tanto a razão quanto a vontade estão ligadas de modo que um é a "gasolina e o outro é o carro".Por esse raciocínio, apoio a idéia de que o homem não tem o livre-arbítrio...!

    #81958
    ppaulo
    Membro

    Boa tarde a todos,Respondendo tanto a Acácia quanto ao Se7mus, e, esclarecendo algo que na releitura ficou obscuro:O conceito de correto; correção, que aqui usei é o conceito de por um lado um agir fundamentado num dever ser, numa lei universal que sirva tanto a mim quanto a qualquer outro pela sua generalidade. Um fundamento no agir que se poderia transformar em regra geral - e não aquela baseada na vontade (que é um agir daquilo que eu acho melhor para mim). Por exemplo, não devo matar porque não desejo que me matem, assim como ninguém deseja ser morto (em situações normais e não situações de limite, frise-se) então, não matarr pode ser considerado regra geral de correção. Então, quando alguém me ofende e me faz as piores barbaridades. Neste caso, eu posso ceder à vontade (de matar meu desafeto) o que me torna escravo de minha predestinação; ou, posso ESCOLHER (pelo livre arbítrio) a atitude correta de não matar.Por outro lado, o agir correto, ainda como dever ser, e ainda como regra geral, para maior clareza, é num último momento algo que Aristóteles delineou em Ética a Nicômaco. É o justo meio, o meio caminho entre os extremos.Apesar desta explanação baseada em Kant e com o resgate de um raciocínio Aristotélico, o mesmo pode ser encontrado em diversos outros filósofos (acerca da correção).Pode-se por exemplo resgatar a idéia hegeliana de particularidade e singularidade.Abraços cordiais,

    #81959
    maurico
    Membro

    Eu acredito no livre-arbítreo, é claro que o meio interfere em nossas dicisões. Seri essa mais uma peça da natureza de despertar uma fantasiosa no ser humano no ser humano. Sem liberdade é o mesmo que sem razão, sem pensar, sem progresso…Percebi que todos ao falar de Deus usam o superlativo e mesmo assim se contradizem limitando-o. Deus tudo pode, mas não pode dar livre-arbítreo e ao mesmo conhecer todas as coisas.Não poderia Deus, que é eterno -  não condicionado ao tempo - , ter todo o conhecimente do que ocorre no tempo de uma só vez?Se Deus tiver esse conhecimento, já que é todo poderozo, então ele conhece o presente, o passado e o futuro. E sabe todas as decisões que nossas passadas e futuras. E as dicisões serem nossas.

    #81960
    Acácia
    Membro

    Por que eu devo aceitar que o correto é não matar? Devo me esforçar para compactuar com esta razão? Se eu matar gera prejuízos para mim ou para o outro ou para ambos? A partir do momento em que pondero os benefícios e os prejuízos que serão gerados pelos meus atos para mim e/ou para o outro após conhecer que o correto é não matar, eu já posso exercer meu livre-arbítrio sim. Domino o meu desejo de matar em prol do que acredito ser um bem maior ou satisfaço minha vontade e continuo no meu mundinho pequenininho, saciada porém escravizada por minhas paixões primitivas??? Está correto o meu entendimento sobre predestinação e livre-arbítrio?No entanto, a força para controlar a minha paixão, o meu desejo que me escravizam, de onde virá? Apenas do meu livre-arbítrio? Quem me ajudará a passar deste estágio??? Quem?

    #81961
    nairan
    Membro

    Olá a todos, Estou acompanhando este debate, e noto a recorrência de opiniões que buscam "salvar as aparências", especialmente falando sobre o problema de haver um Deus onisciênte, e existir o livre-arbítrio ao mesmo tempo.

    Eu acredito no livre-arbítreo, é claro que o meio interfere em nossas dicisões. Seri essa mais uma peça da natureza de despertar uma fantasiosa no ser humano no ser humano. Sem liberdade é o mesmo que sem razão, sem pensar, sem progresso...Percebi que todos ao falar de Deus usam o superlativo e mesmo assim se contradizem limitando-o. Deus tudo pode, mas não pode dar livre-arbítreo e ao mesmo conhecer todas as coisas.Não poderia Deus, que é eterno -  não condicionado ao tempo - , ter todo o conhecimente do que ocorre no tempo de uma só vez?Se Deus tiver esse conhecimento, já que é todo poderozo, então ele conhece o presente, o passado e o futuro. E sabe todas as decisões que nossas passadas e futuras. E as dicisões serem nossas.

    Apresento primariamente a citação acima primeiro por estar mais próxima, e portanto ser mais recente, mas também por possuir em seu conteúdo um resumo bem claro sobre essa forma de pensar. Em resumo, a idéia de que Deus poderia saber de tudo sem tirar a liberdade de escolha do ser humano.Infelizmente, essa idéia é falaciosa, e nasce de uma compreensão errônea do que seria o tempo.De qualquer modo que se coloque a questão, se Deus conhece o final desde o principio, então não há escapatória, o livre-arbítrio não poderia existir.Simplesmente porque se todos os tempos já existem concomitantemente, não se pode falar em passado, presente e futuro, pode-se no máximo falar em "sensação subjetiva" de passagem de tempo, restrita, evidentemente ao ser humano, já que Deus estaria fora dessa visão do tempo e teria abrangência total sobre o tempo pleno.Em qualquer caso seria irrelevante para o Homem, pois tal situação, não importa que mecanismos de ilusão Deus tenha colocado na mente humana, ele já estaria com seu destino definido, já que o tempo seria uma estrutura plenamente definida e acabada, de uma ponta à outra.Existe outra maneira de se conceber o tempo nessa questão da onisciência divina, que seria o tempo transcorrer como se percebe ele, do passado para o futuro, portanto existindo um presente real, porém para que Deus pude-se manter sua onisciência, nesse quadro o universo obrigatoriamente deveria ser totalmente mecanicista, em outras palavras, o universo seria formado apenas por relações de causa e efeito, com uma linha direta, mesmo que intrincada, entre todas as causas existentes, e seus efeitos subseqüentes, ou seja, Deus teria a capacidade plena, por ser Deus, de conhecer todas as menores interrelações na linha de causa e efeito, conhecendo dessa maneira todas as "escolhas' possíveis, e mais que isso, as que seriam realmente efetuadas.Isso "salva" a questão do tempo, mas para o homem pouco importa, pois no final das contas ele ainda estaria preso a essa cadeia de causa e efeitos e o fim seria igualmente predeterminado, nesse caso pela impossibilidade de se romper essa cadeia mecânica de eventos onde um se segue ao outro de forma inevitável. Portanto o homem continuaria sem livre-arbítrio.E aqui nasce uma questão eminentemente religiosa, pois, se Deus não é onisciente, então ele não é Deus.Sendo uma questão religiosa, então as argumentações se dividem em dois grupos pelo menos, os que são religiosos e crêem em Deus, e portanto se comprometem com a obrigação de encontrar uma resposta dentro dessa crença, e aqueles que não são religiosos e não crêem em Deus, e, portanto, estão livres para encontrar e aceitar outras respostas que fujam, desse paradoxo.Pois bem, para aqueles que são crentes, me parece que há apenas dois caminhos possíveis, e existem linhas de pensamento seguindo estes dois caminhos:1- Existe Deus e, portanto não existe o livre-arbítrio.2- Existe Deus, mas este abriu mão de sua onisciência para dar liberdade de escolha ao homem.Esta segunda hipótese e ensinada por varias vertentes religiosas, eu mesmo a aprendi em minha infância como membro da igreja adventista onde tive minhas primeiras lições sobre religiosidade.Aparentemente essa segunda opção abre um caminho para se manter o divindade, mesmo que auto-mutilada, e a liberdade de escolha humana, mas não é assim de fato, pois ao abrir mão de sua onisciência, na verdade Deus não modifica a linha de causa e efeito, ele somente se lança na mesma ignorância humana, como que por uma nobre e extranha, mesmo que amorosa, empatia com sua criação maior, mas mesmo que assim seja, o que for que lhe permitia a onisciência plena ainda permanece, ou seja o destino do homem esta traçado da mesma maneira, apenas ele não sabe  disso e, nesse caso nem mesmo Deus sabe plenamente disso também.Em resumo, para o crente não há outro caminho, se há Deus, então não há livre-arbítrio para o homem.Para aquele que não está preso a essa visão limitada de uma divindade, no entanto o quadro se modifica inteiramente, visto que nesse caso as idéias e concepções não estariam presas a uma "verdade" anterior que deva ser mantida a todo custo, qual seja a de Deus existir, com todas suas qualidades divinas e seus paradoxos conseguentes.Primeiramente é preciso dizer que as duas possibilidades abordadas na primeira parte de minha argumentação, continuam sendo possíveis de existirem mesmo sem a figura divina, ou seja, tanto poderia haver uma estrutura temporal plena e, digamos assim, congelada, fixa e completa do inicio ao fim, com apenas uma subjetiva noção de passagem do tempo própria do ser humano, quanto também pode haver uma passagem real do tempo no sentido passado futuro, com o conseguente presente, mas estando preso a uma corrente de causa/efeito tão mecanicista quanto e portanto tão excludente de liberdade de ação quanto na proposição apresentada havendo uma divindade, porém sem a presença divina uma outra possibilidade se abre, qual seja:O tempo transcorre, de maneira real no sentido passado, presente, futuro, mas não estaria a realidade do universo presa a uma linha mecanicista de causa/efeito direta, mas sim a uma junção de causa/efeito e aleatoriedade, formando uma realidade dinâmica, onde o tempo presente é na verdade o palco onde as coisas se tornam realidade no instante exato em que ocorrem, e nunca antes disso..Evidentemente, ainda não existem provas cabais de que a realidade se comporta dessa forma, caso existissem não estaríamos discutindo o óbvio, mas existem sim, evidências bem claras e indicadoras de uma realidade dessa natureza.O principio de incerteza, que nos mostra claramente que não temos como conhecer ao mesmo tempo certos parâmetros intimos da matéria, e por conhecer não me refiro a não termos o suficiente grau de aprimoramento, mas de que não é possível se conhecer esses parâmetros ao mesmo tempo, pois um modifica o outro no mesmo instante em que ele é medido.As evidencias bem sólidas de que há uma "espuma quântica" nas escalas mínimas da matéria.A presença inquestionável de uma "seta do tempo", que da um sentido único para a direção passado futuro no transcorrer do tempo, mesmo que essa seta do tempo ainda não seja plenamente compreendida e que se busquem maneiras de a mostrar como ilusória, ela ainda assim se mostra como uma das verdades mais evidentes da natureza.A descoberta dos chamados "extranhos atratores", e das também denominadas "físicas do caos", que indicam exatamente no sentido dessa mescla entre causa/efeito, em grande escala, e aleatoriedade restrita, em escalas menores da realidade.A questão aqui esta exatamente na palavra, restrita, ao que tudo indica a intromissão da aleatoriedade na realidade das coisas se da sempre de maneira digamos "homeopática", se apresentando sempre de forma bem discreta e sempre contida por um envelope de causa/efeito que a impede de provocar um caos desenfreado nas estruturas das quais ela emerge.Mas mesmo assim ela introduz uma imprevisibilidade suficiente para que uma linha direta de causa/efeito mecanicista não limite a realidade a uma condição de imobilidade, que seria a natureza do universo em uma condição totalmente mecanicista.Na verdade a comunidade científica mais tradicional tem uma forte ojeriza ao livre-arbítrio, assim como paradoxalmente os crentes se mostram propensos a crer nele, mesmo sendo diante do fato de que a presença de Deus o impedir de existir de fato.E aqui nos deparamos com a natureza humana atuando novamente, os crentes acreditam no livre-arbítrio, pois sem ele toda suas construção de fé, desaba, ele é afirmado na bíblia, ele é a fundamentação para Deus poder julgar o homem e para que ele possa também perdoar e salvar esse mesmo homem, sem ele toda a fé se torna um teatro do absurdo, mas mesmo assim ele é incompatível com a idéia de Deus.De igual maneira, a comunidade científica se mostra relutante em aceitar aquilo que venha introduzir a aleatoriedade dentro de suas linhas de pensamento, é muito mais confortável para o cientista tradicional um universo mecanicista, onde tudo tenha uma razão e um lugar na linha de causa/efeito, que conduza de uma coisa para outra de maneira simples e direta.E, tanto em um lado quanto em outro as pessoas envolvidas se deparam com a situação de terem que rever seus conceitos e dogmas, a diferença principal, é que na comunidade científica os dogmas são revistos, ou no mínimo engolidos, ate prova em contrario, enquanto que na religião os dogmas permanecem e são "mascarados" dentro do possível com as ferramentas disponíveis mão.Vide como os cientistas tratam a teoria quântica, e seus problemas quanto ao censo comum.Bem, creio que já me delonguei de mais, além, disso acho também ter deixado clara minha opinião.Me parece suficientemente claro que a realidade é feita de tal forma que uma componente de aleatoriedade esta sempre presente em todos os aspectos que a compõem, sendo mais relevante quanto mais complexos são os sistemas presentes, e nesse sentido a complexidade humana já, por si só, garantiria uma verdadeira liberdade de escolha de seus caminhos, mesmo que limitada pelas amarras impostas pelos elos de causa/efeito a que estamos submetidos pela parcela maior da realidade cotidiana.E afirmo ainda que uso não é apenas prerrogativa humana, estando presente em maior ou menor grau em diversas espécies animais que dividem nosso planeta conosco.Existem observações suficientes de presas que enfrentaram seus predadores naturais para libertar suas crias, e foram bem sucedidas na empreitada, assim como predadores que fugiram de suas presas naturais em algum momento talvez de pânico ou de sabe-se lá que outra razão.Alguns veriam nesses casos a mão divina, ou vejo a escolha que se introduziu de maneira um tanto quanto aleatória, mas totalmente baseada na opção feita pelo organismo vivo que se mostrou suficientemente complexo e ao mesmo tempo disponível para mudar seu destino aparente.Abraços

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