A domesticação dos medíocres – O Homem medíocre de José Ingenieros
O Homem Medíocre (1913)
José Ingenieros (1877-1925)
Capítulo IV
i. homens e sombras. — ii. a domesticação dos medíocres. — iii. a vaidade. — iv. a dignidade
I — Homens e sombras
Desprovidos de azas e de penacho, os caracteres medíocres são incapazes de voar até um píncaro, ou de lutar contra um rebanho. Sua vida é uma perpétua cumplicidade com a vida alheia. São hósteis mercenários do primeiro homem firme que sabia colocá-lo sob seu jugo.
Atravessam o mundo cuidando da sua sombra, ignorando a sua personalidade. Nunca chegam a se individualizarem; ignoram o prazer de exclamar "eu sou!", em face dos demais. Não existem sozinhos. Sua amorfa estrutura os obriga a se apagarem numa raça, num povo, num partido, numa seita, num bando: sempre a fingir que são outros.