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Muito mais graves foram os acontecimentos cinqüenta anos depois, as hostilidades contra Recife; porque aqui se revelou pela primeira vez claramente a oposição entre brasileiros e portugueses, entre a antiga aristocracia rural e os ádvenas europeus, em geral negociantes (eram chamados pela alcunha de "mascates", cuja significação está hoje esquecida), e se manifestou em luta aberta.

E sabido que, durante a guerra holandesa, a antiga capital de Pernambuco, Olinda, foi, pode-se dizer, inteiramente destruída, e Recife, antes uma simples cidadezinha de porto, assumiu esse posto. Na verdade, concluída a guerra, foi Olinda reconstruída, restabelecida nos seus antigos privilégios; de novo teve foros de capital e desde 1676 também foi sede de bispado; porém nunca mais alcançou o antigo esplendor e riqueza, pois o comércio ficou em Recife, onde o porto oferecia maior comodidade à navegação, e assim esta jovem, florescente praça de comércio, punha cada vez mais à sombra a vizinha que envelhecia.

Contudo, tinha ainda Olinda nome e direitos de cidade; Recife, ao contrário, era uma simples vila e em muitos pontos subordinada à jurisdição de Olinda.

Nestas circunstâncias, desenvolveu-se entre as duas localidades uma rivalidade municipal; Olinda não podia esquecer que Recife, antes simplesmente seu porto, se tornara de todo independente dela, e continuava a pugnar pela sua nominal precedência; Recife, por seu lado, reivindicava a primazia, como convinha à sua atual importância, ou, pelo menos, absoluta equivalência em relação à sua rival mais velha. Além disso, intervinha um outro antagonismo, meio profissional, meio nacional. O comércio do Recife estava, sobretudo, nas mãos de firmas portuguesas re-cém-estabelecidas, que justamente haviam tomado o lugar dos holandeses e judeus expulsos; por outro lado, tinha em Olinda a aristocracia rural as suas casas de cidade, onde exercia em parte os direitos de cidadão e gozava de preponderante influência; esses grandes fazendeiros olhavam desdenhosos, com ciosa arrogância, para a aristocracia do dinheiro dos "mascates", e excluíam, por princípio, estes últimos de todos os cargos eletivos, municipais e estaduais.

Para pôr termo a tal menoscabo e abrir para si o caminho aos cargos públicos, requereram agora os habitantes de Recife, insistentes, a concessão dos foros de cidade; muitas vezes foi o seu pedido indeferido, porém, finalmente, lograram deferimento pela corte de Lisboa; e o capitão-general Sebastião de Castro e Caldas (9 de junho de 1707 e seguintes) recebeu, mais ou menos no ano 1710, ordem de organizar o Recife como cidade.

A nova cidade precisava agora também receber o seu próprio termo de jurisdição territorial, e isto sem dúvida, dada a vizinhança entre ambos os lugares, somente se podia fazer à custa de Olinda; todavia, o capitão-general procedeu muito cautelosamente e deu a Recife somente as três freguesias, que já o conde Moritz de Nassau, com as suas pontes e edifícios, lhe havia anexado, e que atualmente estão todas incluídas na cidade, isto é, a própria península, a ilha de Santo Antônio e a terra firme fronteira, Boa Vista. Além disso, impunha-se a solenidade de uma cerimônia; isto é, a concessão de direitos de cidade era feita, segundo o costume era Portugal, elevando-se na praça do mercado da nova cidade um pelourinho, em sinal de alta jurisdição e indicativo, até certo ponto, da hierarquia imediata à do império (assim como as colunas de Rolando nas cidades do Norte da Alemanha, as Gog e Magog na Câmara Municipal de Londres).

Olinda, porém, sentia-se tão gravemente ofendida, e os espíritos ali estavam tão mal dispostos, que o capitão-general Castro não ousava fazer a cerimônia em dia claro; em segredo, no interior do forte do porto, mandou ele talhar as pedras necessárias e, durante a noite, edificar os pilares; à manhã seguinte foi então convocado o novo Conselho Municipal, que seguiu em procissão para a igreja matriz, a assistir à missa cantada; Recife ficava sendo cidade.

E fácil imaginar que nessas cerimônias festivas faltaram os votos de lelicidade da cidade vizinha; em vez disso, ao dia seguinte, dirigiu-se o Conselho Municipal de Olinda à ilha de Santo Antônio, onde o capitão-general residia no antigo palácio do conde Moritz de Nassau, e apresentou formal protesto contra tudo que havia acontecido; mesmo um dos conselheiros declarou: "Se ele, o capitão-general, podia mandar levantar um pilar, eles podiam mandar pô-lo abaixo". Castro fez prender o atrevido orador, como também um outro que usou de linguagem não menos revoltosa — severidade que nas circunstâncias do momento era inteiramente justa, porém causou muita indignação, tanto mais por pertencer um dos conselheiros encarcerados à poderosa família dos Bezerras.

E justamente com esta família aconteceu logo depois outro atrito; dois dos seus membros foram presos por assassínio e compareceram a juízo. Os assassínios não eram, porém, raridade no Brasil de então, e o público, em geral, costumava não tanto censurar o culpado como se compadecer dele (como acontece atualmente perante o júri, tais queixas acabam em geral com a absolvição do réu); e agora, num caso destes, é que se queria julgar com toda a severidade da lei, e justamente contra dois dos homens mais importantes!

Toda a aristocracia rural se sentiu igualmente ferida; o seu descontentamento se manifestava cada vez mais alto em reuniões secretas ou públicas, e uma revolta parecia iminente, motivo por que o capitão-general preventivamente ordenou geral desarmamento. Porém esta medida era inexequível; só produziu novos desagrados e apressou o rompimento, em vez de o impedir.

Poucos dias depois de dada a ordem, quando Sebastião de Castro dava o seu passeio habitual na ilha de Santo Antônio, foi alvejado a tiro, pelas costas, de uma das casas; quatro balas acertaram, todavia não mortais; os assassinos, de seu lado, embora disfarçados, foram reconhecidos e ao menos dois deles presos, um quando fazia visita de pesar ao ferido; também eles pertenciam a famílias importantes.

Assim se complicavam cada vez mais as relações, e as coisas pioraram, porque também se declarou a discórdia entre as altas autoridades do Estado e da Igreja. O bispo de Olinda, Manuel Álvares da Costa, deveria permanecer, de conformidade com o dever, junto ao leito do governador enfermo, tanto mais porque, segundo a regra, lhe incumbia, no caso de morte, assumir a regência provisória; em vez disso, pôs-se a caminho nas costumadas viagens pastorais, pela sua diocese, e levou no seu séquito um funcionário da justiça, que era acusado pelo menos de cumplicidade na tentativa de assassínio; Castro mandou tropas no encalço, para trazerem o suspeito, porém o bispo recusou entregá-lo e, com armas na mão, fez fugir os soldados.

Isto foi o sinal para o levante geral; os grandes fazendeiros mobilizaram os seus campônios; a milícia associou-se a eles; as tropas regulares, depois de diversas escaramuças, foram desbaratadas e se retiraram para Recife, que em breve era ameaçado de um verdadeiro cerco. Ali estava o capitão-general preso a seu leito de enfermo, impossibilitado de fazer frente, ele próprio, aos revoltosos; a cidade, com os meios de então, dificilmente se sustentaria, e os auxílios, requisitados da Paraíba e da Bahia, não podiam chegar bem a tempo; por esse motivo, ele precisou entabular negociações e oferecer liberdade a todos os presos, se depusessem as armas e quisessem voltar à ordem. A resposta foi curta e terminante: "Os pernambucanos — dizia ela — podiam eles próprios soltar os presos; eles vinham somente buscar a sua cabeça e ainda mais algumas outras".

Nestas circunstâncias deu seu Sebastião de Castro e Caldas ouvidos a conselhos de amigos, verdadeiros ou falsos, que o advertiam de que a sua presença não podia servir para mais nada, somente piorar o estado de coisas; ele embarcou num navio que ancorava no porto, com ele as pessoas mais ameaçadas, na maioria negociantes portugueses ricos, e navegou no rumo da Bahia (7 de novembro de 1710).

Imediatamente depois da fuga do capitão-general, Recife entregou-se aos revolucionários, que agora eram em número de 20.000 homens; e dois dias depois fizeram a sua solene entrada. Uma guarda avançada foi mandada adiante, a fim de deitar abaixo os odiosos pilares, símbolo do direito de cidade; depois veio o grosso: à frente a imagem de Nossa Senhora, à qual seguiam os funcionários, os religiosos de todas as ordens e coros de crianças, finalmente a gente armada, descalça e cantando melodias piedosas, como numa procissão.

Assim se dirigiram para a praça do mercado; ali saiu das fileiras um guerreiro armado e, de pé sobre os escombros das colunas do pelourinho, desafiou quem quer que quisesse sustentar ou defender o direito de Recife a foros de cidade, para combate de vida ou de morte. Naturalmente ninguém se apresentou; e, com essa encenação medieval, julgaram os vencedores haver de novo degradado Recife, colocando-o de novo na sua posição inferior (9 de novembro).

A não ser isso, a ordem não foi de outro modo perturbada; ao menos não houve abertas violências, nem saque; todavia os ricos habitantes do Recife, que se haviam refugiado nos conventos, tiveram que fornecer munições de guerra, dinheiro e o mais que se exigiu deles; e com estes despojos regressaram então os revolucionários ao seu quartel-general em Olinda, onde ainda novas tropas se juntaram a eles.

Agora importava instalar um novo governador no lugar do capitão-general fugitivo; e com esse fim se reuniram para deliberação o conselho da Câmara, os grandes fazendeiros e os representantes das paróquias, um irregular congresso, constituído por si mesmo, meio assembléia de deputados, meio reunião popular, como na Idade Média.

Ali surgiram dois partidos: um, moderado, depois de haver satisfeito a sua vontade de humilhar o Recife, queria voltar à legalidade e, segundo a tradição e conforme expressamente mandava a ordem legal, entregar provisoriamente às mãos do bispo as rédeas do governo; ao contrário, o outro partido se manifestou num sentido decididamente revolucionário, com tendências para instituições republicanas.

A ligação havida com a República das Sete Províncias Unidas não estava esquecida em Pernambuco; e, embora nunca houvesse sido estimado o governo holandês e a sua volta jamais fosse desejada, contudo as formas do Estado holandês, que se havia então aprendido a conhecer, achavam muitos adeptos; uma república aristocrática, como funcionava nos Países Baixos, devia ser necessariamente o ideal de uma aristocracia rural, porque uma tal forma de governo lhe asseguraria a supremacia permanente, ao passo que a grande influência, de que gozava agora sob a monarquia, era apenas de fato, e tinha, além disso, poderoso contrapeso no poder * absoluto do reino.

Existia, portanto, um partido republicano em Pernambuco ou, mais justamente, — com tendências republicanas, — que compreendia uma parte dos grandes fazendeiros; todavia ele se sentia em minoria; e, como até então se houvesse mantido inteiramente calado, também agora só cautelosamente se abalançava a emitir as suas opiniões.

Uma proposta direta para declaração de independência e adoção da forma de governo republicano parece que não se manifestou; porém apresentaram os republicanos a proposta de estabelecer um governo provisório de seis membros, nacionais todos, que dirigiriam o leme do Estado, até que chegasse de Portugal o novo capitão-general nomeado; se este viesse revestido de plenos poderes para conceder anistia ampla e atender a todas as exigências que, além disso, o povo ainda fazia, então se submeteriam a ele e voltariam às antigas relações com a mãe-pátria; se, ao contrário, a coroa de Portugal negasse deferir as reclamações, então Pernambuco declararia a sua independência e constituir-se-ia um governo republicano, como a Holanda ou Veneza.

Foi esta certamente a primeira vez que se manifestou a idéia de uma independência nacional sob forma republicana na América do Sul; na verdade, somente como possível eventualidade, e como tal ainda não encontrava positiva aprovação; o partido realista moderado recusava empenhar-se em planos de tão alto vôo, e com forte maioria fez vencedora a sua proposição: que se confiaria ao bispo o governo interino, até à chegada do novo capitão-general.

Era, sem contestação, como que uma reentrada no domínio da lei; porém, ao mesmo tempo, tomaram-se outras resoluções que importavam em aproveitar possivelmente as conquistas da revolução e assegurá-las. Escolheu-se um juiz do povo (autoridade revolucionária que já vimos representar tão importante papel nas guerras internas do Maranhão, e que nós ainda encontraremos também em outros lugares, onde se chegou a movimentos revolucionários contra o domínio colonial português). Além disso, todos aqueles que haviam acompanhado na fuga o capitão-general, e ainda diversas outras pessoas, foram, sem mais processo, banidos de Pernambuco, e essa sentença da justiça do povo foi oficialmente apregoada com toques de trombeta; finalmente, todos os portugueses natos, que exerciam cargos na província, receberam a ordem de entregar nas mãos do Conselho Municipal de Olinda os seus mandatos e foram demitidos do serviço; essas vagas repartiram-se entre os vencedores brasileiros.

E somente então esses senhores de ocasião mandaram uma comissão ao bispo de Pernambuco, Manuel Álvares da Costa, para convidá-lo a assumir o governo provisório. Ele, embora, como parece, estivesse em completo acordo com a revolução realizada, havia-se, contudo, conservado afastado de toda participação nela; depois daquele primeiro encontro hostil entre o seu séquito e as tropas do capitão-general, havia ele continuado tranqüilamente a sua ronda de visitação pastoral e estava agora na Paraíba, onde os delegados dos pernambucanos o foram buscar; o seu apelo achou prontos ouvidos; imediatamente voltou o bispo com eles a Olinda, e a 15 de novembro de 1710 assumia as rédeas do governo.

O primeiro uso que ele fez do seu poder foi proclamar a anistia completa a respeito de tudo que havia acontecido, ao passo que mandava ao mesmo tempo um relatório à corte de Lisboa, o qual, escrito sob as vistas dos principais participantes, importava, naturalmente, em essência, numa justificação da revolta.

A revolução, porém, não estava ainda finda; o partido republicano, embora não houvesse sido aprovado o seu programa, de todo não desistia dos seus propósitos; e agora se colocava à sua testa um dos homens mais distintos da província, que até então havia ficado alheio a todos os acontecimentos. Foi ele Bernardo Vieira de Melo, ex-chefe das íorças expedicionárias pernambucanas na guerra de extermínio contra os negros de Palmares e recompensado pelos serviços ali prestados com o comando de um regimento, ao mesmo tempo um dos maiores fazendeiros da região; ele podia contar incondicionalmente, tanto com os seus soldados, como com o numeroso pessoal da sua fazenda, e estava, além disso, também, em relações de parentesco ou de amizade com muitas das mais importantes famílias.

Dispondo de tais recursos, gozava ele de grande influência e podia permitir-se muita coisa impunemente; justamente então ele fez julgar por um conselho de família a sua nora em adiantado estado de gravidez, por suspeita de adultério, e condená-la à morte, e depois do seu parto executou-se a sentença, sem fazer de qualquer maneira segredo disso, e as autoridades não ousaram impedir o assassínio, nem perseguir os assassinos; quanto mais não devia esperar tal homem representar papel proeminente numa ordem de coisas republicanas!

Ele assumiu, portanto, a chefia do partido republicano, ao passo que seu filho e seus aliados, cada um no seu círculo, trabalhavam para a mesma causa; dirigiu-se o próprio Bernardo Vieira para Recife, decidido a apoderar-se das fortalezas do porto e então impedir o desembarque do novo capitão-general, no caso em que este, como se previa, não trouxesse ampla anistia e todas as possíveis concessões. Para esse fim levou ele um grande acompanhamento e fez uma parte do seu regimento tomar posição a certa distância da cidade, pretextando que era para uma expedição contra um novo quilombo.

Ambas as mais altas autoridades coloniais, o bispo e o ouvidor, que agora de novo residiam no palácio do governo, na ilha de Santo Antônio, receberam o poderoso hóspede, quando ele chegou ao Recife, com grandes honras, e concederam-lhe, na verdade, indireta, mas não menor influência sobre os negócios públicos; por outro lado, a população verdadeiramente leal conservou justa desconfiança; cuidadosamente vigiava todos os movimentos de Vieira. Assim, o seu plano de tomar dç surpresa ou fazer saltar aos ares o depósito de pólvora da cidade foi descoberto a tempo e impedido; dupla guarda ocupava esse importante posto; ao mesmo tempo, o bispo fez avisar ao perigoso hóspede que se retirasse sem demora do Recife. Porém Vieira não deu importância a essa ordem; confiante no seu séquito fortemente armado, ele não se moveu e ficou esperando a chegada de seus aliados; e de fato o governo não ousou tomar outras medidas contra o desobediente.

Assim parecia não restar dúvida sobre o resultado final de seus planos, o triunfo dos republicanos; eis que uma revolução militar transformou de repente todo o estado das coisas.

Desde que Vieira residia no Recife, havia-se formado uma decidida aversão entre a gente de sua comitiva, por um lado, e a guarnição da cidade, por outro lado, pois os primeiros, fiados no poderoso amparo do seu senhor, ostentavam não pouca arrogância; afinal, chegou-se mesmo a vias de fato. Então exigiu Vieira, sem considerar se eram culpados ou inocentes, que os soldados que haviam atentado contra a sua gente fossem castigados; o bispo, completamente atemorizado, consentiu nessa injusta exigência, e, sem dar importância à intercessão dos oficiais, ordenou que fossem presos e deportados os implicados.

Estes haviam achado abrigo provisório no convento dos carmelitas; eram oito a dez homens destemidos, e, quando souberam que a sua sorte estava resolvida, quiseram ao menos não cair sem vingança; resolveram aventurar por suas próprias mãos uma revolta contra o seu poderoso perseguidor, Vieira, o cabeça dos republicanos, portanto combater pela causa do reino. Dia claro, de espada na mão, deixaram eles o seu asilo de até então, marcharam para o quartel do tambor e obrigaram-no a rufar a generala; assim seguiram eles pelas ruas, aos brados de: "Viva o rei! Abaixo os traidores!"

Passo a passo ia engrossando cada vez mais a sua pequena tropa; os soldados da guarnição, as milícias, os pretos livres do regimento Henrique Dias, os indígenas confederados, todos que traziam armas, reuniram-se sob as bandeiras reais; também a população civil não ficou atrás.

Dentro em breve havia a contra-revolução triunfado em todos os pontos da cidade; os republicanos foram dispersos, o próprio Bernardo Vieira de Melo foi cercado na sua casa, preso e lançado na prisão; o seu séquito, os seus aliados, procuraram a salvação na fuga.

No primeiro susto, também o bispo se julgou ameaçado e, durante o tiroteio, fugiu do palácio do governo e conservou-se escondido no convento dos jesuítas; todavia, os realistas vitoriosos trataram-no com toda a deferência; a pedido deles, ele sancionou o encarceramento de Vieira e consentiu em continuar a governar como antes, ao passo que a um dos principais chefes, João da Mota, era confiado o governo da cidade e o comando supremo militar; ao mesmo tempo, cuidou-se de pôr a cidade e os fortes do porto em estado de defesa.

Assim, achava-se Recife de novo em armas como campeão da ordem legal, em face do resto da província de Pernambuco, em princípios de 1711. Imediatamente depois foi publicada uma proclamação, por ordem e em nome da guarnição, que definia em termos fortes os motivos de seu procedimento e a significação da contra-revolução: "Se os soldados — dizia-se nela — em novembro último (1710) se submeteram e se uniram aos revoltosos, a culpa não era tanto deles como dos oficiais; agora eles haviam compreendido o alcance do seu erro, haviam-no reparado e queriam daqui em diante provar à mãe-pátria e a todo o mundo que o rei de Portugal não tinha súditos mais fiéis"; "por direito — continuava a proclamação — ainda era o fugitivo Sebastião de Castro e Caldas capitão-general de Pernambuco; e Recife, apesar da humilhação sofrida, era ainda, sempre, uma cidade com plenos direitos".

O conselho municipal de Olinda e a aristocracia rural do interior viram com isto arrancados das suas mãos os frutos recém-obtidos com a vitória, e está claro que não sossegaram; assim de novo foram os habitantes chamados às armas e, pela segunda vez no espaço de um ano, os pernambucanos ameaçaram Recife com um cerco formal. Desta vez a população e a guarnição se puseram à espera dos próximos acontecimentos, de ânimo erguido e firme resolução; sem embargo, eles se assustaram seriamente, quando, alguns dias depois, correu o boato de que ambas as mais altas autoridades coloniais, o bispo e o ouvidor, haviam resolvido passar do Recife para o campo do inimigo em Olinda.

Em breve averiguou-se que isso era certo: apesar de todas as representações e rogos, persistiu o bispo no seu projeto e procurou justificá-lo mesmo, prometendo fazer todo o possível para sossegar os ânimos, atuar no sentido de uma reconciliação, e quanto antes estaria de volta. Ninguém pôs estorvo algum à saída de ambas as autoridades; porém, logo que eles embarcaram, o comandante da cidade, João da Mota, formulou um protesto solene em nome do rei e os responsabilizou a ambos por todas as desgraças que daí resultassem para a cidade e os habitantes, em vidas, honra e propriedade: e fez-se de vela a embarcação.

Os motivos que determinaram o bispo a mudar de partido não são claros, como aliás desde o princípio todo o seu modo de proceder foi equívoco; evidentemente ele não queria desavir-se com nenhum dos partidos, e, quando se havia comprometido com um deles, logo procurava restabelecer-se no conceito do outro. Se desta vez ele temia os horrores de um cerco, se realmente esperava conseguir reconciliação, isso é duvidoso; contudo, a palavra dada, de que voltaria ao Recife, ele não quis ou não pôde cumpri-la.

Apenas havia chegado a Olinda, onde os cidadãos lhe deram as boas-vindas com grande pompa, ele pediu por carta ao comandante do Recife lhe remetesse todos os seus utensílios domésticos, pois ia demorar-se alguns meses, ficaria até à festa de São João, em Olinda; e, decorrido esse prazo, ele passou abertamente para o partido dos pernambucanos.

Justamente, no dia de São João (24 de junho de 1711), apresentou-lhe o conselho municipal de Olinda uma mensagem, na qual lamentava a traiçoeira revolta da guarnição e população de Recife e rogava-lhe, como então substituto do capi-tão-general, mandasse retirar dali os regimentos de milícia, principalmente os pretos Henriques; e, ao passo que faziam solenes protestos de fiel submissão à mãe-pátria e à coroa de Portugal, declaravam ao mesmo tempo a firme resolução, se o Recife persistisse na sua obstinação e ainda pretendesse atribuir-se os foros de cidade, de novamente fazer-lhe a guerra, com armas na mão.

O bispo conformou-se com essas pretensões e emitiu as ordens como os pernambucanos as exigiam; ordens para as quais ele naturalmente esperava tão pouca obediência, como a que de fato achou.

Recife deu uma digna resposta negativa, o comandante da cidade e os outros chefes leais fizeram redigir, por um tabelião, uma justificação fundamentada do seu modo de proceder, e este documento foi subscrito por todos, de próprio punho; então, fizeram um juramento, com a mão sobre o Evangelho, de que se sustentariam pelo rei nos postos que lhes haviam sido confiados, até à última gota de sangue, e que jamais sem a sua ordem se entregariam.

Assim estalava de novo a guerra civil entre Recife por um lado, Olinda e a aristocracia provinciana de Pernambuco por outro lado. As tendências republicanas, todavia, não se manifestaram mais; ambos os partidos faziam alarde de sua submissão à coroa de Portugal, combatiam sob as bandeiras reais; e tiveram os olin-denses, a princípio, a vantagem de estarem de seu lado as autoridades regulares provinciais, o bispo e o ouvidor. Isso, contudo, não durou muito: o bispo, Manuel Alvares da Costa, a quem a causa afinal pareceu arriscada, resolveu oportunamente retirar-se, e depôs o seu poder temporal nas mãos do ouvidor, do general-chefe e do conselho municipal de Olinda.

Por outro lado, a cidade do Recife conseguiu formar aliança com João da Maia da Gama, governador da Paraíba, que lhe assegurou o seu apoio. Os pormenores da guerra são destituídos de interesse; basta notar que os olindenses conservaram em campo aberto a supremacia; Recife ficou sitiada e privada de todo abastecimento de víveres pelo lado de terra; todavia esse bloqueio não tinha nenhuma especial conseqüência, pois o mar continuava sempre aberto aos sitiados.

Passaram-se cerca de três meses. Nisso, apareceu na costa uma esquadra portuguesa, que trazia o recém-nomeado capitão-general, Félix José Machado de Mendonça Castro e Vasconcelos. A sua chegada foi saudada em Recife com júbilo; também Olinda não ousou opor qualquer resistência e procurou justificar-se, levantando contra os adversários toda espécie de acusações infundadas.

Ambos os partidos mandaram comissões a bordo, para oferecer casa ao capitão-general; e assim ele pôde, sem obstáculos, realizar sua entrada solene, primeiro em Recife, no dia seguinte em Olinda (10 de outubro de 17?1). Ele manejou a sua autoridade cota energia e brandura, ao mesmo tempo. Uma nova tentativa de revolta foi logo abafada, toda a província pacificada; depois, foram remetidos para Lisboa os principais culpados, para serem julgados, entre os quais dois foram condenados à prisão perpétua numa fortaleza das índias Orientais; os restantes, depois de demorada prisão para investigações, puderam voltar à pátria; somente o bispo foi protegido por seu hábito sacerdotal contra toda responsabilidade.

Com isto ficou terminada a revolução; o Recife manteve os seus foros de cidade e valeu daí em diante como verdadeira capital de Pernambuco, pelo fato de estabelecerem as autoridades civis e eclesiásticas as suas sedes normais na ilha vizinha, de Santo Antônio; todavia, nos primeiros tempos, ainda tinha o capitão-general que residir, de conformidade com a lei, durante seis meses em Olinda, até que essa prescrição foi caindo pouco a pouco em desuso, nos fins do século XVIII.

* * *

A revolução de 17 10 e 1711 havia quase que esgotado completamente todo o material revolucionário, todas as energias revolucionárias de Pernambuco; durante cem anos gozou a província do mais profundo sossego, sem que, exceção feita da substituição normal de funcionários civis e eclesiásticos, ocorresse fato algum digno de menção; todavia, o caráter da região se conservou o mesmo e sucessivamente sobrevieram novas causas, que encaminharam a segundo período revolucionário.

Por mais ciosamente que isolasse o governo português ao Brasil de todo contato estrangeiro, todavia não ficaram desconhecidas também aqui as grandes comoções que nos fins do século XVIII abalaram o mundo, as revoluções norte-americana e francesa não deixaram também de contaminar aqui a opinião pública; e, finalmente, a última até mesmo repercutiu diretamente sobre o Brasil, por haver dado motivo à transmigração da família real de Bragança e com isso à abertura dos portos brasileiros ao comércio mundial (28 de janeiro de 1808).

Com as novas idéias, que agora de todos os lados ali afluíam, começou para o Brasil uma nova ordem de coisas, e esta devia, como a todas as esferas, afetar a da situação política. Até aqui acostumada às rígidas formas de um regime colonial absoluto, procurava agora a população familiarizar-se com as condições dos Estados modernos; a monarquia constitucional que, justamente então, iniciava a sua viagem redonda por toda a Europa, também aqui achou muitos adeptos; porém menor não era a simpatia que se deu ao estado de coisas norte-americanas; o Estado federativo parecia — e de fato ele o é — a mais adequada forrna para um país, onde nas diversas províncias existia uma tão viva consciência de autonomia histórica; e a constituição republicana, certamente não a república democrática da Nova Inglaterra, porém a aristocracia dos Estados agrícolas do Sul, foi considerada por um partido como necessária e muito bem-vindo atributo do Estado federativo. Se assim, a tendência revolucionária republicana ganhou novas forças, também ao mesmo tempo o antigo antagonismo entre brasileiros e portugueses ainda mais se agravou.

Simultaneamente com a transmigração da família real e em seguimento, haviam imigrado portugueses em número desproporcionado, e agora, mais do que nunca, se apoderavam dos empregados públicos e do comércio e, além disso, como se dizia, eram sempre favorecidos de cima, o que a população nativa levava muito a mal. De mais a mais, houve especialmente para Pernambuco e Bahia ainda terceiro motivo: parece que ambas estas velhas gloriosas províncias se sentiram melindradas, por não haverem os Braganças estabelecido nelas a residência da família real, porém no Rio de Janeiro, e que dali as governassem justamente do mesmo modo como antes de Lisboa; certamente, eram colônias de Portugal, e, como tais, se haviam deixado tratar por Portugal; porém ser colônia do Estado irmão mais moço, Rio de Janeiro, isso parecia intolerável ao seu orgulho provincial.

A agitação dos espíritos foi sobretudo grave em Pernambuco. A princípio, como é dos costumes de latinos, manifestou-se em reuniões secretas e sob formas da maçonaria; mas em breve houve demonstrações públicas; celebravam-se banquetes "brasileiros", nos quais a bebida e comida consistiam somente de produtos da terra; nos brindes se manifestava um ódio arrogante contra o reino absoluto e contra os imigrantes portugueses, os "marinheiros", como agora eram chamados.

Estes fatos tornaram-se do domínio público; os portugueses, que se sentiam seriamente ameaçados, reclamavam das autoridades medidas enérgicas; todavia o então (desde 26 de maio de 1804) capitão-general Caetano Pinto de Miranda Montenegro, homem moderado, indulgente, parece não haver dado o devido valor à agitação, e não queria tratar a ninguém como criminoso, só por causa de discursos exaltados; contentou-se em publicar uma proclamação, na qual censurava as agitações do momento e exortava à tranqüilidade e à ordem (3 de março de 1817). Contudo, poucos dias depois, já ele mudava o seu modo de pensar: se ele se deixou levar pelo arrebatamento dos portugueses, se teve completas informações sobre a verdadeira existência de uma conjuração, o fato é que reuniu o seu conselho a 5 de março, e ali foi resolvido prender 70 dos mais proeminentes membros do partido brasileiro nativista.

Na manhã seguinte, começaram as prisões no Recife (6 de março); muitos se deixaram levar calmamente ao cárcere; mas, quando chegou a vez de um oficial, José de Barros86, enterrou ele no peito do general a espada que este lhe reclamava, e chamou à insurreição os soldados do seu quartel. Com o funesto brado: "Viva a pátria! Morram os marinheiros!" saíram à rua as tropas nacionais, o povo da cidade e do interior associou-se-lhes; depois de curto combate sangrento, dois bairros da cidade, Santo Antônio e Boa Vista, caíram no poder dos insurgentes. E agora se dirigiram estes contra a cidade velha, na península, o próprio quarteirão do comércio.

Aqui, onde a população era constituída quase toda de negociantes portugueses, onde, portanto, tudo se tinha a recear da revolução, teria sido possível uma reação enérgica, uma contra-revolução vitoriosa, se as autoridades e os habitantes houvessem feito o seu dever; porém os cidadãos só cuidaram de pôr a salvamento nos navios os seus haveres, suas famílias, e o capitão-general havia completamente perdido a cabeça; ele fugiu para a fortaleza do porto e ordenou somente que fosse destruída a ponte que ligava a península com a ilha de Santo Antônio. Mas isto os revoltosos o impediram; sob a proteção de algumas pequenas peças de campanha, eles invadiram pela ponte a cidade velha; algumas horas depois, também Olinda aderiu a eles; e então se repetiram aqui, como ali, as mesmas cenas como antes em Santo António e Boa Vista; por toda parte foram os portugueses sem piedade trucidados, saqueados os seus bens e haveres.

Finalmente, na manhã seguinte capitulou diante dos vencedores (7 de março) a fortaleza do porto, onde o capitão-general com um punhado de tropas se havia refugiado; o próprio Montenegro foi sem tardar deportado para o Rio de Janeiro, os seus oficiais ficaram presos, e os soldados tiveram de entrar para as fileiras dos insurgentes.

Com isso ficavam postas de lado as autoridades legais, extinta a autoridade régia. No seu lugar estabeleceu-se um governo provisório, no qual cinco membros tinham assento e voto: o padre João Ribeiro Pessoa Montenegro, o jurisconsulto José Luís, dois oficiais — Manuel Correa d’Araújo e Domingos Teotónio — e um negociante Domingos José Martins; uns eram ambiciosos, outros eram honrados sonhadores, todos eles bem intencionados em promover o bem público e a sua causa, porém lhes faltou a visão clara, a energia implacável, sem a qual nenhuma revolução pode ser bem sucedida de modo estável.

Todo o movimento tomou com isso feição equívoca; não se podia desconhecer que, no fundo, se tinha em mira a república; os retratos do rei, as comendas e distintivos honoríficos, as armas reais e bandeiras desapareceram, e em seu lugar foi arvorada provisoriamente uma bandeira branca nacional; mesmo a linguagem do trato comum tomou feição republicana; o costumado tratamento "Vossa Mercê" devia cessar, e em lugar de "Senhor" devia dizer-se "Patriota"; apesar de tudo e apesar de todas as acusações, que em repetidas proclamações se faziam contra o velho regime português e a dinastia real, o governo provisório acanhou-se em declarar publicamente a independência de Pernambuco, a república; e assim se tornou impossível um movimento verdadeiramente entusiástico.

Ainda foi pior que com igual dubiedade interviessem na questão social da escravidão; uma proclamação dizia: "O governo provisório, por mais que isso contrarie os seus sentimentos e modo de pensar, por enquanto deseja nada mudar na situação dos negros escravos; não porque reconheça o direito dessa situação, porém simplesmente em consideração pela propriedade adquirida". Isto, naturalmente, não deu satisfação a nenhum dos partidos: os escravos ficaram indiferentes, visto que nada de bom se fazia por eles, os fazendeiros por seu lado ficaram prevenidos, e assim o movimento revolucionário não criou raízes profundas no interior da província. Se bem que de todos os lados, de Pernambuco, de Alagoas e mesmo da Paraíba e Rio Grande do Norte, chegassem declarações de apoio, o foco propriamente dito da revolução sempre se circunscreveu às duas cidades de Recife e Olinda e seus arredores.

Nestas circunstâncias, teve o governo-geral jogo relativamene fácil. O conde dos Arcos, governante da vizinha Bahia, mobilizou tropas; também no Rio de Janeiro, aonde o próprio capitão-general expulso, Montenegro, havia levado a notícia de sua desgraça (25 de março de 1817), foi logo aprestada uma expedição, e ao general Luís do Rego Barreto foi confiado o comando militar, assim como ao mesmo tempo o governo de Pernambuco.

Assim que apareceram essas forças combatentes, o interior da província logo voltou à obediência, e Recife viu-se ameaçada de um ataque por terra e por mar; o governo provisório procurou então tentar a sorte das armas: chamou às armas os habitantes da vizinhança, formou-se unt’reforço de mil escravos, aos quais se deu a liberdade, e com estas tropas, no todo uns 10 a 12.000 homens, marchou Domingos José Martins ao encontro do exército real, que, do seu lado, se também não estava precisamente em melhores condições, todavia superava as tropas do adversário, improvisadas.

A 15 de maio de 1817 deu-se o encontro, a umas 10 léguas de Recife, num terreno que antes, no tempo da invasão holandesa, havia sido teatro de batalhas mais gloriosas e mais sérias; esta vez foi apenas um simulacro de combate; não se chegou ao corpo-a-corpo; apenas trocados os primeiros tiros, a grande distância, os insurgentes debandaram. As tropas reais, que avançaram lentamente, não acharam mais resistência em parte alguma; a 17 de maio estavam elas diante das portas de Recife e em breve adejavam as bandeiras portuguesas de novo em todos os pontos (25 de maio de 1817); estava acabada a revolução.

O castigo foi talvez justo, porém, muito severo; não só os quatro membros do governo provisório (o padre João Ribeiro, quando viu tudo perdido, justiçou-se a si mesmo), mas também todos os membros mais eminentes do partido nativista brasileiro foram encarcerados, e os principais culpados sofreram a pena última, uns no Recife, outros em Salvador (Bahia), em julho de 1817; muitos outros definharam longos anos nas prisões de Estado da Bahia;,as principais cidades da província ficaram, finalmente, muito tempo submetidas aos rigores do estado de sítio, que, todavia, o capitão-general Luís do Rego Barreto fez o possível por mitigar.

Além disto, foi a capitania-geral de Pernambuco mutilada no seu território: já se mencionou que justamente então perdeu ela a última das suas dependências, o Rio Grande do Norte; porém, fora essa, também perdeu partes integrantes do seu território: a comarca de Alagoas foi separada e por decreto real de 12 de janeiro de 1818 elevada a província autônoma; finalmente, no interior, onde o domínio pernambucano antes chegava até aos limites de Minas Gerais, teve agora que ceder uma grande parte do vale do rio São Francisco à vizinha província da Bahia (3 de junho de 1820); e com isto ficou Pernambuco reduzido às suas atuais relativamente estreitas fronteiras. Tão duramente expiou a província a sua tentativa de querer fazer a história do Brasil no século XIX, como antes no século XVII; este papel preponderante passara irrevogavelmente para outras províncias do Sul.

Durante as comoções dos anos seguintes, Pernambuco sempre ficou em segundo e terceiro plano. Primeiramente, quando a agitação para uma monarquia constitucional veio de Portugal e do Pará (janeiro de 1821), e foi descendo por toda a costa brasileira. Pernambuco a princípio calou-se, e somente aderiu, depois de se haver também declarado a capital, Rio de Janeiro, e de haver cedido o rei d. João VI (6 de março). A 26 de outubro de 1821 depôs o último capitão-general,

Luís do Rego Barreto, o seu poder nas mãos de uma junta provisória que, depois de haver primeiramente procurado conservar posição autônoma, se submeteu ao governo do Rio de Janeiro (1° de junho de 1822); e, quando ali foi proclamada a independência nacional, o império do Brasil (7 de setembro e 12 de outubro de 1822), Pernambuco mudou de organização política, sem que aí em parte alguma houvesse conflito digno de nota. Estava esta província esgotada até à última extremidade; todavia, o partido republicano não desanimara com isso, continuou sem cessar a sua oposição provincial contra o regime imperial, sobretudo pela imprensa, e em breve ofereceu-se também uma oportunidade para novos movimentos.

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