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14/06/2005 às 21:05 #79776Miguel (admin)Mestre
Desculpe Renan, mas a sua definição de determinismo não confere com os meus dicionários de filosofia. Se Sartre rompeu com o determinismo, então, rompeu com a Ciência também.
Acabei de encontrar um site na internet que fala dessa questão contraditória em Sartre:
“Funda, com David Rousset e Maurice Merleau-Ponty depois de 1945 o RDR (Rassemblement Démocratique Révolutionnaire) que procurava congregar todos os desiludidos de esquerda que não se enquadravam nas fileiras dos comunistas e dos socialistas franceses. Em 1949 Sartre entra em conflito com Rousset, quando este denuncia os campos de concentração estalinistas. O movimento fracassa e Sartre passa a compagnon de route dos comunistas, mas elogiando a via titista. Participa no Mouvement de la Paix e escreve artigos de intervenção em Les temps Modernes. Entra em conflito com Albert Camus, quando este publica L'Homme Revolté.”
[http://www.iscsp.utl.pt/cepp/autores/franceses/sartre.htm]
Nesse livro, Camus criticava Sartre expondo a relevante questão:
“Por que os ideais se pervertem, por que, quando vence a rebeldia, esta se transforma em opressão?”
Daí em diante, a filosofia francesa não foi mais a mesma. Surgiu Jacques Derrida, a desconstrução, a metafísica da presença, mas isso já é outra história…
14/06/2005 às 21:21 #79777Miguel (admin)MestreExemplo: Mecanicismo é um tipo de determinismo, certo?
Se for, é desse determinismo que falo quando digo que Sartre rompeu com o determinismo.
Você me confundiu, e para eu não falar besteira vou procurar a definição de determinismo e rever as minhas fontes.(humildade acima de tudo
Vou pesquisar, valeu Mileto.
14/06/2005 às 21:42 #79778Miguel (admin)MestreTalvez o tipo de determinismo que você esteja querendo criticar seja o comportamentalismo (Behaviourism).
O behaviorismo de Buhrrus Frederic Skinner é um determinismo radical. Logo de início ele declara que a liberdade é apenas um mito…
14/06/2005 às 22:51 #79779nahuinaMembroAfinal, podemos ser julgados e condenados ou absolvidos pelos nossos atos?pq não? o problema é quem ou o que vai nos julgar?qual seria a lei ou a moral….complicado!
Temos o arbítrio para fazer o bem ou o mal?isso traz uma questão importante: O que é o Bem e, oq é o Mal?
Temos a capacidade de julgar os atos alheios e os nossos próprios?
Não!
O que é a culpa, o remorso, a hipocrisia, etc?
São valores morais, são sentimentos/sensações?
São …15/06/2005 às 2:04 #79780Miguel (admin)MestreO determinismo a que me referi desde o início foi:
“Determinismo é um termo científico empregado, a partir do século XIX, para referir-se às relações causais necessárias que regem a realidade conhecida e controlada pela ciência e, no caso da ética, para referir-se ao ser-humano como objeto das ciências naturais (química e biologia) e das ciências humanas (sociologia e psicologia), portanto, como completamente determinado pelas leis e causas que condicionam seus pensamentos, sentimentos e ações, tornando a liberdade ilusória”.
Marilena Chauí, Convite à filosofia, página 332.Agora para entender o que eu estava tentando dizer desde o início, vocês terão que reler o que postei, mas com essa definição de determinismo.
Para simplificar essa extensa definição vou dar um exemplo bobo, mas apenas um exemplo:
A crença de que Deus escreve todas nossas ações, falas e pensamentos etc é determinista, pois não nos dá nenhuma liberdade. Somos fantoches de Deus.
Outro exemplo:
“Nos tempos modernos, afirmou-se que os movimentos das partículas (leia-se átomos) são determinados pelas leis da mecânica…como disse o marquês de Laplace… dados a posição e o momento de cada partícula no universo em qualquer instante, tudo o que acontecerá a partir daquele instante é determinado”.
Maurice Cornforth, Comunismo e filosofia: dogmas e revisões do marxismo hoje. página 66Ou seja, a teoria determinista parte da teoria atômica. Cada movimento da partícula (cada ação nossa) gera uma reação e assim sucessivamente. No final, tudo não passa de uma grande reação em cadeia. Como no filme “Efeito Borboleta” ou em “De Volta Para O Futuro”. Cada ação no presente gera uma nova possibilidade de realidade futura.
Vamos supor que o Big Bang aconteceu. A partir daquele instante tudo o que acontece é determinado. O fato de eu estar escrevendo este texto agora é causa de um fato anterior a esse, que se voltarmos no tempo para verificarmos quais são as causas de tudo, vai dar no início dos tempos: O Big Bang.
Imagine isso como uma bola de neve ou uma mesa de bilhar.Se você já jogou bilhar, vai entender. No exemplo do bilhar, a bola branca que inicia a reação em cadeia no triângulo de bolas(a primeira tacada do jogo) é o Big Bang. A partir do movimento da bola branca, o destino (trajeto) das demais bolas já está determinado. Elas não tem escolha de outra trajetória.
Por isso eu disse que Sartre rompeu com o determinismo. O EXISTENCIALISMO PREGA A LIBERDADE incondicional, sem limites; enquanto NO DETERMINISMO A LIBERDADE É TOTALMENTE ILUSÓRIA.
Concorda?
15/06/2005 às 2:46 #79781nahuinaMembroPara falar em Sartre tem que ler, analisar, interpretar o que ele escreveu, e não criticá-lo através de “resenhas” das suas idéias….ou então vc estará fazendo o msm que vc pedia p/que ñ fosse feito com o Marx…
E sobre o “efeito bilhar” tenho um trecho do film (waking life, Mileto assistiu e parece que gostou) que acho interessante:Imagine só. Há atividade elétrica no cérebro. Os neurônios disparam…
enviando um sinal através dos nervos até os músculos. Estes se contraem.
Você estende seu braço. Parece uma ação livre…
mas cada parte desse processo… é governada por leis físicas, químicas, elétricas etc.
Parece que o Big Bang causou as condições iniciais…
e todo o resto da História humana…
é a reação de partículas subatômicas às leis básicas da física.
Nós achamos que somos especiais, que temos alguma dignidade.
Isso agora está ameaçado. Está sendo desafiado por este quadro.
Você pode dizer: “E quanto à mecânica quântica? Conheço o bastante para saber que é uma teoria probabilística.
É frouxa, não é determinista. Permite entender o livre-arbítrio.”
Mas, se olharmos detalhadamente, isso não ajudará…
porque há as partículas quânticas e o seu comportamento é aleatório.
Elas são meio transgressoras. Seu comportamento é absurdo…
e imprevisível. Não podemos estudá-lo com base no que ocorreu antes.
Ele tem um enquadre probabilístico.
Será a liberdade apenas uma questão de probabilidade? Aleatoriedade em um sistema caótico?
Eu prefiro ser uma engrenagem em uma máquina física e determinista…
que uma transgressão aleatória.15/06/2005 às 2:47 #79782Miguel (admin)MestreNão tem nada a ver. Se formos analisar o determinismo tomando como referência o Deus bíblico, então eu caio fora, porque não tem nada de científico num Deus que é onisciente e que ao mesmo tempo se arrepende de ter feito o homem e inunda o mundo com o dilúvio. Isso sem mencionar o livre-arbítrio. Ora, façam-me o favor!
Novamente, determinismo nada tem a ver com existência ou inexistência de liberdade. Não sei de onde tiraram essa. O determinismo tem a ver com a hipótese da ciência poder definir todas as relações de causalidade dos fenômenos.
Depois do princípio de incerteza de Heisenberg, sabemos que não. Porém a ciência não deixou de ser determinista. A teoria do caos é justamente a hipótese de que o caos nada mais seja do que uma função matemática demasiado complexa.
Até no filme Walking Life um pernonagem diz que preferiria ser uma engrenagem determinista do que uma partícula com movimento incerto…
15/06/2005 às 2:57 #79783nahuinaMembroConcordo com vc Mileto: Não da p/falar em determinismo e usar Deus como exemplo,,,
Renan, a resposta está no proprio texto que vc postou:Determinismo é um termo científico empregado, a partir do século XIX, para referir-se às relações causais necessárias que regem a realidade conhecida e controlada pela ciência(…)15/06/2005 às 11:58 #79784Miguel (admin)MestreCorreto. O exemplo que postei de Deus, não é tecnicamente chamado determinismo. É chamado fatalidade ou providência.
“O determinismo tem a ver com a hipótese da ciência poder definir todas as relações de CAUSALIDADE dos fenômenos”. (correto!)
E isso não implica com nossa liberdade?
Se voce é uma engrenagem num sistema voce não é livre, pois seu movimento depende do movimento de outra engrenagem.
Podemos ser livres (ou aparentemente livres) quando seguimos nossas próprias leis ao invés de sermos escravos dos nossos desejos. Ou seja, quando agimos racionalmente, de acordo com nossa própria moral, somos (aparentemente livres).
Mas a moral não é inveção minha. Eu posso influencia-la, mas eu já nasci numa cultura.
Temos um impasse sobre a definição de determinismo.
Saber se somos livres ou não é uma questão que vêm sido discutida desde o inicio da filosofia. É polêmico e complexa.
Na atual conjuntura, me bastaria ouvir uma terceira ou quarta opinião sobre o que é determinismo. Para mim está claro que a realidade ser determinada ou não, influencia na questao de sermos livres ou não (em questão de metafísica)
Na questão etica é diferente, se somos livres ou não, equivale a responder a pergunta: o homem faz a cultura ou a cultura faz o homem?
Em ambas as questões eu não sei. Pode ser que tudo que eu tenha falado sobre determinismo está errado. Mas gostaria de uma explicação:
O universo ser determinado, implica com nossa liberdade metafísica?
Sartre rompeu com o determinismo?
Vou me colocar como Sócrates:
“só sei que nada sei”15/06/2005 às 12:15 #79785Miguel (admin)Mestre“O determinismo tem a ver com a hipótese da ciência poder definir todas as relações de CAUSALIDADE dos fenômenos”. (correto!)
E isso não implica com nossa liberdade?Quando implica com a noção de liberdade, não é mais determinismo, é behaviourismo. (Vide Buhrrus F. SKINNER)
Na questão etica é diferente, se somos livres ou não, equivale a responder a pergunta: o homem faz a cultura ou a cultura faz o homem?
São as duas coisas. Logo não existe pura liberdade. É um conceito de relatividade.
Sartre rompeu com o determinismo?
Não creio. Acho que a questão é outra?
A noção sartriana de liberdade é filosófica no sentido da Phýsis ou seria “licença poética” dentro de um contexto político-ideológico.“O homem está condenado a ser livre.” [Sartre]
15/06/2005 às 12:27 #79786Miguel (admin)Mestre“Novamente, determinismo nada tem a ver com existência ou inexistência de liberdade”.
Página 332 do Convite a filosofia de Marilena Chaui:
LIBERDADE COMO QUESTÃO FILOSÓFICA
“necessidade, fatalidade, determinismo significam que não há lugar para a liberdade, porque o curso das coisas de nossa vida ja está fixado, sem que nele possamos intervir”.
O mesmo se aplica a “contingência”
Mileto:
Como determinismo não tem a ver com liberdade?
Acho que estamos falando de coisas diferentes, meu amigo.Nahuina: Não estou criticando Sartre. Só queria saber: O existencialismo rompe com o determinsmo?
Se vc disser que não, eu não sei o que é existencialismo nem determinismo.Agora, saber se temos livre-arbítrio ou não, é outra questão. Se vc acredita que sim, eu tentarei provar que não. Se voce disser que não, eu tentarei provar que sim (tudo de acordo com minhas possibilidades limitadas de conhecimento).
Eu gosto de fazer de advogado do diabo, pois para mim, ambas as teorias são fundamentadas e possíveis. E sem pontos de vista diferentes, não formaremos novas sínteses, por isso é importante discordar. Concordam?
Mileto:
Onde posso alugar o filme Walking Life? Tem título em portugues? É facil de achar?No lugar onde eu moro as locadoras só tem os filmes de sempre. Nda assim mais alternativo. É uma bost…!
15/06/2005 às 13:11 #79787Miguel (admin)MestreSalve, Mileto.
Salve, Nahuina.Tudo bem?
Leiam o que eu postei no fórum: Sartre/ Liberdade, sobre o problema das drogas.
Depois me digam o que acham. Inicialmente é POLEMICO, mas depois eu…
Obrigado por essa oportunidade de debater temas filosóficos. Estou aprendendo muito e gostando muito desses fóruns. A participação de voces dois é um modo de me motivar a buscar ler cada vez mais e assim melhorar minhas perspectivas.
Mesmo assim, eu gostaria que tivessem mais pessoas para debater conosco.
Aguardo comentários de voces sobre o que postei no forum Sartre/liberdade.
E espero que nossos debates continuem. Isso é muito bom para fortaceler nossa retórica (escrita, eu sei, mas ajuda)
No mais…
Até breve, amigos filósofos!15/06/2005 às 13:23 #79788Miguel (admin)MestreValeu, Mileto, agora finalmente entendi seu ponto de vista.
Eu estava falando em termos de metafísica. Logo, na sua opinião, o termo que eu deveria ter usado não é liberdade, mas sim “condicinado” (Skinner).
Há duas questões:
1- Em termos de metafísica (do efeito bilhar) eu chamava aquilo de determinismo.2-Em termos de ética/moral/psicologia, não falamos em ser determinado, mas ser condicionado.
Eu falava em metafísica. Mas algumas vezes também falava em ética. Isso pode te-lo confundo.
O que estava acontecendo entre nós, acho eu, era uma dificuldade de comunicação, devido aos limites que a internet nos impoe.
Agora eu entendi vc.
15/06/2005 às 14:51 #79789nahuinaMembro“Na atual conjuntura, me bastaria ouvir uma terceira ou quarta opinião sobre o que é determinismo. Para mim está claro que a realidade ser determinada ou não, influencia na questao de sermos livres ou não (em questão de metafísica)”
Renan,vc já tentou usar o dicionário? Detreminismo:Filos.Conexão rigorosa entre os fenômenos (naturais ou humanos), de modo que cada um deles é completamente condicionado pelos que o precederam…Se influencia na liberdade ou ñ vai depender do seu conceito de liberdade…eu acho que pode influenciar como tb pode ñ influenciar…
Com relação à pag. 332 do livro da Marilena Cahui eu procurei e não achei…vc pode dizer qual é a unidade e o capitulo?
Talvez a idéia de que por ñ existir um Deus, ou um destino ou uma natureza humana, o homem esteja condenado à liberdade possa ser considerada uma idéia determinista…não?
não.15/06/2005 às 15:16 #79790nahuinaMembroNa questão ética é diferente, se somos livres ou não, equivale a responder a pergunta: o homem faz a cultura ou a cultura faz o homem?
Creio que aqui o problema é causado por uma limitação na nossa linguagem…(chamo de limitação o fato de que uma mesma palavra seja interpretada de diversas formas induzindo a um equivoco no raciocínio)
O problema é : ”Homem” na frase: O homem faz a cultura, esse “homem” é “a espécie humana”,” a humanidade”
E na frase “a cultura faz o homem” este “homem” é“Qualquer ser humano”…
Isso induz ao erro…
A humanidade faz a cultura.
A cultura condiciona o individuo.
Ambas estão certas, não se pode escolher entre uma ou outra pois, mesmo usando uma mesma palavra em sentidos contraditórios (homem), ela apresenta, nas frases, sentidos/significados diferentes…
…….
O individuo é condicionado…e o conjunto de indivíduos cria a causa deste “condicionamento”, o individuo ñ pode mudar a cultura?Pode!mas depende dos outros indivíduos… e Sartre definiu isso muito bem da seguinte forma:“O homem não é mais que o que ele faz. Tal é o primeiro princípio do existencialismo. Também a isso que se chama a subjetividade, e o que nos censuram sob este mesmo nome. Mas que queremos dizer nós com isso, senão que o homem tem uma dignidade maior do que uma pedra ou uma mesa? Porque o que nós queremos dizer é que o homem primeiro existe, ou seja, que o homem, antes de mais nada, é o que se lança para um futuro, e o que é consciente de se projetar no futuro. Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência. E, quando dizemos que o homem é responsável por si próprio, não queremos dizer que o homem é responsável pela sua restrita individualidade, mas que é responsável por todos os homens
(…) “Jean-Paul Sartre – 1946 – El existencialismo es un Humanismo
(Mensagem editada por nahuina em Junho 15, 2005)
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