Início › Fóruns › Pedidos de ajuda › Platão e a Loucura
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12/11/2008 às 21:46 #70834Daniel TeixeiraMembro
Fiz uma redação recentemente na qual o tema era loucura. Me lembro de ter ouvido alguém dizer que o Platão, em sua obra explicava a loucura e acabei por usar isso na minha redação. Escrevo esse tópico porque quero confirmar se o que escrevi na redação está ou não correto.A citação de Platão apareceu no 1º parágrafo da redação, o qual transcrevo abaixo para que leiam:"De acordo com Platão, os loucos são aqueles que conseguiram, de alguma forma, se libertar do mundo das sombras - o mundo onde todos nós vivemos, no qual a realidade é um mero reflexo do que acontece no mundo das idéias - para ascender ao mundo das idéias. Dessa forma, os loucos só são assim classificados por nós pelo simples fato de termos a visão demasiada estreita, a ponto de não conseguirmos ver o que eles tentam nos mostrar."Espero obter esclarecimentos sobre a veracidade ou não do que foi escrito nesse parágrafo.Grato, Daniel.
07/01/2009 às 5:37 #85951Miguel DuclósMembroOlá DanielTem uma coisa interessante sobre esse tópico que é o seguinte: o pensamento de Platão sobre a loucura é citado pelo filósofo Michel de Montaigne no Ensaio VIII do livro 3. Este trecho era da predileção do poeta francês Rimbaud, que nele encontrou insumo para a elaboração de seu projeto e missão poética. Existem vários estudos sobre a influência de Montaigne em Rimbaud, e até mesmo algumas teses, infelizmente de difícil acesso para nós. Segue abaixo o trecho em questão._____________"Ou vais perder-te2 4 7?" Isso já se acha algo fora do meu assunto; perco-me, mas antes por licença do que por inadvertência. Minhas idéias ligam-se umas às outras, mas às vezes de longe; não se perdem de vista, embora seja por vezes necessário que virem a cabeça para percebê-lo. Tenho diante de mim um diálogo de Platão construído em duas partes absolutamente diferentes; a primeira é consagrada ao amor, ao passo que a outra somente trata de retórica, Há autores que não receiam passar assim de um assunto a outro sem relação com o precedente é fazem-no com muita graça, ao sabor da fantasia. Os títulos de meus capítulos nem sempre estão de acordo com a matéria; não raro a relação se manifesta apenas através de algumas palavras, como na "Andriana", no "Eunuco" ou em Sila, Cícero, Torquato. Gosto de andar dando cabriolas, à maneira dos poetas, que é ligeira, alada, demoníaca, como diz Platão. Plutarco em certas obras esquece o tema, o qual só por momentos se encontra e sob matéria estranha. Vede como procede em seu "Demônio de Sócrates". Como são belas suas escapadas, como suas variações são elegantes, e tanto mais quanto mais se afiguram ter saído da pena por acaso. O leitor distraído é que perde de vista meu tema; eu não. Sempre, em algum lugar, umas poucas palavras hão de mostrar que o tenho em mente. Passo de um assunto a outro sem regra nem transição; meu estilo e meu espírito vaga-bundeiam juntos. Um pouco de loucura previ-ne um excesso de tolice, segundo afirmam nossos mestres por palavras e exemplos. Muitos poetas arrastam-se e descambam para o prosaísmo, mas a melhor prosa antiga esplende com vigor e arrebatamento poético e tem algo da paixão que a anima. A essa prosa cabe sem dúvida a preeminência na expressão do pensamento; diz Platão que o poeta, sentado no tripé das Musas, deixa que derrame o que lhe vem à idéia, como a água jorra da fonte, sem meditar nem ponderar; e jorra de tudo, coisas contraditórias, de todas as cores, sem seqüência. O próprio Platão arniúde entrega-se à inspiração poética. A teologia antiga, dizem os sábios, é toda poesia e, na opinião dos filósofos, esta foi a princípio a linguagem dos deuses. Penso que o assunto se realça por si. Ele bem mostra, sozinho, onde começa, onde muda, onde termina, sem que haja necessidade de se introduzirem ligações, tão-somente úteis aos ouvidos fracos ou indolentes; não quero comentar a mim mesmo. Quem não prefere não ser lido a sê-lo por quem cochile ou tenha pressa? "Nada existe, mesmo útil, que seja útil a quem passa correndo248". Se bastasse pegar um livro para aprendê-lo, olhá-lo para penetrá-lo profundamente, percorrê-lo para dominá-lo, não poderia alegar essa ignorância que proclamo. Não podendo reter a atenção do leitor pelo interesse do que digo, contento-me com interessá-lo em minha mixórdia. Bem, dirão, mas lamentá-lo-á depois. Sem dúvida, porém já se terá distraído. Demais há espíritos que desdenham o que compreendem; hão de apreciar-me tanto mais e ante a minha obscuridade concluirão pela profundidade de meu pensamento, o que detesto e evitaria se pudesse. Aristóteles vangloria-se, algures, de se esforçar por essa obscuridade; é um erro._________(MONTAIGNE, Ensaios, trad. de Sérgio Millet, in Os Pensadores)
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