JOHANN WOLFGANG VON GOETHE – TRÊS TRECHOS SOBRE TRADUÇÃO

JOHANN WOLFGANG VON GOETHE

TRÊS TRECHOS SOBRE TRADUÇÃO

Goethe, que também foi um tradutor apaixonado, manifestou-se repetidas vezes sobre o assunto ao longo de sua obra. Os três fragmentos aqui selecionados são originários de: I. Dichtungund Wàhrhelt (Art. Ged. Ausg. vol. 10, p. 540); II. Zu brüderlichemAndenken Wielands (Art. Ged. Ausg. vol. 12, p. 705); III. Noten und Abhandlungen zu bessern Verstàndnis d es west-õstlichen Divans (Art. Ged. Ausg. vol. 3, p. 554).

I.

Aprecio o ritmo, bem como a rima, por meio dos quais a poesia se torna poesia, mas verdadeiramente profundo e eficaz, realmente formador e promovedor é o que resta do poeta quando este é traduzido em prosa. Permanece então o conteúdo puro e perfeito. Uma forma deslumbrante freqüentemente sabe simular o conteúdo quando ele inexiste e, quando está presente, o encobre. Por isso, para o início da formação juvenil, considero, mais proveitosas as traduções em prosa do que as poéticas: pois os jovens, aos quais tudo serve de brincadeira, deleitam-se visivelmente com o som das palavras, com o movimento das sílabas e, por meio de uma espécie de travessura parodística, destroem o conteúdo profundo da mais nobre obra. Por isso, gostaria de ponderar se uma tradução em prosa de Homero não seria adequada como iniciação; é bem verdade que ela deveria ser digna do nível em que se encontra a literatura alemã atualmente. Ofereço isso e o que disse anteriormente à contemplação de nossos dignos pedagogos, que dispõem de vasta experiência a respeito. Quero tão. somente lembrar ainda, em defesa de minha proposta, a tradução da Bíblia por Lutero. Pois o fato de este excelente homem haver traduzido uma obra escrita em estilo tão variado e tê-la transmitido com seu tom poético, histórico, impositivo e formador para a língua materna com tamanha perfeição, promoveu mais a religião do que se ele houvesse procurado imitar em detalhes as singularidades do original. Em vão se procurou, mais tarde, tornar saborosos em sua forma poética o livro de Jó, os Salmos e outros cânticos. Para a multidão, sobre a qual deve exercer influência, uma tradução singela é sempre a melhor. As traduções críticas que rivalizam com o original só servem, na verdade, para o entretenimento dos estudiosos.

II.

Existem duas máximas na tradução: uma exige que o autor de uma nação desconhecida seja trazido até nós, de tal maneira que possamos considerá-lo nosso; a outra, ao contrário, exige de nós, que vamos ao encontro do estrangeiro e nos sujeitemos às suas condições, sua maneira de falar, suas particularidades. Graças a traduções exemplares, as vantagens de ambas são suficientemente conhecidas por qualquer homem culto. Nosso amigo, que também aqui procurou o meio termo, esmerou-se em combinar as duas; porém, como homem de sensibilidade e bom gosto, preferiu, em casos de dúvida, a primeira máxima.

III.

Há três espécies de traduções. A primeira nos apresenta o estrangeiro à nossa maneira; uma tradução singela em prosa é a melhor para este caso. Pois, ao suprimir inteiramente as características de qualquer arte poética e até mesmo reduzindo o entusiasmo poético a um nível consensual, a prosa se presta perfeitamente para a iniciação, porquanto ela nos surpreende com a excelência desconhecida em meio à familiaridade da nossa pátria, de nossa vida comum, sem que saibamos o que nos sucede, conferindo-nos uma disposição superior, edificando-nos verdadeiramente. A tradução da Bíblia por Lutero sempre produzirá tal efeito.

Se os Nibelungos tivessem sido transpostos diretamente em prosa qualificada e carimbados como livro popular, muito se teria ganho, e o espírito cavaleiresco, tão estranho, sério, sombrio e amedrontador, nos teria atraído com sua força total. Se isso ainda é oportuno e realizável agora, melhor poderão avaliar aqueles que se dedicaram com mais afinco a estes assuntos da antigüidade.

Uma segunda época se segue a esta, na qual se procura a transposição para as condições do estrangeiro mas, na verdade, apenas para se apropriar do sentido desconhecido e constituí-lo com sentido próprio. Gostaria de denominar este período de parodístico no mais puro sentido da palavra. Na maioria das vezes, são pessoas espirituosas que se sentem atraídas por tal ofício. Os franceses se utilizam desse modo na tradução de todas as obras poéticas; centenas de exemplos podem ser encontrados na tradução feita por Delille. Da mesma maneira como se apropria de palavras desconhecidas, o francês também procede com os sentimentos, os pensamentos, e até mesmo com os objetos; reclama para cada fruto desconhecido um substituto que tenha crescido em base e chão próprios.

As traduções de Wieland fazem parte dessa categoria; ele possuía igualmente um gosto e um entendimento singulares, com os quais se aproximava da antigüidade, do estrangeiro, apenas o tanto quanto lhe convinha. Esse homem notável pode ser considerado representante de sua época; atuou de maneira extraordinária, tornando justamente o que lhe encantava, da maneira como se apropriava do mesmo e o transmitia, igualmente agradável e saboroso para seus contemporâneos.

Entretanto, como não se pode permanecer por muito tempo nem na perfeição nem na imperfeição, devendo uma transformação seguir sempre a outra, experimentamos o terceiro período, que é o mais elevado e último, onde se procura tornar a tradução idêntica ao original, não de modo que um deva vigorar ao invés do outro, mas no lugar do outro.

Esse modo sofreu, inicialmente, a maior resistência. Pois o tradutor que se une firmemente ao seu original, abandona, de uma forma ou de outra, a originalidade de sua nação e, assim, surge um terceiro para o qual o gosto da multidão ainda deve se formar.

O inestimável Voß não conseguiu agradar o público inicialmente, até que, pouco a pouco, as pessoas se adaptaram, se acomodaram ao novo modo. Quem, entretanto, não se dá conta do que ocorreu, da versatilidade que adquiriram os alemães, das vantagens retóricas, rítmicas, métricas que estão à disposição do jovem espirituoso e provido de talento, quem não se apercebe como Ariosto e Tasso, Shakespeare e Calderón nos são apresentados dupla e triplamente como estrangeiros transformados em alemães, esse deve esperar, então, que a história da literatura expresse, inequivocamente, quem trilhou pela primeira vez esse caminho mediante os mais diversos obstáculos.

Tradução: Rosvitha Friesen Blume


Original em Alemão

JOHANN WOLFGANG VON GOETHE

DREI STÜCKE VOM ÜBERSETZEN

Goethe, der selbst passionierter Übersetzer war, hat sich an vielen Stellen seines Werkes zum Thema geäußert. Die hier ausgewählten drei Stücke stammen aus: I. Dichtung und Wahrheit (Art. Ged. Ausg. Bd. 10, S. 540); II. Zu brüderlichem Andenken Wielands (Art. Ged. Ausg. Bd. 12, S. 705); III. Noten und Abhandlungen zu bessern Verständnis des west-östlichen Divans (Art. Ged. Ausg. Bd. 3, S. 554).

I.

Ich ehre den Rhythmus wie den Reim, wodurch Poesie erst zur Poesie wird, aber das eigentlich tief und gründlich Wirksame, das wahrhaft Ausbildende und Fördernde ist dasjenige was vom Dichter übrigbleibt, wenn er in Prose übersetzt wird. Dann bleibt der reine vollkommene Gehalt, den uns ein blendendes Äußere oft, wenn er fehlt, vorzuspiegeln weiß, und wenn er gegenwärtig ist, verdeckt. Ich halte daher, zum Anfang jugendlicher Bildung, prosaische Übersetzungen für vorteilhafter als die poetischen: denn es läßt sich bemerken, daß Knaben, denen ja doch alles zum Scherze dienen muß, sich am Schall der Worte, am Fall der Silben ergötzen, und durch eine Art von parodistischem Mutwillen den tiefen Gehalt des edelsten Werks zerstören. Deshalb gebe ich zu bedenken, ob nicht zunächst eine prosaische Übersetzung des Homer zu unternehmen wäre; aber freilich müßte sie der Stufe würdig sein, auf der sich die deutsche Literatur gegenwärtig befindet. Ich überlasse dies und das Vorgesagte unsern würdigen Pädagogen zur Betrachtung, denen ausgebreitete Erfahrung hierüber am besten zu Gebote steht. Nur will ich noch, zugunsten meines Vorschlags, an Luthers Bibelübersetzung erinnern: denn daß dieser treffliche Mann ein in dem verschiedensten Stile verfaßtes Werk und dessen dichterischen, geschichtlichen, gebietenden, lehrenden Ton uns in der Muttersprache, wie aus einem Gusse überlieferte, hat die Religion mehr gefördert, als wenn er die

Eigentümlichkeiten des Originals im einzelnen hätte nachbilden wollen. Vergebens hat man nachher sich mit dem Buche Hiob, den Psalmen und andern Gesängen bemüht, sie uns in ihrer poetischen Form genießbar zu machen. Für die Menge, auf die gewirkt werden soll, bleibt eine schlichte Übertragung immer die beste. Jene kritischen Übersetzungen, die mit dem Original wetteifern, dienen eigentlich nur zur Unterhaltung der Gelehrten untereinander.

II.

Es gibt zwei Übersetzungsmaximen: die eine verlangt, daß der Autor einer fremden Nation zu uns herüber gebracht werde, dergestalt, daß wir ihn als den Unsrigen ansehen können; die andere hingegen macht an uns die Forderung, daß wir uns zu dem Fremden hinüber begeben und uns in seine Zustände, seine Sprachweise, seine Eigenheiten finden sollen. Die Vorzüge von beiden sind durch musterhafte Beispiele allen gebildeten Menschen genugsam bekannt. Unser Freund, der auch hier den Mittelweg suchte, war beide zu verbinden bemüht, doch zog er als Mann von Gefühl und Geschmack in zweifelhaften Fällen die erste Maxime vor.

III.

Es gibt dreierlei Arten Übersetzungen. Die erste macht uns in unserm eigenen Sinne mit dem Auslande bekannt; eine schlichtprosaische ist hiezu die beste. Denn indem die Prosa alle Eigentümlichkeiten einer jeden Dichtkunst völlig aufhebt und selbst den poetischen Enthusiasmus auf eine allgemeine Wasserebene niederzieht, so leistet sie für den Anfang den größten Dienst, weil sie uns mit dem fremden Vortrefflichen mitten in unserer nationalen Häuslichkeit, in unserem gemeinen Leben überrascht und, ohne daß wir wissen, wie uns geschieht, eine höhere Stimmung verleihend, wahrhaft erbaut. Eine solche Wirkung wird Luthers Bibelübersetzung jederzeit hervorbringen.

Hätte man die Nibelungen gleich in tüchtige Prosa gesetzt und sie zu einem Volksbuche gestempelt, so wäre viel gewonnen worden, und der seltsame, ernste, düstere, grauerliche Rittersinn hätte uns mit seiner vollkommenen Kraft angesprochen. Ob dieses jetzt noch rätlich

und tunlich sei, werden diejenigen am besten beurteilen, die sich diesen altertümlichen Geschäften entschiedener gewidmet haben.

Eine zweite Epoche folgt hierauf, wo man sich in die Zustände des Auslandes zwar zu versetzen, aber eigentlich nur fremden Sinn sich anzueignen und mit eignem Sinne wieder darzustellen bemüht ist. Solche Zeit möchte ich im reinsten Wortverstand die parodistische nennen. Meistenteils sind es geistreiche Menschen, die sich zu einem solchen Geschäft berufen fühlen. Die Franzosen bedienen sich dieser Art bei Übersetzung aller poetischen Werke; Beispiele zu hunderten lassen sich in Delilles Übertragung finden. Der Franzose, wie er sich fremde Worte mundrecht macht, verfährt auch so mit den Gefühlen, Gedanken, ja den Gegenständen, er fordert durchaus für jede fremde Frucht ein Surrogat, das auf seinem eignen Grund und Boden gewachsen ist.

Wielands Übersetzungen gehören zu dieser Art und Weise; auch er hatte einen eigentümlichen Verstands- und Geschmacksinn, mit dem er sich dem Altertum, dem Auslande nur insofern annäherte, als er seine Konvenienz dabei fand. Dieser vorzügliche Mann darf als Repräsentant seiner Zeit angesehen werden; er hat außerordentlich gewirkt, indem gerade das, was ihn anmutete, wie er sich’s zueignete und es wieder mitteilte, auch seinen Zeitgenossen angenehm und genießbar begegnete.

Weil man aber weder im Vollkommenen noch Unvollkommenen lange verharren kann, sondern eine Umwandlung nach der andern immerhin erfolgen muß, so erlebten wir den dritten Zeitraum, welcher der höchste und letzte zu nennen ist, derjenige nämlich, wo man die Übersetzung dem Original identisch machen möchte, so daß eins nicht anstatt des andern, sondern an der Stelle des andern gelten soll.

Diese Art erlitt anfangs den größten Widerstand; denn der Übersetzer, der sich fest an sein Original anschließt, gibt mehr oder weniger die Originalität seiner Nation auf, und so entsteht ein Drittes, wozu der Geschmack der Menge sich erst heranbilden muß.

Der nie genug zu schätzende Voß konnte das Publikum zuerst nicht befriedigen, bis man sich nach und nach in die neue Art hinein hörte, hinein bequemte. Wer nun aber jetzt übersieht, was geschehen ist, welche Versatilität unter die Deutschen gekommen, welche rhetorischen, rhythmischen, metrischen Vorteile dem geistreichtalentvollen Jüngling zur Hand sind, wie nun Aorist und Tasso,

Shakespeare und Calderön als eingedeutschte Fremde uns doppelt und dreifach vorgeführt werden, der darf hoffen, daß die Literaturgeschichte unbewunden aussprechen werde, wer diesen Weg unter mancherlei Hindernissen zuerst einschlug.

Tradução de Rosvitha Friesen Blume. Fonte: Clássicos da Teoria da Tradução, Antologia Bílingue. CCE/UFSC

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