Um juiz às direitas – Seleta em Prosa e Verso dos melhores autores brasileiros e portugueses

Um juiz às direitas

Um ricaço muito avarento perdera um saquitel ]) com boa soma de dinheiro em ouro. Deitou logo anúncios nas fôlhas, –prometendo cem táleres 1) de alvíçaras 2) a quem lho restituísse. Um camponês, que tinha encontrado o saco, foi contentíssimo en­tregá-lo ao nosso 3 homem. Êste contou e tornou a contar o di­nheiro, e, depois de certificar-se de que nada faltava, disse com a maior serenidade para o camponês:

“Deviam estar aqui dentro oitocentos táleres; não encontro senão setecentos; vejo que vossemecê teve o cuidado de tirar por suas próprias mãos os cem que eu tinha prometido: estamos pa­gos.”

O campónio ficou pasmado 4), porque não tinha tocado no dinheiro, e semelhante recompensa de modo algum o podia satis­fazer. “Vamos ao Sr. juiz,” exclamou êle muito azedado com a história; “não, senhor, isso não fica assim; vamos ao Sr. juiz, e o que êle disser é o que se faz.” Foram. O juiz ouviu um e ou­tro com a maior atenção, pensou um pouco sôbre o caso, e por fim saiu-se com esta sentença:

“Vossemecê,” disse êle, voltando-se para o ricaço, “perdeu um saco com oitocentos táleres, e vossemecê,” continuou o magis­trado, dirigindo-se ao campónio, “achou um saco com setecentos táleres. Muito bem. Está provado que o saco que vossemecê achou, não é o mesmo que êste senhor perdeu; e portanto tome vossemecê outra vez conta dêle, e guarde-o até que apareça al­guém a reclamá-lo.” “Quanto ao meu amigo,” concluiu o juiz, voltando-se novamente para o avarento, com um risinho de escár- neo, “não tem outro remédio senão ficar esperando com paciência que lhe apareçam os oitocentos táleres.”

(Tradução)

1 Táler — antiga moeda alemã que valia mil e oitocentos réis.

2 Alvíçaras — palavra de origem árabe — gratificação que “Se dá a quem achou o perdido ou a quem traz alguma boa novidade — emprega-se sempre no plural.

3 nosso homem — o homem de quem sé falou.

4 ficou pasmado e não ficou pasmo, como se ouve e se lê freqüen­temente.

 Fonte: Seleta em Prosa e Verso dos melhores autores brasileiros e portugueses por Alfredo Clemente Pinto. (1883)  53ª edição. Livraria Selbach.

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