DOS ÓLEOS DE QUE USÃO OS ÍNDIOS, DAS ARVORES DE ÁGUA E MADEIRA – Tratados da Terra e Gente do Brasil – Fernão Cardim

Fernão Cardim (1540? – 1625) – Tratados da Terra e Gente do Brasil

VII

DOS ÓLEOS DE QUE USÃO OS ÍNDIOS PARA SE UNTAREM

Andá Estas arvores são formosas, e grandes, e a madeira para tudo serve; da fructa se tira hum azeite com que os índios se untão, e as mulheres os cabellos, e também serve para feridas, e as seca logo. E também fazem muitas galantarias pelo cor­po, braços, e pernas com este óleo, pintando-se.

Moxerecuigba Esta arvore se acha no sertão nos campos; he pequena, dá huma fructa do tamanho de laranja, e dentro delia tem humas pevides, e de tudo junto fazem hum azeite para se untarem; a casca serve para barbasco dos peixes, e todo animal que bebe da água donde se deita, morre.

Aiuruatubira Esta arvore que he pequena dá huma fructa vermelha, e delia se tira hum óleo vermelho com que também se untão os índios.

Aiabutipigta Esta arvore será do comprimento de cinco, seis palmos; he co­mo amêndoas, e preta, e assi he o azeite que estimão muito, e se untão com ele em suas enfermidades.

lanipaba Esta arvore he muito formosa, de hum verde alegre, todos os mezes muda a folha que se parece com folha de nogueira; as arvores são grandes, e a madeira muito bôa, e doce de lavrar; a fructa he como grandes laranjas, e se parece com mar-mellos, ou peras pardas; o sabor he de marmeilo: he boa mezinha para câmaras de toda ordem. Desta fructa se faz tinta preta, quando se tira he branca, e em untando-se com ella não tinge logo, mas dahi a algumas horas fica huma pessoa tão preta co­mo azeviche; he dos índios muito estimada, e com esta fazem em seu corpo impe-riaes gibões, todos golpeados, e dão certos riscos pelo rosto, orelhas, narizes, barba, pernas, e braços, e o mesmo fazem as mulheres, e ficão muito galantes, e este he o seu vestido assi de semana, como de festa, ajuntando-lhe algumas pennas com que se ornão, e outras jóias de osso; dura esta tinta no corpo assi preta nove dias, e depois não fica nada, faz o couro muito duro, e para tingir ha se de colher a fructa verde, porque madura não tinge.

lequigtiygoaçú Esta arvore dá humas fructas como madronhos, e dentro hu­ma conta tão rija como hum pao que he a semente; são das melhores contas que se podem haver porque são muito eguaes, e muito pretas, e tem hum resplandor como de azeviche:a casca que cobre estas contas amarga mais que piorno4, serve de sabão, e assi ensaboão como o melhor de Portugal.

VIII

DAS ARVORES QUE TEM ÁGUA

Esta arvore se dá em os campos e sertão da Bahia em lugares aonde não ha água; he muito grande e larga, nos ramos tem huns buracos de comprimento de hum braço que estão cheios de água que não tresborda nem no inverno, nem no verão, nem se sabe donde vem esta água, e quer delia bebão muitos, quer poucos, sempre está em o mesmo ser, e assi serve não somente de fonte mas ainda de hum grande Rio caudal, e acontece chegarem 100 almas ao pé delia, e todos ficão agasalhados, bebem, e levão tudo o que querem, e nunca falta água; he muito gostosa, e clara, e grande remédio para os que vão ao sertão quando não achão outra.

IX

DAS ARVORES QUE SERVEM PARA MADEIRA

Neste Brasil ha arvoredos em que se achão arvores de notável grossura, e com­primento, de que se fazem mui grandes canoas, de largura de 7, e 8 palmos de vão, e de comprimento de cincoenta e mais palmos, que carregão como huma grande barca, e levão 20 e 30 remeiros; também se fazem mui grandes gangorras para os engenhos. Ha muitos paos como incorruptíveis que mettidos na terra não apodrecem, e outros metidos n’agua cada vez são mais verdes, e rijos. Ha pao santo, de humas águas bran­cas de que se fazem leitos muito ricos, e formosos. Pao do Brasil, de que se faz tinta vermelha, e outras madeiras de varias cores, de que se fazem tintas muito estimadas, e todas as obras de torno e marcenaria. Ha paos de cheiro, como Jacaranda, e outros de muito preço e estima. Achão-se sandalos brancos em quantidade. Pao daquila em grande abundância que se fazem navios delle, cedros, pao d’angelim, e arvore de noz moscada; e ainda que estas madeiras não sejão tão finas, e de tão grande cheiro como as da índia, todavia falta-lhes pouco, e são de grande preço, e estima.

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