Miguel (admin)

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  • em resposta a: Pena de Morte #74991

    Caro Amigo da filosofia,

    Que sejam simplistas minhas observacoes. Nem por isso, pergunto-me: Por que formular teorias complicadas, sistemas ontologicos inteiros para satisfazer um desejo irracional ou ideologico de que deve haver algo fixo, imutavel e valido para todos? Jah nao reflete sua reprovacao do meu relato—assim como as variacoes dos valores entre culturas e individuos—que nao existem valores fixos?

    Por que perder meu tempo, quebrando a cabeca e tentando formular e defender tais sistemas utopicos/platonicos quando posso conceber algo simples, porem pratico, util: um sistema onde a interacao dos individuos com o ambiente que os cercam (seja fisico, social, economico, etc) sirva como base para estabelecer um equilibrio? Pois, poderia-se falar em justica (ou o que for) sem mencionar o contexto no qual ela estah sendo discutida?

    E os valores? Nao estao seus valores diretamente conectados com suas repectivas utilidades (se tiver uma sujestao melhor para estabelecer uma hierarquia de valores, por favor explique)? Nao sao as consequencias praticas que determinam o significado e verdade de todos os conceitos? Jah dizia William James: “Ideias se tornam verdadeiras apenas no grau em que elas nos ajudam a entrar em uma relacao satisfatoria com outras partes da nossa experiencia.”

    Com isso, pergunto mais uma vez: poderia-se englobar a teologia a discussao deste tema? Poderia-se fomular uma resposta coerente—digo algo nao utopico ou nao dogmatico, que nao imponha “valores” (como falei acima, a imposicao de valores eh uma imposibilidade, pois valores soh sao adquiridos no decorrer da experiencia) e que se baseia no erro e tentativa, que soh a experiencia pode proporcionar—para estabelecer o valor de um determinado julgamento (como o julgamento do que eh justo)?

    PS1: Se voce ainda estah insatisfeito com a questao das “leis injustas,” por favor, releia o que que eu escrevi.

    PS2: Amigo da Filosofia, nao faco questao das critas, ateh as aprecio e reflito sobre elas; porem, por estarmos discutindo filosofia, agradeceria que ao criticar ou fazer algum observacao, mencionasse a razao para tal. Nao entendi, porque, para se apronfundar no assunto, deveria “evitar ainda as posicoes imetiatas do tipo apelar para as diferenças culturais ou para contextos historicos.” Tambem nao vejo nenhuma justificativa para que qualquer tipo de afirmacao deva ser “definitiva”—se ateh voce eh, como parece, ignorante da propria existencia de “respostas definitivas” como pode afirmar que elas existem? Ou que apenas tais respostas serao suficientes?

    em resposta a: Alienação nas novelas #74209

    Não só nas novelas, como nos noticiários, em qualquer veículo de comunicação. Certa vez, intrigada perguntei a uma amiga jornalista o porquê de os noticiários de TV só relatarem catástrofes, crimes, desgraças… ela me disse que existe uma teoria sobre uma possível “curiosidade ancestral” do ser humano por esse tipo de coisa. Haja!! Tanto quanto as novelas dita uma imagem de mundo parcial… que o ser humano é basicamente mau, egoísta, primitivo, violento… Acho que a pergunta básica que deve ser feita tanto para os estereótipos apresentados nas novelas , o padrão das notícias dos telejornais é : “Será que é assim que tem que ser?”
    Grande Abraço!

    em resposta a: Judas, o verdadeiro salvador. #77547

    Por que voce acha que vai chocar as pessoas com essas perguntas bobas?

    Por que vc acha que defender qualquer posiçao estranha já é considerado filosofar?

    O que vc pretende de fato com essas perguntas?

    Vc nao tem nada mais interessante para se perguntar?

    em resposta a: Pena de Morte #74990

    Filosofus,

    Seus apontamentos me pareceram simplistas por demais, infelizmente. Filosofia politica e filosofia do direito sao algo muito mais complexo do que ficou insinuado aqui até agora.

    Como, por exemplo, diante do item 5, vc explicaria as discussoes sobre leis injustas?

    Quem quer tentar ume aprofundamento em questoes dessa ordem faria bem ao procurar evitar ainda as posiçoes imediatas do tipo apelar para as diferenças culturais ou para contextos historicos, sao somente mais pontos a considerar e nao a resposta definitiva – se é que ela é possivel.

    Já vi gente tentando separar da discussao do problema da pena de morte a religiao, a poesia, e outras manifestaçoes essencialmente humanas. Propoem, ao que parece, uma filosofia esterilizada de toda e qualquer “impureza”. Engraçado… e lamentavel.

    Algumas questoes, como as relacionadas a vida, pertencem a regioes de fronteira. O discurso do filosofo é um modo de enfoque da problematica, mas como enfoque é apenas uma contribuiçao e nao o todo da questao. Ora, para evitar essa contradiçao, se filosofia pretende dizer respeito ao todo, entao o discurso filosofico deve englobar a religiao, a poesia, o drama, a tragédia etc. Mas se partem do pressuposto que religiao, ética, arte, é tudo perda de tempo inutil, entao nao consideram de fato essas contribuiçoes e nunca se aproximarao verdadeiramente do problema que pretendiam abordar.

    O que torna um discurso filosofico nao é a “pureza” ou a “qualidade” do mesmo, no sentido dele ser melhor que outras formas de discurso. Mas essa é outra questao.

    em resposta a: Viver é aceitar #75408

    Me desculpe, mas discordo, que “nao fazer sentido” seja a forca motora que faz a vida interessante, que nos mantem vivos, distantes de um “vazio absoluto”. Fazer tal afirmacao eh, como Nietzsche jah dizia, fazer uma inversao de causa e efeito:

    “O mundo consciente nao pode servir como ponto inicial de valores […] Com relação a variedade e multiplicidade da colaboracao e da oposicao mutua encontrada na vida de cada organismo, o mundo consciente dos sentidos, de invencoes e de valores eh apenas um pequeno fragmento. Nos nao temos nenhum direito de colocar este pedaco de consciencia como alvo e proposito desse fenomeno total da vida: tornar-se consciente eh, obviamente, apenas um meio a mais para o desenvolvimento e extensao do poder da vida. Logo, eh uma matutice posicionar o prazer, a espiritualidade, a moralidade, ou qualquer outro particular da esfera consciente [como “nao fazer sentido”] como o valor mais elevado, e ateh justificar o mundo por meio deste. Esta eh minha objecao basica a todas as ‘razoes’ e os ‘mais altos valores’ na filosofia e teologia formalmente. Um tipo de *meio* [consciencia] foi mal entendido como um *fim.* Conversamente, a Vida, e o enriquecimento de seu poder, foi rebaixado a um *meio.* O erro fundamental eh simplesmente que, ao invez de se entender a consciencia como uma *ferramenta,* e como um aspect particular da vida como um todo, se posiciona ela como padrao de valor e toma-a como sendo a condicao de vida que eh de valor supremo.” (The Will to Power / A Vontade de Poder)

    Devo lembrar: quantos animais—seres que nao estao ao nivel consciente que lhes permitiria perguntar “O que faz sentido?”—vivem em demasiada alegria e satisfacao? Ou ainda, quantos seres humanos—a grande parte de nos, pra ser mais especifico—vivem suas vidas inteiras sem fazer uso daquele pedaco de consciencia que lhes permitiriam fazer tal pergunta, e nem por isso acham a vida desinteressante?
    Nao pode, por exemplo, um pescador “ignorante,” o qual nunca se fez tais perguntas “profundas,” ter suas pequenas alegrias que fazem a luta de sua vida interessante?

    em resposta a: Pena de Morte #74989

    Por favor, nao vamos apelar ou mencionar os deuses ao discutirmos essa questao. Nunca foi constatado a interferencia divina nos aspectos da vida humana. Por que deveriamos agora, ao discutir uma questao puramente antropologica, invocar o divino e ateh nos compararmos aos deuses?
    Pois bem:

    1. As leis sao uma serie de normas de conduta estabelecidas pela maioria dos membros de um determinado grupo, e nao pela vontade particular de um de seus membros.
    2. Um determinado individuo, o legislador, formula as leis; porem, tais leis entram em vigor apenas com o consentimento da maioria dos membros do grupo. (1)
    3. As leis tem como fim a vantegem comum do grupo como um todo.
    4. Justo eh tudo aquilo que se toma dentro dos dominios do que eh legal.
    5. Injusto eh tudo aquilo que vai contra a lei: o que se toma fora dos dominios legais. (3)
    6. Na grande maioria dos grupos, justica esta associada a ideia de ‘nao tomar mais do que lhe pertence, nao prejudicando o proximo e/ou o grupo como um todo.’
    7. Na grande maioria dos grupos, injustica esta associada a ideia de ‘ganho (excessivo) em detrimento do beneficio do proximo e/ou grupo como um todo.’ (5)
    8. Justo eh o que eh proporcional, injusto eh o que eh desproporcional. (5,6)
    9. Devido a circunstancias diferentes, grupos terao leis diferentes, apesar dessas leis poderem ter (varios) aspectos em comum.
    10. O que eh legal em certo grupo nem sempre eh legal em outros grupos. (9)
    11. O que eh justo em certo grupo nem sempre eh justo em outros grupos. (4, 10)
    12. O que eh injusto em certo grupo nem sempre eh justo em outros grupos. (5, 10)

    Eh a pena de morte (in)justa?

    em resposta a: Vida extraterrestre #74894

    Eh obvio que nao se deve julgar algo que nao se tem conhecimento.
    Nao se pode afirmar ou negar a existencia de seres sobre os quais nao temos nenhuma evidencia, pois se estarah cometendo uma falacia logica elementar: ad ignorantium.
    Diria Zezinho: “Existe vida extraterrestre, pois ninguem provou que nao ha.”
    Responderia Joazinho: “Nao existe vida extraterrestre, pois ninguem provou que ha.”

    Como disse, nao se pode entao, fazer julgamentos e emitir um veredicto a verdade do assunto. Todavia, pode-se opinar, especular, fofocar…

    em resposta a: Em que consiste a verdade? #74656

    Para os que querem saber se o conhecimento cientifico eh absoluto, precisam apenas olhar a hitoria da ciencia: quantas teroias jah nao foram 'provadas' falsas e substituidas?
    O conhecimento cientifico nao eh absoluto. Existe o problema da inducao (o qual foi, de certa maneira, resolvido por Popper).
    Como Popper afirma, uma verdade scientifica nunca pode ser provada certa e absoluta. Uma verdade cientifica soh pode ser falsificada.

    em resposta a: Em que consiste a verdade? #74655

    “A verdade eh apenas algo que nao posso conceber como sendo falso” –William James

    Ola,
    Venho aqui tentar clarificar e discutir alguns pontos postos por nosso companheiro Wallace.
    Quero acrescentar que acho que o conhecimento eh algo necessariamente contextual. Em outras palavras, o conhecimento eh algo elusivo. Em certos contextos, como contextos ceticos onde os padroes de conhecimento sao elevados, nao se pode saber nada—se voce olhar muito de perto, o conhecimento desaparece. Porem, em outras outras ocasioes (vida cotidiana), onde existem padroes baixos e costumeiros de conhecimento pode-se saber: pode-se formar intuicoes epistemicas sobre as coisas pertencentes a tal contexto.
    Devo acrescentar que nao concordo com a defesa linguistica de Wittgenstein. Proposicoes e a realidade das coisas sao duas coisas distintas. Eh claro que soh podemos nos referir as coisas atraves de proposicoes. Mas porque as vezes tais proposicoes possam parecer sem sentido ou ateh contradictorias, isso nao significa que as coisas a que se referem na realidade sao incoerentes. Alem de tudo, no fim das contas, o que conta como certeza para o individuo nao serah a perfeicao logica/linguistica com que se apresenta o argumento, mas a intuicao que tem sobre as coisas.


    “(a) para duvidar, é preciso ter razões: uma dúvida que não é motivada não é compreensível; ora, Descartes, para justificar a sua dúvida universal, inventa o “gênio mau” ou recorre ao argumento do sonho”

    Resposta:
    1) Parece-me claro, assim como para todos, que qualquer afirmacao epistemica deve possuir evidencia. Por exemplo, soh afirmo “Sei que tenho maos” pelo fato de as constatar, atraves de meus sentidos, e formar a intuicao que “Possuo duas maos.” Porem, nao posso afirmar que “Sei que nao estou sendo enganado por um demonio,” pois nao tenho nenhuma evidencia que eu nao estou—e logo, nao posso formar tal intuicao epistemica. Como entao explicar a inconscistencia evidenciaria entre as reivindicações de que “Eu tenho evidência para a hipótese de que eu tenho mãos” e “Eu não tenho nenhuma evidência para a hipótese de que eu nao estou sendo enganado por um demonio”? Filosofos contemporaneos possuem explicaoes para tal contradicao. Um exemplo eh o filosofo Ram Neta. Sua explicacao eh a seguinte:

    “Quando se levanta uma hipótese H, que é uma contra-possibilidade nao-eliminada com respeito a “S sabe que P em t,” se restringe ao que conta como corpo de evidencia para S, no contexto estimado aos estados mentais que S tem e teria em t se H fosse, ou nao, verdade.” (Contextualism and the Problem of the External World, Neta 30, http://www.hum.utah.edu/philosophy/faculty/neta/ ).

    Observando-se que uma contra-possibilidade nao-eliminada com respeito a “S sabe que P em t” é uma hipótese (H) que satisfaz duas condições: 1) H implica que S nao sabe que P em t; e 2) H e “S sabe que P em t” são introspectivamente indistinguiveis para S. Em outras palavras: 1) H implica a negação de “S sabe que P em t;” e 2) H e “S sabe que P em t” produzem estados mentais diferentes (M1 e M2), onde a diferença entre M1 e M2 não é intropectivamente disponível a S.

    De qualquer forma, com isso em mente, torna-se claro que o mestre da logica, Wittgenstein, ao tentar reduzir toda a filosofia e realidade aos dominio da lingua e da logica, falhou (ou pelo menos, nosso amigo Wallace nao a expressou aqui) em aderecar essa questao fundamental ao fazer esta reivindicacao.

    2) Alem do mais, para quem conhece a filosofia cartesiana, sabe que os motivos que levaram Descartes a duvida nao foram apenas seus sonhos ou a hipotese remota—que no entanto, por ser de natureza filosofica, deve ser considerada como plausivel—de um genio maliguinio:
    “Thus, because our senses sometimes deceive us, I wished to suppose that nothing is just as they cause us to imagine it to be; and because there are men who deceive themselves in their reasoning and fall into paralogisms, even concerning the simplest matters of geometry, and judging that I was as subject to error as was any other, I rejected as false all the reasons formerly accepted by me as demonstrations.” (Descartes Selections. 1927. R. Eaton, Trans., New York: Scribner’s)

    3) Ainda, o que ha de errado com o argumento do sonho? Isso nao pode ocorrer?


    “(b) a dúvida deve ter importância prática: isto é, ela deve fazer alguma diferença na vida de quem duvida; ora, também esse aspecto é ignorado pela dúvida cartesiana; ele mesmo declara que a sua dúvida não é prática, mas especulativa”

    Resposta:
    Quem eh Wittgenstein pra falar de practicidade tendo em vista que ele rejeitava a etica (assim como as outras areas da filosofia com excessao da logica) e que, para explicar sua doutrina moral, ele tinha que se tornar mistico e obscuro (pois eh claro, “tinha que permanecer em silencio”)? Pode-se falar que tal ideia—a duvidas das nossas percepcoes—nao tem significado pratico e que por “nao ter” uso, tambem “nao tem” sentido. Porem, apesar dessas reivindicacoes—e apesar dessa ideia nao ter uso nas discussoes da vida pratica e cotidiana que compoem os dominios, ao meu ver, eticos e nao epistemologicos—ainda assim tal ideia nao eh usada em debates filosoficos? E os filosofos envolvidos em tais discussoes epistemicas ainda assim nao se entendem?
    Deve o filosofo, discutindo epistemologia—considerando todas as possibilidades e alternativas, e nao apenas o lado ‘pratico’ da vida—e investigando se suas experiencias realmente representam o mundo externo, “permanecer em silencio” porque Wittgenstein afirma que isso nao tem sentido, que nao tem uso? Afinal, nao somos nos quem determinamos o uso da lingua?


    “(c) a dúvida pressupõe um jogo de linguagem: quem não tem certeza de absolutamente nada também não pode ter certeza do significado das suas palavras; desse modo, a dúvida cartesiana destrói-se a si mesma, porque seria impossível exprimi-la”

    Resposta:
    1) Por favor, nao vamos reduzir a realidade a linguagem! A lingua eh composta por conceitos (universais), formados por um processo de cognicao, pelos quais podemos nos referir aos objetos de nossa percepcao. Por exemplo: sentimos, por meio da visao, uma cadeira, percebemos esse objeto atraves do nosso entendimento e, por um processo de cognicao, reduzimos e associamos essa percepcao particular ao conceito, ou simbolo descriptivo, “cadeira.” A lingua e sua logica nao sao, assim, precondicoes de realidade! Nao se pode reduzir a experiencia a proposicoes! A lingua, eh apenas uma ferramenta pela qual podemos integrar nossas percepcoes simbolicamente (melhorando nossas habilidades comunicativas, computacoes mentais e, consequentemente, nossas vidas). Se a logica da lingua fosse uma precondicao para a realidade, poderia eu afirmar: “Eu estou mentindo.” ou “Esta afirmacao eh falsa.”? (ver logica paraconsciente).

    2) Um cachorro nao eh capaz de desenvolver a lingua. Porem, quando, ao atravessar uma rua movimentada, ele para e hesita—por um erro de calculo—nao estah ele duvidando? Outro exemplo: um sujeito desconhecido me encontra na rua, me dah uma paulada na cabeca e eu grito: “AI!!” Pergunto entao, preciso eu dizer ou formar em minha mente a sentenca “Isso doi!” para saber que eu sinto dor?

    Parece-me claro que as intuicoes que temos sobre as coisas no mundo nao se encontram necessariamente ao nivel conceitual ou linguistico. Tais intuicoes se encontram ao nivel perceptivo. Logo, permanece a duvida—a qual nao eh subordinada a lingua.


    “(d) a dúvida não pode estar no início: a dúvida vem depois da crença; é preciso acreditar, aceitar, primeiro, determinadas coisas antes de poder expressar dúvidas que façam sentido; ou seja, a dúvida não pode estar no início, como queria Descartes”

    Resposta:
    Concordo com a afirmacao. Para poder duvidar, precisa-se, crer, ter certeza sobre algo e, somente apos ser provado errado pela experiencia, duvidar (afinal nao eh assim, por tentativas e errors, que o mundo progride e as teorias cientificas sao colocadas a prova?). Todavia, nao eh isso mesmo o que Descartes fala em sua argumentacao? Nao se justifica afirmando que “porque as vezes somos enganados pelos nossos sentidos, desejei supor que nada eh como imaginamos ser”? Ou ainda quando fala que “porque os homens se enganam em suas razoes e caem em paralogismo ateh nos assuntos mais simples sobre geometria, e julgando que era sujeito a erros como qualquer outro, rejeitei como falsas todas as razoes formalmente aceitas por mim como demonstracoes”? (ibid) Nao implica ele jah ter experienciado tais erros? Nao demonstra que, apenas pelo fato de que suas mais fortes conviccoes poderem estar erradas eh que ele levantou a duvida em que se baseia seu sistema?

    (Devemos manter a mente que Descartes nao questiona: “Posso eu duvidar de minha lingua?” Sua pergunta eh outra: “Posso conceber, intuir, setir na minha mente a certeza das coisas?” Sua preocupacao nao eh semantica, mas metafisica/epistemologica)


    “(e) a dúvida universal é impossível: pode-se duvidar isoladamente dos fatos relacionados com determinado jogo de linguagem, mas duvidar de todos simultaneamente destruiria o jogo de linguagem e, conseqüentemente, também a própria dúvida”

    Resposta:
    Como jah falei, a lingua e sua logica nao sao um requerimento de realidade, e assim, nao sao um prerequisito para a duvida.


    “(f) a dúvida supõe a certeza: a dúvida supõe a possibilidade de verificação ou comprovação; esta, por sua vez, supõe algo que não é colocado em dúvida nem é testado; ou seja, o próprio jogo da dúvida pressupõe a certeza; aquilo a que Descartes pretendia chegar ao fim do seu recurso à dúvida universal já está pressuposto desde o início.”

    Resposta:
    “A dúvida supõe a certeza” ou a “possibilidade de verificacao”… mas porque se supoe algo, ou porque se concebe que algo seja possivel, isso significa que este algo realmente existe na realidade? Soh porque tenho o conceito “existente” isso nao significa que o conceito “nada” (ou “nao-existente”) realmente exista. Eu nao tenho a experiencia do conceito “nada,” porem, formo tal conceito metaforicamente…apenas como referencia a uma relacao que jah me ocorreu no passado: a relacao de um existente que deixou de ser o que era. Do mesmo modo, pode se argumentar que a duvida supoe a certeza ou a possibilidade de certeza apenas pelo fato de que, em algum momento no passado, tive a falsa impressao da relacao entre duvida e certeza.


    Quanto a Moore, vou ser breve:
    1) A reposta de G.E. Moore nao era aderessada aos ceticos, mas aos idealistas
    2) Quando essa resposta eh usada para combater o ceticismo, as “verdades indubitaveis” sao vistas nao como verdades, mas como sugestoes ou apelos (como que em “Eh preferivel acreditar que voce possui um corpo ou que eh uma mente sendo enganada por demonios?”). Se alguem usar como verdade tais sentencas para refutar a hipotese cetica, esse alguem estara apenas usando como premissa a propria afirmacao que se tenta provar (begging the question).
    3) Eh verdade que, em contextos comuns e costumeiros, nao ha sentido na afirmacao de duvida sobre nossas percepcoes, mas no momento que se adentra em um contexto filosofico/cetico, tal ideia terah sentido e logo, deve ser debatida.

    em resposta a: Sentido da vida #74717

    Sim! Jesus foi o grande pregador da morte!

    em resposta a: Sentido da vida #74716

    A Necessidade da Morte, por Arthur Schopenhauer:

    A individualidade do homem tem tão pouco valor que nada perde com a morte; há alguma importância nos característicos gerais da humanidade, que são indestrutíveis.
    Se concedessem ao homem uma vida eterna, sentiria tanta repugnância por ela que acabaria desejando a morte, farto da imutabilidade de seu caráter e de seu ilimitado entendimento.
    Se exigíssemos a imortalidade perpetuaríamos um êrro porque a individualidade não deveria existir, e o verdadeiro fim da vida é livrar-nos dela.
    Se não houvesse penas e trabalhos, acabaria o homem por enfastiar-se, e voltaria a sofrer as dôres do mundo em tudo o que se encontrasse ao seu alcance.
    Num mundo melhor o homem não se sentiria feliz, o essencial seria fazer com que êle seja o que não é, isto é, transformá-lo completamente.
    A morte realiza a principal condição; deixar de ser o que é; tendo isto em conta, concebe-se-lhe a necessidade moral. Ser colocado noutro mundo, e mudar inteiramente de ser, é no fundo uma só e mesma coisa.
    Seria conveniente que a morte, que destruiu uma consciência individual, a reanimasse de novo dando-lhe uma vida eterna?
    Qual o conteúdo, quase invariável desta consciência? Uma torrente de idéias e preocupações mesquinhas, acanhadas, terrenas. Melhor seria deixá-la repousar eternamente.
    […]
    Contemplando a expressão de suave serenidade refletido no rosto da maioria dos mortos, parece que o fim de tôda a atividade da vida, seja um consôlo para a fôrça que a mantém.

    em resposta a: Sentido da vida #74715

    “Tem ‘a vida’ um sentido?”, assim pergunta o tolo, perdido na sua loucura. E tomado por uma embriagues mental, o pobre diabo se esquece que suas experiencias como tais compoem apenas uma misera parte da vida como um todo.
    Logo, ele tambem omite o fato de que suas experiencias sao formadas por particulares, e que apenas atraves de seu mediocre e privado intelecto—o qual converte tais particulares em universais—ele eh capaz de conceber, falsamente, uma vida comum e universal a todos…tal visao da realidade soh pode ser um *sintoma*, nunca uma posicao completa ou algo que incorpore e de sentido a tudo que existe.
    Pois como Sartre disse: “O inferno sao as outras pessoas.” Ou melhor: o homem, sendo um ser subjetivo, pode ver as coisas apenas em termos de suas conviccoes proprias e particulares. Logo, todo e qualquer julgamento a respeito daquilo que estah “alem” da consciencia do sujeito estrapolara seus prorpios limites e sua validade…
    Deixemos de lado entao, esta pergunta tola—“Tem a vida um sentido?”—pois jah a tempo, o grande sabio indagava o que realmente importa: “Tem sentido a *minha* vida?”
    Deixemos de lado entao, estas perguntas absurdas e estupidas!…Jah dizia Wittgenstein: “A formula geral de uma pergunta filosofica eh: ‘Eu estou confuso; eu nao sei o que fazer’”
    }}

    em resposta a: A organização da internet: Anarquia ou controle? #71371

    O conteúdo da internet reflete aspectos da sociedade, daí os casos de falta de veracidade, pedofilia etc. Mas o problema não está na Internet em si. O ambiente não é anárquico, é democrático. A Internet nunca foi anárquica, toda a sua estrutura obedece a hierarquias e protocolos. Até a descentralização inicial vem sumindo, pois o poder do trafego de concentra em poucas grandes companhias. A facilidade relativa para se publicar algo não implica no sucesso desse algo. Fura-se o bloqueios dos monopólios de publicação, mas a rede tem mecanismos de auto-policiamento e controle. Sites ruins permancem em quase anonimato, enquanto conteúdo criminoso é combatido. Pode-se tirar um site do ar se este infligir as normas.

    No meio desse caldo infinito de dados, alguns pontos de referência se mantém. A quantidade de abobrinhas ou informações supérfluas predomina, mas há maneiras de se detectar a confiabilidade dos sites e páginas.

    em resposta a: Nietzsche e a moral. #72750

    Isso tudo ainda parece pura retórica para mim.

    Fica nítido que esse método aforismático adotado por Nietzsche não nos deixa muitas opções, e pelo contrário as restringe. Ou concordamos com ele ou não.

    Talvez isso seja em parte, talvez seja o contrário.

    É sabido que Nietzsche critica a separaçao estrita entre bem e mal, saúde e doença, etc. Em algum lugar ele chega a apontar a doença como um bem associado à genialidade, o doente é o são e vice-versa. Como filólogo, ele explorava as diversas possibilidades semânticas das palavras, o que me lembra o sofista Pródico com sua sinonímia. Agora me veio a memória o velho adágio: “busca algo novo? volte aos antigos!”. No mesmo caminho, Nietzsche abandona a filosofia enquanto busca da verdade para entende-la como interpretaçao, discurso retórico – de novo uma volta à velha sofistica. O curioso é que poucos dão atençao ao quadro e mergulham de cabeça. Se parece bom pensar com as armas de Nietzsche, já nao parece tao bom caminhar com ele. Se nao há mais verdade, com base em quê Nietzsche quer criticar qualquer outra postura? Se nao há mais separaçao entre bem e mal, entre saúde e doença, por que haveria separaçao entre vida e morte?

    Tudo é interpretaçao e o fanatico religioso tem tanta razao quanto Nietzsche, ou melhor, todos têm a mesma quota de razao porque ela mesma já nao interessa. Se Nietzsche relativizava praticamente tudo, porque nao relativizou a si mesmo? Entao, nessa outra parte, há uma infinidade de opçoes além de concordar ou discordar de Nietzche, qualquer coisa é uma opçao de igual valor, pois aí valores sao pessoais e puramente subjetivos. Talvez seja interessante perguntar porque Heidegger via Nietzsche, debaixo daquela nova roupagem retórica, como mais outro grande metafísico.

    Nietzsche tem um belo discurso, mas quem estudou os sofistas já viu boa parte desse filme.
    PS: faltou acrescentar, (1) “genealogia da moral” me lembra o discurso do sofista Cálicles; (2) gosto de ler Nietzsche mas tenho meus senões, acho que quem para nele arrumou um problema. Ideologia ainda é ideologia, seja de direita, de esquerda, de cima ou de baixo.

    (Mensagem editada por fox em Janeiro 03, 2003)

    (Mensagem editada por fox em Janeiro 03, 2003)

    em resposta a: ALCA #77193

    Tens razão, So so. Falta politização do “povão”, que vem sido tratado de modo injusto. O “povão” precisa de soluções duradouras para os problemas/conflitos sociais, e não de “esmolas” governamentais (vide os programas assistenciais do governo FHC: Bolsa Alimentação, Vale Gás, etc.)

    O governante que realmente for preocupado com o futuro e com a qualidade de vida de seu país deve investir maciçamente em Educação e Cultura. Deve primar pelos meios necessários para proporcionar a seu povo liberdade intelectual, livre-pensamento. Somente assim outro mundo será possível. Deve utilizar o dinheiro público para estes fins mais do que para qualquer outros (cita-se dívida externa).

    Agora, porque este tipo de investimento não tem sido feito? É porque os resultados são a longo prazo. Não surgem resultados verdadeiramente concretos em menos de 4 anos…

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