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Miguel (admin)Mestre
Oi Márcio, mas haveria sequer um pingo de metafísica em Darwin?
Bohm é um teórico, nós dá um descrição do Universo baseado em física, filosofia e religião.
Darwin percebe padrões da natureza.
o que vc acha?
abs
Miguel (admin)MestreNada disso Oculto! Toda a luta tem etapas! A questão do negro, no Brasil é tão urgente, que esqueço um pouco a questão de classes. É uma questão de justiça! De toda forma resgatando a população negra, estaremos resgatando os pobres, acabando, assim,atingindo a questão de classe. Uma coisa…por que não para índios, amarelos? Os índios são, já ,protegidos por orgãos específicos( se funcionam ou não é outra questão) e são minoria. Amarelos…ora..ora….os amarelos como os imigrantes europeus, receberam terras( ao contrário dos negros),tiveram oportunidades e já ascenderam socialmente faz tempo. São médicos, engenheiros,empresários…etc…Vcs insistem em não ver as gritantes diferenças!! Tenho que repetir com outro enfoque, mais duro e antipático, o que já escreví aqui antes. De fato, no Brasil, não há preconceito racial como nos EUA, onde japonas, carcamanos e mesmo irlandeses católicos são discriminados. Assim italiano, geralmente casa com italiano, judeu com judeu…lembra ..Hollywood…Steven Spielberg casado com Emy Irving…e por aí vai. Aqui não, só não aceitamos o negro. Ou seja, temos é o racismo sob a forma de preconceito de cor. Mas, não se preocupe, o movimento negro, não vai precisar de vcs, tenho novas informações e sei que ele vai crescer. O “bolo”…nada a ver…é só uma questão de justiça que já vem tarde!
Miguel (admin)MestreFernando,
Vc disse que é comunista mas defende o argumento racial (cotas para negros) sobre o argumento da renda familiar (cota para pobres)… me parece que vc já teve uma discussao quente sobre isso noutro lugar quando de um papo sobre comunismo & nazismo, será que agora nao está alimentando o argumento contrário daquela feita ao ligar a reforma social das bases economicas com a questao racial?
Racismo, seja branco ou negro, é um atraso, e incentivá-lo por qualquer pretexto deve ser reconhecido por aquilo que é: pobreza de visão. Argumentos do tipo “apoiar ele agora para acabar com ele depois”, seja vindo de quem for – defensores de cotas para blocos raciais (pq nao cotas para amarelos e indios?) ou ministros da economia -, acaba sendo outra modalidade do mesmo conto do vigário: aquele do “deixar o bolo crescer antes de parti-lo”
Abraços.
Miguel (admin)MestreMeu caro Afonso: Não vou alongar-me com argumentações, mas o que te espantou na USP, também a mim , me impressiona.Tanto o discurso, quanto a composição racial,não representativa, dos negros, pardos e mestiços.Fico triste com o que vc constatou, mas ao mesmo tempo, vejo que vc entendeu a questão da “visibilidade” que tenho colocado. Por acaso, ontem a noite, lí, na Caros Amigos, uma entrevista de um líder , negro, Hélio Santos.Apesar de discordar de alguns posicionamentos políticos dele, concordo com a forma como ele coloca a questão das cotas. Sendo vc , claramente, uma pessoa que pensa, reflete sobre coisas novas( as vezes consideradas como insólitas , até exdrúxulas), acho que vale a pena comprar a revista e ler a entrevista.
AbraçosMiguel (admin)Mestresim, mas sera q nosso futuro governo terá punho para guiar a ALCA para q seus efeitos ajudem ao interesses brasileiros? bem eu acredito q nossos governantes teram q aprender a dizer naum mtas vezes ao contraiu de ficar abrindo as pernas para os interesses dos estados-unidenses. Axu q assim poderá se fazer a diferença na realização da ALCA…
Miguel (admin)MestreCaro Fernando, sei de sua boa intenção quanto às cotas, mas não vejo o caminho por aí, como já me posicionei incipidamente na mensagem anterior. Precisamos refletir. Precismos colocarmo-nos num futuro com as cotas e nos problemas q possivelmente elas criarão. Excluídos temos aos montes, e não só são negros como outros tantos q por motivo histórico, religioso ou por outra forma ideológica, foram e são colocados abaixo da classe dominante.
Hj, fui, acabei de voltar, na colação de bacharel de direito da usp, turma 2002. É horrorizante os discursos, mas não só isso. Vi 5 negros lá, todos seguranças… Mais de 300 formandos, uns 4 ou 5 mestiços só, a grande maioria branca. Bem branca. Os discursos aí proferidos, tanto da classe docente quanto da discente, terríveis, ideológico, continuista de tudo q está aí. Nada para uma mudança, uma transformação. O que se deduz? Simples. Escola de valor, foi feita para dar continuidade à exploração. Não sei, é desesperante. Realmente…Bom, através desse ângulo, posso até concordar com cotas para negros, índios etc…Mas estando lá, dá medo do que vão fazer. A ideologia reinante é manter as coisas como estão. Continuar-se-á a confundir-se acesso à justiça com acesso ao judiciário.
Portanto, preciso pensar melhor…
absMiguel (admin)MestreMarcio e outros! Apesar de não ser religioso, ao contrário, penso que é tempo de ” dar um tempo”. Não vou posicionar-me , hoje, sobre o PT,fica para uma próxima. Um pouco de paz e reflexão. Desejo tudo de bom a todos. Quero também elogiar este espaço de gente inteligente e tolerante. Sim, eu os chamei de conservadores( o que repito, não é ofensa), mas vcs foram, em geral, tolerantes. Já fui expulso de outros foruns, por moderadores impacientes…aqui, não, vcs mostram ter bastante paciência.Vou tentar não abusar. Mas sou assim,mesmo ,muito veemente, mas sincero. Abraços a todos de novo.
Miguel (admin)MestreSim…renda familiar!Que pérola! Não que seja contra, mas as pessoas vão usar, sempre, aqui, argumentos circulares, para impedirem as cotas. Sempre escreví, aqui, a favor de distribuição de renda, em outros tópicos!Só que forma radical, pois sou um comunista! Quero não só a distribuição de renda, como caminhar para a utopia da sociedade sem classes. Mas aí, todos ” caem de pau”.Quando tenta-se ” coisas mais brandas”, como as cotas , que indiretamente serviriam para distribuir oportunidade e renda, as pessoas voltam para falar em critérios de renda, que eles nunca lembravam antes.
Outra coisa , a prolixa colagem do Afonso aí, acima, só mostrou a coisa óbvia que também já afirmei, ou seja, raças não fazem sentido em um senso estritamente biológico. Aí os ” filosófos conservadores” , vão alegar…como definir um negro? Também , já disse…valerá a confiança , serão negros aqueles que assim se sentirem e se definirem. Só isso já será um ato de coragem na sociedade brasileira, mas enfim…não tem mesmo jeito, pois se depender de vcs a coisa ficará mesmo ” preta” para os negros. Mas sei que o movimento pelas cotas está crescendo e, creio que será implantado.Miguel (admin)MestreRaça é só conceito social, diz DNA brasileiro
MARCELO LEITE
EDITOR DE CIÊNCIANem todo negro no Brasil é geneticamente um afrodescendente, e nem todo
afro-brasileiro é necessariamente um negro. Assim se pode resumir a
pesquisa do grupo de Flavia Parra e Sérgio Danilo Pena, da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), divulgada hoje na internet pela revista
da Academia de Ciências -a dos EUA, onde o estudo dos pesquisadores
brasileiros poderá ter grande impacto.De quebra, o trabalho deita por terra a possibilidade de encontrar um
“critério científico” de grupos raciais, como defendeu o presidente
eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, em debate na TV. Pena, 55, um
especialista na origem genética da população brasileira, diz que a
complexidade envolvida é “brutal” e que não existe base objetiva para a
introdução de cotas raciais nas universidades públicas, por exemplo.“A única coisa que se pode usar, sujeita a muitos abusos, é a
autoclassificação” (ou seja, o próprio interessado declarar se é negro),
diz o geneticista, que já havia estudado as linhagens genéticas da
população brasileira com base nos cromossomos Y (herdados apenas do pai)
e no DNA das organelas celulares chamadas mitocôndrias (herdadas somente
da mãe). “Não temos nenhuma intenção de que esse índice seja usado para
avaliação individual. Seria um novo racismo.”Se a expectativa de direito a uma compensação pelas injustiças sofridas
por negros no Brasil tiver por fundamento a ancestralidade, porém, a
pesquisa da UFMG -que teve a colaboração de cientistas da Universidade
do Porto, em Portugal- embaralha tudo. Isso porque ela demonstra que ter
a pele escura não indica com segurança que a pessoa teve a maioria de
seus genes herdada de ascendentes africanos.“Nossos dados sugerem que no Brasil, no plano individual, a cor
determinada por avaliação física é um fraco fator de predição de
ancestralidade genômica africana estimada por marcadores moleculares”,
dizem os autores no artigo, em linguagem cautelosa.Os marcadores genéticos usados no estudo foram propostos por Esteban
Parra na revista especializada “American Journal of Human Genetics” em
1998. Eles foram escolhidos porque têm alta correlação com a origem
africana ou européia da população (pelo menos 48% mais comuns numa das
populações) e reunidos estatisticamente num “Índice de Ancestralidade
Africana” (AAI).Seleção natural
Supõe-se que essas sequências de DNA tenham sido selecionadas ao longo
da evolução de populações para aumentar as chances de sobrevivência num
determinado ambiente. Faz mais sentido, por exemplo, um africano ter
genes associados com alguma resistência a malária, porque é em seu
continente que a doença se mostra devastadora. O mesmo valeria para
características físicas mais relacionadas com noções sociais de raça,
como a pele negra.Ocorre que essas dez sequências de DNA não são necessariamente herdadas
em bloco, pois estão espalhadas pelo genoma (todo o DNA contido nos 46
cromossomos da espécie humana). Se uma mulher branca tem um filho com um
homem negro, por exemplo, a criança pode herdar do pai os genes
associados com resistência a malária e da mãe os genes que contribuem
para a conformação do nariz. Seria “africano” do ponto de vista da
doença e “europeu” do ponto de vista nasal.De certo modo, foi o que se encontrou numa amostra da população rural de
Minas Gerais que participa de um estudo de saúde da UFMG, o Projeto
Queixadinha. Tanto os 30 indivíduos classificados fisicamente como
“negros” quanto os 114 “intermediários” receberam escores genéticos de
“africanidade” distribuídos numa faixa de AAI entre -10 (menos
“africanos”) e +10.Além disso, os de aparência física categorizada como “branca” também
apresentaram valores intermediários entre -10 e +5. Algo muito diferente
da amostra de 20 portugueses empregada para validar os marcadores
genéticos, com valores negativos consistentes, na faixa de -15 a -5.Uma verificação adicional foi feita com homens autoclassificados como
“brancos”, pois o grupo da UFMG temia que a mistura genética verificada
em Queixadinha fosse uma peculiaridade da população local. De novo, o
que se encontrou foram valores bem menos “europeus” do que os observados
em portugueses.“O que nosso estudo mostra é que o branco de Queixadinha é muito
parecido com o do Sudeste. Nem o branco do Sul bate com os portugueses”,
afirma Pena. “E olhe que na [distribuição genética da] Europa os
portugueses já mostram certa mistura.”Apesar de toda a miscigenação no Brasil, Pena diz que certos blocos de
características físicas ainda tendem a se manter associados na
população, como a tríade pele negra/cabelo encarapinhado/nariz chato. A
razão, contudo, não é genômica (proximidade no cromossomo ou regulação
compartilhada), e sim social: as pessoas tendem a escolher parceiros
sexuais segundo parâmetros raciais, perpetuando a correlação de traços
que, de outro modo, tenderiam a dissociar-se.Epidemiologia e genética
O problema é que nesse pacote herdado em bloco não se encontram
necessariamente aqueles genes associados com características metabólicas
importantes para a saúde e para a doença. Uma pessoa pode ser
classificada socialmente como negra e não ser geneticamente “africana”,
do ponto de vista desta ou daquela especialidade médica.Nos EUA, a pátria do politicamente correto e da ação afirmativa, “negro”
é sinônimo de “afro-americano”, e não se discute. Milhões de dólares são
despendidos com pesquisas sobre doenças mais comuns em afro-americanos,
mas uma parcela que seja da miscigenação ocorrida no Brasil já serviria
para invalidar muitas conclusões, pois uma das variáveis empregadas -se
a pessoa é negra ou “caucasiana”- pode estar mal definida. “Estou
ansioso para ver a reação da imprensa americana”, diz Pena.Miguel (admin)MestreMinha opinião é q cotas são máscaras que escondem o cerne do problema, coloquei o texto para justamente demonstrar a dificuldade de chamar alguém de branco ou negro. O preconceito se faz de muitas formas, não só pela cor! Se faz pelas vestimentas, peso, tamanho, etc. Muitas são as faces do preconceito. Ora, dar a alguém uma cota pela cor, somente pela cor!? Indo a uma favela verá q de negros (aí pensando na origem africana etc, os antigos escravos) não existem muitos! Muitos são os mestiços!! E ests são tão discriminalizados quanto os negros! Bom, sem mais delongas, minha singela e talvez conservadora, nos moldes do entendimento do Fernando, é sim estabelecer cotas! Mas através da renda familiar. Isso seria mais abrangente e englobaria tanto os negros, como mestiços, brancos etc.
Digo isso pelo q já disse, faculdade estadual ou federal, não possui negros porque simplesmente eles são pobres, miseráveis em sua grande porcentagem, e pobre recebe instrução “pobre” pois não pode frequentar colegiais e cursinhos q podem prepará-lo para o famoso vestibular, ora, para quem interessa tantos exclusos em oportunidades? Veja q não é só negros e sim pobres. Ora, o sangue azul da nossa elite precisa continuar lá, no poder. Mas essa última eleição mudou aparentemente esse paradigma. Bem, convido aos senhores, Alex e Fernando a lerem o livro Fenomenologia existencial do direito, da professora Jeannette Antonios Maman, é baratinho…. Vale a pena.
AbsMiguel (admin)MestreDesculpe Alex, mas a fragilidade dos argumentos seria minha? Isto, sim é controverso!!.O que vcs dizem sim, não é nada original! Ou seja têm medo dos problemas que possam ser criados se tomadas uma medida nova.Medo a mudança! Então ficamos parados e nada fazemos! Sem ofensas , isto é conservadorismo( não disse que seria reacionarismo, que aí sim seria ofensa).Quase nada se propôs até aqui para um efetiva integração do negro. Talvez uma lei Afonso Arinos, esta questão da criminalização, que nunca será aplicada, de fato.Enfim..quando os norte-americanos, ousam propor algo novo, interessante, aparece nesta hora uma estranheza. Já disse que poderá , de fato, haver conflitos se adotada a poltíca de cotas. Eu acho ótimo, pois asssim ficaria explicitado nosso ódio racial. Não pretendo mais, argumentar nesta questão, com vcs, conservadores, até a medula. Deixo para os negros que tenham acesso a internet, que por sinal, ainda não foram ” visíveis” por aqui.
Miguel (admin)MestreMas fernando não estariamos a importar um programa norte americano que fora elaborado apenas pq havia (e ainda há) efetiva apartação racial nos Estados Unidos?
Terímos então:
1. No Brasil não há tantos negros assim, contudo todos somos em maior ou menor grau negros. Eu por exemplo sou um von Haydin, deveria ter olhos azuis e ser loiro como o meu avó(?), mas meu avó ao se mudar para o Brasil no final da década de 20 se encantou pela beleza negra de minha avó Brasileira.
2. Os negros (puros) são minoria e realmente sofreram com a escravatura, mas seria coerente resolvermos o problema com uma política do cotas? Isto é, não criariamos outro problema, como uma efetiva e nítida apartação racial como há nos Estados Unidos, pois os negros sempre serão lembrados nas Universidades Públicas como aleijados ou subraça incapaz de méritos sozinha?
Os cegos ou os aleijados detestam que as pessoas tenham pena deles.
3. Não estariamos apenas reforçando uma supremacia racial do branco sobre o negro, certo que haveria, em verdade, apenas a supremcia econômica do Branco sobre o negro?
Vc já repetiu estes argumentos antes, houve um certo consenso sobre a fragilidade deles. Acredito que corremos o risco de meter os pés pelas mãos….
Não haveria alternativas originais?
um abs.
Miguel (admin)MestreA questão não é a pesquisa racial! Sabemos que boa parte dos brasileiros é mestiça, embora haja bolsões de descendentes de europeus, brancos, no sul. A questão, não é entrar na biologia, até porque em um sentido estritamente biológico não existem raças. A questão é que o fenótipo pele negra é discriminado no Brasil,não tem ” visibilidade”, ou seja não aparece entre os mais ricos, mais educados, etc. Tudo pela pesada herança da escravidão! A questão não é jurídica. Não é o caso da Isonomia prevista pela constituição como querem alguns. Há um princípio que não se pode tratar igualmente os desiguais. A questão é sim, medo à mudança, ao diferente,medo de ousar uma política de cotas( que ademais seria provisória)! A questão, portanto é de conservadorismo! Que os negros conscientes tenham a palavra( ou a escrita)!
Miguel (admin)Mestreeh pela sua ironia vc deve ter a resposta, ou naum?
Miguel (admin)MestreAchei interessante e relevante ao q foi discutido.
Ana Lucia Azevedo escreve para 'O Globo':
Filho de uma terra de encontros e membro de um povo que, ao que tudo indica, é o mais diversificado do mundo. Esse é o brasileiro descrito no primeiro livro dedicado exclusivamente à formação genética, lingüística, histórica e socioantropológica do país.
“Homo brasilis” (Ed. Funpec), que será lançado nesta segunda-feira, surgiu do desejo do geneticista Sergio Danilo Pena, o organizador da obra, de contar para os não especialistas o que o DNA revelou sobre a formação do brasileiro atual.
Porém, mais do que revelações, o livro relata uma história iniciada há cerca de 15 mil anos, quando os primeiros homens chegaram às terras hoje chamadas Brasil.
A idéia do livro surgiu em 2000, num simpósio sobre a formação do brasileiro organizado pelo próprio Pena num congresso da Sociedade Brasileira de Genética. Tempos antes, Pena e seu grupo haviam publicado seu primeiro trabalho sobre o retrato molecular (genético) do brasileiro.
O projeto foi adiante e o pesquisador, que é professor titular do Depto. de Bioquímica e Imunologia da UFMG e diretor do laboratório Gene, em Belo Horizonte, chamou outros 11 cientistas – geneticistas, além de lingüistas, historiadores, antropólogos, sociólogos – para escrever artigos. A seguir, Pena fala dos principais pontos do trabalho:
Família e raça – “Basicamente, o povo brasileiro tem uma herança de pai branco e mãe indígena ou negra. Nossa população é tão misturada que a cor da pele não é um indicador confiável dos ancestrais. Nossos estudos mostraram que é quase impossível encontra
r uma pessoa de pele branca que não tenha herança genética africana ou indígena. O mesmo vale para os negros. A pessoa pode ter a pele escura, mas em seu DNA há quase sempre herança européia. Para a genética não há raças, e num país como o Brasil isso é m
ais verdade do que em qualquer outro lugar. Podemos falar de cor da pele, mas ela conta pouco sobre a constituição genômica de uma pessoa.”DNA e História – “Os genes confirmam os dados históricos. Ficou impressa no DNA do brasileiro a mistura do europeu branco com índias e, depois, com escravas africanas. Mas a genética vai além, pode olhar mais longe. Através do estudo de mutações acumulada
s ao longo de muitas gerações, podemos reconstituir a história acontecida há milhares de anos.”Terra de encontro – “O homem moderno surgiu na África há cerca de cem mil anos. De lá se espalhou para Ásia, Europa, Oceania e Américas. Para o Brasil, vieram primeiro os ameríndios, originários da Sibéria. Depois chegaram os europeus que, por sua vez, tr
ouxeram como escravos os negros da África, o lugar onde a Humanidade começou. Esses povos se encontraram no Brasil e se misturaram. Países como os EUA também receberam gente de toda parte, mas lá não há a mistura que houve aqui. Por isso, vejo o Brasil co
mo um lugar de encontro.”Homo Brasilis – “O Brasil teve um processo de mistura genética inusitado na História, gerando o brasileiro atual, que decidimos chamar, irreverentemente, de Homo brasilis.”
Povos extintos – “Uma de nossas linhas de pesquisa hoje é buscar no DNA de populações atuais marcas genéticas de povos extintos. Minha aluna de doutorado Flávia Parra está procurando em populações brancas do Vale do Jequitinhonha, em MG, por exemplo, traç
os de herança dos botocudos, índios extintos pelo branco e que habitaram aquela região. Não é fácil. Primeiro, é preciso identificar marcadores genéticos que não se encaixem em nenhum dos milhares já conhecidos. Fazemos isso com a comparação em banco de dados com mais de 16 mil amostras de todo o mundo. Se conseguirmos achar esses marcadores, precisaremos ainda estudá-los minuciosamente. É um trabalho longo e difícil.”Genes e palavras – “Vocábulos são como genes: sofrem mutações com o tempo. Através das homologias entre vocábulos de dois dialetos podemos calcular distâncias lingüísticas e fazer inferências filogenéticas. A genética e a lingüística se complementam quando tentamos compor um retrato mais detalhado de uma povo. A lingüística dá pistas de como a diversidade era imensa entre os povos ameríndios. A diversidade lingüística da América do Sul é impressionante. Estima-se que na época da chegada dos europeus havia mais diversidade lingüística na América do Sul do que no restante do mundo conhecido.”
Medicina – “Essa linha de estudo não tem aplicações médicas propriamente ditas mas certamente tem implicações para a medicina. Sabemos que kits genéticos desenvolvidos em outros países para estudo de doenças associadas a grupos populacionais, como fibrose cística (ligada à herança européia), não são apropriados para o Brasil. Precisamos de tecnologia adequada às nossas próprias características genéticas, que reflitam nossa diversidade.”
(O Globo, 11/8) -
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