José Maurício – A Música Maravilhosa – Viriato Corrêa

A Música Maravilhosa

Viriato Corrêa

in “Meu Torrão” , Cia Editora Nacional


O padre José Maurício vestia-se alegremente em sua casa na Rua da Misericórdia. Havia muitos meses que não saía à rua. Uma longa doença o tinha prendido por muito tem­po na cama.

E naquele dia, naquele claro domingo de sol, ia finalmente matar saudades revendo o coro da capela imperial, onde tivera os seus melhores dias.

Querem vocês saber quem era o padre José Maurício?
Um dos mais belos exemplos que as crianças podem
ter diante dos olhos.

José Maurício foi um dos maiores músicos que o Brasil já possuiu. Nasceu na humildade e na pobreza. Foi à custa de muito trabalho, de muito estudo e de muito sofrimento, que conseguiu chegar à glória.

A sua grande vocação era a música religiosa. Andava ainda de calças curtas e já causava surpresa aos mestres.

Naquele tempo, levava-se muito em conta a cor da pele. Um branco julgava-se superior a um negro, apenas porque a natureza lhe dera pele branca. Um negro ou um mulato não tinha direito de pretender posições.

Imaginem vocês a luta de José Maurício, ele que era filho de uma pobre negra. Mas, tanto trabalhou, tanto e tanto que, aos trinta anos, alcançou o posto de mestre da capela da Catedral.

Em 1808, como Portugal tivesse sido invadido pelos soldados de Napoleão, imperador dos franceses, a corte portuguesa mudou para o Brasil D. João, príncipe regente (mais tarde o rei D. João VI), tinha uma louca paixão pela música de igreja. Ouvindo um dia as composições de José Maurício sente por ele uma simpatia imensa e o nomeia inspetor da real capela com um ordenado que lhe garante o pão por toda a vida.

A afeição de D. João a José Maurício é cada dia maior. O regente não quer música de mais ninguém.

O artista passa então a viver numa verdadeira febre. Hoje compõe uma ave-maria, amanhã uma ladainha, um te-Deum, uma missa. E tudo isso sem descanso, para sa­tisfazer aos pedidos do regente. A sua glória de artista sobe, ilumina-se, mas a sua saúde dia a dia vai caindo e vai-se apagando.


Um acontecimento vem tornar-lhe a vida mais tra­balhosa.

Ê que Marcos Portugal chegou de Lisboa. Marcos Portugal tinha, na época, a fama de ser o maior músico português. Mas, apesar disso, era uma criatura invejosa.

Ao ver o entusiasmo do regente pelo músico brasileiro, sente-se enciumado e põe-se a desacreditar o valor de José Maurício, apontando maldosamente defeitos nos seus tra­balhos musicais.

O pobre padre compositor sentiu que tinha diante dos olhos um inimigo terrível e que era preciso estudar, tra­balhar ainda mais, para produzir obras ainda mais belas e mais profundas.

E não teve mais um momento de descanso, noite e dia sobre a mesa de trabalho, a cabeça incendiada de inspi­ração, produzindo. Agora um salmo, em seguida um ange lus, uma matina, um agnus-dei.

Muitas e muitas vezes o dia nascia e ele não havia percebido que passara a noite em claro.

Ninguém poderia resistir àquela vida tão trabalhosa. E José Maurício começou a enfraquecer. Perdeu a me­mória, emagreceu, sentia-se cansado ao menor esforço. Volta e meia uma doença — cinco, dez, quinze dias de cama.

Aquela de que ele agora se restabelecia tinha sido gra­víssima. Nada menos de seis meses dentro de casa, sem poder pôr a cabeça à janela, com o médico à cabeceira.


E naquele domingo, depois de tanto e tanto tempo, ia finalmente sair à rua. Pulava-lhe o coração alegremente dentro do peito.

Que vontade louca de rever o coro da capela imperial!

Aquele lugar, que talvez não tivesse encantos para as outras criaturas, era, para ele, o mais grato dos lugares. Fora ali, nos tempos de D. João VI, que fizera a sua gran­de glória musical.

Que saudade louca daquele cantinho que ele guardava dentro da alma!

Estava um dia lindo, claro, fresco, com o céu todo cheio de andorinhas alegres. Era à hora da missa; can­tavam no ar azul os sinos das igrejas. Como é bom viver num domingo tão bonito!

José Maurício foi entrando na capela imperial. Uns sons de órgão fizeram-no ficar parado um instante. Era uma melodia estranha, de uma suavidade que refrescava e amaciava o coração. Como sentia a alma consolada! Como sentia o espírito voar pelo espaço, em busca do céu, em busca de Deus! Que música suave! que música maravi­lhosa! De quem seria ela, de quem?

E o padre compositor galga às pressas a escada do coro.

Um discípulo corre-lhe ao encontro. Ele apóia-se ao ombro do discípulo e fica a escutar. A música era um fio de mel adoçando as almas.

— De quem é esta música, rapaz, de quem? pergunta comovido.


É sua, mestre ! Já não se lembra ?

Minha?! Fizera tantas…

E José Maurício, mão no ombro do discípulo, fica ali silencioso, sem um movimento, comovido, olhos parados e duas lágrimas a lhe descerem dos olhos.

Padré José Maurício
Padré José Maurício
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