ALBERTO MAGNO: O DOCTOR UNIVERSALIS – História da Filosofia na Idade Média

HISTÓRIA DA FILOSOFIA NA IDADE MÉDIA


Johannes HIRSCHBERGER

Fonte: Ed. Herder

Trad. Alexandre Correia

3  — ALBERTO  MAGNO: O    DOCTOR    UNIVERSALIS

Com Alberto
Magno a ordem dos dominicanos, que tanto contribuiu para a alta vida
espiritual da Idade Média, ocupa o primeiro lugar e, com ela, rompe o
aristotelismo, a grande novidade medieval. Já Boécio
sonhara com o plano de dotar o seu tempo com todo Platão e todo Aristóteles, sem conseguir realizá-lo. Mas o plano veio de
novo a ser tentado. Gregório IX,
em 1231, incumbiu vários sábios, entre os quais Guilherme Altissiodorense (de Auxerre), de estudar a possibilidade
de empregar Aristóteles e a sua
filosofia para a ciência da fé.. Alberto
vinha de nutrir a intenção de "tornar compreensível aos latinos
todas as partes da filosofia aristotélica", e esta vez a empresa vingou.
Não somente a lógica, mas também a física, a metafísica, a psicologia, a ética,
a política do estagirita fazem parte, daí por diante, do patrimônio filosófico
da escolástica, juntamente com as idéias da ciência e da filosofia judeu-árabe
e ainda a de muitas outras fontes, particularmente neoplatônicas. Alberto tem o título de doctor
universalis
e é, de fato, um enciclopedista universal de grande estilo e,
com os seus trabalhos, prestou inestimável serviço à escolástica. Sessenta anos
depois da sua morte, escreve dele um ,cronista anônimo: "Nesse tempo
floresceu o bispo Alberto, da
ordem dominicana, o mais ilustre e sábio de todos os mestres, comparado com o
qual, depois de Salomão, não
apareceu nenhum maior nem mesmo igual, em toda a filosofia… Mas, como de
nação era germânico, é odiado por muitos, .sendo o seu nome denegrido, embora
se sirvam das suas obras."

Vida

Presume-se ter Alberto
nascido em 1193 em Lauingen, na Suábia, talvez da família dos condes de
Bollstädt. Estudou em Pádua, fêz-se dominicano aos 30 anos, foi leitor em
Hildsheim em 1233 e mais tarde em Friburgo, Ratisbona, Estrasburgo, Colônia.
Entre 1245-18, encontramo-lo na Universidade de Paris como magister in sacra
pagina.
Talvez foi então Tomás seu
aluno.
Mas seguramente o foi desde 1248 até 1252 em Colônia, para onde Alberto tinha voltado, de Paris. Em
1254 foi provincial dos dominicanos alemães. Dois anos mais tarde encontramo-lo
na corte papal em Anagni, dois anos mais tarde em Florença, em 1259 elabora, no
capítulo geral em Valencienses, com Tomás,
Pedro de Tarantásia e outros, um novo plano de estudos. Em 1261 é eleito
bispo de Ratisbona;  mas  depois  de  ter  aí  ordenado  as  cousas principais,
desonerou-se das suas funções, passando doravante a pregar a cruzada. De novo
vemo-lo aparecer em Colônia, em Estrasburgo, em 1274 no Concilio de Lião, em
1277 ainda uma vez em Paris. Morreu em Colônia em 15 de novembro de 1280. Quando
se pensa que Alberto fez, para
obedecer às prescrições da sua ordem, todas as suas viagens a pé, é deveras
espantoso que, além das suas múltiplas ocupações, conseguisse tempo e
concentração de espírito para escrever obras que, na edição de Borgnet (1890
ss.) enchem 38 vols. in 4.°. "Nostri temporis stupor et
miraculum",
assim lhe chamou o seu discípulo Ulrico de Estrasburgo.

Obras

1. Paráfrases às obras de Aristóteles com o mesmo título; também
às obras de lógica, à física, à metafísica, à psicologia, à ética, à política,
às obras de ciências naturais. Está inédito um comentário à ética em forma de
questões .(ca. 1250, redigida por Tomás).

2.. Comentário às Sentenças (c. 1245). —
3. Summa de creaturis (c. 1245). .— 4. Summa theologica (dep.
1270), incompleta. — 5. Comentário ao Liber de causis e aos escritos
areopagiticos. — 6. Muitas obras inéditas, como as referentes aos Elementos
de Euclides,
à óptica do Alma-gesto; e a sua primeira obra Tractatus de
natura boni,
que constitui o primeiro tomo publicado até agora na edição
crítica das suas Opera omnia (Cur. Institutum Alberti Magni Coloniense
B. Geyer praes.)   (1951 ss.).

Bibliografia

M. Grabmann, Der Einfluss Alberts des Grossen auf das mittelalterliches
Geistealeben,
in:   Mittelalterliches Geisleslelen, II, 325-412.

a)    Caráter geral da sua filosofia

A obra de Alberto,
tanto no seu conjunto como nas suas partes, não foi completamente
elaborada. A riqueza do material que carreia teve como conseqüência o
prejudicar às vezes a unidade. Mas muitas discrepâncias se resolveriam se se
pudesse distinguir entre o que simplesmente refere    e o seu pensamento
própria Na sua Summa filosófica (De creaturis) contudo, onde
expõe o seu próprio modo de ver, o pensamento está bem elaborado. Mas não
podemos considerá-lo, pura e simplesmente, nem como aristotélico nem como neoplatônico.
Tende antes para uma conciliação entre o pensamento platônico e o
aristotélico: Et saias, diz, quod non perficitur homo in philosophia
nisi ex scientia duarum philosophiarum Aristotelis et Platonis" (Met.
1.
I, tr. 5, e. 15). Seria de grande importância um exame meticuloso do
aristotelismo de Alberto para
caracterizar o sentido da terminologia aristotélica, também em Tomás e, assim; na escolástica em geral. Pois devemos sempre, quando os textos escolásticos citam Aristóteles e as suas idéias, indagar que espécie de Aristóteles é esse e o sentido em que
as suas palavras são tomadas. Dentre as idéias filosóficas de.Alberto queremos salientar sobretudo
três:, as concernentes aos fundamentos do ser, à questão dos universais e à
substancialidade da alma.

b)    Fundamentação    do    ser

Alberto dá um fundamento ao ser
de modo semelhante ao de Roberto
Grosseteste na metafísica da luz. Deus é a luz incriada e produz, como o intellectus universalites agens a primeira inteligência. Dele procede (emanatio)
o
ser, mediante, a alma do mundo, por gradação até o ente corpóreo, no
estilo do Liber de causis e de Avicena.
Mas Alberto rejeita o
monismo neoplatônico dos árabes. O ser da primeira Inteligência já não é Deus,
mas algo de próprio, talvez "a luz escurecida." Quidam dixerunt,
omnia esse unum et quod diffusio primi in omnibus est esse eorum
(De Wulf
II 6, 138), nota ele, afastando-se assim do ponto de vista oposto.

c)    Os   universais

Alberto resolve a questão dos
universais já prenunciando a solução do Aquinata. Conhece a distinção dos
universais em universale ante rem, in re, post rem. Em conformidade com
isso afirma: a essência específica dos seres é independente da sua realização
no mundo espácio-temporal e a precede.    As nossas idéias universais são, como
tais, apenas objeto do pensamento e, assim, post res. O indivíduo é uma
concretização da essência específica e, assim, há um universale in re. Temos
aí o cerne da síntese escolástica entre platonismo e aristotelismo, a Idéia e o
mundo concretizados. E também vemos aqui quanto a metafísica dos escolásticos é
platonizante; pois, a doutrina das Idéias, nesta composição, também Tomás de Aquino já não a abandona.

d)    Substância   da    alma

Igual síntese encontramos ainda uma vez na
doutrina da substância da alma. Todas as substâncias criadas são compostas de
essência e existência; isto nos leva, às vezes, a crer que Alberto admite uma diferença real entre
essência e existência, como Avicena; e
outras vezes que a admite apenas lógica, como Averróis.
As substâncias corpóreas nascem por obra da energia solar combinada com
a agência da primeira Inteligência. Os conceitos de matéria e forma ele os
emprega, mas não num sentido puramente aristotélico; pois, a forma da
corporeidade é a luz. Mas, para as substâncias espirituais Alberto não aceita nem a composição de
essência e existência nem a de matéria e forma. Mas elas devem ser compostas e.
assim, chega ele à distinção já feita por Boécio
do quo est e do quod est. O poder atribuir-se à alma o quod
est
mostra ser ela uma substância concreta e portanto individual; e o seu quod
est
lhe indica a qualidade específica, podendo então falar-se de uma forma
geral, da alma. Alberto não se
decide a considerar a alma como a mera enteléquia do corpo. Ele teme, como Nemésio, com quem concorda,
comprometer-lhe assim a substancialidade. Assim, segundo Alberto, só na medida em que ela
confere ao corpo a vida, é a forma dele; mas "em si mesma ela é, como diz Platão, um espírito incorpóreo e vida
perene" tra. 12, q. 69, m. 2, a. 2 ad 1). Por isso se inclina também a
conceber, com Platão, a alma como
o piloto do corpo, para lhe salvar a substancialidade; e neste passo podemos
lembrar que também Aristóteles, no
oitavo livro da Física usa dessa imagem. Por causa da substancialidade.
da alma Alberto se volta contra Averróis. Cada alma, ensina ele contra
o filósofo árabe, tem o seu intelecto ativo e passivo próprios  (De unitate
intellectus contra Averroes).

e)    O   naturalista   

O que dissemos até aqui não deve dar a impressão
que tivesse Alberto cultivado de
preferência a filosofia especulativa. Conhecia ele, quanto a esta, toda a
tradição e podia proferir a sua opinião. Mas além disso tinha particular inclinação
para a observação imediata e a descrição da Natureza. Não é exagerado
considerá-lo como zoólogo e botânico. A observação imediata da natureza (experimentum) ele a promoveu sob todas as formas. – O principal editor das suas obras,
H. J. Stadler, escreve nos Baeumker-Beitraägen (16 e 17). "Se a evolução das ciências naturais tivesse continuado no
caminho trilhado por Alberto, ter-se-ia
poupado um rodeio de trezentos anos" (Jp. H. Balss, Albertus Magnus als Biologe, 1947).

f)    Alberto   e   a   mística

Tara terminar assinalemos ainda a importância de
Alberto para a mística alemã.
Foi o patrimônio espiritual, parte, da patrística, parte, das obras
areopagíticas e parte, da filosofia árabe, em que ele se abeberou, que se
tornou fecundo, a este respeito. Echardo,
antes de todos, Tauler, Suso,
João de Tambach e Nicolau de Cusa
se utilizarão dos trabalhos de Alberto.

 g)    Escola   de   Alberto

À escola de Alberto
pertencem Hugo Ripelin de Estrasburgo, Ulrico de Estrasburgo,
Dietrich de Freiberg
(+ 1310) e Bertoldo de Mosburgo. Segundo Grabmann, caracteriza essa escola a
tendência para o neoplatonismo, a preferência pelas questões das ciências
naturais, a independência do pensamento, e aquela universalidade espiritual já
característica do mestre.


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