A PRIMITIVA ESCOLÁSTICA – História da Filosofia na Idade Média

HISTÓRIA DA FILOSOFIA NA IDADE MÉDIA


Johannes HIRSCHBERGER

Fonte: Ed. Herder

Trad. Alexandre Correia

I.    A  PRIMITIVA  ESCOLÁSTICA

1 — ORIGENS

a)    Renascença   carolíngia

As primeiras origens da escolástica estão nas
obras de Carlos Magno. Com ele se
afirma uma nova vida espiritual e não somente política. É com razão .que se
fala de uma renascença carolíngia. Nas escolas nascidas no seu império,
floresceu uma série de homens iniciadores. O monge anglo–saxônio Alcuíno vem em 781 de York para a
escola palatina, de Aquisgrana. Na escola monacal de Fulda ensina Rábano Mauro (f 856). Pascásio Radberto (+ 860) e Ratramno tornam célebre o Claustro de
Corbie, na Soma. Não são grandes realizações filosóficas essas nomeadas, mas é
uma nova primavera que se anuncia e pode-se esperar que produzirão frutos.

b)    Eriúgena

Isso o verificamos logo com Joio Esgoto Eriúgena (+ ca. 877); irlandês
(Irlanda = Scotia maior; Eriúgena
é pois um pleonasmo). Por ordem de Carlos
o Calvo traduziu as obras do Areopagita, que tinham sido mandadas
de Constantinopla para a corte de Luís o Pio, e se tornam assim a porta da
entrada do neoplatonismo na escolástica. Sua obra capital tem o título: De divisione
naturae.
Trata-se de Deus como a causa suprema, das Idéias, das cousas
criadas e da volta das cousas para Deus.

a) Seu neoplatonismo. — Essas teses já
fazem pressentir temas de feição neoplatônica e a filosofia do Eriúgena é de fato um neoplatonismo.

αα) Oram do ser. — O ser é
considerado nos seus diversos graus e, nessa gradação, há uma elevação de
valor. No primeiro lugar está Deus como o fundamento último, incriado e que
tudo cria (natum creans increata). O contemplar-se Deus a si mesmo
gera, desde toda a eternidade e em pura atemporalidade, as idéias. Nelas Deus
se separa de si mesmo e cria assim os princípios do devir; pois essas idéias
são realmente causas do ser das cousas, as causae primordiales ou prototypae. E esse é o segundo grau, a Natureza criada e criadora (natum creans
creata).
Agora — terceiro grau — criado o mundo no tempo e no espaço, são
as idéias que lhe conferem o seu ser. Por força delas é que existem todas as
cousas; pois o ser do terceiro grau não pode, por sua vez, ser criador (natura
creata nec creans).
Por isso é Deus tudo em tudo e o mundo, uma
manifestação divina. "Não podemos conceber como dois seres distintos, o
criador e a criatura, senão sendo ambos uma mesma realidade". O mundo
sensível não reproduz as idéias na sua pureza, mas para ela tende. E está
totalmente na tendência dessa consideração do ser introduzir um último grau,
no qual a aproximação do puro e do sobrenatural seja conseguida, alcançando-se
assim a "perfeição". E então volta o ser para o seu princípio (natura
nec creata nec creans).
E pois se apresenta esta metafísica do ser como uma
filosofia da identidade, no estilo de Proclo.

ββ) Panteísmo? — Por isso
falou-se de um panteísmo de Eriúgena, e
já em 1225 com Honório III,
depois que Amalrício de Benes quis
apoiar o seu panteísmo em Eriúgena, de
fato a obra do nosso filósofo foi condenada. Mas não se deve esquecer que o
panteísmo propriamente dito, sobretudo o moderno — e é este o que se entende
hoje por essa palavra — pretende eliminar Deus.   Ora, ao inverso, a obra do EriúGena quer exatamente levar ao
conhecimento da grandeza de Deus. Eriúgena
nada disse mais que Gregório de
Nessa, o Areopagita e Máximo o Confessor,
nos quais fortemente se inspira. Talvez não acentuou suficientemente a
diferença entre Deus e o mundo, que na realidade admite. Pois, para ele,
exatamente como para o Areopagita, as idéias existentes na mente divina não são
coeternas com Deus, por serem criadas, e por não ser o mundo sensível em nada
idêntico às idéias, como no genuíno platonismo. São apenas semelhantes ao
mundo. E assim será sempre, no neoplatonismo medieval, quando aparecem
expressões que sugerem identidade. São menos uma igualdade lógica do que
símbolos religiosos expressivos de um sentimento de absoluta dependência. Pois
o neoplatonismo é, no Cristianismo, ainda mais que nas suas primitivas
origens, uma manifestação igualmente forte de religião como de filosofia. De
ordinário anda ligado com a mística e a sua terminologia carreia abertamente
sentimentos e tendências religiosas.

 β) Fé e Ciência. — No espírito do
neoplatonismo se entende também a tese do Eriúgena,
que filosofia e religião se identificam: a verdadeira religião é
filosofia e vice-versa. Neste sentido a compreensão racional é o alvo da fé.
Isto não significa nenhuma prioridade da razão sobre a fé, nenhum
racionalismo, mas sim, o que mais tarde será muito repetido, que, quando nos
opomos à teoria da dupla verdade, queremos com isso mostrar a origem comum da
verdade filosófica e da teologia e, portanto, a ausência de contradição entre
a fé e a razão. Só relativamente à autoridade Inumana, que não é
revelação, mas apenas a sua explicação, é que o Eriúgena se pronuncia pelo primado da compreensão racional:
"Toda autoridade não fundada na compreensão racional é fraca; enquanto que
a fundada na razão permanece inabalável pela sua própria força".

c)    Dialéticos e antidialéticos

O século 9." não produziu, além do Eriúgena, outros filósofos de nota. O
10.* ainda menos. Ao contrário, o começo do séc. 11.° nos surpreende com
uma ativa controvérsia entre os chamados dialéticos e antidialéticos. A arte da
dialética, como era ensinada no trívio, dominou completamente a certos que a
consideravam como um divertimento. Percorriam o mundo com os seus silogismos e
resolviam questões, por grandes e profundas que fossem, sem as considerar e só
com palavras, mecanicamente. Anselmo de
Besate o Peripatético", era desse tipo; também Berengário Turonense. Quando este
entrou a aplicar o seu modo puramente mecânico de considerar as cousas também
às doutrinas da fé, entrou em cena o partido oposto, de modo igualmente
absoluto, rejeitando radicalmente a filosofia. O seu chefe era Pedro Damião (1007-172). Como os outros
submetiam tudo à filosofia, submetia ele tudo à teologia. Para Deus não valem
as leis da lógica; ele pode tornar o não-acontecido, acontecido; para salvarmos
a alma não precisamos de nenhuma filosofia; no fundo a filosofia é uma invenção
diabólica; no máximo pode servir como ancila da teologia. Não foi nenhuma razão
de peso que motivou a expressão muitas vezes citada — philosophia ancilla theologiae, e devia-se cessar de ver nela a divisa da escolástica. Aludiu-se muitas
vezes a ela na periferia da escolástica.


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