A VINGANÇA DO CORONEL
O ano correra bem e seu Brás, homem devoto, que nunca perdia missa ou terço rezado nas circunvizinhanças do povoado de Jataí, havia colhido, a poder de mutirões e de promessas, nada menos que onze sacas de feijão mulatinho — um despropósito! Veio, então, pressuroso, à vila, vender a mercadoria, e para não desagradar o Coronel, chefe político e pessoa temida em toda a região, ofereceu a este, em primeira mão, a carrada de cereal disponível.
— Quanto quer pelo feijão, seu Brás? — indaga o Coronel.
— Onze mil réis à saca, por ser para o senhor, acrescentou o lavrador astuto.
— Está feito o negócio. Leve a sacaria que precisa e amanhã mesmo quero a carga aqui. Receberá o dinheiro quando o carro rabear frente ao armazém, estando tudo em ordem.
— Perfeitamente, Coronel, amanhã, se Deus quiser.
* * *
Entretanto, no dia seguinte, seu Brás, entregue à faina de abanar e ensacar o produto, era abordado por outro comprador mais afoito que lhe ofereceu um lucrinho de quinhentos réis por saca. Versátil como era, seu Brás não teve dúvida em aceitar a tentadora oferta. Instantes após, negócio feito e acabado, a partida de feijão tomava rumo diferente do local combinado na véspera…
Quando o Coronel soube da patifaria de seu Brás, ficou possesso: homem assim tinha que morrer. O tratante não comeria mais feijão — sentenciou colérico. E, nem mais aquela, planejou eliminá-lo incontinenti. Mandou chamar seu guarda-costa de confiança, que nunca jamais falhara nessas empreitadas, e com êle concertou plano sinistro: dar lhe ei, além de Cr| 300,00 em dinheiro de contado, uma besta arreada e carabina cheia de balas, como era de praxe em combinações dessa espécie. Queria, porém, a orelha de seu Brás, custasse o que custasse, no dia seguinte, o mais tardar.
Poderia, então, dormir sossegado — um velhaco de menos pensou lá com seus botões. Mas, já no leito, começou a matutar e não pôde conciliar o sono. Matar um homem por tão pouca coisa, quando havia tanta gente que precisava de morrer por esse mundo afora. ..
Já ia alta a noite: as galos começavam a amiudar, quando o Coronel estremunhado resolveu enfrentar o assunto e assim evitar a morte daquele pobre coitado, que era, aliás, muito devoto e até estimado nas redondezas, não fosse isso abalar-lhe o prestigio, e mormente, economizaria os gastos daquela empreitada em má hora urdida. Chamou um peão, mandou selar seu cavalo de estima, e, resoluto, num passo estugado, rumou para a casa do facínora, um cochicholo que se escondia num daqueles socavões escon-dos para os lados da Cachoeira. Ao chegar lá, ainda a curta distância do terreiro, deparou a mula arreada e viu nosso homem afobado com os últimos preparativos para a empresa vingadora. Disse-lhe ao que ia com bons modos e até certa dose de agrado, como era de seu feitio: que havia resolvido desistir do serviço, pois não ficava bem matar um semelhanle só porque não havia este cumprido um trato etc… Mas o empreiteiro de Cristo é que não esteve pelos autos, discordou de seu chefe, patrão e mandante, alegando que estava para sair naquele instante, que se demorara um pouco enquanto preparava a matula, pois pretendia liquidai* o dito-cujo de tocaia e que, além disso, e por isso mesmo, da sua parte não desistia porque estava muito necessitado de uma besta ajaezada como aquela, precisava muito de uma carabina igualzinha a que sustinha aos ombros, e, sobretudo, não mais podia se desfazer daqueles trezentos bicos <|ue o Coronel lhe dera de adiantamento. Trato é trato, Coronel.
Pensando bem os prós e contra, o Coronel viu que outra aliei nativa não lhe restava do que concordar com os argumentos de seu capanga favorito — não fosse o feitiço virar contra o feiticeiro — entregando-lhe os trastes de mão beijada, tão só porque, ã última hora, havia desistido daquela vingança impensada.
E seu Brás que, sem o saber, escapara por um tris de tremendo balaço pelas costas, continuou a frequentar o vilarejo, indiferente aos comentários que a seu respeito fervilhavam, e, ainda por cima, certo de que havia pregado boa peça ao astuto Coronel.
Pesquisa de Sebastião Almeida Oliveira, na cidade de Tanabi, Estado de Sao Paulo; 6 de maio de 1954)
Fonte: Estórias e Lendas de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Tomo I. Seleção de Alceu Maynard Araújo e Vasco José Taborda. Ed. Literat.
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