- 1. A obra da Companhia de Jesus
- A PROTEÇÃO AOS ÍNDIOS
- OS ALDEAMENTOS
- GOVERNO DAS ALDEIAS
- PRINCIPAIS ALDEIAS SÉCULO XVI
- MISSÕES MERIDIONAIS
- LEGISLAÇÃO PROTETORA DO INDÍGENA
- MORALIZAÇÃO DA SOCIEDADE
- CONSEQUÊNCIAS DA EXPULSÃO
- NOTÍCIA BIO-BIBLIOGRÁFICA DA LITERATURA COLONIAL
- AS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES QUINHENTISTAS
- Século XVII
- Século XVIII
- PRIMEIRA FASE — 1700-1750
- SEGUNDA FASE — 1750-1800 POETAS
- PROSADORES
- Artes plásticas na Colônia
- PINTURA AS ESCOLAS E SEUS REPRESENTANTES
- A PINTURA BAIANA NOS SÉCULOS XVII E XVIII
- A PINTURA FLUMINENSE NOS SÉCULOS XVII E XVIII E INÍCIO DO SÉCULO XIX
- A MISSÃO LEBRETON
- ARQUITETURA
- ARQUITETURA COLONIAL
História do Brasil -Manual Didático para a Terceira Série Ginasial por Ary da Matta (1947)
UNIDADE VII
DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL
1. A obra da Companhia de Jesus; a proteção aos índios; o ensino; a moralização da sociedade; 2. A expulsão dos jesuítas e suas consequências; 3, Desenvolvimento cultural.
Constitui hoje ponto pacífico na História do Brasil os bons ofícios da Companhia de Jesus na colonização portuguesa em nossa Pátria. A proteção ao índio em face da cobiça do colono, os ingentes trabalhos do ensino e da catequese, a moralização da sociedade colonial desenfreada e voraz, marcam os pontos altos do apostolado daqueles missionários em defesa dos princípios cristãos que regulam a vida do nosso ocidente.
A expulsão violenta destes elementos de ordem, moderação e disciplina deixou ao desamparo uma obra vigorosa que não encontrou substitutos à altura.
A arte e a literatura coloniais nutridas na cultura lusitana vão aos poucos se distanciando da rigidez das infuências metropolitanas para adquirir fisionomia própria no novo meio geográfico e cultural. Embora a língua falada no Brasil seja a dos seus descobridores e colonizadores, não é demais reconhecer a grande contribuição dos elementos da formação da etnia brasileira para a língua portuguesa do Brasil.
1. A obra da Companhia de Jesus
Origem. — A Companhia ou Sociedade de Jesus foi fundada em 1534 por Inácio de Loiola, oficial espanhol ferido no cerco de Pamplona, e já em 27 de setembro de 1540 era reconhecida oficialmente pela bula "Regimini Militantes Eclcsiae" do papa Paulo III.
Talhada pelo seu fundador dentro dos mais rígidos princípios disciplinares e religiosos, a Companhia cie Jesus se impôs pela ação persistente e moralizadora de seus membros, abnegados, doutos e piedosos. Trouxeram um notável espírito construtor na fase crítico do mundo do Renascimento, da Reforma, da revolução económica do século, da expansão do poderio colonial peninsular do início da Idade Moderna.
Introdução no Brasil. — Data da criação do primeiro Governo Geral (1549) o início da catequese dos inacianos em terras do Brasil, com a chegada do primeiro grupo chefiado pelo padre Manuel da Nóbrega, como já vimos na unidade II, capitulo 4. O desdobramento das atividades, a extensão do trabalho a que se propuseram, aconselharam a criação de um provincialato no Brasil, verificado em 1553 e entregue desde logo à orientação do padre Manuel da Nóbrega, o l.° provincial do Brasil.
E’ tal o entrelaçamento da obra inaciana c o desenvolvimento de nossa colonização, que Capistrano de Abreu declarou que só se poderia escrever a nossa História quando fosse realizado o trabalho prévio de elaboração da História dos Jesuítas no Brasil ou textualmente: "Uma história dos jesuítas é obra urgente: ériquanto não a possuirmos será presunçoso quem quiser escrever a do Brasil" (Capítulos da H. Colonial pg. 92 — 3.a edição).
A PROTEÇÃO AOS ÍNDIOS
A intuição pedagógica dos inacianos, evangelistas e educadores, autorizou-lhes a experiência de atrair as crianças de preferência aos adultos para suas casas e colégios, moldando-os aos poucos com perícia de técnicos consumados, sabedores de seu ofício. Nada impuseram: ca-tequisaram e ensinaram pela palavra, pelo exemplo. O primeiro traço elogiável de sua conduta (e que tanto escandalizou o primeiro bispo D. Pedro Fernandes Sardinha, primaz do Brasil) foi o respeito à personalidade cultural do gentio permitindo-lhe e protegendo mesmo os ritos tradicionais do cerimonial indígena, usos e costumes enraigados em séculos, que sabiam não conseguir remover apenas com violência policial. Naturalmente combateram a antropofagia ritual, que algumas tribos praticavam, a poligamia e a mancebia de indígenas, as duas últimas comuns também a colonos, até clérigos, como asseveram os missionários em suas cartas.
A carência de mulheres europeias que lhes servissem de esposas excitava ainda mais a cobiça do colono pelas índias, presa fácil, desprezada e desrespeitada não obstante o esforço ingente dos missionários para coibir tão condenáveis abusos.
Outro motivo de cobiça do colono pelo índio foi a escravidão vermelha de que se originou um ciclo de expansão geográfica, as "expedições organizadas com o fim expresso de cativar índios nas regiões onde habitavam. E’ o chamado ciclo da caça ao índio, eufemismo usado para mascarar a caça ao homem", escreve o douto mestre Serafim Leite S. J.
Em certos casos, atendendo-se à legislação da época, o cativeiro foi tolerado pelos missionários nos chamados "cativeiros justos", de que resultam a conservação da vida de um prisioneiro condenado pelos seus, graças ao resgate pago pelo colono.
OS ALDEAMENTOS
Para dar proteção permanente ao gentio e mantê-los fortalecidos pela união, os jesuítas lançaram mão do processo de aldeamentos por eles dirigidos e onde era possível desenvolver ação tutelar sobre seus catecúmenos. Ali cultivavam e desenvolviam habilidades, ensinavam ofícios (marceneiro, ferreiro, pedreiro), introduziam novas técnicas agrícolas, aclimatando plantas exóticas, racionalizando o cultivo de vegetais indígenas.
Os primeiros aldeamentos datam de 1550 e, segundo o padre Serafim Leite S. J. (História da Companhia de Jesus no Brasil, Lisboa, 1938), sua realização foi recomendada no regimento de Tomé de Sousa pelo próprio D. João III. Em 1552 já podia Nóbrega anunciar a el-rei o desenvolvimento da obra, logo prejudicada pela incúria de D. Pedro Fernandes Sardinha, mas que no governo de Meni de Sá tomaria notável desenvolvimento graças ao apoio deste recebido pelos missionários. Cresceram em breve os primitivos núcleos de aldeamento fora do perímetro urbano.
Em 1598, ao findar o século XVII, deu-se organização regular às aldeias, distribuindo-se funções a cada um dos três padres que nela residiam: superior da aldeia, reitor do colégio e superintendente.
GOVERNO DAS ALDEIAS
Observadores menos avisados têm condenado a atuação dos missionários à frente do governo temporal dos aldeamentos, o que lhes pareceu até mesmo tentativa de criação de "estado teocrático". As funções do governo, exercidas naquelas comunidades pelos missionários da Companhia de Jesus ao lado do governo espiritual se impunham como necessidade dadas as circunstâncias particulares da colonização, contrariando os interesses e cobiça dos colonos. Condenavam os maus tratos que os aldeados deles recebiam, privando os índios convertidos de seus deveres religiosos, a pretextos vários. Cumpre assinalar que os inacianos não tinham sobre a terra qualquer jurisdição. "Era pura e simplesmente tutorial, função oficial, em nome do governo, jurisdição de curadoria, para facilitar a catequese e a boa organização da vida e do trabalho, com pessoas cujo estágio social ainda não permitia fazerem-se por si mesmas", escreve o erudito padre Serafim Leite. Citando ainda o autor da "História da Companhia de Jesus no Brasil", aceitamos sua classificação sobre o regime devido das missões como "sistema jurídico patriarcal." de jurisdição legitimada por el-Rei, chefe do executivo da época.
PRINCIPAIS ALDEIAS SÉCULO XVI
Na 2." metade do século XVI, multiplicaram-se os aldeamentos em torno da cidade do Salvador, na Bahia. Em 1556, Atônio Rodrigues fundou próximo à Bahia a aldeia do Rio Vermelho levantando uma ermida que teve sua primeira missa celebrada por Nóbrega. Ainda neste ano fun-âou-se a Aldeia de São Sebastião também chamada Aldeia do Ipiru (Tubarão), em virtude do índio homônimo que ah residia como maioral Foi também inaugurada por Nóbrega. Dois anos depois foi a aldeia transferida para o Recôncavo, acima de Pirajá, com o nome de São Tiago. Próximo a esta foi fundada outra aldeia, a de Simão, índio cristão prestigiado pelos padres da Companhia.
Data de 1558 a fundação da Aldeia de São Paulo, com a presença do governador Mem de Sá. Nomeou-se um índio como meirinho, entregaram-se-lhe as insígnias do pósío. Em 1561, segundo Serafim Leite, era já um florescente núcleo de 2.000 almas desenvolvendo-se ali grande atividade religiosa e social.
Uma das mais importantes foi a Aldeia do Espírito Santo fundada em 1558 pelo padre João Gonçalves, morto pouco depois e pelo irmão António Rodrigues, às margens do Rio de Joanes, atual localidade de Abrantes. Em 1561, elogiada por Nóbrega, contava já com uma população de 4.000 almas doutrinadas pelos padres que exigiam dos chefes índios da aldeia o combate à poligamia e mancebia, à antropofagia, à intemperança, ao homicídio e que se furtassem à influência religiosa e curandeirista dos pajés. O padre Serafim Leite, transcrevendo Nóbrega e Blaques, assinala a importância deste aldeamento. Tão relevante quanto esta, segundo as mesmas fontes, foi a Aldeia de Santiago fundada presumivelmente em 1559, contando com 4.000 almas já em 1561.
Em 1560 fundou o padre Luís da Grã ao norte da cidade do Salvador, em Erembé, nas terras pertencentes ao conde de Castanheira, a Aldeia de Santo António, importante núcleo de catequese e de onde se originou o movimento da evangelização do P. Gaspar Lourenço em Sergipe, no ano de 1575.
Santa Cruz de Itaparica foi fundada em 1561 pelos padres Antônio Pires e Luís Rodrigues e os irmãos Paulo Rodrigues e Manuel de Andrade, na vila de Itaparica. A 3 de maio o padre Luís da Grã ali oficiou e batizou grande números de indígenas. Mais tarde mudou-se a posição do aldeamento e despovoou-se completamente em 1564.
Compulsando os dados acima referidos verifica-se que 1560-1561 concentra a fase de ação intensiva, multiplicando-se as aldeias que reuniam milhares de indígenas cristãos.
Delas em 1583 restavam apenas as de Espírito Santo, São João, Santo António. As demais, atacadas pela peste, pela fome, pelo- abandono dos indígenas, despovoaram-se nesta árdua experiência evangelizadora que custou, não raro, em várias circunstâncias, a vida dos santos missionários, aos quais tanto deve o Brasil.
Da fundação de aldeias no Rio de Janeiro, São Vicente e Espírito Santo já tratamos na Unidade II.
MISSÕES MERIDIONAIS
As experiências dos primitivos aldeamentos levaram os missionários a abandonar as missões volantes e criar missões e reduções fixas para abrigar, proteger e educar os índios já convertidos. Em 1584, inicia-se o movimento catequista nas regiões dos rios Paraguai e Paraná, a rogo do bispo de Tucumán, D. Francisco Vitória, durante o próvincialato de Anchieta. Na primeira metade do século seguinte, íundam-se ali numerosas missões agrupadas em províncias assim distribuídas:
A Província do Guairá, entre os rios Paranapanema, Iguaçu e a margem esquerda do Paraná.
A Província do Paraná (organizada em 1626) com as reduções: Santa Maria Maior, Natividade de Acaraig, Santo Inácio Guaçu, Itapurã, Nossa Senhora dos Reis e Curuzu ou Assunção.
A Província do Uruguai fundada entre 1617 e 1634. Dela faziam parte: Candelária, São Nicolau, Mártires de Caparão, São Carlos, Apóstolos, São Miguel, São Tomé, São José de Itaquatiá c São Cosme e Damião.
A Província do Tape iniciada em 1632 e composta de Natividade, Santa Teresa, Santa Ana, São Joaquim, Jesus–Maria e São Cristóvão.
Contrariando a legislação portuguesa e espanhola (Brasil sob domínio filipino), os colonos preadores e descedores de índio realizam "saltos" violentos contra os então pacíficos povoadores das missões, num total aproximado de 200 000 índios cristãos, trabalhados pacientemente pelos missionários afeitos à disciplina, hierarquia, cultivando hábitos de sociabilidade, conhecedores da doutrina católica.
LEGISLAÇÃO PROTETORA DO INDÍGENA
Desde Nóbrega, exigia-se para o indígena a proteção de leis que lhe assegurassem o património da liberdade em face da cobiça dos colonos. Provocou-se assim a manifestação do poder real, como a que criou legislação especial para o caso. O regimento de Tomé de Sousa previa punição de "morte natural" para os salteadores de índio.
A primeira lei de proteção ao índio data de 20 de março de–1570, promulgada por D. Sebastião, Nela se permitia que se escravizassem apenas os índios aprisionados em guerras justas (com autorização prévia das autoridades) ou aos indios que atacassem os portugueses ou ainda aqueles que guerreassem entre si. Esta lei provocou protestos dos colonos e D. Sebastião autorizou que o dois governadores D. Luís de Brito e Antônio Salema reunidos ao Ouvidor Geral e aos padres da Companhia se constituíssem numa junta para resolver a questão. As resoluções desta junta foram resumidas na ata de 6-1-1574 e admitiam entre outras coisas ser legítimo escravizar os índios quando:
Tela antiga, Gesú, Roma. Ven P. José Anchieta.
a) fossem tomados em guerras justas feitas com a . solenidade devida;
b) fossem tomados pelos índios em guerra com os seus contrários;
c) se vendessem a si mesmos passando de 21 anos de idade.
A expressão "guerras justas", de grande precariedade, prestou-se a interpretações vantajosas para alimentar a cobiça do colono justificando na maioria das vezes os "saltos" condenáveis então acobertados pela lei.
Insistiam sempre os jesuítas pela liberdade e sugeriram ao rei "se faça uma lei que daqui em diante nenhum índio no Brasil possa ser escravo".
Pela lei de 1597 sagraram-se vitoriosos os jesuítas com a obtenção da proibição de "saltos" e resgates sobre qualquer pretexto.
MORALIZAÇÃO DA SOCIEDADE
A moralidade na colônia. — Outra tarefa gigantesca que exigiu dos missionários grande esforço e energia foi o policiamento dos hábitos pouco edificantes de colonos, clérigos e mamelucos. A população branca da colónia dificultava a ação missionária pelos maus exemplos frequentes, pela insistência em ostentar baixo teor moral em suas ações. Dêste estado. deplorável não escapou o próprio clero secular confundido com o colono na mesma cobiça, nos mesmos anseios e ambições terrenas, com iguais exemplos de vida dissoluta, atirados à mancebia e à sofreguidão do lucro. O padre Azpilcueta Navarro nos dá o seu depoimento: "A gente aqui só tem nomes de cristãos, embebidosem malquerenças, metidos em demandas, envoltos em torpezas e deshonestidades publicamente".
Mas havia, ainda, aspectos bem mais graves que este denunciado pelo missionário — a imoralidade do clero regular, péssimo exemplo para o colono. E’ o mesmo padre que lamenta e protesta acrescentando à informação: "mas havia cá muito pouco cuidado de salvar às almas; os sacerdotes que cá havia estavam todos nos mesmos pecados dos leigos, c os demais irregulares, muitos apóstatas e excomungados".
Criação do 1.° bispado. — Para disciplinar o clero secular esforçou-se Nóbrega em obter um bispo para o Brasil, dependente até então, em matéria de administração eclesiástica, da diocese de Funchal. Em 1552 chegou à
Costumes do Brasil colonial — lundu (Desenho de Rugendas.)
cidade do Salvador, na Bahia, D. Pedro Fernandes Sardinha, o primeiro bispo do Brasil. Faltou ao prelado a necessária isenção de ânimo e visão larga para alcançar os benefícios da administração jesuítica e da hábil política de Nóbrega. Exigiu reivindicações e prioridades e embora de elogiável energia prejudicou grandemente a obra dos missionários.
Apoio moral dos jesuítas. — A extraordinária força moral dos catequistas inacianos conseguiu manter a distância o colono prevaricador e, o que surpreende, transmitiram a seus tutelados a fibra que possuíam, como atestam inúmeros casos fartamente documentados.
2. A expulsão dos jesuítas e suas consequências
Antecedentes. — Sebastião de Carvalho e Melo, conde de Oeiras e marquês de Pombal, poderoso primeiro ministro de D. José I, incluiu em seu programa político neutralizar além da influência da nobreza, dominada pela truculência, a ação dos jesuítas como elementos ativos da vida pública e privada lusitana. Para isto não recuou diante dos mais violentos métodos, lançando mão de todos os pretextos, forjando provas, apoiando-se em documentos inconsistentes e sem idoneidade. Era um velho ódio que se reavivava nas mãos de inimigo rancoroso, guindado às cul-minâncias do poder temporal, dominando D. José I, que Capistrano denominou "régio manequim".
Os argumentos de Pombal. — Para justificar a tremenda perseguição desencadeada contra os jesuítas, aproveitou-se Pombal da reação espontânea dos guaranis, -aldeados nas missões meridionais, à execução do Tratado de 1750. Para ele, toda resistência teria sido forjada pelos jesuítas espanhóis que teriam insuflado o ódio contra os portugueses e estimulado a desobediência à letra do Tratado de Madrid. Outro argumento muito frequentemente popularizado pelos partidários da política pombalina, era a acusação infundada de que os jesuítas dos Sete Povos das Missões se preparavam com seus 30 000 aldeados para criar um império teocrático, independente do poder real, unido ao Paraguai, que seria governado por um suposto Nicolau I, apontado como o primeiro de uma série de jesuí- _ tas coroados no trono do império teocrático platino. Não ficou aí, no entanto, a fértil imaginação do célebre marquês. Não encontrando apoio entre os espanhóis para secundá-lo em sua política de perseguição aos missionários dos Sete Povos, tratou de atacar os do Brasil, votados como sempre aos mais abnegados trabalhos de seu apostolado pelo ensino e catequese. Imaginou para tanto um plano diabólico. Nomeou seu irmão Francisco Xavier de Mendonça Furtado, capitão-mor do Maranhão e Pará, atribuindo-Ihe as funções de executor do Tratado de Madrid. Chegado ao Pará, Mendonça Furtado convocou índios aldeados pelos inacianos para integrarem o grosso das tropas que o seguiam na tarefa naturalmente pacífica de mero demarcador de fronteiras, em colaboração com D. José de Iturriaga, o representante espanhol. Esta medida violenta afastou demoradamente os indígenas de suas aldeias, votadas por isto à miséria e ao abandono. Não tardaram epidemias e fome e os indígenas, privados dos meios habituais de proteção que encontravam anteriormente nos aldeamentos, desertaram em grande número. Foi o quanto bastou para que se lançasse nova acusação aos jesuítas, base de uma campanha difamatória divulgada em toda Europa e levada por Almada, embaixador português em Roma até ao trono pontifício de Benedito XIV.
A efêmera vitória de Pombal. — Pombal obleve de Benedito XIV a promulgação de várias medidas favoráveis à sua política contra os beneméritos missionários e soube utilizar-se delas no momento oportuno:
a) divulgação de uma bula de Benedito XIV, que os padres haviam obtido anteriormente em 1741, proibindo o cativeiro indígena, medida altamente impopular em face dos interesses dos colonos;
b) publicação de um alvará régio cassando aos jesuítas todo e qualquer governo temporal;
c) obtenção de um breve pontifício "In Specula Su-premae Dignitatis (1.° de abril de 175S), que nomeava o cardeal Saldanha, patriarca de Lisboa, "reformador e visitador geral apostólico da Companhia de Jesus em Portugal e seus domínios". –
De posse destas medidas e aproveitando como pretexto a falsa cumplicidade dos jesuítas no atentado do marquês de Távora contra D. José I, ordenou Pombal a deportação em massa dos jesuítas do Brasil. Os da capitania do Pará-Maranhão, 150 ao todo, foram embarcados em São Luís. Os do Ceará e Paraíba, em número de 53, embarcaram no Recife. Os do sul foram embarcados no Rio de Janeiro e contavam 145. Empilhados nos porões dos navios, sujeitos, além das epidemias frequentes neste caso, ao suplício da sede, à sub-alimentação, muitos sucumbiram privados até dos sacramentos à hora da morte pelos carcereiros.
Atitude do clero secular. — Alguns bispos se esmeraram na execução das ordens de Pombal, como o impassível bispo Bulhões, passageiro do navio que conduzia os padres de São Luís e que os viu morrer à míngua e o bispo do Rio de Janeiro, D. António do Desterro, que contra eles lançou duas pastorais violentas e injustas muito do agrado de Pombal. Mas é de justiça também não esquecer a figura de D. Diogo Botelho de Matos, bispo da diocese da Bahia, nomeado visitador e reformador de sua diocese e que com corajosa atitude advogou a causa dos inacianos, o que lhe valeu viver na indigência para o resto da vida. Outra nobre figura foi a do bispo de São Paulo, D. António da Madre de Deus, que em face da perseguição chegou a prever acertadamente maus dias para a religião e para o governo se insistissem naquela condenável política.
CONSEQUÊNCIAS DA EXPULSÃO
A expulsão total dos inacianos privou o Brasil de um elemento de ordem e moderação, pacífico e construtor, votado às tarefas da instrução e da catequese, de alto teor de moralidade, insuspeitos na sua devoção religiosa e no. seu afã colonizador. Despovoaram-se aldeias, suprimiram-se colégios, depredaram-se bibliotecas preciosas, faltou portanto a instrução e a segurança, campeou o vício e a corrupção na sociedade colonial sem substitutos à altura da gigantesca tarefa violentamente interrompida.
Aos argumentos fogosos dos partidários apaixonados de tal política, opomos hoje a apreciação insuspeita de autores leigos e religiosos, panegiristas até de Pombal, os quais, estudando objetivamente a questão, só encontraram motivos de condenação à truculenta e infeliz medida quer no aspecto moral, quer nas vantagens das técnicas de colonização.
Eduardo Prado, encarando-a no ponto de vista das vantagens da política ultramarina, considerou-a "um outro Alcácer-Quibir", querendo significar com isso que a medida acarretara dano irreparável à marcha da colonização, suprimindo reservas morais e reduzindo qualitativa e quantitativamente o colono. Southey declara que o intento de Pombal, de emancipar os indígenas, louvável, não resta a menor dúvida, falhou porque "destruindo os jesuítas ele se privou dos únicos agentes por meio dos quais poderia realizá-lo".
Pandiá Calógeras, estudando a ação daqueles missionários em "Os jesuítas e o ensino", apresentou-os como "os grandes caluniados da História".
Escreve ainda Eduardo Prado: "Com a expulsão dos jesuítas do século passado (XVIII) a civilização recuou centenas de léguas dos centros do continente africano e do Brasil".
E o visconde de São Leopoldo afirmou que a expulsão dos jesuítas foi responsável por "um período de terrível ignorância em nossa terra de norte a sul".
Na sua excelente História do Brasil escreveu o erudito mestre Jônatas Serrano com a independência, sabedoria e autoridade .que o caracterizam: "Se em países mais adiantados a falta dos jesuítas foi notória, como não havia de sê-lo no Brasil cuja formação intelectual era obra quase exclusiva dos padres da Companhia? Outra medida insensata e que trouxe lacuna irreparável para os estudos ulteriores que se fizeram sobre as línguas indígenas foi a destruição dos escritos dos jesuítas".
3. Desenvolvimento cultural
NOTÍCIA BIO-BIBLIOGRÁFICA DA LITERATURA COLONIAL
A vida cultural do Brasil Colónia apresentou já certas características diferenciais em confronto com a vida cultural metropolitana. A influência absorvente do novo meio geográfico, a sugestão dos motivos da nova flora e nova fauna encontrada, a contribuição de línguas e culturas indígenas e negras e os resultados dos processos do contacto que sempre mantiveram, nos permitem apontar uma forte tendência abrasileiradora também nos domínios da arte e da literatura na nossa formação nacional, sujeita embora, como no resto, à influência europeia.
AS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES QUINHENTISTAS
Anchieta. — Esta primeira fase é representada principalmente pelos cronistas inacianos do Brasil quinhentista. Nela se sobressai o padre José de Anchieta, considerado por Sílvio Romero como "o mais antigo vulto de nossa História intelectual". O professor Jaques Raimundo, retomando um conceito de Capistrano de Abreu, lhe confere também as honras de "criador da linguística sul-americana" tendo em vista seus preciosos trabalhos sobre o estudo do tupi.
Anchieta escreveu vários autos, deixou-nos copiosa correspondência reunida nas suas Cartas, uma Arte da Gramática da língua mais usada na costa do Brasil. Imortalizou-o quer pela beleza poética, quer pelas circunstâncias dramáticas que o cercam, o seu famoso poema à Virgem — de Beata Virgine dei Matre Maria, escrito por êle nas areias da Praia Grande, refém em Iperoig, quando da Confederação dos Tamoios. Historiador, escreveu ainda: Brasílica Societatis Historia et viva clarorum Patrum qui in Brasília vixerunt e, ainda, um poema heróico dedicado a Mem de Sá (De rebus gestis Mem de Sá praesidis in Brasília). Compunha em latim, espanhol (língua natal), português, tupi e foi sem exagero, no Brasil quinhentista, um agreste representante do Humanismo e do Renascimento europeus.
Fernão Cardim. — O padre Fernão Cardim (Viana, Portugal, 1540 — Abrantes, Bahia, 1625) deixou-nos preciosas informações realizadas com grande argúcia e minúcia sobre a nossa flora e fauna, dados de observação sobre etnologia, etnografia, antropologia física do indígena brasileiro, nos seus trabalhos:
Do princípio e origem dos índios do Brasil, Do clima c Terra do Brasil e a Narrativa epistolar de ama viagem e missão jesuítica às partes do Brasil, também chamada Informação da Missão do Padre Cristóvão de Gouveia às Partes do Brasil. A identificação da autoria de Cardim é obra de Capistrano de Abreu e Rodolfo Garcia e foram reunidas sob o título Tratados da Terra e Gente do Brasil pela Academia Brasileira de Letras e publicada em l.a edição pelo editor J. Leite no tricentenário da morte do autor (1).
Bento Teixeira. — Deve-se ao portuense Bento Teixeira a primeira obra escrita no Brasil sobre terra nacional: Prosopopéia dirigida a Jorge de Albuquerque Coelho, Capitão e governador de Pernambuco, Nova Lusitânia — 1001, in 4.°. Trata-se de um poema em versos decassílabos com 94 estrofes, em louvor do terceiro donatário de Pernambuco, em que o autor procurou sensivelmente imitar o estilo camoniano, sem grande sucesso, é verdade.
Gandavo. — Data de 1576 a publicação em Lisboa, na Tipografia de António Gonçalves, da História da Província de Santa Cruz vulgarmente chamada Brasil, de Pêro de Magalhães Gandavo. Gandavo era bracarense de origem e residiu aiguns anos no Brasil. No ponto de vista cronológico seu trabalho constitui a primeira tentativa de sistematização da História de nossa Terra no Século XVI.,
Gabriel Soares. — Outra obra também deste mesmo século foi o Tratado descritivo do Brasil, do lisboeta
Colégio de Paranaguá — Arcadas do claustro. (Reproduzido da Revista do Serviço do Património Histórico e Artístico Nacional.)
Gabriel Soares de Sousa, que viveu longamente entre nós, falecendo em 1591 no sertão da Bahia.
Já neste século XVI, o primeiro de nossa História, acentuam Sílvio Romero-João Ribeiro, verificava-se a presença de duas tendências gerais em nossas letras que iriam ser uma das características marcantes da nossa literatura da fase romântica: o Naturalismo, descrição pormenorizada da flora e fauna, paisagem, hidrografia e orografia do Brasil; e o Nativismo, apelo frequente dos motivos etnológicos, etnográficos, antropológicos e linguísticos do índio, que transpareceu como preocupação dominante em todos eles.
O teatro jesuítico. — Como elemento auxiliar da catequese, aproveitaram-se os missionários para a produção de autos, comédias, tragédias, principalmente nos aldeamentos, os quais, por disposições superiores, eram preferentemente representados nas casas e colégios. Esta ativi-dade cênica dos missionários desenvolvendo o teatro anteriormente introduzido pelos colonos, prendia-se a um programa didático, de finalidade apostólica e moralizadora. Segundo documentação exibida pelo padre Serafim Leite representaram-se entre outros no Brasil no século XVI: Auto de Santiago (1564); Écloga Pastoril (1574); Tragédia do rico avarento e do Lázaro pobre (1575); Diálogo da Virgem Maria (1584); Auto de São Sebastião (1584); Auto da visitação (1598); Diálogo de Guarajarim (1587).
Século XVII
As lutas pela defesa do território, os esforços pela posse das novas áreas desbravadas e conquistadas no movimento de expansão geográfica, modificaram os quadros da vida brasileira. A consciência da nova força de que nos achávamos possuídos, estimulando o nativismo no ponto de vista social, político e económico, refletiu-se também na vida literária. O século XVII foi, para nossa evolução intelectual, o século da afirmação das primeiras manifestações nativistas no qual autores brasileiros letrados, bacharéis, doutores, licenciados em Coimbra, lidos em Tasso, Lope de Vega, Gabriel de Castro, trouxeram uma contribuição estimável à formação da literatura nacional.
Esta tendência, apenas esboçada na nova literatura colonial que iria ter desenvolvimento mais amplo e mais sólidas características no século XVIII, teve em Frei Vicente do Salvador, nos irmãos Eusébio e Gregório de Matos, Fr. Cristóvão da Madre de Deus, Gonçalo Soares de Franca, os seus vultos mais representativos.
Frei Vicente do Salvador. — Chamado no século Vicente Rodrigues Palha, escreveu uma História da Custódia do Brasil, 1627, inédita até 1888, quando o nosso incansável e benemérito pesquisador Capistrano de Abreu a publicou nos Anais da Biblioteca Nacional. Como lembra muito judiciosamente o próprio editor "sua história pren-de-se mais ao século XVII que ao século XVI".
Nascido no Brasil em 1564, morreu na Bahia entre 1636 e 1639; reagiu em bom estilo contra os desdéns reinóis, exaltando os elementos naturais da terra, dignificando histórica e socialmente os fatôres de nossa formação nacional com inconfundível acento nativista.
Embora criticável no ponto de vista dos documentos, interpretação crítica e na precariedade e carência de fontes que fazem o cronista maior que o historiador, a sua História do Brasil marca o início de uma fase de nossa literatura.
Eusébio de Matos. — Nasceu na Bahia em 1629 e faleceu em 1692. Ingressou na Companhia de Jesus que abandonou em 1680 para entrar para a Ordem de Nossa Senhora do Monte do Carmo. Celebrizou-se como pregador, colocado por vários autores idôneos ao lado de António Vieira e Francisco de Sá, as maiores figuras do púlpito de sua época.
Gregório de Matos. — Irmão do precedente, Gregório de Matos nasceu na Bahia em 1623 e faleceu em Pernambuco em 1696.
Fez sólidos estudos em Coimbra, onde recebeu o grau de doutor em leis. Em Lisboa, para onde se transferiu, adquiriu grande reputação de causídico de largos recursos profissionais e chegou a exercer os cargos de Juiz do Crime e Curador de órfãos. Voltou ao Brasil em 1679. Seu espírito independente o inimizava com poderosos prepotentes e o desprezo com que encarava os vaidosos e falsos granjeou-Ihe através de sua veia satírica o cognome temido de "o boca do inferno". Esta atitude corajosa lhe valeu a perseguição dos inimigos e acabou afinal por ser degredado para Angola. Os acontecimentos contemporâneos de sua cidade, forneceram-lhe elementos preciosos para sua poesia satírica causticante, a qual não poupou governadores, juizes, prelados, oficiais do reino. Não ficou porém apenas na poesia satírica em que foi mestre, aspecto mais popularizado da obra do poeta. Foi também moralista e, em menor escala cie produção, lírico dos mais delicados da língua. Seus trabalhos foram reunidos nas Obras de Gregório de Matos, Rio 1929 tomo I; 1932 tomo II; 1933 tomos III, IV, V e VI.
Século XVIII
A evolução literária brasileira do século XVIII é geralmente apresentada em duas fases características:
l.ª fase (1700-1750) — correspondendo cronologicamente à primeira metade do século e na qual se distinguem principalmente Rocha Pita e AntÔnio José o Judeu.
2.ª fase (1750-1800) — corresponde à segunda metade do século com franco predomínio da chamada Escola Mineira. Dela são representantes credenciados: Santa Rita Durão, Basílio da Gama, e os poetas da Inconfidência: Cláudio Manuel da Costa, Tomás António Gonzaga, Alvarenga Peixoto.
A literatura colonial do século XVIII contemporânea das reações contra o domínio lusitano desenvolveu forte acento nativista retomando e ampliando o movimento esboçado nos séculos anteriores.
Nele verifica-se também como notável sintoma de ati-vidade intelectual a criação de grémios literários conhecidos como academias. Surgiram na Bahia a Academia dos Esquecidos (1723) e mais tarde a dos Renascidos (1759) e no Rio a dos Felizes (1736), dos Seletos (1752) e já nos fins do século a Arcádia Ultramarina (1780?, 1783?).
PRIMEIRA FASE — 1700-1750
Os nomes mais representativos deste período foram: Frei Manuel de Santa Maria Itaparica, nascido em 1704 na Bahia. Distinguiu-se como poeta publicando o poema religioso Eustáquios e Descrição da Ilha de Itaparica, onde introduziu numerosos vocábulos de uso corrente no português do Brasil.
Antônio José da Silva, chamado o Judeu, nasceu no Rio de Janeiro em 1705. Cedo refirou-se para Portugal, onde sofreu os rigores da inquisição, acusado e processado por judaísmo. Celebrizou-se como autor de Guerras do Alecrim e Mangerona, Vida de D. Quixote, Labirinto de Creta, Eso-paida ou Vida de Esopo, Encantos de Medeia, Variedades de Proteu, que o sagram grande teatrólogo.
Sebastião da Rocha Pita nasceu na Bahia em 1660, formou-se em Coimbra, fêz parte da Academia dos Esquecidos. Notabiíizou-se pela sua História da América Portuguesa desde o seu descobrimento até 1723. Esta obra se caracteriza pelos excessos da apreciação literária, pelas divagações líricas falseadoras dos fatos, deformadora da verdade histórica, onde se reconhece falso tom de exaltações patrióticas. Seria preferível considerá-la mais trabalho de cronista do que obra de historiador.
SEGUNDA FASE — 1750-1800 POETAS
Sagrou-se nesta fase a preponderante influência da chamada Escola Mineira, de larga fecundidade produtora. A eles dá Sílvio Romero o merecido lugar de "os mais altos representantes do lirismo e da epopeia no Brasil nos tempos coloniais".
José Basílio da Gama — nasceu em Minas Gerais em 1740. Estudou no Colégio dos Jesuítas do Rio e completou sua educação no seminário cie São José. Viveu os dias torvos da perseguição pombalina aos inacianos. Foi denunciado como jesuíta e sofreu degredo em Angola de onde logrou sair graças aos bons ofícios de uma filha de Pombal cuja proteção obteve. Foi depois um dos validos òo célebre marquês, que o elevou a nobre e o nomeou oficial de secretaria. Sofreu mais tarde os efeitos políticos da viradeira. Faleceu em Lisboa em 1785, depois de ter residido longamente no Brasil.
Celebrizou-se Basílio da Gama pelo Quitabia, Declamação Trágica e o famoso poemeto Uraguai.
O Uraguai relata um episódio das lutas meridionais surgidas em consequência da aplicação do tratado de 1750. Introduziu o índio na literatura dando-lhe posições da mesma plana que os colonizadores europeus. Está todo impregnado do "lirismo brasileiro" de que nos fala Sílvio Romero.
Santa Rita Durão — José de Santa Rita Durão nasceu em Cata-Preta, arraial de Mariana, Minas Gerais, em 1737 e faleceu em Lisboa em 1784. Estudou humanidades no colégio dos Jesuítas do Rio de Janeiro, transferindo-se depois para Lisboa onde se doutorou em teologia em 1756 e cuja cátedra regeu na Universidade de Coimbra.
Celebrizou-se com o seu poema Caramuru, aparecido em 1781 e no qual apresenta todos os elementos humanos da formação do Brasil — o português, o índio e o negro, e estuda as peripécias da colonização de nossos três primeiros séculos de vida Nele reivindica a posição do que intitula "o povo do Brasil convulso" e nele se sente, como assevera Sílvio Romero, "O poema mais brasileiro que possuímos".
Basílio da Gama e Santa Rita Durão foram épicos; os demais poetas da. Escola Mineira foram líricos de delicado sentimento.
Cláudio Manuel da Costa — nasceu em 1729 na Vargem de ítacolomi, Mariana, Capitania de Minas Gerais. Estudou no Colégio dos Jesuítas do Rio e em 1753 graduou-se em direito canônico pela Universidade de Coimbra. Aqui chegou no ano seguinte e exerceu vários cargos oficiais, tais como o de Secretário do Governo e Juiz do Termo de Vila Rica. Escreveu Vila Rica, poema épico e ainda: Minúsculo Métrico, Labirinto do Amor, Números Harmónicos. Foi ainda autor do poemeto satírico Cartas Chilenas.
Inácio José de Alvarenga Peixoto — nasceu no Rio de Janeiro em 1744. Como Cláudio, estudou humanidades no Colégio dos Jesuítas do Rio e diplomou-se em leis pela Universidade de Coimbra em 1769. Escreveu Eneias no Lúcio e traduziu Meréia, de Maffei. Foi juiz da comarca do Rio das Mortes (Minas) e casou-se em 1788 com D. Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira, um dos tipos mais representativos da alma feminina brasileira, notável pela inteligência, bravura e patriotismo com que se conduziu nas lutas pela liberdade nos episódios da Conjuração Mineira. Deve-se a êle a lembrança da divisa proposta para figurar na bandeira dos inconfidentes — "Aut libertas aut nihil". Faleceu em 1793 em Ambaca, na África, para onde fôra degregado depois da sentença.
Tomás António Gonzaga — nascido em Portugal de pai brasileiro e mãe lusa em 1744, sagrou-se grande mestre do lirismo entre nós. Passou a primeira infância na Bahia e em 1763 bacharelou-se em direito pela Universidade de Coimbra. A Inconfidência surpreendeu-o como Ouvidor e Provedor de Vila Rica, Minas Gerais, e preparava-se para tomar posse do cargo de desembargador da Relação da Bahia. Celebrizou-se pelo famoso poema lírico Marília de Dirceu, do qual foi musa inspiradora a bela Maria Joaquina Doroteia de Seixas; a Marília âo poema.
De grande delicadeza e inspiração poética, Marília de Dirceu sagrou-se a mais perfeita obra do lirismo amoroso da língua portuguesa. Nele Agripino Grieco, o famoso crítico, exalta o criador do primeiro par imortal de namorados da nossa literatura.
Foi arrastado na Inconfidência e morreu no degredo, na África, em 1807.
Poesia satírica. — Há neste género no século XVIII, pertencente ainda à Escola Mineira, uma sátira em versos, verdadeira sequência de epigramas às Cartas Chilenas. Nelas seu autor, simulando a correspondência entre Critilo e Doroteu, supostos chilenos, desanca os ridículos, a estreiteza, a corrupção dos processos administrativos, as asnices cotidianas âo Fanfarrão Minésio, nome com o qual ocultava figura do governador D. Luís da Cunha Menezes. Durante muito tempo ficou incógnito seu autor. O resultado das demoradas pesquisas de Varnhagen e João Ribeiro, confirmado depois pelas conclusões do Sr. Caio de Melo Franco, dão a autoria a Cláudio Manuel da Costa.
PROSADORES
Embora menos intensa e incomparavelmente mais pobre, a prosa brasileira do século XVIII trouxe apreciável colaboração ao desenvolvimento literário colonial: para êle concorreram cronistas, historiadores, linhagistas, moralistas.
Frei António de Santa Maria Jaboatão — nasceu em Recife em 1695 e 21 anos mais tarde professou no Convento de Santo António de Paraguaçu, Bahia. Escreveu: Novo Orbe Seráfico ou Crónica dos frades menores da Província do Brasil, obra histórica geralmente elogiada pelo estilo simples e gracioso.
Pedro Taques de Almeida Pais Leme — nasceu em São Paulo em data ignorada, no início do século XVIII, e faleceu em 1777. Foi o nosso primeiro linhagista. Escreveu a famosa Nobiliarquia Paulistana ou Genealogia das principais famílias de São Paulo e a História da Capitania de São Vicente desde sua fundação em 1531. Consultou para isto documentos inéditos, fidedignos e se comportou como verdadeiro precursor de métodos científicos de pesquisa e crítica histórica. Seus trabalhos constituem até hoje as melhores fontes de documentação sobre estes assuntos.
Frei Gaspar da Madre de Deus — Frade beneditino nascido em São Paulo. Foi contemporâneo de Taques e morreu em 1800. Escreveu Memórias para a história da Capitania de São Vicente hoje chamada de São Paulo do Estado do Brasil e Notícia dos anos em que se descobriu o Brasil e das entradas das religiões e das suas funções. Trabalhou em bom estilo e figura como indispensável à bibliografia dos genealogistas, sendo considerado, no entanto, inferior a Taques.
Matias Aires Ramos da Silva e Eça — Matias Aires, como era mais conhecido, foi o grande moralista do século entre nós. Nasceu de pais portugueses em São Paulo em 1705 e graduou-se em Artes, em Coimbra. Notabilizou-se pelo pensamento filosófico, pela cultura humanística. Era dotado de aguda observação e qualidades de estilo que lhe conferiram lugar destacado em nossas letras. Solidônio Leite estudou-o carinhosamente e colocou-o entre os seus Clássicos esquecidos. Escreveu Reflexões sabre a vaidade dos homens ou Discursos morais sabre os efeitos da vaidade.
Artes plásticas na Colônia
Não obstante as deficiências do meio colonial as artes plásticas do Brasil lograram razoável desenvolvimento a partir do século XVII. Predominou a princípio a arte religiosa. São notáveis as obras de arquitetura, escultura e pintura ligadas ao culto católico, como atestam os numerosos e ricos templos baianos, cariocas, paulistas e mineiros. Com a chegada da missão artística de 1816 fazem-se sentir os bons frutos da escola francesa, em substituição à influência do ensino lusitano.
PINTURA AS ESCOLAS E SEUS REPRESENTANTES
Estudando a evolução da arte colonial brasileira o prof. Menezes de Oliva, do Museu Histórico Nacional, acentua a presença, entre nós, de dois focos principais de irradiação:
a) A Escola Baiana, fruto imediato do ensino pictórico lusitano, com sede na cidade do Salvador.
b) A Escola Fluminense sujeita, também, à influencia dos mestres portugueses, de evolução paralela à Escola Baiana e que teve por centro a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Embora de técnica, inspiração e estilo portugueses, não há como negar em ambas as escolas um inconfundível pendor regionalista que os agrupa, mestres e discípulos, num mesmo grau de afinidade produtora.
A PINTURA BAIANA NOS SÉCULOS XVII E XVIII
A prioridade cronológica da escola baiana foi reivindicada por Manuel Quirino para Eusébio de Matos. Sua obra como pintor é, no entanto, desconhecida. O primeiro grande nome da pintura baiana é o de José Joaquim da Rocha, de ampla atividade produtora. Entre as suas obras registram-se: a pintura da cúpula das Igrejas da Conceição da Praia, São Pedro Velho, Rosário da Baixa dos Sapateiros, Ordem Terceira de São Domingos e da Igreja de Santo Amaro.
Foi, o mestre baiano, criador de uma escola que produziu discípulos credenciados continuadores de sua arte. Foram eles: Veríssimo de Sousa Freitas, o de menos pro-jeção do grupo; M. G. de Sousa Coutinho, dedicado principalmente à cenografia teatral; José Teófilo de Jesus, autor de 15 quadros da "Via Sacra", que se encontram em Macorim. São ainda de sua autoria os quadros: "Batis-mo", existente na Matriz do Socorro; "Assunção da Virgem" "São Cristóvão" e o teto da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, em igrejas sergipanas. Deixou na Bahia numerosíssimas obras. Lá pintou o teto das Igrejas da Ordem Terceira do Carmo, Perdões, Órfãos de São Joaquim, Matriz de Itaparica, Nazaré e São Bento. São notáveis nesta última os trabalhos por êle deixados representando uma figura de "Mercúrio" e os "Quatro Evangelistas". Foi ainda autor do 2.° pano-de-bôca do Teatro de São João.
Outro discípulo de José Joaquim da Rocha foi António Francisco Velasco, autor do 1.° projeto da bandeira brasileira e que chegou a ser nomeado professor de desenho por D. João VI.
A PINTURA FLUMINENSE NOS SÉCULOS XVII E XVIII E INÍCIO DO SÉCULO XIX
A transferência da capital brasileira em 1763, por ato do marquês de Pombal, arrastou consigo da Bahia para o Rio de Janeiro o centro intelectual do país. Criou-se assim no Rio um foco de produção onde se congregaram pintores, decoradores, escultores, dedicados principalmente à pintura religiosa, figurando em segundo plano paisagens e retratos. Houve, por assim dizer, certa insensibilidade pelos motivos da natureza e a inspiração não foi além de medíocres exigências dos quadros de pintura devota.
A Escola do Rio, sujeita também à influência do ensino português, foi representada por frei Ricardo do Pilar, seu precursor, José da Silveira, Joaquim Leandro, Raimundo da Costa e Silva, frei Francisco Solano, Manuel da Cunha, Manuel Dias de Oliveira Brasiliense, o Romano, José Leandro de Carvalho e Francisco Pedro do Amaral.
Frei Ricardo do Pilar. — Cabe a frei Ricardo do Pilar, holandês de nascimento que aqui recebeu ordens sacras em 1695, as honras de precursor da pintura a óleo no Rio. Seu melhor trabalho é o "Salvador", figura de um Cristo envolto na túnica, levantando as mãos aos céus. Criticável pela falta de vigor do desenho o quadro apresenta uma excelente cabeça, impressionantemente marcada pelos passos da paixão.
José de Oliveira. — Escasseiam os dados sobre o pintor provavelmente carioca e de formação intelectual portuguesa. Foi o decorador do salão principal do antigo Palácio dos Vice-reis, da sala d’armas da Fortaleza ,da Conceição, o pintor do teto e dos retábulos da Igreja de São Francisco da Penitência, notável pela perspectiva e arte decorativa, como depõem Araújo Porto Alegre e Gonzaga Duque. Foram discípulos seus João de Sousa e João Florência Muggio.
Manuel da Cunha (1737-1809). — Seguindo uma mesma linha de escola, devemos filiar Manuel da Cunha e José Leandro a João de Sousa. Manuel da Cunha era escravo mestiço da família de Januário da Cunha Barbosa e alforriado pela família Dias da Cruz que o enviou, a Lisboa, de onde regressou em 1717. Seu aprendizado no entanto foi feito no Rio, ao lado de João de Sousa, seu mestre. Pintou um retrato do conde de Bobadela; o "Descimento da Cruz", no teto da capela do Senhor dos Passos da Igreja do Carmo; a Galeria dos Benfeitores da Santa Casa da Misericórdia; a "Paixão de Cristo", a "Senhora da Vitória" e a "Vida de São Sebastião" na Igreja de São Francisco de Paula; os "Milagres do Patriarca São Francisco", na cape)a do noviciado dos Terceiros de São Francisco de Paula.
Leandro Joaquim (1738-1798). — E’ o outro discípulo de Sousa. Notabilizou-se como pintor e arquiteto. São de sua autoria os ovais comemorativos do "Incêndio" e "Reconstrução do Recolhimento do Parto". Ali figura ainda, do mesmo autor, uma "Santa Cecília". Para a Igreja do Hospício pintou também uma "Nossa Senhora da Boa Morte".
Frei Francisco Solano Benjamim. — Dedicou-se frei Solano ao desenho técnico reproduzindo exemplares da nossa natureza para a "Flora Fluminense" do naturalista frei Veloso. Frei Solano enriqueceu também a pintura de devoção com uma "Santa Ismênia", um "Senhor da Paciência" e "São Carlos oferecendo seu poema à Virgem da Assunção". Celebrizou-o a decoração da sacristia do mosteiro de São Bento.
Manuel Dias de Oliveira Brasiliense, o Romano. — Manuel Dias de Oliveira Brasiliense nasceu provavelmente em Macabu, Estado do Rio de janeiro, onde passou sua infância. Transferiu-se para o Rio, a fim de aprender a ourivesaria do famoso Mestre Valentim. A alcunha de "Romano" com que passou à história vem de sua longa permanência em Roma, aonde fora aprender pintura depois de ter percorrido Portugal e Espanha, graças ao apoio de um seu protetor. Em Roma uniu-se ao célebre retratista Pompeu Patoni, em cuja companhia pôde desvendar as belezas da influencia clássica e com o qual adquiriu técnica invulgar. Festejado e respeitado, Romano sagrou-se entre nós como o maior representante da pintura colonial. A chegada da missão artística francesa de 1816 relegou-o para segundo plano, o que concorreu para amargurar seus últimos anos de vida. Pintou "Santa Ana", "Conceição", da Pinacoteca Nacional e uma cabeça de "São Paulo" em marfim. Criou em seu próprio "atelier" uma aula de modelo vivo muito bem frequentada. Morreu em Campos, em 1837.
José Leandro (1750-1831). — Seus biógrafos não. fixam ainda qual a cidade do Estado do Rio em que nasceu: Magé ou Itaboraí. Todo seu aprendizado foi feito no Rio de. Janeiro e é considerado produto exclusivo da Escola Fluminense. Uniu-se a Leandro Joaquim, a Raimundo da. Costa.c Silva e frequentou as aulas de modelo vivo de Romano. Celebrizou-se principalmente como retratista, arte em que demonstrou rara aptidão. São de sua autoria: "Ascensão"; Painel da Igreja do Bom Jesus; o teto da varanda que serviu para a aclamação de D. João VI; os "Apóstolos da Capela Imperial". Ali compôs também num grande painel (7m X 3,5m) os príncipes Pedro e Miguel pela mão do Anjo da Guarda, os reis ajoelhados e num trono de nuvens a Senhora do Monte Carmelo abençoando-os. No dia 7 de abril, demagogos e populares, levados pelo ódio, obrigam o próprio artista a enegrecer o quadro com espessa camada de cola. Felizmente o quadro foi restaurado em 1850 graças aos esforços e a habilidade de José Caetano Ribeiro. Deixou um filho homónimo, também pintor notável como paisagista.
Francisco Pedro do Amaral, — Pertenceu também à escola de José Leandro. Foi o decorador do solar da marquesa de Santos, na Av. Pedro II, do paço Imperial de São Cristóvão e do Paço da Cidade. Decorou também os coches imperiais. Dedicou-se especialmente ao retrato e à paisagem.
A MISSÃO LEBRETON
(Missão artística francesa de 1816)
A missão artística francesa que chegou ao Brasil em 1816, contratada por D. João VI a instâncias do conde da Barca, mais difundiu o estudo académico entre nós.
Dela faziam parte Joachin Lebreton, seu chefe, os irmãos Nicolas Antoine Taunay e Auguste Maria Taunay, Jean Baptiste Debret e Henri Victor Grandjean de Montigny, e tinha por auxiliares diretos Dillòn Beaurepos, Levasseur, Meunier, Ovide Evout, Levei, Preile, Fabre, Roy.
Do grupo tiveram influência decisiva na evolução da arte brasileira Lebreton, Taunay, Debret e Grandjean’ de Montigny. Criam escolas e deixam discípulos credenciados, preparando a geração artística do Império que se prolongou até a República. Debret teve continuadores no visconde de Porto Alegre, Sousa Lobo, Reis Carvalho, Barros Cabral, Augusto Muller, o mestre de Vítor Meireles, Maximiliano Mafra. A escultura de Ferrez encontrou herdeiros em Chaves Pinheiro e Rodolfo Bernardelli.
Arquitetura e escultura coloniais
ARQUITETURA
As primeiras realizações cia arquitetura pelos colonos no Brasil foram a construção do altar para a 2." missa, a "casa forte de taipa de pilão" construída por Caramuru em Vila Velha (pelas alturas de 1510), a Torre de Olinda mandada construir cm 1535 por Duarte Coelho. A partir dos meados do século XVI, é que começam a surgir as primeiras- construções civis, religiosas e militares dignas de nota, segundo a técnica de execução e inspiração artística europeia. Predominou o estilo barroco jesuítico, caracterizado pela mistura de elementos decorativos gregos, manuelinos, renascentistas. A fachada dos templos apresenta-se de extrema simplicidade, paupérrima de elementos ornamentais em contraste com o capricho e a abundância decorativa do interior.
Registram-se no século XVI, entre as obras de maior vulto, a construção dos colégios de São Paulo de 1554, Rio de Janeiro em 1570, Salvador em 1572, Olinda em 1570. No século seguinte enriqueceu-se nossa arquitetura com a construção do Colégio e Igreja de Santo Alexandre e os mosteiros de Santo António, Carmo e Mercês no Pará.
No século XVIII dois grandes nomes ocupam o cenário artístico colonial. São eles os mineiros António Francisco Lisboa, mais conhecido como o "Aleijadinho", escultor e arquiteto (1730-1814) e Valentim da Fonseca e Silva (1750-1813), o "Mestre Valentim", escultor e arquiteto que viveu e produziu no Rio de Janeiro.
O Aleijadinho. — António Francisco Lisboa, filho de mãe escrava e pai luso, representa, realmente, um nobre esforço pessoal autodidata aperfeiçoando a arte que conheceu do pai arquiteto e dos artistas fluminenses. Foi gerado no período áureo da história de Minas em que "ambiente de luxo e fervor católico permitiam o florescimento de uma arte mais intensa", como escreveu Argeu Guimarães.
ARQUITETURA COLONIAL
Casa-forte destinada a defesa do ouro real. S. João d’El Rei, Minas.
(Aquarela de A. Norfini — coleção do Museu Histórico. Reproduzido da "História Social do Brasil1‘ de Pedro Calmon.)
Casa burguesa. (Mesma procedência da gravura anterior.)
ARQUITETURA COLONIAL
Obras do Aleijadinho. 1) Igreja de São Francisco de Assis, São João dei Rei. 2) Cristo, parte do Passo da Coroação. 3) O. profeta Joel. Ao fundo a portada da Igreja do Senhor Bom
Jesus de Matosinhos, de Congonhas do Campo. 4) O profeta Jonas.
(Reprodução do trabalho de R. A. Frendenfeld: "Mestre António Francisco — o
Aleijadinho", Edições Culturais, São Paulo.)
ARQUITETURA COLONIAL
Residência senhorial do período emboaba. (Mesma procedência da gravura anterior.)
Paço Municipal de São Paulo em 1628. (Quadro de J. Wasth Rodrigues existente na coleção do Museu Paulista.)
Catedral da Bahia. Arcaz da sacristia, com incrustações de casco de tartaruga feitas por artistas brasileiros no século XVII. (Reproduzido da Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.)
Jacarés do chafariz do Passeio Pública (Rio de Janeiro) — Mestre Valentim. (Reproduzido da Revista do Serviço do Património Histórico e Artístico Nacional.)
ÉMU
Teve mocidade tumultuosa e despreocupada. A alcunha lhe veio das mãos, mutiladas em virtude de cruel enfermidade. Trabalhou e produziu intensamente, sagrando-se grande escultor e arquiteto, como se poderá ainda admirar em Ouro Preto, São João d’El Rei, Mariana, Congonhas, Santa Luzia e Sabará.
Pormenor da Imagem de S. João. (Reproduzido da Revista do Serviço do Património Histórico e Artístico Nacional.)
Entre suas obras mais famosas citam-se: Os Profetas do Adro Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas; a construção das Igrejas de São Francisco de Assis em Ouro Preto e São João d’El Rei; e em Sabará o altar da Prefeitura e a Igreja da Ordem Terceira do Carmo.
Mestre Valentim (1750-1812). — Valentim da Fonseca e Silva foi o maior dos arquitetos e escultores do Brasil Colonial. Mestiço como oAleijadinho, filho de pai português, "fidalgote contratador de diamantes e de mãe escrava nascida no Brasil’", transferiu-se ainda pequeno para o Rio. Viveu algum tempo em Lisboa onde lhe faleceu o pai. Voltou para o Rio onde fêz todo aprendizado, entre os artistas da Escola Fluminense.
Altar-mor da Capela do Noviciado (pormenor) — Mestre Valentim. (Reproduzido da Revista do Serviço do Património Histórico e Artístico Nacional.)
Mestre Valentim foi o executor dos planos e projetos do vice-rei D. Luís de Vasconcelos que então embelezava o Rio de Janeiro. Pode fazê-lo com a boa prata da casa. Celebrizou-se, Mestre Valentim, com os jacarés do Passeio Público, as estátuas em ferro fundido de Diana e Niobe, Apolo e Mercúrio, o Chafariz do antigo Largo do Paço, hoje Praça 15 de Novembro. Reconstruiu o Recolhimento do Parto. São de sua autoria a capeia do Noviciado da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, no Rio, desíacando-se na ca-pela-mor a excelente obra de talha executada pelo artista;. a portada nobre e o medalhão da mesma igreja; o altar-mor e a capela de Nossa Senhora das Vitórias ou capela do Noviciado da Igreja de São Francisco de Paula no Rio; concepção, projeto e desenho dos lampadários de prata da Igreja do Mosteiro de São Bento. Atribuem-se ainda a Mestre Valentim ornatos da Igreja da Candelária e obra de talha, as imagens em madeira dos evangelistas São Marcos, São João e os lampadários da Igreja de Santa Rita.
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