Dos costumes dos séculos XV e XVI e da situação das belas-artes – VOLTAIRE

 

VOLTAIRE – DO ENSAIO SOBRE OS COSTUMES E O ESPÍRITO DAS NAÇÕES

CAPÍTULO CXXI

Dos costumes dos séculos XV e XVI e da situação das belas-artes

Vê-se que na Europa quase não havia soberanos absolutos. Os imperadores, antes de Carlos V, não ousavam aspirar ao despotismo. Os papas exerciam maior autoridade em Roma do que antes, mas bem menor sobre a Igreja. As coroas da Hungria e da Boémia continuavam a ser electivas, bem como todas as do Norte; e a eleição supõe, necessariamente, um acordo entre o rei e a nação. Os reis da Inglaterra não podiam nem fazer leis, nem delas abusar, sem o concurso do Parlamento. Isabel de Castela havia respeitado os privilégios das Cortes, que constituíam os Estados do Reino. Fernando, o Católico não tinha podido destruir a autoridade do justiceiro, que se acreditava com o direito de julgar os reis. Só a França, desde Luís XI, se tornara um Estado puramente monárquico, governo feliz quando um rei, tal como Luís XII, repara, pelo seu amor ao povo, todas as faltas que comete para com os estrangeiros, mas o pior dos governos, com um rei pusilânime ou mau.

O estado político geral da Europa se tinha aperfeiçoado quanto ao facto de as guerras particulares dos senhores feudais não serem mais permitidas em parte alguma pelas leis; subsistiu, porém, o uso do duelo.

Os decretos dos papas, sempre sábios e úteis à Cristandade no que concernia aos interesses pessoais dos pontífices, anatematizavam esses combates individuais; mas vários bispos permitiam-nos. Os parlamentos da França chegaram, algumas vezes, a ordená-los, como indica o de Legris e Carrouge, sob Carlos VI. Houve inúmeros duelos depois disso, de carácter bastante legal. Esse abuso encontrava também apoio na Alemanha, Itália e Espanha, revestindo-se de formalidades consideradas essenciais. Não se deixava, sobretudo, de confessar e comungar, antes de preparar-se para morrer. O bom cavaleiro Bayard mandava sempre celebrar missa, quando ia bater-se em duelo. Os duelistas escolhiam, cada qual, um padrinho, que se encarregava de lhes dar armas iguais e, principalmente, de ver se eles não traziam oculto algum amuleto, pois ninguém era mais crédulo do que um cavaleiro.

Viam-se, por vezes, cavaleiros deixarem seu país para ir arranjar um duelo em terra estranha, sem outro motivo que não o desejo de se fazerem notar. Viu-se o duque João de Bourbon declarar "que ia à Inglaterra, com dezesseis cavaleiros, pelejar de qualquer maneira, para evitar a ociosidade e merecer a graça da beldade de quem se considerava servo".

Os torneios, embora ainda condenados pelos papas, estavam em uso por toda parte. Chamavam-nos ludi Gallici, porque Geoffroi de Preuilli lhes tinha traçado os regulamentos, no século XI. Mais de cem cavaleiros morriam nesses jogos, e eles continuavam sempre em voga. É o que está indicado, em detalhes, no capítulo dos "Torneios".

A arte da guerra, a disposição dos exércitos e as armas ofensivas e defensivas eram inteiramente diversas das de hoje. O imperador Maximiliano havia introduzido o uso das armas da falange macedónia: lanças de dezoito pés. Os Suíços delas se serviram nas guerras do Milanês, mas acabaram trocando-as pelo espadão a duas mãos. Os arcabuzes tinham-se tornado uma arma ofensiva indispensável contra as armaduras de aço com que cada soldado se cobria. Quase não havia capacete e couraça à prova desses arcabuzes. A soldadesca, a que se denominava "a batalha", combatia tanto a pé como a cavalo; a da França, no século XV, era a mais admirada. A infantaria alemã e a espanhola eram consideradas as melhores. O grito de armas fora abolido quase em toda parte. Há modas na guerra, como nos trajes.

Quanto ao governo dos Estados, vejo cardeais à frente – quase todos os reinos. É na Espanha um Ximenes1S, no reinado de Isabel, tornando-se regente depois da morte da rainha e sempre com hábito de frade, com seu fausto a calcar sob as sandálias o fausto espanhol; preparando um exército por conta própria e conduzindo-o à África, assenho-reando-se de Oran; enfim, mantendo-se absoluto até que o jovem Carlos V o recambia para o arcebispado de Toledo, fazendo-o morrer de desgosto.

Vê-se Luís XII governado pelo cardeal de Amboise; Francisco I escolhendo para ministro o cardeal Duprat; Henrique VIII submetido durante vinte anos ao cardeal Wolsey, filho de um magarefe 10, homem tão faustoso quanto Amboise e que, como este, pretendeu ser papa e não foi feliz nesse propósito; Carlos V, da Espanha, nomeando ministro seu preceptor, o cardeal Adriano, a quem depois elevou ao pontificado 20; o cardeal Granvelle 21 governando a Flandres, e o cardeal Martinusius 22 assenhoreando-se do trono da Hungria, no reinado de Ferdinando, irmão de Carlos V.

Se tantos eclesiásticos regeram Estados de estrutura militar, não era somente porque os reis se fiassem mais facilmente num prelado, que não receavam, do que num general que temiam; era ainda porque os homens da Igreja, sempre mais instruídos, mostravam-se mais aptos para os negócios públicos do que os generais e os cortesãos.

 

Foi nesse século que os cardeais, súbditos dos reis, começaram a ganhar terreno sobre os chanceleres. Eles o disputavam aos eleitores e o cediam — na França e na Inglaterra — aos chanceleres desses reinos, o que era ainda uma das contradições que os hábitos de orgulho tinham introduzido na república cristã. Os anais do Parlamento da Inglaterra mostram que o chanceler Warham teve ascendência sobre o cardeal Wolsey até o ano de 1516. O termo majestade começava a ser atribuído aos reis. Suas prerrogativas eram reguladas em Roma. O Imperador tinha, indiscutivelmente, as primeiras honras, vindo depois dele o rei da França, sem nenhuma concorrência; Castela, Aragão, Portugal e a Sicília alternavam com a Inglaterra. Em seguida vinham a Escócia, a Hungria, a Navarra, Chipre, a Boémia e a Polónia. A Dinamarca e a Suécia estavam em último lugar. Tais prerrogativas causaram depois violentos atritos. Quase todos os reis quiseram ser iguais uns aos outros, mas nenhum jamais contestou a primeira categoria dos imperadores; estes a conservaram, mesmo depois da perda do poder.

Todos os hábitos da vida civil diferiam dos nossos. O gibão e o pequeno manto tinham-se tornado o traje em todas as cortes. Os senhores togados exibiam por toda parte a toga longa e estreita, os comerciantes uma pequena túnica que ia até a metade das pernas.

Não havia, no reinado de Francisco I, senão dois coches em Paris: um para a rainha, o outro para Diana de Poitiers; homens e mulheres andavam a cavalo. As fortunas particulares tinham de tal maneira aumentado, que Henrique VIII, rei da Inglaterra, prometeu, em 1519, um dote de trezentos e trinta e três mil escudos de ouro à sua filha Maria, que devia desposar o primogénito de Francisco I; não houvera ainda dote tão grande.

A entrevista que mantiveram Francisco I e Henrique VIII foi, durante muito tempo, celebrada pela sua magnificência. O local onde se realizou ficou sendo chamado "o campo das ameixeiras". Mas esse aparato passageiro e esse esforço de luxo não pressupunham a magnificência geral e as comodidades tão superiores à pompa de um dia e hoje tão comuns. A indústria não havia ainda transformado em palácios sumptuosos as cabanas de madeira e de reboco que formavam as ruas de Paris. Londres era ainda mais precariamente construída, e a vida ali mais dura. Os senhores de alta linhagem levavam suas mulheres a passeio no campo, na garupa do cavalo; assim viajavam todas as princesas, cobertas, nas estações chuvosas, com uma capa de tela encerada; não se ia de outra maneira ao palácio dos reis. Tal uso prevaleceu até meados do século XVII. O aparato de Carlos V, de Francisco I, de Henrique VIII, de Leão X era somente para os dias de festa e de solenidade; hoje, as cenas quotidianas, a infinidade de carros dourados, os milhares de fanais que iluminam durante a noite as grandes cidades formam o mais belo espectáculo e indicam mais opulência do que as mais brilhantes cerimónias dos monarcas do século XVI.

Começou-se, desde o tempo de Luís XII, a substituir as preciosas pelicas pelos tecidos de ouro e prata fabricados na Itália, cuja manufactura ainda não existia em Lião. A ourivesaria era grosseira. Luís XII tendo-a proibido no seu reino por uma lei sumptuária indiscreta, os Franceses mandaram vir pratarias de Veneza. Os ourives da França viram-se lançados à miséria, e Luís XII revogou prudentemente a lei.

Francisco I, tornando-se económico no fim da vida, proibiu os tecidos de ouro e de seda. Henrique III renovou a proibição; mas se as leis fossem observadas, as manufacturas de Lião estariam arruinadas. O que determinava tais leis era o facto de a seda vir do estrangeiro. No reinado de Henrique II, os trajes de seda só eram permitidos aos bispos. Os príncipes e as princesas tiveram depois a prerrogativa de usar vestes encarnadas, de seda ou de lã (1563). Enfim, somente os príncipes e os bispos gozavam do direito de usar sapatos de seda.

Todas essas leis sumptuárias servem apenas para provar que os governos não possuíam ainda largueza de visão, e que parecia mais interessante aos ministros proscrever a indústria do que encorajá-la.

As amoreiras só eram cultivadas na Itália e na Espanha; os fios de ouro eram fabricados somente em Veneza e Milão. Entretanto, as modas francesas já eram adoptadas na Alemanha, Inglaterra e Lombardia. Os historiadores italianos lamentam que, depois da passagem de Carlos VIII, todo mundo começasse a vestir-se à francesa e a mandar vir da França os enfeites.

O papa Júlio II foi o primeiro a deixar crescer a barba, a fim de inspirar, por essa singularidade, novo respeito aos povos. Francisco I, Carlos V e todos os outros reis seguiram o exemplo, adoptado prontamente pelos cortesãos. Mas os magistrados, sempre apegados aos antigos hábitos, quaisquer que eles fossem, continuavam a raspar o rosto, enquanto os jovens guerreiros procuravam aparentar um ar de gravidade e de velhice. É uma pequena observação, mas que deve figurar na história dos costumes.

O que se torna bem mais digno da atenção da posteridade e que deve ser considerado acima de todos os costumes implantados pelo capricho, de todas as leis abolidas pelo tempo, das querelas dos reis — que passam com eles — é a glória das artes, que não passará jamais. Essa glória foi, durante todo o século XVI, património da Itália e somente dela. Nada nos dá melhor ideia da Grécia antiga; pois se as artes floresceram na Grécia, em meio às guerras internas e externas, tiveram na Itália a mesma sorte; e quase tudo ali foi levado à perfeição, enquanto os exércitos de Carlos V saqueavam Roma, Barbarroxa devastava o litoral e as dissensões dos príncipes e das repúblicas perturbavam a vida do país.

A Itália teve em Guichardin 23 seu Tucídides, ou antes, seu Xenofonte, já que comandou, por vezes, nas guerras que descreveu. Na verdade, não houve, em nenhuma província da Itália, oradores como Demóstenes, Péricles ou Ésquines: o governo não comportava, quase em nenhum lugar, este género de mérito. Mas o teatro, embora inferior ao que se tornou depois a cena francesa, poderia ser comparado à cena grega, que ele fazia reviver; há verdade, naturalidade e boa comicidade nas comédias de Ariosto, e somente a Mandrá-gora de Maquiavel vale, talvez, por todas as peças de Aristó-fanes. Maquiavel era, aliás, excelente historiador, com o qual um espírito artístico como Aristófanes não é susceptível de comparação. O cardeal Bibbiena 24 tinha feito reviver a comédia grega; e Trissino 25, arcebispo de Benevento, a tragédia, desde o começo do século XVI. Ruccelai 26 seguiu de perto o arcebispo Trissino. Traduziram-se em Veneza as melhores peças de Plauto, e traduziram-nas em verso, como deve ser, pois em verso Plauto as escreveu. Essas peças foram representadas com êxito nos teatros de Veneza e nos conventos onde se cultivavam as letras.

Imitando os trágicos gregos e os cómicos latinos, os Italianos não os igualaram; mas fizeram da pastoral um género novo, no qual não tiveram guia e ninguém os superou. O Aminta de Tasso e o Pastor Fido de Guarini continuam a ser o encanto de quantos entendem o italiano.

Quase todas as nações civilizadas da Europa sentiram, então, a necessidade da arte teatral, que congrega os cidadãos, modera os costumes e moraliza pelo prazer. Os Espanhóis aproximaram-se um pouco dos Italianos, sem contudo terem podido realizar uma obra regular no género. Houve um teatro na Inglaterra, mas ainda um tanto bárbaro. Foi Shakespeare quem lhe deu reputação, no fim do século XVI. Seu génio irrompeu em meio à barbaria, como Lope da Vega na Espanha. É lamentável que haja ainda mais barbaria do que génio na obra de Shakespeare. Por que cenas inteiras do Pastor Fido são hoje sabidas de cor em Estocolmo e Petersburgo? E por que nenhuma peça de Shakespeare conseguiu atravessar o mar? 27. É porque o bom é acolhido por todas as nações. Um povo que possuir tragédias, quadros e música unicamente para o seu paladar, depreciada por todos os outros povos adiantados, não poderá jamais ufanar-se de possuir bom gosto.

Os Italianos lograram êxito sobretudo nos poemas longos, género tanto mais difícil quanto a uniformidade da rima e das estrofes de que se serviam parecia querer abafar o talento. Se pusermos, sem preconceito, numa balança a Odisseia de Homero e o Orlando de Ariosto, o italiano leva vantagem sob todos os aspectos, pois, embora possuam ambos o mesmo defeito — a intemperança de imaginação e o romanesco incrível — Ariosto soube remir-se deles com alegorias tão verdadeiras, sátiras tão subtis, um conhecimento tão profundo do coração humano e facécias a suceder constantemente os lances dramáticos, enfim, com tantas e tão variadas belezas, que descobriu o segredo de fazer um monstro admirável.

Com relação à Ilíada, pergunte o leitor a si mesmo o que pensaria se lesse pela primeira vez esse poema e o de Tasso, ignorando o nome dos autores e a época em que as obras foram compostas, não tomando, enfim, por critério de julgamento senão seu próprio deleite. Poderá ele, em todo sentido, deixar de dar preferência a Tasso? Não encontrará no italiano mais ritmo, interesse, variedade, justeza, graça e essa ternura voluptuosa que toca ao sublime? Mais alguns séculos e não se fará mais a comparação 28.

Parece indiscutível ter sido a pintura no século XVI levada a uma perfeição que os Gregos jamais conheceram, pois não somente não possuíam eles a variedade de cores que os Italianos empregaram, como ignoravam a arte da perspectiva e do claro-escuro.

A escultura, arte mais fácil e limitada, foi aquela em que se sobressaíram os Gregos, e a glória dos Italianos é a de se terem aproximado desses modelos. Sobrepujaram-nos, porém, na arquitectura; e no conceito de todas as nações, nada pôde ser comparado ao templo principal29 da Roma moderna, o mais belo, o mais vasto, o mais ousado que até agora se ergueu no universo.

A música só foi bem cultivada do século XVI em diante, e fortes razões temos para acreditá-la muito superior à dos Gregos, que não deixaram nenhuma obra por onde possamos advertir terem cantado em solo.

A gravação de estampas, inventada em Florença, em meados do século XV, era uma arte toda nova, então em pleno aperfeiçoamento. Os Alemães desfrutaram a glória de haverem inventado a imprensa, quase na mesma época em que a gravação se tornava conhecida, e somente por esse serviço multiplicaram os conhecimentos humanos. Não é verdade, como dizem os autores ingleses da História Universal, ter sido Fausto 30 condenado à fogueira pelo Parlamento de Paris como feiticeiro; mas é exacto que os seus empregados, vindo vender em Paris os primeiros livros impressos, foram acusados de magia, acusação que não teve, porém, consequências. Foi apenas uma triste prova da ignorância em que estávamos mergulhados e que a própria arte da imprensa não pôde dissipar durante muito tempo (1474). O Parlamento mandou apreender todos os livros que um dos caixeiros da Mogúncia tinha trazido — foi o que vimos no capítulo sobre Luís XI. Não teria tomado essa medida numa época mais esclarecida. Tal é, porém, a sorte das instituições mais sábias: não seguirem outra regra senão a que lhes ditam seus antigos usos e suas formalidades; tudo que é novidade enfurece-as; opõem-se a todas as artes nascentes, a todas as verdades contrárias aos erros de um período primitivo, a tudo que não condiz com o gosto antigo e as fórmulas antigas. Foi imbuído desse espírito que o próprio Parlamento resistiu durante muito tempo à reforma do calendário, proibiu o ensino de outra doutrina que não a de Aristóteles, proscreveu o emético; que foram necessárias várias cartas de ordem para fazê-lo registar os títulos de par de um Montmorency; que ele se opôs durante muito tempo à fundação da Academia Francesa; que se opôs, enfim, já em nossos dias, à inoculação da vacina e à circulação da Enciclopédia.

Como nenhum membro de uma associação pode responder pelas deliberações do corpo, os pareceres menos razoáveis passavam, às vezes, sem oposição alguma, motivo por que o duque de Sully disse em suas memórias que "se a sabedoria descesse sobre a terra, preferiria alojar-se numa só cabeça do que nas de uma agremiação".

Luís XI, que não costumava ser mau quando não se tratava de seus interesses e que revelava senso superior quando não o cegavam as paixões, vetou ao Parlamento a apreciação de tais casos; e mostrando que não toleraria jamais fosse a França desonrada pela proscrição da imprensa, mandou pagar aos artistas da Mogúncia o preço dos livros confiscados.

A filosofia, sempre coagida, não pôde, no século XVI, fazer tanto progresso quanto as belas-artes. As disputas de religião que agitaram os espíritos na Alemanha, no norte, na França e na Inglaterra, retardaram o desenvolvimento da razão… As belas-artes continuaram a florescer na Itália, porque o contágio daquelas controvérsias ali não penetrou; e enquanto se degolava na Alemanha, na França e na Inglaterra, por coisas que ninguém entendia, a Itália, tranquila, depois do saque de Roma pelos exércitos de Carlos V, cultivava as artes mais do que nunca. As guerras de religião espalhavam ruínas por outras partes; em Roma e em várias outras cidades italianas a arquitectura realizava prodígios. Dez papas, um após outro, contribuíram, quase sem nenhuma interrupção, para a conclusão da basílica de São Pedro, e encorajaram as outras artes. Nada de semelhante se observava no resto da Europa. Em suma, a glória do génio pertencia, então, somente à Itália, da mesma maneira que havia sido atributo da Grécia.

Uma centena de artistas em todo género de arte constituiu esse belo século, que os Italianos denominavam Seicenlo. Vários desses homens geniais foram infelizes e perseguidos; a posteridade vingou-os; seu século, como todos os outros, produziu crimes e calamidades, mas teve sobre os outros a superioridade que esses raros génios lhe deram. O mesmo Aconteceu na época em que surgiram Sófocles e Demóstenes; naquela que deu ao mundo homens como Cícero e Virgílio. Esses homens, preceptores de todos os tempos, não impe-diram que Alexandre matasse Clítus e que Augusto assinasse as proscrições. Racine, Corneille e La Fontaine não puderam, certamente, impedir Luís XIV de cometer grandes faltas. Os crimes e as desgraças sempre foram de todos os tempos; mas não houve senão quatro séculos para as belas-artes. Só um louco seria capaz de dizer que essas artes corromperam os costumes31; elas floresceram, apesar da maldade dos homens, e abrandaram os costumes dos tiranos.

 

18 Ximenes de Cisneros (1436-1517) ingressou na ordem dos Franciscanos com a idade de cinquenta anos, e aos cinquenta e nove foi nomeado arcebispo de Toledo.

19 Wolsey não era filho de um magarefe, mas de um rico burguês. Desempenhou importante papel nas relações de Henrique VIII com Francisco I e Carlos V.

20 Adriano Boyers (1459-1523), elevado ao pontificado sob o nome de Adriano V.

21 Bispo de Arras, ministro de Estado e negociador hábil a serviço de Carlos V. Foi, mais tarde, o homem de confiança de Filipe II.

22 Georges Martinuzzi (Martinusius), nascido na Croácia, em 1482, e asassinado em 1551. Desempenhou importante papel numa época tumultuosa, em que Ferdinando da Áustria, irmão de Carlos V, e os Zapoly disputavam entre si o trono da Hungria. Acabou sendo apunhalado por ordem de Ferdinando.

23 Historiador italiano, autor de uma História da Itália. Nasceu em Florença, em 1482, e faleceu em 1540.

24 Secretário e grande amigo de Leão X, que lhe confiou várias missões importantes. Suas comédias, como as de Maquiavel, se ressentem da licenciosidade do seu tempo.

25 Engana-se Voltaire: Trissino não foi arcebispo nem padre, mas protegido dos papas, que o colocaram na diplomacia. Sua Sofonisba foi a primeira tragédia regular a ser escrita.

26 Amigo de Leão X e autor das tragédias Rosmunda e Orestes.

27 A incompreensão de Voltaire quanto ao mérito de Shakespeare só pode justificar-se pela má fé. Causa espanto vê-lo sacrificar esse grande génio a Tasso e a Guarini.

28 Com efeito, já não se faz o paralelo, mas por motivo justamente oposto àquele que imaginava Voltaire.

29 A basílica de São Pedro, iniciada por Bramante e concluída por Miguel Angelo, que construiu a cúpula.

30 Voltaire quer, sem dúvida, se referir a João Fust, ourives da Mogúncia, sócio de Guttemberg, e que partilhou com ele a glória da invenção da imprensa.

31 Alusão a Jean-Jacques Rousseau e ao seu Discours sur les sciences et les arts.

Fonte: Voltaire, Clássicos Jackson. Trad. Brito Broca.

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