Gratidão de um filho e ingratidão
de outro
Quem reparar um pouco há de ver muitas vezes que o
homem na velhice é tratado por seus filhos exatamente do mesmo modo como ele
havia tratado seus pais, quando eram velhos e sem força. E isto compreende-se
bem. Os filhos aprendem com os pais; não veem, não ouvem mais ninguém e por isso
seguem o seu exemplo. Assim se verifica naturalmente o "Çue tantas
vezes se diz, e está escrito: “A bênção e a maldição dos pais vêm cair sobre os
filhos.”
Ouçamos agora
duas histórias que se contam a propósito disto: a primeira é digna de imitação,
e a segunda merece muito meditada. [1])
Uma vez que certo príncipe foi dar um passeio a
cavalo, encontrou-se com um camponês diligente e alegre, que andava a trabalhar
em um campo, e pôs-se a conversar com ele.
Dali a alguns dias soube o príncipe que o campo não
era propriedade daquele homem, o qual não passava dum jardineiro, que pela
módica quantia de seis tostões por dia cuidava do seu amanho. O príncipe, que
para os pesados encargos do governo precisava de enormíssimas somas,
não podia compreender como seis tostões diários eram meios bastantes para o
nosso homem viver, e de mais a mais de rosto tão alegre. Este, porém, respondeu-lhe: “Nada
me faltaria, se eu pudesse dispor de todo esse
dinheiro: a terça parte chega-me bem; com um terço
pago as minhas dívidas a terça parte restante pertence às minhas economias.” O
bom do príncipe ficou ainda mais admirado. Mas o camponês continuou: “O que tenho reparto-o com meus pais, que são velhos e já
não podem trabalhar, e com meus filhos, que andam por ora a aprender: àqueles
pago-lhes o amor com que que trataram na minha infância, destes espero que não me abandonarão
também na minha cansada velhice.” Não é verdade que tudo isto foi muito bem
dito, e ainda pensado, e ainda muito mais bem executado? O príncipe recompensou
aquele homem de bem,
olhou com desvelo pelos filhos, e a benção que os pais
lhe lançam ao morrer, foi-lhe retribuída pelos filhos agradecidos com amor e
amparo.
Havia, porém, outro homem que
tratava tão mal seu pai, a quem a idade e as doenças tinham na verdade tornado
impertinente, que o velhinho mostrou desejos de entrar para um hospital de
pobres, que havia na mesma aldeia. Ali esperava ele, apesar do pouco
afeto, pelo menos ver-se livre das repreensões que em casa lhe amarguravam os
últimos dias de vida. O filho ingrato saltou de contente, apenas soube dos
desejos do pobre velho, e, ainda antes de o sol se esconder por detrás das
montanhas vizinhas, já eles estavam
satisfeitos. Mas no hospital não
encontrou ele tudo quanto desejava, e,
passado algum tempo, pediu ao filho, por último favor que lhe mandasse dois
lençóis, para não ter de dormir toda a noite na palha estreme. Procurou este os
piores que tinha, e, chamando seu filho, criança de dez anos, ordenou-lhe que
os levasse para o hospital.
Ficou, porém admirado ao ver que o pequeno escondia a
um santo um dos lençóis e só levava ao avô o outro; e, apenas ele veio,
perguntou-lhe porque tinha feito aquilo. O filho respondeu friamente que tinha
guardado um dos lençóis para dar ao pai, quando mais tarde o mandasse para o
hospital.
Que lição tiramos daqui?
Honra
teu pai e tua mãe para que sejas feliz.
(Tradução)
[1] A segunda- (história) merce muito meditada — subentende-se o
verbo ser — merece ser muito meditada. E’ freqüente a omissão do
verbo ser, como auxiliar da voz
passiva em orações infinitivas dependentes depois dos verbos necessitar, precisar, haver mister, merecer,
etc. A anedota merece referida (J.
F. Lisboa). Esta efigie carece de contemplada
(A. F. de Castilho). Êste ponto precisa
mais desenvolvido (ser mais
desenvolvido).
Fonte: Seleta em Prosa e Verso dos melhores autores brasileiros e portugueses por Alfredo Clemente Pinto. (1883) 53ª edição. Livraria Selbach.
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