O dervixe 1) astucioso
Havia noutro tempo um monarca no Oriente, que vivia muito aborrecido; um dervixe, para o distrair, inventou o jôgo chamado xadrez, um jôgo que os meninos não conhecem, mas de que lhes vou dar uma idéia.
Sôbre um tabuleiro, como o das damas, os dois adversários dispõem em ordem de batalha, em duas fileiras, diferentes peças chamadas peões2), bispos, cavalos, tôrres, o rei e a rainha.
Trava-se o combate. Os peões, simples soldados de infantaria, destinados como sempre a colher os primeiros louros e aparar os primeiros golpes, começam o ataque. Alguns caem como bravos no campo de batalha.
Segue-se depois a cavalaria, que começa a distribuir golpes para a direita e para a esquerda; os bispos combatem com o entusiasmo compatível com a sua dignidade, e as tropas protegem, ora aqui, ora acolá, os flancos do exército.
Por fim devide-se a vitória.
Num dos campos a rainha está prisioneira; o rei perdeu as suas tôrres; um cavalo e um bispo que restam, praticam prodígios de valor para lhe proporcionarem a fuga, mas infelizmente sucumbem; o rei está cercado; não há recurso possível neste estado: a partida está perdida.
O monarca aborrecido gostou muito dêste jôgo tão engenhoso, 2 perguntou ao dervixe que recompensa pedia êle pela sua invenção.
— Luz dos crentes, respondeu o inventor, um pobre dervixe jom pouco se contenta. Basta que deis um grão de trigo pela primeira casa do tabuleiro, dois pela segunda, quatro pela terceira, d oito pela quarta, e assim sucessivamente, duplicando sempre o ciúmero de grãos até a última casa, a sexagésima quarta, e com isso me contentarei, e terão meus pombos que comer para alguns dias.
-— Êste homem está doido, disse consigo o rei, porque, tendo ocasião de se enriquecer, pede-me simplesmente um punhado de trigo.
Em seguida, voltando-se para um dos seus ministros:
— Contem dez mil zequins *) e entreguem-nos a êste homem, e além disso dêem-lhe um saco de trigo: sempre será cem vêzes mais do que êle me pede.
— Comendador dos crentes, replicou o dervixe, podeis guardar os vossos zequins, que os meus pombos não podem comer ; dai-me antes o trigo que vos pedi.
— Pois bem, em vez dum saco, dar-te-ei cem.
— Não é bastante, respeitável Sol da justiça.
— Pois então terás mil.
— Ainda não basta, adorado Terror dos infiéis, não perfaria 2) talvez a conta.
Durante o diálogo os fidalgos cochichavam entre si admirados da pretensão do dervixe, que entendia que mil sacos de trigo não perfaziam o total dum grão duplicado sucessivamente sessenta e quatro vêzes.
O rei, já impaciente, convocou os sábios da côrte, para que procedessem 2) ao cálculo do trigo pedido.
O dervixe sorriu-se com malícia, e afastou-se modestamente para um canto da sala, esperando o resultado do cálculo.
Os matemáticos começaram a encher o papel de algarismos, e a cifra a crescer cada vez mais.
Terminadas as operações, o presidente levantou-se e disse:
— Sublime Comendador dos crentes, o resultado do cálculo é que não tendes nos vossos celeiros trigo suficiente para satisfazerdes o pedido. Sabei mais que não há na cidade nem no reino trigo que chegue.
O trigo que se vos pede, senhor, chegaria para cobrir com uma camada de um dedo de espessura a terra tôda, incluindo mares e continentes.
O rei, ao ouvir isto, mordeu o beiço de despeito, e, na impossibilidade de satisfazer o pedido, nomeou grão-vizir 3) o inventor do jôgo, que era exatamente o que o arteiro dervixe desejava.
(Tradução)
dervixes ou dervizes são uma espécie de monges mussulmanos qur parecem não diferir dos chamados sofis ou fãquires. Vestero-se de azul, interpretam sonhos, descobrem coisas roubadas, praticam adivinhações e encantamentos, mordem ferro em braza, metem pelo corpo puas agudíssi-mas, e, finalmente, pintam o diabo, como vulgarmente se diz. — A forma verdadeiramente portuguêsa é daruês.
Proceder é verbo intrans. e exige um compl. regido da prepos. a; (‘X.: proceder a um inquérito, à leitura da ata, etc., e não proceder um inquérito, a leitura da ata. O mesmo diga-se dos verbos assistir, obstar, obviar, sobreviver, suceder, etc. Assistir a uma cena desagradável. Obstar à i-ntrada de alguém. Sobreviver a alguém. Leão XIII sucedeu a Pio IX.
Grão-vizir — primeiro ministro na Turquia.
Fonte: Seleta em Prosa e Verso dos melhores autores brasileiros e portugueses por Alfredo Clemente Pinto. (1883) 53ª edição. Livraria Selbach.
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