Ninguém deve rir-se dos pobres

Ninguém deve rir-se dos pobres

Certo professor, conhecido pelo nome de amigo dos estudan­tes, passeava, uma tarde pelos arrabaldes da cidade com um dos

seus discípulos. Ã beira da estrada deram com um par de sapa­tos todos 1) enlameados, que pertencia a um pobre homem que andava a trabalhar num campo.

“Vamos nós, disse o estudante, pregar uma peça àquele ho­mem? Escondemos-lhe os sapatos, e depois, encobertos com aque­las árvores, podemos muito bem ouvir daí o que êle diz e tam­bém ver a cara com que fica,, quando der pela falta.”

“Meu amigo, respondeu o professor, ninguém deve rir-se à

custa dos pobres; e, como tu és bastante rico, estás perfeitamente no caso de lhe fazeres experimentar a êle e de experimentares tu mesmo um prazer muito maior. Mete umn moeda de cinco tostões dentro de cada um dos sapatos, e vamos esconder-nos depois.”

O estudante assim o fêz, indo em seguida colocar-se detrás das árvores juntamente com o professor. Daí a pouco o pobre aldeão, acabado o trabalho, dirigiu-se para a beira do caminho, onde tinha deixado a jaqueta e o calçado, e, ao mesmo tempo que vestia aquela, foi também metendo o pé num dos sapatos. Como porém, sentisse dentro dêle o quer que fôsse, uma dureza, abai­xou-se para ver o que era, e deu com a moeda de cinco tostões. A surprêsa e a admiração estamparam-se-lhe no semblante: pegou no dinheiro, mirou-o e remirou-o; pôs-se a olhar para todos os lados, e, como não visse ninguém, guardou-o na algibeira. Todo impressionado ainda, vai a calçar o outro sapato, e encontra a segunda moeda. Cheio de comoção, lança os joelhos em terra e, levantando os olhos para o céu, exclamou:

  • “O meu Deus, meu Pai, como é certo que nunca desamparais os que em vós confiam! Meus filhos não tinham pão, minha mulher estava doente de cama, e eu havia esgotado os últimos recursos. Vós bem o sabieis, e por isso foi que, servindo-vos, como instrumento, duma alma caridosa, me mandastes êste di­nheiro. Permiti, ó meu Deus, que o meu coração vos fique per- pètüamente reconhecido, e abençoado seja aquêle de quem vos servistes como instrumento.”

O estudante tão comovido ficou ao ouvir estas palavras que não pôde conter as lágrimas.

Então o professor, olhando-o atentamente, disse:

“Não é verdade que estás sentindo neste momento uma satis­fação muito maior,’ um prazer muito mais agra.dável do que sen­tirias, se tivesses obedecido ao teu primeiro impulso?”

“Ah! meu querido mestre, respondeu o estudante, a lição que acabais de dar-me jamais a esquecerei: de ora em diante ficará bem gravado no meu coração que nunca se, deve zombar dos po­bres, e que só devemos chegar-nos para êles com o intuito de lhes fazer bem.”

É de certo uma grande felicidade para qualquer, e sobre­tudo para os meninos, terem sempre junto de si quem os desvie do mal e os aconselhe e guie para o bem, um verdadeiro amigo, como era aquêle professor. Mas não se pense que cada um de nós não tenha sempre a seu lado um companheiro, um amigo mui­to íntimo, que em todos os casos da vida nos assiste com o seu conselho: êsse companheiro é a consciência; ela faz às vêzes dum conselheiro seguro, mas é necessário que se escute somente a sua voz e se obedeça aos seus avisos.

1 todos enlameados. Vide a nota 3) à pág. 2£.

Fonte: Seleta em Prosa e Verso dos melhores autores brasileiros e portugueses por Alfredo Clemente Pinto. (1883) 53ª edição. Livraria Selbach.

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