Os padres jesuítas – História do Brasil para crianças – Viriato Corrêa

Os padres jesuítas

Viriato Corrêa

Um dia, na enseada de S. Vicente, perseguido pela tempestade, nau­fragou o navio em que o padre Manuel da Nóbrega viajava. E, quando o navio ia afundando, viu-se o padre andar tranqüilamente sobre as ondas, como se estivesse pisando em terra.

Uma vez, o padre José de Anchieta atravessava numa embar­cação a baía da Guanabara. Era um dia de sol infernal e o padre, bastante doente, sofria muito com o calor. Então as aves, que voa­vam no céu, foram descendo, descendo e, por cima da cabeça de Anchieta, formaram, com as asas, um toldo para protegê-lo contra o sol.

A Quiquita, surpreendida, atalhou:

Que é isso, Vovô ! É história do Brasil ou conto da Caro­chinha ?

E história do Brasil, respondeu ele. São duas lendas da história do Brasil. Duas das muitas lendas que existem sobre os padres Manuel da Nóbrega e José de Anchieta.

Nunca ouvi falar nesses padres, confessou o Nhonhô.
— Vou dizer quem são eles.

E depois de limpar os óculos no lenço:

Como vocês viram, falharam os donatários e falharam as capitanias. O rei de Portugal pensou lá com os seus botões: se a entrega do Brasil a vários donos deu mau resultado, entreguemo-lo então a um homem só para governar. E nomeou um governador para todo o Brasil.


Com esse governador, que se chamava Tomé de Sousa, vieram os primeiros jesuítas, isto é, os primeiros padres da Companhia de Jesus.

Que é Companhia de Jesus? interrogou o Neco.

Uma ordem religiosa que Santo Inácio de Loyola fundou para propagar(l) a religião católica, explicou Vovô. Os padres da Companhia de Jesus esqueciam-se inteiramente de suas próprias pessoas, do seu bem-estar, do conforto próprio, para só pensar na salvação da alma alheia. Nos países selvagens, como era o nosso, metiam-se pelos matos, a pé, ao sol, à chuva, sofrendo fome, ataques das feras, dos animais venenosos, das doenças e tudo isso para ins­truir os silvícolas que viviam em plena ignorância.

E eles fizeram isso aqui no Brasil? perguntou o Neco.

Fizeram.

Pois então os meus aplausos aos jesuítas, disse com impor­tância.

Vovô sorriu e depois continuou:

E aos jesuítas, aos primeiros que aqui chegaram, que deve­mos a nossa civilização.

Conte-nos isso, pedi com interesse.

Êle contou:

Quando se criaram as capitanias, o Brasil, como vocês já sabem, encheu-se de aventureiros(2) e de criaturas sem moral, de prisioneiros das cadeias, criminosos e bandidos.

Ah ! se eu pegasse essa cambada a jeito ! bradou a Maria-zinha.

Que é que fazia? perguntou o Neco.

O mesmo que eu fiz a Vicente Pinson.

E a senhorita fêz alguma coisa a Pinson? fungou o Neco, com ar de troça.

A Mariazinha encarou-nos como a exigir o nosso testemunho:

Gente! eu não esganei o Pinson?

Rebentamos em gargalhadas. Vovô sorriu e continuou:

Os europeus, que corriam para o,Brasil, ficavam logrados. Vinham na esperança de encontrar ouro e verificavam que ouro é que não havia aqui. E para não perder o tempo inventaram então um meio de enriquecer.

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— Que meio foi esse? indagou o Pedrinho. — A escravidão dos índios, respondeu o narrador. E prosseguíndo:

Os homens saíam em bandos pela floresta, cercavam de surpresa as aldeiasr prendiam os selvagens e os traziam para a escravidão.

E eles não se defendiam ? exclamei.

Defendiam-se e defendiam-se como leões. O selvagem bra­sileiro repeliu sempre com bravura a escravidão. Mas os europeus os atacavam com armas de fogo e armas de fogo eles não tinham para enfrentar os europeus.

A Mariazinha atalhou:

Mas quem escravizava os índios ? Só podia ser a gente ruim — os criminosos, os desordeiros, os bandidos, não é verdade?

Não, senhora. Todos os europeus, fossem eles bandidos, fidalgos, capitães-mores ou governadores, escravizavam os índios.

E depois de uma pausa:

Quando os jesuítas aqui chegaram, o Brasil era uma vergo­nha. Entre os europeus predominavam a desordem, a falta de moral, o crime. Roubar, saquear, matar, eram crimes corriqueiros. Muitos civilizados já viviam vida mais selvagem do que os próprios sel­vagens.

Para escravizar os indígenas faziam-se mortandade de cortar o coração. Punha-se fogo em aldeias para subjugar dois ou três homens, duas ou três mulheres. Até por uma cuia de farinha se compravam índios. Ferravam os desgraçados no ombro, no peito ou no rosto, como se ferram os cavalos e os bois.

Mas isso só os criminosos e os bandidos é que faziam! insistiu a Mariazinha.

Todos. Para os civilizados daqueles tempos, fossem eles bandidos ou homens de bem, os selvagens não eram criaturas hu­manas como nós, mas sim, bichos do mato que a gente podia prender e matar.

Os padres logo que chegaram procuraram impedir que se escravizassem os índios.

Os escravizadores protestaram. Protestaram e fizeram contra os jesuítas toda a sorte de perseguições. Saíram pelas aldeias con­vencendo os selvagens de que a água usada para o batismo não só trazia infelicidade como era a causa das pestes que arrasavam as populações.

(1) Propagar — espalhar.

(2) Aventureiro — que anda à procura de fortuna.

in Correa, Viriato, História do Brasil para Crianças, Cia Editora Nacional, 1967.
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