Tradição filosófica e a investigação feita pelo filósofo

Tradição filosófica e a investigação feita pelo filósofo

Francisco Fernandes Ladeira

Kant já dizia que “não se aprende Filosofia, se aprende a filosofar”. Sendo assim, com este clássico aforismo, o filósofo alemão asseverava a inexistência de uma fórmula pronta para se estudar Filosofia e que tampouco tal empreitada pode ser considerada exclusividade apenas de filósofos.

Cada indivíduo pode descobrir, a partir de uma base metodológica sólida e consistente, a sua própria maneira de investigação e reflexão filosófica. Para Karl Jaspers, quando alguém procura sua condição autêntica, expressando com fidelidade sua busca pela verdade, está fazendo filosofia.

De acordo com Hegel, uma determinada filosofia tem intrínseca relação com o contexto histórico em que foi concebida. Desse modo, podemos afirmar que a investigação filosófica no mundo grego esteve, a princípio, preocupada com questões relacionadas ao cosmos, na Idade Média em tentar provar racionalmente a existência de Deus e na contemporaneidade com a validade do conhecimento científico e o sentido da presença do ser humano no mundo.

Os resultados das investigações filosóficas formam a tradição filosófica. Em outros termos, a investigação filosófica pode ser concebida como a busca individual para compreender e se situar frente à realidade de forma racional tendo como base intelectual a tradição filosófica, que corresponde aos conhecimentos sistematizados ao longo da história por inúmeros pensadores.

Segundo Hegel, que concebia a evolução do conhecimento humano a partir de uma perspectiva linear, com o seu “idealismo absoluto” a Filosofia alcançou o seu ponto mais alto e definitivo, chegando finalmente a verdade universal, eterna e imutável.

Entretanto, conforme salientou Rodolfo Mondolfo, em cada época existem certas verdades aceitas a cerca das coisas, que, no passar do tempo podem não ser mais o que se é aceito. A Filosofia, apesar de possuir uma dinâmica própria, é parte de um contexto cultural amplo. Cada pensador, conscientemente ou não, adota a linguagem e o estilo de sua época.

Além do mais, como seres finitos, limitados a determinados condicionamentos relacionados ao tempo e ao espaço, não podemos ter a pretensão de querer formular uma verdade que possa ter validade universal, para todos os lugares e para todas as épocas. Como bem frisou José Maurício de Carvalho, nenhuma das interpretações filosóficas criadas ao longo do tempo consegue exprimir o que seja a totalidade do real. Portanto, se Hegel teve o grande mérito de descobrir a historicidade da consciência, em contrapartida cometeu o grave equívoco de concluir o processo histórico de busca pelo conhecimento na sua própria reflexão filosófica

Por outro lado, o fato de não conseguir encontrar o fundamento total da realidade não diminui em hipótese alguma a importância da Filosofia. Pelo contrário, por meio da meditação filosófica temos um referencial confiável para as mudanças percebidas no mundo. Lembrando as palavras de Marilena Chauí, filosofar é posicionar-se forma reflexiva frente à realidade, é não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os valores e os comportamentos de nossa existência cotidiana.

Em suma, mais do que um campo do conhecimento, a Filosofia é um estilo de vida que pode permitir (utilizando um termo cunhado por Paulo Freire) o pleno desenvolvimento ontológico do ser.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, José Maurício de. Investigação Filosófica. São João Del-Rei: UFSJ, 2013.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 5. ed. São Paulo: Ática, 1995.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Introdução à História da Filosofia. 4. Ed. São Paulo: Nova Cultural, 1998.

JASPERS, Karl. Iniciação Filosófica. Lisboa: Guimarães, 1987.

KANT, Emmanuel. Crítica da Razão Pura. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural,1987.

MONDOLFO. Rodolfo. Problemas e métodos de investigação na história da filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1969.

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