Curso de Filosofia – Régis Jolivet
Capítulo Terceiro
A CIÊNCIA E AS CIÊNCIAS
Art. I. NOÇÃO DA CIÊNCIA
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1. Definição. — Devemos aqui precisar a noção da ciência dada no início
deste livro (1). O termo ciência é encarado de um ponto-de-vista
objetivo e de um ponto-de-vista subjetivo.
a) Objetivamente, a ciência é um conjunto
de verdades certas e logicamente encadeadas entre si, de maneira que forme
um sistema coerente. Sob este aspecto, a Filosofia é uma ciência, tanto quanto
a Física e a Química. Num mesmo sentido, é necessário dizer que ela responde
melhor à idéia da ciência do que as ciências da natureza, porque usa
princípios mais universais e se esforça por descobrir a razão universal de
todo o real.
b) Subjetivamente, a ciência é o conhecimento
certo das coisas por suas causas ou por suas leis. A pesquisa das causas
propriamente ditas (ou do porquê das coisas) é reservada principalmente
à Filosofia. As ciências da natureza se limitam a pesquisar M leis que
governam a coexistência ou a sucessão dos fenômenos (ou pesquisa do como).
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2. Só existe ciência do geral e do necessário. — Isto resulta da própria
definição da ciência.
a) A ciência tem por objeto o geral. Toda
ciência, tendo por objeto descobrir as causas e as leis é, por isto mesmo,
conhecimento do que existe no real do mais geral. — O indivíduo e o individual, como tal, não é e não pode ser objeto da ciência propriamente
dita, mas unicamente do conhecimento intuitivo, sensível ou intelectual.
b) A ciência tem por objeto o necessário, no
sentido de que as causas e as leis que atinge são realidades ou relações que
são metafisicamente, fisicamente ou moralmente necessárias, isto é, de tal
forma que o real, o metafísico, o físico ou o moral seria ininteligível sem
elas. — Deste ponto-de-vista, além disto, não existe ciência do individual, uma
vez que o individual, como tal, é contingente (isto é, poderia não
ser).
c) Em que sentido o individual e o contingente
são objetos da ciência. A asserção de que não há ciência a não ser do geral
e do necessário não significa que a ciência não leve em conta o contingente
e o individual, mas, somente, que ela visa, no contingente e no individual,
ao que é universal e necessário, a saber, as leis a que obedecem, as causas
de que dependem, as essências e as naturezas que as definem como parte de uma
espécie ou de um gênero.
3. As ciências da natureza são disciplinas
particulares, abrangendo os diferentes domínios do real. Seu número é
indefinido e elas não cessam de se multiplicar na medida em que o estudo da
natureza chega a colocar em evidência a complexidade dos fenômenos naturais.
Podemos, contudo, distinguir entre as ciências da
natureza, as grandes categorias que comportam subdivisões mais ou menos numerosas. A classificação das ciências tem por objeto determinar e ordenar
logicamente estes grupos ou categorias.
ART. II. CLASSIFICAÇÃO DAS CIÊNCIAS
48 1.
As diferentes classificações. — Os filósofos de há muito procuram classificar
racionalmente as ciências. Uma tal classificação teria, com efeito, a vantagem
de dar uma espécie de quadro ordenado de todo o real. Os principais
ensaios de classificação são os seguintes:
a) Classificação de Aristóteles. Aristóteles distribui as diversas ciências em teórica
(Física, Matemática, Metafísica) e praticas (Lógica e Moral).
b) Classificação de Bacon. Bacon divide as ciências segundo as faculdades que
elas fazem intervir: ciências de memória (história), de imaginação (poesia),
de razão (filosofia).
c) Classificação de Ampère. Ampère classifica as ciências em cosmológicas (ou
ciências da natureza) e noológicas (ou ciências do espírito).
d) Classificação de Augusto Comte. As classificações precedentes não são
rigorosas, porque as divisões que propõem não são irredutíveis (15). A
classificação de Augusto Comte é
melhor porque se baseia num princípio mais rigoroso. Consiste em
classifícar as ciências segundo sua complexidade crescente e sua generalidade decrescente, o que dá a ordem seguinte (corrigindo e completando a de Augusto Comte) : Matemática, —
Mecânica, — Física, — Química, — Biologia, — Psicologia, — Sociologia.
2. Sentido
da classificação. — Esta classificação não significa que possamos passar de
uma ciência a outra sem fazer intervir um elemento novo, isto é, que seja
possível reduzir as ciência priores às inferiores. Ao contrário, cada
escala faz intervir um elemento irredutível nos precedentes. É assim que a Mecânica introduz a idéia de movimento,
que não está incluída na noção das matemáticas, que se refere apenas à quantidade.
Do mesmo modo a Biologia,
introduz a idéia da vida, que nenhuma das ciências precedentes comporta.
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