A capitania geral de São Paulo – História do Brasil

Gottfried Heinrich Handelmann (1827 – 1891)

História do Brasil

Traduzido pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. (IHGB) Publicador pelo MEC, primeiro lançamento em 1931.

TOMO II

CAPÍTULO XI

A capitania geral de São Paulo

Transpondo agora a fronteira norte da província de São Pedro, penetramos no território do quinto grupo de Estados brasileiros, o qual, nas suas fronteiras provisórias primitivas, muito supera em extensão a todos os outros, mesmo ao antigo Estado do Maranhão.

E a capitania geral de São Paulo: formada da reunião dos antigos íeudos hereditários de São Vicente e Santo Amaro, no princípio do século XVIII retomados pela coroa de Portugal, foi imediatamente depois retirada da superintendência que anteriormente exerciam sobre ela os capitães-generais do Rio de Janeiro, e recebeu a 9 de novembro de 1709 o seu próprio capitão-general, na capital de igual nome, São Paulo; ao mesmo tempo, ou mais tarde, foram-lhe anexadas todas as novas descobertas a oeste e a noroeste, de sorte que pouco a pouco, abrangendo todo o interior, rico em ouro, do antigo "Estado do Brasil", tocava no norte o antigo "Estado do Maranhão" e a oeste e sul a América sul-americana espanhola.

Nesta incomensurável extensão, ela não pôde, naturalmente, manter-se, com o correr do tempo; um membro após o outro, quando alcançava maior número de habitantes e importância própria, era superado: em primeiro lugar, as terras das "minas gerais", a capitania geral de Minas Gerais (província), a 2 de dezembro de 1720; depois, por decretos reais de 8 de novembro de 1744 e 9 de maio de 1748, as capitanias gerais (províncias) de Goiás e Mato Grosso. Com isso a capitania geral de São Paulo (província) ficava reduzida somente à terra entre o rio Paraná e o oceano Atlântico, limitada ao norte pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais, ao sul pelas províncias de Santa Catarina e São Pedro; uma área de cerca de 12.000 léguas quadradas.

Este território preenche, então, a lacuna, que saltamos, quando passamos da parte norte à parte sul da capitania geral do Rio de Janeiro, e o que temos a descrever da sua formação geográfica prende-se imediatamente ao que ali dissemos. Também São Paulo consiste, na maior parte, de terras altas medianas, ligadas a nordeste ao Rio de Janeiro, ao sul com a serra Geral de São Pedro e Santa Catarina e ao norte com o planalto montanhoso de Minas Gerais, o verdadeiro núcleo de rocha do Brasil. A vertente oriental desse planalto, a denominada serra do Mar, é bastante íngreme e deixa, como no Rio de Janeiro, assim em São Paulo, apenas uma estreita baixada na costa, que somente mais ao sul, na altura de Santa Catarina, vai ganhando largura; a oeste e sudoeste, ao contrário, o planalto faz declive para o curso do Paraná e lhe fornece, ao mesmo tempo, um sem-número de grandes afluentes, cujos vales são na maioria bastante estreitos e profundamente talhados.

Quanto à feição do pais, dominava em outros tempos, e ainda hoje ao norte e nordeste, a mata virgem, que se dirige ao longo das montanhas da costa ao sul, na direção de Santa Catarina e São Pedro; compreende-se que, passando a zona temperada, a mata perde logo em sua pujança tropical. Por outro lado, às margens do Paraná e no curso interior de seus afluentes, alargam-se extensos e férteis campos, que, principalmente ao longo do rio Iguaçu (Curitiba), os denominados campos de Guarapuava, alcançam longe, ao seu curso médio e superior; justamente ali, no Iguaçu, também vão morrer os extremos dos campos da Vacaria, que, começando na encosta noroeste da serra Geral de São Pedro, acompanham as nascentes e o curso do Uruguai; finalmente, no planalto de São Paulo são de iguais condições os denominados campos gerais, que se estendem em volta da cidadezinha de Castro, na redondeza das nascentes do Paranapanema.

Por conseguinte, encontramos no interior do território, entre nordeste e sudoeste, um vivo contraste, que, indicado pelas suas condições naturais, foi respeitado pelo modo da colonização e, finalmente, confirmado pela separação política.

A capitania geral de São Paulo (ou, lembrando nome mais antigo, as capitanias reunidas de São Vicente e de Santo Amaro) é, como se sabe, a mais antiga de todas as regiões brasileiras; todavia se limitou aqui a colonização agrícola portuguesa a uma região relativamente estreita, no extremo nordeste, onde as velhas cidades de São Vicente, Santos e São Paulo estão situadas próximas umas das outras.

Reuniu-se ali uma população bastante densa, que cultivava, conjuntamente com as plantas alimentícias indígenas e européias, o açúcar, como artigo propriamente de comércio; na verdade, o clima do planalto já é temperado demais para essa cultura, dando sempre escassa produção; é suplantada nos tempos mais modernos, cada vez mais, pelo cafeeiro; todavia ficou indelével a impressão que exerceu o cultivo da cana-de-açúcar na organização do povo e na condição dos bens de raiz; e as condições locais, sob esse aspecto (como as do Rio de Janeiro), correspondem ainda às das províncias açucareiras do Norte.

Desse núcleo estenderam-se de preferência para o norte as atividades colonizadoras dos paulistas; eles cooperaram a princípio muito na colonização do Rio de Janeiro; descobriram e em grande parte povoaram Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso; e também na história de outras províncias do Norte, Bahia, Pernambuco, Piauí, etc, repetidas vezes intervieram as suas audazes bandeiras, os seus caçadores de índios e pesquisadores de ouro.

Menor atenção deram eles ao Sul: somente ao longo da costa foi avançando uma série de colônias, que, pouco a pouco, penetraram em Santa Catarina; ao contrário, o sudoeste interior ficou por assim dizer inteiramente desconhecido, como por exemplo os campos de Guarapuava, cuja posse formal só foi tomada em 1770. Aqui se encontram, portanto, condições de todo primitivas; uma escassa população, com apenas poucos escravos, onde o sangue branco se conservou, portanto, bastante puro, cria nos campos os seus rebanhos, para os mercados de São Paulo e Rio de Janeiro, e é relativamente muito mais dispersa do que nos distritos criadores de São Pedro, de sorte que aqui ainda restam muitos terrenos desocupados, sem dono.

A mais densamente povoada é, em todo caso, a região dos próximos arredores da cidadezinha de Curitiba, nas nascentes do Iguaçu; e ali a lavoura, praticada pelos campeiros apenas na medida que exige a sua necessidade, já é a indústria mais importante; todavia, a exploração das matas vizinhas, que abundam em mate ou chá do Paraguai, tem uma grande importância para a cidade. Este produto que, de resto, ainda não se nivela com a produção propriamente do Paraguai, é para a vizinha Paranaguá, o porto principal no sul de nosso territorio, o artigo fundamental de comercio, tal como o café o é para o porto de mar de Santos, mais ao norte .

 

 

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Entre estas duas regiões tão dissemelhantes, fez-se ultimamente a separação política; pela lei de 19 de dezembro de 1853 foi levada a metade sudoeste da antiga capitania geral de São Paulo (província), com alguns distritos limítrofes da província de São Pedro, a província autônoma, que recebeu o nome de província do Paraná; constava a sua população de 72.400 habitantes. Ela se estende muito ao interior, entre os rios Paraná, Paranapanema e as nascentes do Uruguai, de sorte que contém todas as recém-mencionadas regiões de campos; por outro lado, ela dispõe apenas de uma diminuta extensão de costas, com a cidade marítima de Paranaguá; Curitiba tornou-se a capital da província.

Naturalmente, uma tão nova formação estadual não pode ter história própria. O que acabamos de dizer sobre as suas condições geográficas é o suficiente para indicar que a província do Paraná, nos seus característicos, muito se assemelha com as províncias do Sul, de Santa Catarina e de São Pedro; sem dúvida alguma, compartilhará também com estas, no futuro, do desenvolvimento político e social. Com razão pode o Paraná, como já freqüentemente tem sucedido, ser recomendado como muito apropriado para acolher a colonização de lavradores europeus, alemães, e, como aqui o que não falta são terrenos do Estado para vender, depende do governo provincial procurar, por meio de convenientes regulamentos, em breve atrair franca e seriamente o afluxo de campônios livres.

Sem dúvida, está esta província por ora em desvantagem nesse sentido relativamente às suas vizinhas do sul, pois aqui faltam quase completamente os núcleos aos quais os estrangeiros se poderiam agremiar, como lhes seria para desejar, à vista do que eram então as condições gerais do Brasil. Existem somente três colônias, de pouca importância, de língua estrangeira: Rio Negro, fundada pelo imperador d. Pedro I (1829), à margem de um tributário do Iguaçu, de igual nome, com 350 habitantes, alemães, protestantes, que até agora gozam, porém, somente do usufruto, não da posse, do solo; a colônia de Teresa, francesa, fundada em 1846 pelo dr. J. M. Faivre, à margem do rio Ivaí, tem atualmente 170 habitantes, na maioria brasileiros; e Superagui, finalmente, fundada em 1852 por Ch. Perret-Gentil, onde o possuidor do solo, sob condições muito leoninas, pretende estabelecer os imigrantes como arrendatários (com aforamento fixo anual e contrato por cinco anos), porém até agora pouco sucesso tem tido.

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(…continua)
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