A epistemologia evolutiva

Ricardo Ernesto Rose
Jornalista, autor, pós-graduado em sociologia e gestão ambiental. Graduado e pós-graduado em filosofia

1.  A epistemologia evolutiva: suas origens e formação

 

Introdução

 Diógenes Laércio em seu Vida e opiniões de filósofos famosos escreve que o filósofo grego Pirro de Elis (360-270 a.C.), acompanhando as tropas de Alexandre Magno (356-323 a.C.) em sua campanha à Índia, teria se encontrado com os gimnosofistas, os “filósofos nus”. Muito já se escreveu sobre quem teriam sido estes filósofos; o mais provável é que fossem saddhus, um tipo de asceta e sábio que desprovido de bens materiais – às vezes até de vestimentas – vivia percorrendo as estradas entre as aldeias indianas. Com eles, Pirro teria aprendido a indiferença por todas as coisas – idéia que incorporou à sua filosofia. Assim, de volta à Grécia, o filósofo passou a falar na acatalepsia; a impossibilidade de se conhecer a natureza das coisas. Ensinava que nenhum juízo poderia ser considerado melhor do que o outro e, portanto, deveria manter-se uma atitude de suspensão de juízo em relação a tudo. Na vida diária isto se concretizaria em uma atitude de ataraxia, ou seja, uma despreocupação com relação aos aspectos práticos do viver. Coerente com seu pensamento, o filósofo ao caminhar não desviava de nenhum obstáculo e não tinha nenhum tipo de cuidado, mantendo a mesma indiferença em relação a tudo; seja uma carroça, um barranco ou um cão bravo. Segundo o relato de Laércio, o filósofo não se deixava influenciar por seus sentidos e nas dificuldades era sempre ajudado por seus alunos. Apesar deste comportamento alheio em relação a tudo, principalmente aos sentidos, Pirro teria chegado a viver até os noventa anos.

Não é por acaso que utilizamos este relato do historiador Diógenes Laércio (200-250 d.C.) sobre a vida do fundador da escola cética, para iniciar nosso trabalho sobre a epistemologia evolutiva. A história de Pirro – parte verdadeira e parte baseada em depoimentos duvidosos, como toda a obra de Diógenes Laércio – nos dá uma idéia do papel importante que a epistemologia, o estudo da origem e da validade do conhecimento, já tinha no início da tradição filosófica ocidental. A escola cética foi apenas uma das muitas correntes de pensamento que tomaram posição em relação à possibilidade ou impossibilidade do conhecimento.

O que também tentaremos mostrar ao longo do texto, partindo da história Pirro, é que quanto mais uma epistemologia se afasta da realidade prática, tanto mais dificulta a ação do homem sobre o mundo. Uma epistemologia como a pirrônica representa um posicionamento intelectual artificial em sua base – se bem que fundamentado por proposições lógicas –, podendo limitar o desenvolvimento cultural de uma sociedade. Assim, se o pensamento dos céticos fosse o modo comum de pensar da espécie humana desde sua origem como homo sapiens, nós muito provavelmente não teríamos tido condições de sobreviver aos desafios impostos pela natureza e não estaríamos aqui para tratar filosoficamente sobre a origem e a validade do conhecimento. O filósofo e biólogo austríaco Franz M. Wuketits escreve o seguinte sobre este tema:

Epistemólogos evolucionistas desafiaram muitos filósofos com o argumento de que nossa imagem do mundo não pode ser completamente errada, porque até agora nós humanos sobrevivemos com ela, mesmo que não seja mais do que uma imagem hipotética. Portanto, o problema da realidade–realismo foi discutido a nível biológico (o que, obviamente, desgosta a alguns filósofos). Todavia, a lição que a biologia tem a nos ensinar nesse contexto é que a questão se a realidade é “real” – uma velha questão filosófica – não importa, nem para humanos ou para outros animais. (WUKETITS, 1990, p. 190 – tradução nossa).

A epistemologia

A epistemologia ou teoria do conhecimento estuda o conhecimento. Parece evidente que para estudar o conhecimento é preciso tê-lo, seja de que modo for; pelos sentidos, como dádiva de Deus ou através de mecanismos apriorísticos. Assim, antes de tudo, a epistemologia tenta responder às seguintes questões: “O que é conhecimento?”; e “O que podemos conhecer?” Na possibilidade de pensarmos que podemos conhecer algo, surge então a terceira pergunta: “Como o conhecimento é possível?”. A maior parte do que já foi escrito sobre epistemologia ao longo da história da filosofia, aborda pelo menos uma destas três interrogações.

Esta disciplina filosófica teve origem na Grécia antiga com Platão (427-347 a.C.), quando este escreve que o conhecimento é a crença verdadeira que pode ser fundamentada através de um relato ou uma explicação. O filósofo antepõe a crença falsa ou opinião ao conhecimento; sendo a primeira um ponto de vista subjetivo injustificado, enquanto o segundo uma crença verdadeira e justificada. No diálogo Teeteto, Platão descreve o diálogo entre seu mestre Sócrates e o matemático Teeteto. No texto, Platão argumenta contra a subjetividade gnosiológica dos sofistas, os quais afirmavam que o conhecimento era condicionado pelos sentidos, não correspondendo à realidade, já que os sentidos poderiam nos enganar em diversas situações. Platão tem a opinião de que é possível chegar-se a um verdadeiro conhecimento através da razão. Interessante é que em todo o diálogo, Sócrates rebate os argumentos de Teeteto e o diálogo termina sem chegar a definir o que seria o verdadeiro conhecimento. Este modo de apresentar um problema, discutindo várias hipóteses sucessivamente, sempre rebatidas e aprofundadas – o método da maiêutica de Sócrates nos diálogos platônicos –, faz parte do próprio sistema filosófico de Platão. Para este mestre do pensamento, o verdadeiro conhecimento está no íntimo do ser humano, trazido de outra vida, onde as almas humanas puderam contemplar as ideias perfeitas. Ao voltarem a viver no mundo material estas almas esquecem o conhecimento perfeito e passam a se guiar através de crenças e opiniões, colhidas ao longo da vida. O conhecimento original do mundo das Ideias (metáfora apresentada por Platão na Alegoria da Caverna no livro A República) só pode ser recuperado através da dialética, o processo de discussão de idéias; a síntese da atividade filosófica para Platão. O filósofo considerava que nossas percepções seriam mais verdadeiras quanto mais se aproximassem de nosso conhecimento das ideias perfeitas.

Outra corrente de pensamento da Antiguidade a ter papel importante na discussão epistemológica foram os céticos, que incorporaram muitas proposições de sofistas como Protágoras e Górgias, citados nos diálogos platônicos. Todavia, nem todas as escolas céticas foram tão radicais em sua negação da possibilidade de estabelecer o que era verdadeiro e falso, certo ou errado, quanto a pirrônica. Este é o caso dos sucessores da escola de Platão, a Academia, chamados de céticos da Academia. Discordavam da suspensão do juízo pirrônica e admitiam que certas proposições, que pareciam ser mais verossímeis que outras, deveriam ser admitidas como verdadeiras, tanto para enfrentar a vida prática, quanto as demandas intelectuais. Grande parte dos ensinamentos desta escola foi reunida significativamente por um filósofo que também era médico, profissional afeito às lides práticas e teóricas, o grego alexandrino Sexto Empírico (160-210 d.C.).

A história da epistemologia volta a apresentar novos fatos relevantes a partir do século XVII, quando a sociedade renascentista européia está sendo afetada por diversos acontecimentos inéditos, tanto a nível político (formação dos Estados unificados); econômico (Grandes Navegações); e religioso (Reforma Protestante). No plano cultural, ocorre desde o final da Idade Média a redescoberta da antiga cultura grega e latina, o desenvolvimento do pensamento científico com Bacon (1561-1626) e Galileu (1564-1642) e – fato mais importante para o assunto que aqui tratamos – o início do pensamento filosófico moderno, com René Descartes (1596-1650).

Bastante envolvido com o pensamento científico e a matemática (foi o criador da geometria analítica), Descartes tentou dar uma nova fundamentação à filosofia de sua época, ainda bastante influenciada pelo pensamento tomista. Para reformular sua maneira de pensar Descartes foi às origens da atividade intelectual, retomando aspectos da crítica cética à possibilidade de conhecimento da realidade. Em seu Discurso sobre o Método Descartes institui o que ele mesmo chamou de o “método da dúvida”. Partindo das impressões que temos do mundo através dos nossos sentidos, em seu raciocínio o filósofo vai colocando em dúvida percepções, idéias pré-concebidas, além de adicionar hipóteses (o “gênio maligno” que ilude nossos sentidos), para levar seu leitor a duvidar literalmente da existência de tudo. Ao final, conclui através de uma frase que se tornou uma das mais famosas no pensamento ocidental: “Cogito ergo sum” penso, logo existo. Ou seja, mesmo não tendo certeza de absolutamente nada, ao nos darmos conta deste fato estamos pensando; e se pensamos existimos. No entanto, o método da dúvida baseado no antigo pirronismo é apenas de uso puramente metodológico. Críticos atuais argumentam que se fosse coerente ao extremo com o ceticismo, Descartes poderia apenas concluir que “algo pensa” e assim não poderia elaborar toda a sua argumentação posterior. Quanto a isso escreve Grayling:


O resto das Meditações é devotado a mostrar que sabemos uma grande porção de coisas, porque o fato (como Descartes, sem êxito, tenta provar) é que há um deus bom que garante que, tanto quanto usamos nossas faculdades responsavelmente, qualquer coisa que é percebida com clareza e distinção como verdadeira será certamente verdadeira. Isso porque um deus bom, diferentemente de um mau, não desejaria nossa ignorância. Descartes não foi, de maneira alguma, um cético, nem ele pensava que os argumentos céticos, menos de todos os que alguém empregava como dispositivo para por de lado tantas crenças quanto possíveis, fossem persuasivos. O “método da dúvida” era meramente um instrumento
. (GRAYLING, 1996 s/p.).


Descartes não conseguiu fundamentar definitivamente uma epistemologia positiva, fazendo frente às milenares críticas dos céticos. Provavelmente nem estava tão persuadido da necessidade disto. Utilizando-se do argumento cosmológico de Anselmo (1033-1109) e Aquino (1225-1274), consegue aparentemente provar a existência de Deus (imprescindível em tempos de Inquisição), para com isso justificar uma lógica que considerava inerente ao universo, criado por Deus, compreensível pelo pensamento racional (leia-se ciência e matemática). Com isso, Descartes fundamentou as bases do moderno pensamento científico e filosófico, dando origem ao racionalismo, linha de pensamento que buscava fundamentar sua epistemologia em grande parte na lógica e na matemática. A escola racionalista pressupunha uma estrutura racional do universo, que poderia ser compreendida pela mente ou alma humana – já que esta também era racional, assim como o Criador. Grandes representantes da epistemologia racionalista, além de Descartes, foram Espinoza (1632-1677), Malebranche (1638-1715) e Leibniz (1646-1716).

Outra escola filosófica importante no debate da epistemologia foi a dos empiristas, formada preponderantemente por pensadores ingleses aos quais posteriormente se juntaram os estadunidenses. Os maiores representantes desta filosofia foram George Berkeley (1685-1753), John Locke (1632-1704) e David Hume (1711-1776). Enquanto que para os racionalistas a “pedra de toque” para compreender o universo era a razão, para os empiristas era a experiência – daí o grande valor que esta escola de pensamento dava aos experimentos científicos. Não é por outra razão que a primeira sociedade científica, a Royal Society of London for the Improvemente of the Natural Knowledge (Sociedade Real de Londres para o Desenvolvimento do Conhecimento Natural) foi fundada na Inglaterra em 1660.

Não discutiremos aqui os diversos aspectos do pensamento de cada um destes filósofos. Para nossos objetivos, bastará ressaltar que o pensamento empirista admitia que todos os nossos conhecimentos provêm da experiência. Ou seja, através dos sentidos as sensações e informações que recebemos do meio ambiente passam para o cérebro. Ali, através de processos de memorização, associação de idéias e sob a influência das emoções e lembranças, hábitos e costumes, este material é transformado em conhecimento. Deste procedem os atos e condutas individuais, as organizações humanas e suas interações com a realidade, através da cultura. Em seu Uma investigação sobre o entendimento humano, David Hume escreve:


Eis, pois, uma espécie de harmonia preestabelecida entre o curso da natureza e a sequência de nossas ideias; e embora os poderes e as forças que geram a primeira nos sejam totalmente desconhecidos, achamos que nossos pensamentos e nossas concepções se têm sempre desenrolado na mesma sequência que as outras obras da natureza. O costume é o princípio que tem realizado esta correspondência, tão necessária para a conservação da nossa espécie e para o regulamento de nossa conduta em todas as circunstâncias e situações da vida humana
. (HUME, s/d, p. 71).


A terceira e última corrente epistemológica que consideraremos nesta introdução é a kantiana, conhecida como “idealismo transcendental”, apresentada por Immanuel Kant (1724-1804) em sua obra máxima, a
Crítica da Razão Pura. Neste livro o filósofo alemão procura, a exemplo de Descartes, fazer uma reformulação da filosofia, contrapondo-se às críticas de Hume. Este, nas palavras do próprio Kant, o havia despertado do “sono dogmático”, ou seja, de um racionalismo não mais defensável àquela fase do desenvolvimento da filosofia.

Kant procura fazer uma síntese entre aquilo que considerava importante no empirismo, ao mesmo tempo julgando existirem condições a priori, que possibilitavam a transformação das impressões sensíveis em conhecimento – no que fazia uma concessão ao racionalismo. É através de mecanismos intelectuais que Kant chamou de “juízos sintéticos” e “juízos analíticos” a priori, que o ser humano pode efetivamente entender e interpretar racionalmente a realidade. Baseados nos juízos a priori de espaço e tempo, intuitivos e inerentes ao ser humano, Kant desenvolve parte de sua filosofia, especificamente a epistemologia. No decorrer deste texto ainda voltaremos a estes juízos criados pela filosofia de Kant, apresentando uma leitura que filósofos da epistemologia evolutiva fazem destes termos.

Um das correntes modernas de pensamento precursoras e mais diretamente ligadas às propostas teóricas da epistemologia evolutiva é a epistemologia naturalizada (ou naturalista). Esta tem como mentores os filósofos positivistas lógicos Otto Neurath (1882-1945) e Rudolf Carnap (1891-1970). A expressão epistemology naturalized foi utilizada pela primeira vez pelo filósofo americano Willard van Orman Quine (1908-2000), durante um trabalho apresentado em 1969, em Viena. Em seu pensamento Quine afirma que a epistemologia é “um empreendimento dentro da ciência natural”. O pensador baseia-se na confiabilidade da ciência e do processo científico, o que implica que para a epistemologia naturalista a ciência é a melhor maneira de, com certa confiabilidade, descrever de forma razoável a realidade objetiva. Com relação a esta interpretação, escreve Pettersen que:


O naturalismo quineano funciona segundo dois aspectos: o primeiro diz que o único modo de se investigar o mundo é através da investigação da natureza, ou, dito mais precisamente, através de uma investigação dos processos físicos manifestados na natureza. O segundo aspecto do seu naturalismo diz que a filosofia não ocupa um lugar privilegiado no estudo do nosso conhecimento do mundo. Esse aspecto é provavelmente o que a tese naturalista de Quine tem em comum com outros tipos de naturalismo. Quine freqüentemente usa de uma metáfora criada por Neurath para exemplificar seu naturalismo. Em linhas gerais, essa metáfora diz que, ao estarmos no meio do oceano, não há como reconstruir o nosso navio de uma vez só, o máximo que podemos fazer é verificar quais partes dele não estão funcionando bem e então substituí-las, uma por uma. Depois de um longo e duro trabalho, pode ser que o navio que saiu da doca não seja mais o mesmo que está navegando
. (PETTERSEN, 2006, pag. 79-80).


Além da epistemologia naturalizada coexistem diversas correntes na moderna epistemologia, como a epistemologia social, a epistemologia hermenêutica, a epistemologia procedimental (Greco e Sosa, 2008) entre outras, além do debate entre epistemologistas internalistas e externalistas. Sendo assim, a epistemologia evolucionista é uma dentre as diversas formas de teorias do conhecimento que os estudiosos da filosofia encontraram – cada um de acordo com suas convicções – para inquirir e agir sobre a realidade.  

Outro importante pensador que diretamente influenciou o surgimento da epistemologia evolucionista foi o filósofo da ciência austríaco (naturalizado inglês) Karl R. Popper. Inspirado pelo positivismo lógico do Círculo de Viena, Popper sempre foi um grande crítico do empirismo clássico e do indutivismo utilizado por toda a ciência. Através de seu “racionalismo crítico”, o filósofo defende que as teorias e conclusões da ciência serão sempre provisórias, por não aceitar o método da indução como garantia da teoria. Para Popper, nenhuma teoria científica pode ter sua veracidade confirmada, mesmo que experiências demonstrem que suas previsões estavam corretas. Toda e qualquer teoria científica tem apenas o status de uma explicação ainda não contrariada pelos fatos. Este é o princípio da falseabilidade, proposto por Popper como alternativa ao método da indução. Escreve o filósofo:


Não acredito ser possível decidir, usando métodos da ciência empírica, questões controvertidas como a de saber se a ciência realmente usa ou não o princípio de indução. Minhas dúvidas aumentam quando me dou conta de que será sempre questão de decisão ou de convenção saber o que deve ser denominado “ciência” e quem deve ser chamado de “cientista”
. (POPPER, 2008, p. 54-55).

 Com isso, uma das maiores tarefas de todos aqueles que se dedicam à ciência é refutar a teoria mais recente e propor uma nova explicação – a qual, da mesma maneira, será alguma vez substituída por outra teoria que explique melhor a realidade estudada. No entanto, o princípio da falseabilidade não é critério único para dar garantia ao processo de pesquisa científica, já que a própria teoria da falseabilidade pode ser aplicada a si mesma. Além disso, existem proposições em que o princípio não é aplicável.

Este conceito da constante necessidade de substituição da teoria invalidada por outra temporariamente válida, aproximou o pensamento de Popper do darwinismo e de seu princípio da luta das espécies e a necessidade de adaptação para garantir a sobrevivência. O princípio de falseabilidade seria assim uma metáfora do darwinismo aplicado à epistemologia. Em uma discussão ocorrida durante um jantar em Viena, em 1986, e mais tarde publicada em livro, Popper utiliza a expressão “epistemologia evolucionista” e diz o seguinte:

 Eu coloco, em forte oposição a todos os epistemologistas desde John Locke e até em oposição a Kant, a seguinte tese: Todo o conhecimento é, de acordo com seu conteúdo, a priori, ou seja, geneticamente a priori. Porque todo o conhecimento é hipotético, conjectural: ele (o conhecimento) é nossa hipótese. A posteriori são somente as exceções da hipótese: o choque das hipóteses com a realidade. Ali, e somente ali, está o elemento de apreensão no nosso conhecimento. E isto é suficiente para poder aprender da experiência: é o suficiente para ser um empirista.

Para formulá-lo de outra maneira: nós aprendemos somente através da tentativa e erro. Nossas tentativas são, no entanto, sempre nossas hipóteses. Elas originam-se de nós, não do mundo exterior. Do mundo exterior aprendemos somente, que algumas de nossas tentativas são enganos. Dos animais primitivos, desde as células primitivas, a adaptação é uma descoberta dos organismos vivos. Os organismos se adaptam e melhoram por si mesmos sua adaptação. Esta minha teoria leva certamente a grandes dificuldades. Estas dificuldades não existem porque minha teoria é complicada, mas porque nós sabemos tão pouco. Sobre a origem da vida e da adaptação, nós sabemos quase nada. (POPPER, 1997, p. 130 – tradução nossa).   


 
A epistemologia evolutiva (EE)

Para efeito de ordenação e compreensão, convencionou-se classificar a epistemologia evolutiva como uma área de estudos específica dentro da epistemologia naturalizada A epistemologia evolucionista (EE) surgiu com o psicólogo e sociólogo americano Donald T. Campbell (1916-1996). Segundo Wuketits (1990), Campbell já utilizava a expressão “biologia e psicologia do conhecimento” em seus trabalhos desde 1959, defendendo uma abordagem comparativa (evolucionista), ao invés de antropomórfica, do conhecimento. Em 1974 Campbell cunhou a expressão “epistemologia evolucionista”, termo logo utilizado também pelo epistemólogo e psicólogo infantil Jean Piaget (1896-1980), e que a partir desta época se tornaria cada vez mais conhecido.  Geograficamente a EE é estudada nos Estados Unidos, pela influenciada da moderna filosofia pragmatista e naturalista, além de concentrar grandes pesquisadores alinhados com o neodarwinismo. Na Europa – notadamente na Áustria e Alemanha – a EE também é bastante conhecida, dada a antiga influência do positivismo lógico e da forte tradição dos dois países no estudo da biologia. No Brasil a EE ainda é bastante desconhecida. Basta realizar uma pesquisa nos servidores de busca da internet, para constatar as poucas referências ao assunto. Na área editorial também são limitados os livros disponíveis sobre.

A EE não é formada por uma doutrina única; uma escola filosófica monolítica – como, aliás, ao longo da história da filosofia nenhuma corrente de pensamento foi. Com suas origens filosóficas na recente epistemologia naturalista, mostraremos adiante como a EE é baseada no neodarwinismo, valendo-se de contribuições das áreas da psicologia, biologia, etologia, teoria dos sistemas, neurologia, antropologia, linguística e várias outras. Além disso, como disciplina ainda em formação, recebeu e ainda recebe influência de pensadores das mais variadas áreas de interesse, entre outros os filósofos William James, Karl Popper, Daniel Dennett, Michael Ruse, Gerhard Vollmer, Jerry Fodor, Franz M. Wuketits; os biólogos Ernst Mayr, Konrad Lorenz, Rupert Riedl, Richard Dawkins, Edward O. Wilson; os psicólogos Susan Blackmore, Steven Pinker, Michael Gazzaninga, John Tooby, Leda Cosmides; antropólogos como Steven Mithen e Davis Lewis-Williams, e muitos outros. Não existe, pelo menos até o momento e baseados no que pudemos pesquisar, uma “escola filosófica” que segue a linha da epistemologia evolucionista. O que pudemos identificar é que seus conceitos forma e são incorporados às análises de alguns filósofos. Dentre estes, os únicos que pudemos identificar como essencialmente seguindo a epistemologia evolucionista foram Franz M. Wuketits (1955) e Gerhard Vollmer (1943) e Michael Ruse (1940).

A principal base teórica da epistemologia evolutiva é o neodarwinismo, também chamado de nova síntese. Trata-se da teoria da evolução desenvolvida pelo biólogo Charles Darwin (A origem das espécies, 1859), associada às descobertas genéticas de Mendel (1822-1884), através de adaptações que foram realizadas ao longo dos anos 20, 30 e 40 do século XX por biólogos como J.B.S. Haldane, William D. Hamilton, Ernst Mayr e Theodosius Dobzhansky, entre outros. A expressão foi proposta pelo biólogo Julian Huxley, em seu livro Modern Synthesis (Síntese Moderna) publicado em 1942. A teoria da evolução não implica em aprimoramento dos organismos – se bem que necessariamente não exclua este aspecto – mas em mutações que possam sobreviver e se adaptar melhor ao ambiente. Este o principal motivo pelo qual Darwin não falava em evolução, mas em transmutação. Em relação a isto, escreve Ernst Mayr, um dos maiores biólogos do século XX:


Algumas linhagens (de espécies), como os procariontes, praticamente não mudaram em bilhões de anos. Outras se tornaram altamente especializadas sem dar nenhum sinal de estar progredindo, e outras ainda, como a maioria dos parasitas e dos habitantes dos nichos especiais, parecem ter passado por uma involução. Não há simplesmente nenhuma indicação, na história da vida, de uma tendência universal ou capacidade de progresso evolutivo. O aparente progresso, onde ele é encontrado, é simplesmente um subproduto de mudanças provocadas pela seleção natural
. (MAYR, 2008, p. 266-267).


Em sua versão atual, a teoria da seleção natural se estrutura em torno dos seguintes pontos:

a) Todas as espécies evoluem através dos tempos. Ciências como a geologia e a paleontologia, já na época de Darwin, provaram que em eras passadas outros tipos de espécies povoaram a Terra;

b) Seres vivos, aparentemente de origem diversa, podem ter um ancestral em comum; afirmação comprovada por Darwin tanto em suas pesquisas com animais domésticos, quanto através da observação de espécies selvagens. Neste ponto a teoria de Darwin levantou grandes discussões, quando este mesmo princípio passou a ser aplicado aos antepassados do homo sapiens;

c) A evolução ou transmutação, segundo Darwin, ocorre sempre de maneira gradual (gradualismo) e nunca repentinamente (saltacionismo). Este ponto da teoria da evolução sempre foi criticado, inclusive por outros evolucionistas como Thomas H. Huxley. No entanto, tal aspecto do evolucionismo passou a ser comprovado quando da elaboração da nova síntese, com a incorporação de conceitos da teoria genética;

d) Com a multiplicação das espécies aumenta a diversidade. Este aspecto da teoria, segundo Darwin, deve-se ao isolamento geográfico de espécies, como no caso das tartarugas e dos tentilhões dos Galápagos. Tal fato também foi comprovado e explicado cientificamente com a ajuda da teoria genética;

e) Todos estes processos estão baseados na teoria da seleção natural, a idéia mais original da teoria da evolução. Segundo esta teoria, em uma grande variedade de indivíduos corre um processo seletivo por mecanismos sexuais e de sobrevivência (acasalamento, ambiente, concorrência por alimento). O resultado natural deste processo é que poucos espécimes sobrevivem, transmitindo suas características – as mesmas que os tornaram sobreviventes no processo de seleção natural – à sua prole. Este processo não tem objetivos, isto é, não é teleológico, ocorrendo aleatoriamente. Sobre este ponto escreve o filósofo Dennett:


Podemos agora expor o talvez mais comum mal-entendido sobre o darwinismo: a idéia de que Darwin mostrou que a evolução pela seleção natural é um procedimento
para
nos produzir. Desde que Darwin propôs sua teoria, as pessoas vêm tentando erroneamente interpretá-la como se ela mostrasse que nós somos o destino, a meta, o objetivo de todo este crivo e esta competição. (DENNETT, 1998, p. 58).


Outra teoria científica em constante diálogo com a EE é a psicologia evolutiva (ou evolucionista), apresentada ao público acadêmico pela primeira vez no início dos anos 1990 pelos psicólogos americanos John Tooby e Leda Cosmides. A psicologia evolutiva parte dos pressupostos – totalmente baseados na biologia evolutiva – de que a mente humana não é uma
tabula rasa, como afirmava Locke e influenciando várias gerações de pensadores e cientistas empiristas. Apoiados em diversas descobertas, especialmente a capacidade inata que temos de aprender uma linguagem, feita pelo linguista Noam Chomsky no final dos anos 1950, Tooby e Cosmides lançaram uma nova teoria do cérebro humano. Segundo os psicólogos, já nascemos com diversas capacidades que desenvolvemos através da seleção natural. Os pontos principais da psicologia evolutiva são resumidamente:

a) O cérebro humano é um sistema físico, comparável metaforicamente a um computador. Seus nervosos desenvolveram-se a fim de gerar comportamento que seja apropriado às nossas circunstâncias, a fim de garantir a sobrevivência. O cérebro é uma estrutura altamente complexa cujo funcionamento ocorre unicamente baseado nas leis da química e da física;

b) O sistema neural do cérebro evoluiu de modo a resolver problemas práticos com os quais nossos antepassados (hominídeos e anteriores) se defrontavam;

c) A consciência é somente a parte aparente de um sistema muito mais vasto e complexo, do qual não somos conscientes;

d) Diferentes circuitos neurais de nosso cérebro desenvolveram-se para resolver diversos problemas com os quais nossos antepassados hominídeos se defrontaram ao longo das eras;

e) Nosso cérebro ainda é, em grande parte, o cérebro de um “homem das cavernas”. Despendemos quase 99% do tempo de existência de nossa espécie como caçadores e coletores. No entanto, é preciso levar em conta que a cultura produzida pelo homem, principalmente nos últimos 35 mil anos, tem provocado muitas alterações no funcionamento do cérebro através da mente. Sobre este aspecto, escreve o etnólogo Konrad Lorenz:


Em meu livro
A outra face do espelho
tentei elaborar uma epistemologia natural, colocando a hipótese de que o pensamento consciente do homem surgiu em razão da integração de diversas capacidades cognitivas, já anteriormente existentes. Entre estas capacidades cognitivas cabe mencionar primeiramente a noção de espaço. As maneiras de perceber tempo e espaço são, em minha opinião, na realidade apenas uma só, ou seja a percepção de movimento no espaço e no tempo. (LORENZ, 1983, p. 67 – tradução nossa).

 

2.  A epistemologia evolutiva e o conhecimento

Na primeira parte deste trabalho fizemos um breve apanhado da gênese da epistemologia para depois discutir o surgimento da EE, apresentando aspectos das teorias filosóficas e científicas que contribuíram em sua formação. Nesta segunda parte da dissertação trataremos da relação da EE com o conhecimento, abordando tanto aspectos filosóficos quanto científicos, já que o objetivo último da EE é servir como ferramenta para melhor compreender a realidade e nela poder atuar. Nem todos os exemplos dados adiante se referem exclusivamente à EE, mas estão alinhados com um pensamento que: a) do ponto de vista epistemológico considera o empirismo a maneira menos falha de compreender a realidade (naturalismo); b) considera que toda apreensão orgânica da realidade tem bases biológicas (darwinismo).

Na Crítica da Razão Pura Kant, logo no início da introdução, faz a seguinte afirmação; uma das mais importantes da epistemologia:


Eis aí uma questão que merece reflexão: existe mesmo um conhecimento que não depende da experiência e das impressões dos sentidos? Esses conhecimentos são chamados de “a priori” e diferem dos empíricos, cuja origem é “a posteriori”, ou seja, da experiência
. (KANT, 2007, p. 5-6).

 Mais adiante o pensador escreve também:

 Assim dizemos que conhecimento “a priori” é o adquirido independentemente de experiências e o conhecimento empírico é o que só é possível “a posteriori” (por meio de experiência). Portanto, afirmamos que o conhecimento “a priori” é oposto ao conhecimento empírico. (KANT, 2007, p. 7).


Com Kant surge uma nova fase na epistemologia, já que através do conceito do conhecimento
a priori o kantismo havia conseguido criar argumentos para esta ciência contra as críticas do empirismo e do ceticismo. No entanto, o desenvolvimento da psicologia (Wundt, Ebbinghaus, Thorndike) e da biologia evolucionista (Huxley, Spencer, Haeckel) na segunda metade do século XIX, levanta novas questões que afetam também a epistemologia. Com isso, a teoria epistemológica de Kant já não conseguia mais dar conta da complexidade do conhecimento acumulado pelas ciências. Assim, a partir da segunda década do século XX ficava claro que o empirismo estava levando a melhor (empirismo lógico, pragmatismo). Ao mesmo tempo avançavam as pesquisas em diversas áreas da ciência, que demonstravam cada vez mais a impossibilidade de um empirismo do tipo tabula rasa, como o defendido por Locke. Como previsto pela teoria da evolução, confirmado pela genética e intuído pela psicologia, também a mente humana nascia com certos padrões de funcionamento preestabelecidos pelo processo evolutivo. Em 1941 o biólogo e etnólogo Konrad Lorenz publica um ensaio, no qual afirma que o “a priori” kantiano, através do qual a percepção humana podia atuar, corresponderia a estes padrões de funcionamento do cérebro.

O momento histórico é propício e a partir de então se torna cada vez mais comum a associação entre a psicologia, a biologia, a epistemologia e outras ciências ligadas aos processos cognitivos. Segundo Wuketits, Piaget claramente demonstrou a ligação entre a psicologia desenvolvimentista (ou do desenvolvimento), a genética e a epistemologia:


Os fatos que verificamos, reunidos, mostram que a colaboração interdisciplinar é possível na esfera da epistemologia tratando do ser humano em geral, e que esta epistemologia do pensamento natural (biológica) está ligada aos grandes problemas da epistemologia do conhecimento científico
(PIAGET
apud WUKETITS, 1990, p. 50 – tradução nossa).  


A partir dos anos 1970 começava a ficar claro que a epistemologia tinha uma relação muito grande com a evolução, já que sistemas vivos de maneira geral podem ser caracterizados como sistemas de informação ou sistemas de processamento de informação (WUKETITS, 1990). Com relação a isso, falando especificamente sobre seu método epistemológico, comparável ao evolucionismo, Popper escreve que:


Minha teoria do conhecimento é nisso bastante revolucionária e muda tudo o que meus antecessores falaram até agora. Nós somos ativos, experimentamos constantemente, nós trabalhamos constantemente com o método da tentativa e erro. E este é o único método que nós temos. O único método também do qual podemos considerar, que tenha sido o dos animais e plantas primitivos.
(POPPER, 1997, p. 139-140 – tradução nossa).  


Donald Campbell, citado acima, afirmava que a EE deveria ser uma epistemologia que considerasse e fosse compatível com a condição humana de produto da evolução biológica e social (REDDY, 2011). Também considerando a evolução biológica como uma crescente incorporação de informação sobre o meio ambiente, Campbell compara o conhecimento dos ratos de laboratório e das amebas aos nossos e afirma: 


Os processos de conhecimento do homem são, sem duvida, mais complexos e eficientes do que aqueles destes nossos pequenos primos, mas eles não são mais primitivos nem mais simples. Não se trata de invocar um tipo de conhecimento especial para os humanos. Em todos os níveis, a obtenção do conhecimento é de maneira indireta, através de inferências e por tentativa e erro
. (CAMPBELL
apud REDDY, 2011, p. 25 – tradução nossa)


A interação ambiente/organismo gera informação e esta causa mudanças no comportamento do organismo, que por sua vez causa alterações em seu ambiente, processo equivalente ao do feedback estudado na teoria da informação. Segundo Wuketits,

a) Os animais são equipados com perceptores, ou seja, órgãos sensores capazes de captar todo tipo de informação do ambiente, dependendo da complexidade do organismo. Amebas, organismos extremamente primitivos possuem organelas, órgãos táteis com os quais fazem o reconhecimento do ambiente. Na escala da vida estes órgãos de reconhecimento vão aumentando em complexidade, até chegarem aos órgãos sensoriais, sistema nervoso e cérebro, nos mamíferos e no homem;

b) Estes órgãos constituem os sistemas sensores dos organismos, acumulando informações sobre o ambiente, de uma maneira análoga a um computador;

c) Os organismos reagem de acordo com as informações que recebem, muitas vezes criando ambientes próprios para melhor sobreviverem, como o castor ao construir barragens. Alguns pesquisadores consideram este um processo evolutivo próprio, identificado como teoria do nicho, ao invés de mero produto da seleção natural. O mesmo princípio, segundo alguns biólogos, poderia ser aplicado à cultura humana; um “nicho” que começou a ser construído pelos nossos antepassados e que se acelerou (existem várias teorias a respeito) por volta de 45 a 35 mil anos atrás.

O biólogo estoniano Jakob Von Uexküll (186-1944) desenvolveu o conceito de Umwelt (meio ambiente em alemão) que se refere à percepção subjetiva que tanto animais quanto o homem têm em relação ao seu ambiente. Cada organismo, segundo o biólogo, tem o seu próprio “tom subjetivo”. Os humanos, segundo o filósofo alemão Gerhard Vollmer, vivem eu seu nicho particular, que ele chamou de mesokosmos. É neste ambiente ou nicho que o homem constrói seu mundo, através das diversas atividades – ciência, tecnologia, religião, cultura, política, economia – interagindo com o restante da natureza. Assim como a espécie homo sapiens se organizou em seu Umwelt, outras espécies também o fizeram.

Com relação a isso, na visão da EE não existe um ponto de vista “absoluto” da natureza, do qual se possa contemplar todo o resto – comumente aceito como o ponto de vista do homem ou de Deus. Cada espécie teve o seu caminho evolutivo e “interpreta” o mundo exterior (e interior) através de sua “epistemologia particular” e única. Existe assim um modo de ver e interagir com o mundo relativo ao elefante, outro ao polvo, à bactéria (com milhares de espécies), ao pinguim e até aos diversos tipos de seres humanos, sejam quais forem as categorias nas quais quisermos classificá-los. Desta situação decorrem dois fatos: 1) Não existem valores absolutos e eternamente válidos para todos as espécies de seres que existem e existiram; e 2) Muito menos valores humanos válidos para toda a natureza, inclusive a humana. Com relação a isso, Wuketits escreve:


Tendo reconhecido nosso passado evolucionário e as limitações evolutivas sobre nosso comportamento e tendo tomado conhecimento da nossa mutabilidade como organismos e seres culturais, devemos estar preparados para eliminar maneiras ilusórias de pensar. Nossa história foi frequentemente guiada por ilusões e doutrinas ideológicas e políticas baseadas em ilusões – por exemplo, de que a humanidade fora criada na imagem de Deus ou de que é “uma mistura do divino e do diabo, ou…diabólico” (Agassi 1977, p. 318) – e estas doutrinas impediram o progresso do conhecimento.  Para colocá-lo claramente, é tempo de ser mais realista, ou seja, perceber que nosso autoconceito é apenas um autoconceito limitado por nosso próprio desenvolvimento evolucionário, biológico e cultural
. (WUKETITS, 1990, p. 192 – tradução nossa)      

Chegamos assim ao final deste trabalho. Apresentamos, em poucas páginas, uma visão geral da EE; sua posição no contexto da epistemologia, sua formação, características, estudiosos e alguns de seus objetos de estudo. Trata-se, evidentemente, de uma visão limitada e que não tem a pretensão de ter esgotado o assunto. Finalizo o texto com uma citação de Donald Davidson, o maior discípulo de W. O. Quine, que de certo modo sintetiza o que tentamos demonstrar acima:


Nada no mundo, objeto ou evento, seria verdadeiro ou falso se não houvesse criaturas pensantes. John Dewey, em cuja honra e memória as conferências que constituem este ensaio foram proferidas, chegou a duas conclusões: que o acesso à verdade não poderia ser prerrogativa especial da filosofia e que a verdade deve ter conexões essenciais com os interesses humanos. Ele era desdenhoso em relação à tradição filosófica que encarava a verdade como correspondência entre pensamento e uma realidade inacessível à pesquisa experimental e à prática ordinária. Ele acreditava que esta imagem da verdade fora designada para servir à tese de que os filósofos possuem uma técnica privilegiada para alcançar uma forma de conhecimento diferente da, e superior à ciência
. (DAVIDSON, 2002, p.47). 

 Referências:

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Ricardo Ernesto Rose
Jornalista, autor, pós-graduado em sociologia e gestão ambiental. Graduado e pós-graduado em filosofia

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