A MÁQUINA A VAPOR, A LOCOMOTIVA E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

HISTÓRIA DA INVENÇÂO DA  MÁQUINA A VAPOR E A LOCOMOTIVA

Dr. Aluísio Telles de Meirelles.

Fonte: Manual do Executivo. 
Novo Brasil editora brasileira.
   

A INVENÇÃO da máquina a vapor pertence à nossa época, todos o sabemos. No entanto, sua idéia foi concebida há muitos séculos por um homem que viveu em Alexandria. Tal homem, chamado Heron, foi o primeiro a compreender a força do vapor, escrevendo um tratado de pneumático, cuja publicação chamou a atenção dos sábios para o problema, até então desconhecido.

Em Frankfort, na Alemanha, apareceu em 1615, uma

obra intitulada “Razões das forças motrizes”, escrita por um estudioso do assunto, Nicolau de Caus, cujo sistema, era, em parte, baseado nas idéias de Heron.

Também um certo marquês de Worcester, construiu em Londres uma máquina a vapor, de alta pressão, que empregou tirando água do rio Tâmisa, naquela cidade.

Apareceu em seguida o francês Dionísio Papin, o primeiro físico a reconhecer a força elástica do vapor da água, estando seu nome ligado à caldeira conhecida sob o nome de “marmita de Papin”, a que acrescentou a válvula de segurança.

Em seu livro “Dialética da Natureza”, diz Engels: “os que se afanavam nos séculos XVII e XVIII por criar a máquina a vapor estavam longe de supor que estavam criando a ferramenta que, em maior medida do que qual quer outra, determinaria uma ação revolucionária sôbn as relações sociais do mundo e, em particular, da Europa”

As tentativas mais antigas para a aplicação do vapor como fôrça motriz, foram realizadas por Heron de Alexandria, já citado, Leonardo da Vinci, Jacó de Strada, e muitos outros, inclusive o mecânico italiano Branca que escreveu em 1629 o livro “Le Maquine”, no qual propunha a construção de uma roda a vapor baseada no princípio da ação direta do fluído, isto é, na compressão produzida pela energia cinética, ou seja, na velocidade do mesmo.

Papin, observando todos os engenhos precedentes, conclui que por meio de determinadas condições externas, a pressão atmosférica possuía condições para pôr o êmbo* lo em movimento.

Dessa observação, deduziu naturalmente a possibilidade de valer-se dela na qualidade de força motriz. Assim, constrói um motor atmosférico, formado por um cilindro vertical, dentro do qual se deslocava, mediante movimentos alternados, um êmbolo solidamente encaixado no mesmo. Aquecido o cilindro, desprendia-se o vapor que, enchendo o espaço livre, expulsava o ar existente no cilindro, através de uma válvula especial.

Em 1707, inventou Papin uma máquina de pistão movida a vapor e construía o primeiro barco a vapor para experimentar no Fulda, sob as vistas de grande multidão apinhada às suas margens.

Esse modelo era muito mais complexo. Depois de alguns aperfeiçoamentos repetiu a operação com o seu barco a vapor na cidade de Munden. Nessa cidade, os barqueiros, inquietos com aquela nova concorrência, tomaram de assalto o barco e o fizeram em pedaços.

Desgostoso com o sucedido, Papin faleceu pouco depois em Marburgo, deixando a outros mais felizes do que

ele a glória da realização e da aplicação das idéias que havia concebido a respeito da locomoção a vapor.

As novas máquinas aperfeiçoadas por seus sucessores, levariam ainda muito tempo a impor-se ante as injunções e a ignorância de uma sociedade feudal. O trabalho escravo era mais econômico do que a máquina.

Outros grandes físicos continuaram, entretanto, a aperfeiçoar a máquina a vapor, destacando-se entre eles, o nome de James Watt.

Em 1681, Papin publicou a sua teoria do “digestor”. Logo depois foi obrigado a deixar a França, partindo para a Inglaterra, onde publicou as “Transações filosó-licas”, memórias que lhe valeram o oferecimento, em 1687, da cadeira de matemáticas de Marburgo.

Em Cassei, para onde partiu, deixando Marburgo, construiu ainda outros aparelhos-fornos para vazar espelhos, carro a vapor, etc. Papin faleceu no ano de 1711.

* * *

O BARCO A VAPOR

Uma gôta d’água, quando reduzida a vapor, ocupa um volume 1.700 vezes maior que seu estado líquido. Dessa propriedade física resulta uma enorme força de expansão. Denis Papin, no ano de 1690, observando um caldeirão ao fogo, teve a idéia de aproveitar essa energia, construindo suas máquinas.

Roberto Fulton, engenheiro americano, nascido em Little Britain, na Pensilvânia, EE.UU., construiu, no ano de 1803, um barco movido a vapor. Pouco depois, 0 engenheiro inglês Stephenson fêz correr a primeira locomotiva.

Dotado de temperamento firme, muito assíduo aos estudos, Fulton conseguiu instruir-se, apesar da pobreza de seus pais. Possuía enorme vocação para o desenha e nas horas que lhe sobravam do trabalho dedicava-se ao estudo da pintura.

Contava 22 anos quando atravessou o Atlântico e foi a Londres com o objetivo de dedicar-se exclusivamen* te ao estudo do desenho e da pintura.

Entretanto, ao fim de algum tempo, a mecânica começou a exercer sobre o jovem uma profunda atração. Fulton decidiu-se então se dedicar inteiramente a essa profissão.

De tal forma se desenvolveu a sua atividade nesse nôvo campo que, de algumas obras executadas nas oficinas do Devonshire, resultou a proteção do duque de Bridgewater e do conde de Stanhope. Amparado por esses nobres, pode Fulton dedicar-se inteiramente às suas pesquisas. Inventou alguns aparelhos durante essa época.

A navegação a vapor chamou a sua atenção e passou então a estudar o assunto apaixonadamente, analisando minuciosamente todos os modelos criados até aquela época.

De tal forma e com tal entusiasmo se entregou a essa nova atividade que após dois anos de luta, em 1803, construía o seu primeiro barco a vapor.

Infelizmente, seu primeiro barco não obteve o êxito esperado, afundando-se no rio Sena. O fato, entretanto, não trouxe desânimo ao inventor.

Lutou tenazmente, trabalhou dia e noite e acabou construindo outro barco, com o qual evoluiu em pleno rio Sena, diante de um público numeroso, durante uma hora e meia, subindo e descendo ainda, duas chalupas car-

regadas.

Fulton tinha grande interesse e maiores esperanças de que a Academia de Ciências e o govêrno se interessassem pelo seu invento, o que não aconteceu.

Desiludido e mesmo desencorajado, voltou para a América, onde dirigiu a construção de um barco maior, equipado com uma máquina inglesa. Era o famoso “Clermont”, o primeiro navio a vapor que apresentou icsultados práticos.

O “Clermont” tinha 50 metros de comprimento. Lançado à água em 11 de agosto de 1807, cinco dias depois, »’fetuou a viagem Nova York e Albany, cerca de duzentos, quilômetros. Gastou nessa viagem 32 horas, navegando contra a corrente do rio Hudson.

Desde essa época; os barcos a vapor começaram a ser muito usados nos Estados Unidos. Roberto Fulton teve então a sua reputação de engenheiro firmada, teve seus méritos reconhecidos e passou a ser empregado pelo govêrno norte-americano em obras de canais e outros empreendimentos mecânicos.

O mundo deve muito do seu progresso a Roberto Fulton, falecido no ano de 1815, em Nova York.

A LOCOMOTIVA

Dissemos, páginas atrás, que o século XX trouxe consigo, além da abertura das vias aquáticas artificiais, a construção de grandes vias terrestres. Desde a primeira ligação ferroviária entre Manchester e Liverpool em 1830, a estrada de ferro realizou enorme progresso, ad-

quirindo vital importância para a ligação entre os centros produtores de matérias-primas e os de elaboração industrial das mesmas e para a compensação entre as zonas de abundância e as de escassez.    

A locomotiva a vapor, que possibilitou tamanho progresso foi inventada por Jorge Stephenson, filho de um humilde operário foguista, nascido na cidade de Newcastle, na Inglaterra, no ano de 1781.

Stephenson foi o primeiro a compreender o sistema de aderência das rodas, fruto da sua enorme capacidade da raciocínio e de trabalho, qualidades demonstradas desde a sua infância, quando consertava relógios para comprar livros e assim estudar.

Aos trinta anos de idade, colocou-se como vigia de uma mina de hulha, passando depois a maquinista da mesma, continuando sempre a estudar, especialmente matemática, mecânica e química.

Mais tarde, foi nomeado engenheiro da mina de We-lington onde, dando provas de grande capacidade inventiva, substituiu os carris de ferro por outros de madeira e, por meio de planos inclinados, conseguiu reduzir a uma sexta parte o número de cavalos empregados na mina.

Pensou depois em construir uma locomotiva a vapor, que, colocada sôbre carris, pudesse arrastar, além do seu próprio pêso, alguns vagões carregados de hulha.

Trabalhando àrduamente, após várias tentativas, marcou a primeira experiência do nôvo mecanismo para

o dia 25 de julho de 1814.

Esse dia tornou-se memorável. A máquina, posta em movimento, arrastou oito vagões do pêso de trinta toneladas, com uma velocidade de quatro milhas horárias. Estava coroado de glória o novo invento.

Empenhado em obter melhor rendimento de sua máquina, Stephenson teve a idéia de fazer terminar o tubo ilr descarga do vapor na própria chaminé, conseguindo com essa modificação, aumentar a força da velocidade.

Dessa forma, aplicou em sua máquina, o princípio do aquecimento tubular, inventado pouco tempo antes pelo engenheiro Seguin, outro grande estudioso do assunto.

Tantas foram as vantagens evidenciadas pelo novo invento que, uma estrada de ferro planejada e construída d penas para o transporte de mercadorias, foi logo conseguida também ao serviço de passageiros.

A partir dessa época, acelerou-se em todo o mundo

a     construção de locomotivas, um dos grandes fatores do progresso humano, pois a locomotiva em terra, o barco a vapor no mar e o avião nos ares, constituem os grandes elementos de aproximação dos povos, a base do progresso do mundo.

Prosseguindo em sua vitoriosa carreira, Stephenson foi depois chamado para dirigir a construção de grande número de linhas férreas inglêsas.

Faleceu o grande homem na cidade de Tapton, Inglaterra, em 1848.


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