AS MARAVILHAS DAS ANTIGAS CIVILIZAÇÕES
Por Henry Thomas Buckle (1821 –1862)
A Atlântida Perdida
PODEIS hoje imaginar os Estados-Unidos inundados pelas marés do Atlântico e tragados, silenciosa e eternamente, pelo lodo? Se isso acontecesse — e no misterioso curso da natureza tudo é possível — daqui a um milénio os arqueólogos de outras terras falariam de nós como de um povo tão antigo que viera a se tornar um mito — um simples nome, sem mesmo um lugar no mapa, "derradeiro e escuro traço de tribu e raça", apagada memória conservada em poucas sílabas de futuras línguas, nas páginas amarelas de um manuscrito estranho e velho, nos lábios silentes da esfinge.
Tal foi o destino da Perdida Atlântida, outrora tão grande, tão próspera e tão soberba como os Estados-Unidos de nossos dias.
Foram precisos milhares de anos para edificar a civilização da Atlântida Perdida. Bastou um dia para destruí-la. O mar escancarou as raivosas fauces e toda a região desapareceu para sempre da vista humana.
Talvez tivesse sido ao crepúsculo de um dia tranquilo, quando o tempo parece retardar-se languidamente no ar; talvez o povo estivesse seguindo para os estádios, afim de passar uma tarde esportiva, ou jazesse sobre a relva, fazendo planos para o dia seguinte. Talvez durante semanas a terra houvesse tremido e os céus deixado cair estréias à noite. E talvez os sacerdotes houvessem feito estranhas e terríveis profecias, enquanto a populaça assobiava alegremente e prosseguia no seu trabalho.
A Atlântida Perdida foi um continente que existiu antes do Egito e bem anteriormente à antiga civilização maia da América. Para os primitivos berberes do norte da África esse continente era uma tradição, gerada nas sombras do passado. Para os antigos babilônios e cretenses, era mais antigo ainda.
Um continente que se estendia através do Atlântico, de Portugal até as praias da América Central, povoado de centenas de milhares de homens, mulheres e crianças — rijos homens de negócios que enviavam navios imperiais, impelidos por fileiras de escravos negros, às águas do Mediterrâneo; sumos sacerdotes diante dos quais o povo se prosternava reverente; reis com haréns de louras raparigas das Gálias; majestosos templos erigidos para culto do sol; gigantescos soldados, de reluzente malha de sólido bronze, marchando pelas ruas.
Essa prehistórica região era um grupo de três enormes ilhas, das quais a maior chamava-se Atlântida. Se olhardes para o mapa de hoje notareis que as Canárias, os Açores e as ilhas do Cabo Verde são tudo quanto resta daquela imensa região, que jaz mergulhada no fundo do mar.
O povo da Atlândida Perdida era outrora o mais próspero da terra. Seus reis, poderosos e justos. Duas mil estátuas brônzeas de deuses; carruagens e cavalos, ruas repletas de comerciantes escandinavos; mercadores de óleo de Tiro e Babilônia; tecelões da Acádia, rindo, acotovelando-se e falando de uma nova comunidade, que acabava de formar-se, a recém-nascida cidade’ de Nínive; teatros ao ar livre, onde louros gigantes lutavam contra ferozes animais para divertimento das multidões doidas por esporte; grandes portos marítimos, movimentados de navios que se enfileiravam sobre o mar como compridas lagartas; marinheiros embriagados, cantando canções da "negra baleeira de Ascalão" e "do manipanso que bebeu durante três dias inteiras antes de cair de seu banco de pedra!"
Tal era a Atlântida, o continente que conservou o segredo da civilização oculto no seu seio. No lodo e no limo, sob montanhas d’água, jazem os esqueletos de seus missionários, que viajaram de terra em terra e espalharam o nome de seus deuses até os confins do globo; que legaram à posteridade o seu calendário e o segredo da fabricação do bronze.
Estranhas civilizações da América primitiva
HÁ cerca de quarenta anos, bainhas de prata, facas,e inscrições semíticas foram desenterradas ao longo das margens do Mississipi. Esta descoberta levou os arqueólogos a acreditar que a América fora habitada por uma raça civilizada, muito antes de ter sido descoberta por Coldmbo. Talvez fosse essa raça a "tribu perdida de Israel".
A América não é um novo mundo, mas um mundo velhíssimo, tão velho quanto o Egito e a Mesopotâmia. Como a Europa e a Ásia, a América atravessou as idades da pedra, do bronze e do ferro.
Havia povos que habitavam o vale do Mississipi e costumavam edificar montículos para seus mortos. Só no Ohio foram encontrados dez mil desses montículos fúnebres. Por isso chamamos àquela gente de "edificadores de montículos". Os montículos continham paredes de pedra com, muitas vezes, mais de 9 metros de altura, encerrando, em muitos casos, uma área de mais de 160 hectares de terra. Juntamente com esses montículos foram descobertas pirâmides de trinta metros de altura, iguais às do Egito. Essas pirâmides sugerem um elo entre o "velho" e o "novo" mundo, séculos antes de Colombo.
E quem eram esses construtores de montículos? Provavelmente contemporâneos do mastodonte, o primitivo precursor do elefante.
E que eram esses montículos? Túmulos construídos para representar as formas de animais prehistóricos. Alguns desses animais sobreviveram até os tempos his-tóricqs.
Nesses montículos os escavadores encontraram esqueletos: alguns deitados de costas, outros sentados, outras ainda de lado, como se tivessem sido enterrados nas posições em que haviam morrido. No que se refere à construção dos túmulos, muitos deles, pelos seus tectos baixos e longos e pelas abóbadas quadrangulares, podem ser chamados de modernos.
O mais estranho desses sítios funéreos, recentemente descoberto, é um de Ohio, conhecido como a "Grande Serpente". É uma enorme serpente feita de terra, medindo 23 metros entre as fauces abertas, 9 metros de largura, e 138 metros de comprimento. Essa monstruosa serpente culmina com uma sinuosa cauda de três espirais.
Mas se pensais que essa civilização de fazedores de montículos era algo de extraordinário, visitai os remanescentes da arquitetura maia na América Central e Meridional, os jardins flutuantes nos lagos das montanhas, as pontes e ruas dos astecas, as estradas soberbamente pavimentadas do Perú. Há poucos templos que possam rivalizar com o templo piramidal das sete esferas, com seus sete terraços dedicados aos sete planetas e caracterizado por suas sete cores: ouro, prata, vermelho^ azul, amarelo, branco e prelo de acordo com as cores atribuídas ad Sol, à Lua, a Marte, Mercúrio, Júpiter, Vénus e Saturno.
Na arruinada cidade de Teotihuacan, imponente monumento da civilização tolteca, encontramos a antiga caljada, "A Vereda da Morte". Cerca essa calçada um grupo de pirâmides. A Pirâmide da Lua conserva os sinais de uma escadaria no seu lado oriental, e um cume que domina uma bela vista do que deve ter sido outrora majestosa cidade. A truncada Pirâmide do Sol é dividida em três terraços, dos quais o mais alto é o grande pátio da Deusa Delapidada, com 210 metros de largura e fileiras de túmulos em todos os lados.
Ou então visitemos os palacios e templos dos Incas, com seus grandes laboratorios astronômicos, o Rochedo de Rodadero, em cujo cimo se ergue a Cadeira do Inca, série de saliências de pedra, empilhando-se umas por cima das outras, de lado e de frente, qual gigantesca escadaria esculpida na rocha.
Olhemos agora a estranha Montanha do Julgamento. Essa montanha ergue-se quase perpendicularmente a uma altura de 305 metros. Bem na extremidade, acha-se uma pequena construção. È o "Patíbulo do Homem Inca”, do qual os criminosos masculinos, condenados à morte, eram arrojados ao abismo. À esquerda, separada pon uma grande fenda nas montanhas, mas à mesma vertiginosa altura, está a "Horca de Mujer", ou a casa donde as criminosas eram lançadas na eternidade. Terrível, na verdade, era a justiça dos incas.
Examinemos agora a "Fonte dos Incas", um poço com 12 metros de comprido e 3 de largo, cheio de água que se precipita escachoante através de rochedos subterrâneos.
E antes de deixar sítio de tamanha beleza e mistério, devemos demorar-nos por um instante em frente do Lago de Pimo, onde, profundamente mergulhada na bacia, se vê uma rocha de pedra arenosa, parecida com uma enorme cadeira de braços. A tradição tem aquela rocha como o lugar de descanso dos reis mortos. Aquí, podemos acrescentar simbolicamente, descansa toda a enterrada cultura dos primitivos americanos, cujo maravilhoso deslumbramento apenas podemos imaginar. Tão deslumbrante, de fato, era aquela primitiva civilização dos incas, que alguns poetas descreveram como "uma terra em que os edifícios eram coroados de diamantes e as pontes feitas de ouro"
Egito, terra de mistério e de magia
DIANTE de vossa vista erguem-se dois e meio mi-Ihões de blocos de pedra, a uma altura de mais de 146 metros. As pedras têm em média, pelo menos, duas e meia toneladas, mas muitas delas pesam mais de cento e cincoenta toneladas cada uma. Essas pedras transpuseram o Nilo carregadas por mãos humanas, há quatro mil anos. Como foi isso conseguido, é um dos enigmas da história!
No centro desta pirâmide que estamos examinando faltam alguns blocos, omitidos, afim de dar passagem ao corpo do rei Khufu. Nas paredes vêem-se séries de pinturas que representam o falecido faraó a saborear uma boa refeição, a lavrar um campo, a conduzir bois, ou ocupado em vários outros labores ou diversões, próprios de um rei.
Primitivamente era costume dos reis egípcios, que se sentiam aterrorizados ao pensar na solidão da morte, ter suas mulheres e escravos sepultados consigo. Mas esse costume foi mudado mais tarde e os faraós tiveram de contentar-se com as simples estatuetas de suas esposas e escravos. Um sumo sacerdote murmurava palavras mágicas sobre aquelas imagens, e então — tal era a crença dos egípcios — as imagens tornavam-se vivas!
Mas voltemos à nossa pirâmide. Entremos no suntuoso Vestíbulo! dos Mortos, que abrange três vezes a área de qualquer edifício de nossos dias. A igreja de São Pedro, em Roma, caberia dentro dessa pirâmide. Se, por acaso, a pirâmide fosse desmanchada, suas pedras dariam bastante material para um muro que circundasse toda a França.
Os egípcios eram amantes da grandeza. As colunas que suportam o grande vestíbulo de Karnak, por exemplo, são tão grossas que seis homens de braços estendidos, mão a mão, não seriam capazes de abarcá-las.
De volta à nossa pirâmide, galgamos cem degraus até atingir o corpo do grande rei. Examinemos como foi embalsamado o corpo do rei Khufu, para que pudesse desafiar as devastações do tempo. Quando o rei Khufu morreu, retiraram-lhe os miolos pelas narinas, por meio de um gancho de-ferro. Seu abdômen, depois de esvaziado e limpo com vinho de palmeira e polvilhado de essências, foi costurado novamente. Após setenta dias o corpo foi enrolado em tiras de pano encerado e untado de goma. E assim o rei mortal tornou-se uma múmia "imortal".
O Egito é a terra clássica da morte. Toda a sua arte, toda a sua ciência, todo o seu engenho mental e físico estão concentrados no problema da morte.
Contudo não vamos supor que os egípcios não soubessem viver. Se o rei Khufu pudesse dizer algumas palavras, hoje, que história não nos contaria do Egito de há seis mil anos! Uma terra de maridos governados e de mulheres mandonas. Uma terra onde as mulheres "vestiam calças", exigindo absoluta fidelidade de seus maridos e tomando a iniciativa em todos os galanteios. Recebiam um dote de seus maridos quando casavam. A transmissão de todos os bens de raiz se fazia pela linha materna.
Quanto aos homens, pintavam os lábios, punham carmim no rosto, óleo nas pálpebras e coloriam as unhas. Se encalveciam, esfregavam a cabeça com cinzas e óleo, pedindo a Osíris que os tornasse pilosos.
Era ocupação de cada rapaz no Egito descobrir uma esposa, antes de vir a ser um "solteirão".
Irmão e irmã, na língua egípcia, tinham o mesmo significado de namorado e pessoa amada.
Eram comuns casamentos e amores entre irmãos e irmãs. Existem muitas cartas de amor que comprovam esse costume peculiar de manter estritamente os casamentos na mesma família. Somos informados de que um dos mais fascinantes reis egípcios, Ramsés II, em recompensa da bela epopéia que escreveu a respeito de suas proezas militares, presenteou a si mesmo com uma centena de mulheres. Delas nasceram cento e cincoenta filhas; e afim de produzir, como Adão, uma raça de esplêndidos netos, casou-se com muitas de suas próprias filhas. Conseguiu deixar bastantes descendentes, que constituíram por mais de quatro séculos uma classe especial no Egito, classe entre a qual foram escolhidos reis e rainhas, durante treze gerações.
Passando da realeza ao homem comum, é interessante mostrar primeiramente o gosto dos egípcios pelos "cafés". Depois de um duro dia de serviço, a empurrar e carregar as pesadas pedras para a construção das pirâmides, o cidadão metia-se na mais próxima "cervejaria", para refrescar-se com o espumante "sabão da garganta".
Mas onde haja cervejarias por força surgirão Íeis e ligas de temperança. A primeira organização proibicio-nista da história apareceu há cerca de 5.000 anos, nas margens do Nilo. Mas, a despeito dos proibicionistas, os soldados, os marinheiros e os criminosos (que não escasseavam) continuavam a frequentar as cervejarias.
Os criminosos no Egito tinham uma certa "consciência de classe". Formavam sindicatos e elegiam regularmente um presidente, denominado "Chefe dos Ladrões". Quando ocorria um roubo, o cidadão podia recuperar seus bens por meio de uma simples súplica ao Chefe dos Ladrões que, em troca, consultava o rol de seus membros, procurava os artigos roubados e os vendia com bom lucro ao seu primitivo dono.
O Egito teve também suas perturbações trabalhistas. Muitas centenas de pedreiros, empregados nas novas construções do templo de Muth, fizeram uma greve para obter mais peixes e mais verduras. Isso se deu há uns três mil anos. Marcharam para a casa do governador. O secretário deste lhes disse que o governador se achava ausente, numa viagem em camelo, ao que responderam os trabalhadores dizendo-lhe que deixasse de "tapeações" e tratasse de tirar os alimentos dos celeiros.
Podemos, pois, dizer que a primeira greve da história resultou em vitória para os trabalhadores.
Os operários não eram os únicos revoltosos do Egito. Os lavradores, também, mostravam-se "duros de roer", especialmente em tempo de guerra. Não gostavam de guerras. Preferiam lavrar suas terras e pôr ovos a chocar. Possuíam para isso engenhosas incubadoras. Essas incubadoras consistiam em compartimentos de lodo, cuidadosamente ventilados e aquecidos por grandes fogareiros. Os ovos eram embrulhados em palha e depois colocados sobre os fogareiros. De seis em seis horas, os ovos eram revirados, até saírem os pintos.
De um modo geral, o trabalho no campo não era pesado. O lavrador semeava seu terreno e depois deixava aos porcos o trabalho de enterrar as sementes nele. O Pai Nilo, com suas águas benéficas, se encarregava do resto. O lavrador ficava simplesmente sentado à espera da colheita. Treinava uma turma de macacos para apanhar as frutas das árvores; fazia uma rede para pescar de dia; e de noite utilizava a mesma rede para proteger-se dos mosquitos.
E assim vivia e morria. E podeis ficar certos de que tinha muita coisa de que morrer: tuberculose da espinha, arteriosclerose, cálculos biliares, varíola, paralisia infantil, anemia, epilepsia, gota e apendicite. Todas estas doenças eram arquivadas e analisadas nos livros de medicina daquele tempo.
Os remédios que os egípcios usavam eram em número de setecentos. Os mais populares eram: sangue de lagarto, orelha de porco, comida podre, miolos de tartaruga, piolhos e um livro velho fervido em azeite.
Mas vivendo ou morrendo, os egípcios insistiam, com toda a ênfase, na sua imortalidade. Julgavam que, incluso no corpo, havia outro corpo menor, o Ka, espécie de alma esvoaçante e com forma de pássaro. Mas a alma só era imortal enquanto a carne fosse preservada de corrupção. Por isso, todo bom egípcio fazia uma viagem à cidade da morte para tratar de sua mumificação. O "abridor de urnas" mostrava-lhe, em modelos de madeira, sarcófagos de três preços diferentes e um preparo de múmia de acordo com as posses de cada freguês. Tão azafamados viviam os embalsamadores que, depois de longas agitações trabalhistas, formaram uma "corporação do cemitério".
Os egípcios eram um povo profundamente religioso. Adoravam um inseto chamado escaravelho, que era o símbolo da vida eterna. Acreditava-se que êle se reproduzia por si mesmo. Outras vezes adoravam também o touro, o crocodilo, o gavião, a vaca, a cabra, o ganso, o carneiro, o gato, o cachorro, o frango, a andorinha, o chacal, a serpente e até mesmo o bugio.
Na construção dos monumentos de seus deuses, praticaram os egípcios proezas de engenharia que não fomos ainda capazes de igualar. Como, ao tempo em que o sistema de roldana não era ainda sonhado, puderam eles levantar, à mão, aqueles tremendos blocos a 150 metros de altura? Ficariam centenas de milhares deles em cima de plataformas de madeira, içando-os das bancadas mais baixas às mais altas, polegada, a polegada? Quantos milhares de jovens filhos e de velhos pais não eram esmagados diariamente com aquele processo!
Potencial humano! Senusret I construiu um muro de vinte e sete milhas de comprimento para represar as águas do Lago Meris. As cidades de Mênfis e Tebas igualavam o antigo esplendor de Roma e não ficavam muito atrás do esplendor moderno de Nova York. E que dizer da estranha Esfinge que foi ereta há 4.837 anos para glorificar o deus-sol, Ra, semileão, semihomem, tão velha como a própria civilização? Que milagres da força humana atuaram na construção daqueles mistérios? E que milagres de pensamento concorreram para os mistérios ainda maiores de seus planos? Pedi à Esfinge a resposta ao enigma!
A Fascinação da Índia e da Babilônia
OTERRITÓRIO da Índia estende-se do Himalaia à ilha de Ceilão, da Pérsia ao Afganistão, e contém um quinto da população do mundo. Despertemos para a fascinação da Índia.
Entre os anos 2000 e 1000 antes de Cristo, o hindu gozou de um sistema de corporações profissionais, semelhante ao atual "New Deal" da América do Norte. Essas corporações profissionais consistiam em juntas arbitrais, que não somente regulavam as questões do trabalho, mas resolviam as brigas entre marido e mulher.
Até hoje os hindus conservaram um antigo costume bem típico: um rígido sistema de classes, de nobres, sacerdotes, camponeses e suãras (ou classes baixas). Completando estas quatro classe, existe a classe dos sem-clas-se, ou impuros, cuja própria sombra vos danará eternamente, se acontecer cruzar em. vosso caminho!
Outro costume característico dos hindus encontra-se na atitude dos homens para com as mulheres. Uma mulher hindu pode andar em qualquer parte em público, sem temor de ser molestada. Na verdade, de acordo com os hindus, o risco está do lado dos homens. Porque, asseveram eles, "a mulher, por natureza, está sempre inclinada a tentar o homem". Por isso um homem não deve sentar-se em lugar retirado, mesmo que seja com sua mais próxima parenta. "Acautela-te com as mulheres, dizem os filósofos hindus. Há veneno nos seus lábios".
Por toda a Índia vêem-se estranhos homens sentados, de pernas cruzadas e corpo inteiramente imóvel. Ficam olhando o umbigo ou o nariz, ou a contemplar o sol, dias e dias, até ficarem cegos. Muitos deles jazem nus, pelo espaço de meio século ou mais, sobre uma cama de. pontas de ferro, ou acorrentam-se a árvores, ou, por divertimento, fecham os punhos bastante tempo para que suas unhas atravessem as costas de suas mãos.
Esses singulares fanáticos, chamados Yogis, devotam toda sua vida ao sofrimento físico, afim de alcançar a paz do "Nada", ou Nirvana. Piá numerosos degraus na escada que um hindu poderá galgar até esse paraíso divino.
Primeiro, o paciente deverá abandonar todos os desejos mundanos, pela purificação própria e pelo estudo. Depois, deverá fazer cessar todo movimento do corpo, colocando seu pé direito sobre sua coxa esquerda, cruzando as mãos, prendendo os dedos grandes dos pés, inclinando a cabeça sobre o peito e olhando para o nariz. Em seguida, vem uma lenta diminuição da respiração, de modo que somente um mínimo de ar interfira com suas locubrações intelectuais. E, finalmente, segue-se um período de intensa concentração sobre uma única idéia, com exclusão de tudo mais, condição hipnótica na qual o paciente repete a si mesmo persistentemente a sílaba "Om", até cair num transe extático. Esta fase se prolonga muitas vezes por vários anos.
* * *
Os antigos babilônios tinham quase tantas canções populares quanto os modernos americanos. E se considerais apimentadas as canções americanas, deveríeis conhecer algumas de suas antepassadas babilônias! Essas antigas canções babilónias têm feito corar a muitos eruditos, que as traduziram de seus originais gravados em tijolos.
Grandes Momentos na História do Mundo Antigo
Os babilónios, como raça, não eram nada modestos. Em sua religião, tanto quanto em sua música, entregavam-se a certas práticas um tanto chocantes. Por exemplo, era costume entre as mulheres de Babilônia, solteiras ou casadas, irem uma vez na vida ao templo de Ishtar, no quente mês de Thammuz, para se oferecerem ao primeiro desconhecido que delas se aproximasse. Ao templo de Ishtar acorriam mulheres ricas e pobres, belas e feias, vestidas com seus mais atraentes trajes e engrinaldadas de flores. Chegadas ao templo, sentavam-se em longas fileiras, entre as colunas, e esperavam…
O desconhecido, depois de examinar as fileiras de rostos, lançava uma pequena moeda de prata no colo de sua escolhida e pronunciava as palavras sagradas: "Rogo à deusa Ishtar que te favoreça!"
"As dotadas de beleza ou simetria de formas logo se desobrigam", escreve o historiador grego Heródoto." Mas as deformadas são condenadas a permanecer no templo durante muito tempo, pela incapacidade de satisfazer à iei. Algumas mulheres têm de esperar durante três ou quatro anos."
Marcava-se o dia da intimação para cada mulher. Mas às vezes acontecia que o sorteio era falseado por suborno. Uma moça arranjou com o sumo-sacerdote para só ser chamada aos noventa e dois anos. Não sabemos se ela viveu até receber a intimação.
Primitivos piratas do mar
OS primeiros negociantes do mundo foram os fenícios. Poucas eram as manhas do negócio que eles desconheciam. Embora o Rockefeller do mundo antigo fosse o
babilônio Balnumahe, que tinha o monopolio de varios ramos de indústria e era ao mesmo tempo proprietário de navios e latifundios, foram os fenícios antigos magos da finança.
Há 4.000 anos, manufaturavam eles o vidro e utensílios de metal, embarcavam cereais, vinhos e tecidos para todas as cidades do Mediterrâneo. Astutos comerciantes, persuadiram certa vez os homens ignorantes da Espanha a darem-lhes tanta prata em troca de um carregamento de azeite, que ao empilharem o dinheiro no porão do navio este começou a afundar. Em consequência disso, os ladinos fenícios lançaram fora o ferro e as pedras que enchiam as suas âncoras ocas, atocharam-nas de prata e puseram-se ao mar alegremente.
Conseguiram escravizar os espanhóis em suas próprias minas e obrigá-los a trabalhar excessivamente. Não faziam distinção entre negócio e fraude, honestidade e pirataria.
Vivendo numa língua de terra de cem milhas de comprimento e apenas dez de largura, e tendo às costas as montanhas do Líbano, viram-se forçados a tornar-se um povo marítimo. Em consequência disso, inventaram novo estilo de construção de navios. Modelaram galeras baixas, compridas e estreitas e as equiparam com uma vela retangular, içada a um mastro, afim de dar mais ímpeto ao trabalho dos galés. Os fenícios foram assim os primeiros fabricantes de velas de navio.
A princípio seus navios arrastavam-se cautelosamente, como "compridas lagartas", perto das costas. Dentro em pouco, porém, os marinheiros fenícios, guiados pela Estrela Polar, aventuravam-se oceano a dentro e navegavam em torno do continente africano, uns 2.000 anos antes dos portugueses do século XVI. E se podeis imaginar qual tenha sido a excitação provocada no mundo pela descoberta da América por Colombo, que emoção não seria a vossa se fôsseis um fenício, no dia em que o primeiro navio chegou ao Egito de regresso de sua "volta ao mundo"!
Em pouco tempo, aqueles magos da finança antiga tornaram as cidades fenícias as mais ricas da terra. A mais famosa delas* foi Tiro, situada numa ilha ie com um esplêndido porto, a Veneza do mundo antigo. Seus prédios eram tidos como mais belos que os de Roma.
Contudo, a despeito de seu esplendor, não passavam os fenícios de uma raça bárbara. Muitos de seus costumes eram revoltantes, mesmo para os antigos. O mais horrível deles era o sacrifício humano. Entre as gritarias do populacho e o estridor dos címbalos, lançavam crianças nas fauces ardentes de seu deus Moloch. Esse costume do sacrifício humano persistiu entre os cartagineses, descendentes dos fenícios, até quase o começo da era cristã.
Da vida selvagem dos fenícios até a vida civilizada de nossos dias há uma longa caminhada. Contudo, temos para com os fenícios uma das nossas maiores dívidas. Levados pelos requisitos do comércio e a necessidade de uma linguagem comum para suas relações, largaram de mão a complicada linguagem pictórica dos egípcios e as manejáveis garatujas, em forma de cunha, da escrita su-meriana e criaram vinte e dois símbolos fonéticos, base do nosso moderno alfabeto.
E assim os pertinazes negociantes de Tiro são na realidade os antepassados de toda a nossa moderna linguagem e literatura!
As oito maravilhas do mundo antigo
SUPÕE-SE geralmente que são sete as maravilhas do mundo antigo, mas na verdade são pelo menos oito, oito milagres da arte que encantaram as maiores inteligências da antiguidade.
Podeis chamar de maravilhosa uma estátua que assobia? Pois bem, uma das colossais estátuas de Ame-nófis III, perto de Tebas, não assobiava propriamente, mas, peia manhã um curioso gemido se ouvia, que fazia gelar o sangue dos que outrora por ali passavam.
O homem supersticioso acreditava que era a voz de Memnon, filho da Aurora, chamando por sua mãe e lamentando os pecados dos homens, de que fora testemunha durante a noite.
O céptico, porém, achava que o tal gemido era produzido pela passagem do ar através das fendas da pedra arenosa vermelha, e devido à mudança de temperatura, ao amanhecer. Septímio Severo, imperador romano, que era mais cínico do que músico, mandou reparar a brecha da pedra. Daquele tempo em diante, Memnon deixou de falar com sua mãe ao amanhecer.
As pirâmides do Egito sobrevivem como a segunda maravilha, tanto do moderno como do antigo mundo, "O tempo marca todas as coisas", reza um velho provérbio árabe, "mas as pirâmides marcam o tempo."
Quanto à terceira maravilha, será algum suntuoso palácio? Não, simplesmente um farol, construído duzentos anos antes de Cristo. Que farol! Erguia-se num estreito recife do porto de Alexandria, a uma milha da praia egípcia. De acordo com antigas lendas, era mais alto que a mais alta das pirâmides, com imensos espelhos que refletiam um fogo mantido sempre vivo a noite inteira, lá no tope. O reflexo daqueles espelhos, relatam os antigos escritores, podia ser visto a uma distância de quarenta milhas.
O babilônio Nabucodonosor tinha em tão alta estima a sua rainha que, por sua causa, criou a quarta maravilha do mundo, os famosos "Jardins Suspensos de Babilônia". Essa obra-prima de arquitetura panorâmica era formada de séries de cinco terraços acima uns dos outros 15 metros, estando o mais alto deles a 76 metros distante do solo. No cume, achava-se o paraíso da rainha, ao qual se chegava por uma esquisita escada de voltas. Os terraços tinham raros e formosos desenhos, com canteiros de flores exóticas e prados cheios de animais domesticados. Essa quarta maravilha do mundo era um gigantesco ramalhete de plantas vivas, erguendo-se de Babilônia como uma oferta aos deuses.
O afamado templo de Diana, em Éfeso, a quinta maravilha do mundo, foi incendiado por Eratóstenes, que julgava poder assim tornar-se famoso. Alexandre, o Grande, ofereceu-se para restaurá-lo. Mas os rígidos efésios rejeitaram seu dinheiro e reconstruíram o templo com seus próprios recursos, até que êle superou sua primitiva glória. O altar principal foi decorado pelo escultor grego Praxíteles. O templo contava 18 metros de altura, 120 de extensão e 66 de largo, e era todo construído de ouro e mármore branco. Esse suntuoso milagre de arquitetura foi despojado pelo imperador romano, Nero. Os godos acabaram a obra de destruição, no quinto século de nossa era.
A sexta maravilha do mundo antigo era a estátua de Júpiter, por Fídias. Essa soberba escultura de marfim e ouro, com 18 metros de altura, "nunca foi e provavelmente nunca será igualada nos anais da arte."
A sétima maravilha do mundo nasceu do pranto de uma mulher. Quando Mausolo, rei da Caria, morreu, sua viúva, enlutada, construiu para êle um túmulo de tão rara magnificência que o termo mausoléu é até hoje usado para designar um monumento sepulcral. Logo depois de haver dedicado esse maravilhoso monumento a seu marido, ela mesma morreu do coração, dizem os antigos historiadores.
Nos tempos antigos corria uma história popular de um colosso vivo, escarranchado no porto de Rodes. Mas esse Colosso, que se supunha de pernas abertas sobre as ondas, era apenas uma imensa estátua de bronze de Apolo, o deus da Luz. Erguia-se tão alto quase como a atual Estátua da Liberdade, Colosso de Luz e Colosso de Liberdade, dois justos emblemas da antiga e da moderna civilização.
A estátua de Apolo foi derrubada por um terremoto e seus restos vendidos como caliça, pelos negociantes de camelos do Oriente. Tal foi o derradeiro destino da oitava maravilha do mundo.
Fonte. Globo, 1960. Trad. e Adap. de OSCAR MENDES.
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