Catimbau – conto com onça pintada

catimbau

"CATIMBAU"

Havia nas proximidades da fazenda "Guatambu", magnífica propriedade rural do velho Joaquim da Rocha, uma onça pintada que fazia grande estrago em seu gado e no de sua vizinhança.

Em cada lua nova, ela se banqueteava com os melhores potros, as mais bonitas novilhas, os mais gordos cevados que se aventuravam a um passeio pelos lados de seus domínios — a Mata Redonda e capões adjacentes.

E, se a criação por aquelas bandas não aparecia, a temível carniceira tinha a delicadeza de vir buscá-la dentro dos currais ou dos chiqueiros.

Os melhores caçadores de onça das redondezas já lhe haviam dado uma corrida, tendo por único resultado a perda dos bons, dos primeiros cães onceiros da matilha e dos gastos infrutíferos de algumas gramas de pólvora, chumbo e balas.

Ouvindo a pintada urrar em certa lua-nova de setembro, Joaquim da Rocha, deitado, ali pelas dez horas da noite, teve a luminosa idéia de preparar um fojo, para apanhar o prejudicai felino.

No dia imediato, logo cedo, chamou a todos os empregados da fazenda e ordenou-lhes que abrissem junto ao chiqueiro dos cevados, — a larga de engorda — um grande fosso ou fojo, de cinco a seis metros de diâmetro, por outros tantos de profundidade.

Feita a cova, cobriram-na com varetas de taquaril e mais uma ligeira camada de terra por cima.

Nessa noite, lá pelas 24 horas, a invencível pintada saltou dentro da larga e sangrou um dos mais bonitos exemplares da porcada tatu, castrada há três meses e que estava chegando ao ponto de faca.

Na entrada, que foi feita pelo lado do paiol, a empresa não correu de todo mal; mas na saída, que devia ser feita pelo lado da mata, a situação se complicou para a caçadora que arrastando o cevado, rolou com êle dentro do fojo.

Ali ficou presa, esturrando que fazia gosto.

Joaquim da Rocha teve um alegrão naquele dia.

Fez correr a notícia por toda a vizinhança: a Catim-bau estava engaiolada, ou melhor, emburacada.

Os vizinhos correram pressurosos à fazenda, para ver o flagelo aprisionado.

Cada um levava sua "vasia de fazê difunto", sua espingarda de caça, para ter o gosto de alvejar o Catimbau, nome pelo qual se tornou conhecida, desde que matara o príncipe dos cachorros o Catimbau, de propriedade Manoel Minigildo, que não o vendia nem por um conto de réis.

Ao meio dia estava o fojo rodeado daquela gente que pretendia ajustar contas com a devastadora de suas criações; contemplavam todos, satisfeitos, a traiçoeira carnívora, a caminhar, esturrando, lá no fundo do buraco.

A essa hora também se abeirou do fojo o dono da fazenda, trazendo todo o sortimento de laços que possuía.

Quando se esperava que êle desse ordem de "picar fogo" na carniceira, o fazendeiro saiu-se com esta: "Vamos laçar a onça".

Tiveram de laçá-la, o que não foi muito fácil, porque o bicho dava saltos extraordinários; mas como aquela gente era habituada ao manejo da "corda comprida", após algum trabalho conseguiram arrancá-la do fojo, presa pelo pescoço, pelas pernas e, afinal, pelo corpo todo.

Feito isto, Joaquim da Rocha atou ao pescoço da Catimbau uma coleira de sola, intermeada por sólida corrente de ferro, de que pendia enorme sincerro-polaco, cujo badalar se ouvia a dois quilômetros.

Levaram-na depois, conduzida por quatro homens, até as imediações da Mata Redonda, onde a soltaram com as precauções devidas.

* * *

Dois meses mais tarde foi encontrado o cadáver da onça, estendido na cabeceira do córrego Rampa; couro e osso, como dizia aquele povo, tão magro, que nem os corvos encontraram nele a menor parcela de carne para a mais despretenciosa merenda.

Assim acabou a vida da desditosa Catimbau que o espírito inventivo de Joaquim da Rocha obrigou ao mais severo jejum por espaço de dois meses, ligando ao seu pescoço infernal sincerro-polaco, que a impedia de aproximar-se até de um jaboti.

Pedro Gomes: O Pito Aceso. DEIP de Goiás, 1942.

 

 

Fonte: Estórias e Lendas de Goiás e Mato Grosso. Seleção de Regina Lacerda. Desenhos de J. Lanzelotti. Ed. Literat. 1962

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