DOS ANIMAES, ARVORES, ERVAS, QUE VIERAM DE PORTUGAL E SE DÃO NO BRASIL – Tratados da Terra e Gente do Brasil – Fernão Cardim

Fernão Cardim (1540? – 1625) – Tratados da Terra e Gente do Brasil

XXV

DOS
ANIMAES, ARVORES, ERVAS, QUE VIERAM DE PORTUGAL E SE DÃO NO BRASIL

Este Brasil he já outro Portugal, e não fallando no clima que he muito mais temperado, e sadio,
sem calmas grandes, nem frios, e donde os homens vivem muito com poucas doenças, como de eólica, figado,
cabeça, peitos, sarna, nem outras enfer­midades
de Portugal; nem fallando do mar que tem muito pescado, e sadio; nem das cousas
da terra que Deus cá deu a esta nação; nem das outras commodidades muitas que os homens têm para viverem, e passarem a vida, ainda que as commodidades
das casas não são
muitas por serem as mais dellas de taipa, e palha, ainda que já se vão fazendo edifícios de pedra e cal, e telha; nem as commodidades para o
vestido não são
muitas, por a terra não dar outro panno mais que de algodão. E nesta parte pa­decem muito .os da terra, principalmente
do Rio de Janeiro até São
Vicente, por fal­ta de navios que tragão
mercadorias e pannos; porem as mais capitanias são
servidas de todo gênero de pannos e sedas, e andão os homens bem vestidos, e-rasgão muitas sedas e veludos. Porem está já Portugal, como dizia, pelas muitas
commodidades que de lá lhe vêm.

Cavallos — Nesta província se dá bem a criação dos cavalloseha já
muita abun­dância, deiies, e formosos ginetes de
grande preço que valem duzentos e trezentos
cruzados e mais, e já ha correr de patos, de argolinhas,
canas, e outros torneos, e es­caramuças,
e daqui começão prover Angola de cavallos, de que lá tem.

Vaccas Ainda que
esta terra tem os pastos fracos; e em Porto-Seguro ha uma erva que mata as
vaccas em a comendo, todavia ha já
grande quantidade dellas e to­do o Brasil está
cheio de grandes curraes, e ha homem que tem quinhentas ou mil cabeças; e principalmente nos campos de Piratininga, por ter bons
pastos, e que se parecem com os de Portugal, he huma formosura  ver a grande
criação que ha.

Porcos Os porcos se
dão cá
bem, e começa de haver grande abundância; he cá a melhor carne
de todas, ainda que de gallinha, e se dá os
doentes, e he muito bom gosto.

Ovelhas — Até o Rio de Janeiro se achão já muitas ovelhas, e carneiros,
eengor-dão tanto que muitos arrebentão de gordos, nem he cá tão boa carne como em Por­tugal.

Cabras — As cabras ainda
são poucas, porém dão-se bem na terra, e vão multi­plicando muito, e cedo haverá grande multidão.

Gallinhas As gallinhas
são infinitas, e maiores que no Reino,
e pela terra ser temperada se crião
bem, e os índios as estimão, e as crião por dentro do
sertão tre­zentas e quatrocentas léguas; não he cá
a carne dellas tão gostosa como no Reino.

Perus As galinhas de Peru se dão bem nesta terra, e ha grande abundância, e não ha convite
onde não entrem.

Adens As ganças
se dão bem, e ha grande abundância; também ha outro gê­nero dellas cá mesmo desta
terra: são muito maiores, e formosas.

Cães — Os cães têm
multiplicado muito nesta terra, e ha-os de muitas castas; são cá estimados assi entre os Portuguezes
que os trouxerão, como entre os índios que os estimão
mais que quantas cousas têm pelos ajudarem na caça, e serem ani-maes domésticos,
e assi os trazem as mulheres às costas de huma
parte para outra, e os crião como filhos, e lhes dão de mamar ao peito.

Arvores — As arvores de
espinhos, como laranjeiras, cidreiras, limoeiros, limei­ras de varias sortes,
se dão também
nesta terra que quasi todo o anno tem fructo, e ha grandes laranjeiras,
cidraes, até se darem pelos matos, e he tanta a
abundância destas cousas que dellas se não faz caso. Têm grandes
contrarias nas formigas, e com tudo isto ha muita abundância sem nunca serem regadas, e como não falta açúcar se fazem
infinitas conservas, se. cidrada, limões,
florada, &.

Figueiras As figueiras
se dão cá
bem, e ha muitas caretas, como beboras, figos negraes, berjaçotes e outras muitas castas: e até o Rio de Janeiro que são
terras mais sobre quente dão duas camadas no anno.

Marmelíeiros — No Rio de Janeiro, e São
Vicente, e no campo de Piratininga se dão
muitos marmellos, e dão quatro camadas huma após outra, e ha homem que em poucos marmelíeiros colhe dez, e doze mil marmellos, e aqui se fazem
muitas marmelladas, e cedo se escusarão as
da Ilha da Madeira.

Parreiras Ha muitas
castas d’uvas como ferraes, boaes, bastarda, verdelho, galego e, outras muitas,
até o Rio de Janeiro tem todo o anno
uvas se as querem ter, porque se aspodão
cada mez, cada mez vão dando uvas suecessivas. No Rio de
Janeiro, e maximé em Piratininga se dão vinhas, e carregão de
maneira que se vem ao chão com ellas, não dão mais que huma novidade, já começão de fazer vinhos, ainda que têm trabalho em o conservar, porque em madeira fura-lha a
broca logo, e talhas de barro,, não
nas têm; porem buscão seus remédios, e vão continuando, e cedo haverá muitos vinhos.

Ervas No Rio de Janeiro, e Piratininga ha
muitas roseiras, somente de Alexandria, destillão muitas águas, e fazem muito açúcar
rosado para purgas, e para não purgar, porque não têm das outras rosas; cozem as de Alexandria n’agua, e
botando-Iha fora fazem açúcar rosado muito bom com que não purgão.

Legumes — Melões não faltam em muitas capitanias, e são bons e finos; mui­tas abóboras
que fazem também conserva, muitas alfaces, de que
também a fazem couves, pepinos, rabãos, nabos, mostarda, ortela, coentros, endros, funchos,
ervilhas, gerselim, cebollas, alhos, borragens, e outros legumes que do Reino
se trouxerão, que se dão bem na terra.

Trigo No Rio de Janeiro e Campo de
Piratininga se dá bem trigo, não no usão por não
terem atafonas nem moinhos, e também têm trabalho em o colher, porque pelas muitas águas, e viço da terra não vem todo junto, e multiplica tanto que hum grão deita setenta, e oitenta espigas, e humas maduras^ão nascendo outras e multiplica quasi in-finitum. De menos de
huma quarta de cevada que hum homem semeou no Campo de Piratininga, colheu
sessenta e tantos alqueires, e se os homens se dessem a esta grangeria, seria a
terra muito rica e farta.

Ervas cheirosas Ha muitos
magiricões, cravos amarellos, e vermelhos se
dão bem em Piratininga, e outras ervas
cheirosas, como cebollacecê, &.

Sobretudo tem este Brasil huma grande commodidade para os homens vive­rem
que não se dão
nella persobejos, nem piolhos, e pulgas ha poucas, porem, entre os índios, e negros da Guiné achão piolhos; porém, não faltao baratas, traças,
véspe­ras, moscas, e mosquitos de
tantas castas, e tão cruéis,
e peçonhentos, que morden­do em huma
pessoa fica a mão inchada por três ou quatro dias maximé aos
Reinóes, que trazem o sangue fresco, e
mimoso do pão e vinho, e mantimentos de Portugal.

 

 

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