Ilíada de Homero – Canto IX

Ílíada de Homero
Resumo e apresentação da Ilíada
Prefácio a Ilíada de Homero
Canto I
Canto II
Canto III
Canto IV
Canto V
Canto VI
Canto VII
Canto VIII
Canto IX
Canto X
Canto XI
Canto XII
Canto III
Canto XIV
Canto XV
Canto XVI
Canto XVII
Canto XVIII
Canto XIX
Canto XX
Canto XXI
Canto XXII
Canto XXIII
Canto XIV
Canto XV
Canto XVI
Canto XVII
Canto XVIII
Canto XIX
Canto XX
Canto XXI
Canto XXII
Canto XXIII
Canto XXIV

Ilíada de Homero – Canto IX – Versão de Odorico Mendes


ARGUMENTO DO LIVRO
IX

Desânimo dos Gregos.
— Discurso de Diomedes. — Conselhos de

Nestor. — Setecentos
guerreiros vão postar-se entre a muralha e o

fosso para velar
na salvação do exército. — Agamémnon oferece uma

refeição aos principais
chefes. — Nestor toma a palavra e propõe

abrandar a ira de
Aquiles por meio de dádivas. — Agamémnon fica

de acordo. — Enumeração
das riquezas que lhe são oferecidas. —

Nestor aprova esta
deliberação e designa os chefes que devem ir à

tenda de Aquiles.
— Partida dos emissários. — Aquiles, vendo-os,

recebe-os com agrado.
— Discurso de Ulisses, em que expõe o objecto

de sua missão e convida
a Aquiles para ir em socorro dos Gregos.

— Recriminação de
Aquiles. — Discurso de Ajax, filho de Telamon. —

Afinal Aquiles declara
que não combaterá contra Heitor e despede os

enviados. — Volta
dos emissários à tenda de Agamémnon. — O filho

de Atreu interroga
a Ulisses. — Ulisses refere a resposta de Aquiles.

— Fala de Diomedes.
— Os guerreiros fazem libações aos deuses.

 

Ronda-se a praça.
Os Dânaos sobre-humano

Abalo invade, irmão
de frio medo;

Agro luto os fortíssimos
domina.

Qual da Trácia a
roncar Zéfiro e Bóreas,

Incha o piscoso ponto,
e escarcéu turvo

Em monte arqueia
e de alga inunda as praias;

Tal borrasca aos
Aqueus revolve o seio.

 

Chegado n’alma o
Atrida, arautos manda

Convocar em segredo
a flor dos sócios,

E ele alguns sem
estrépito procura.

Mal abanca o tristonho
ajuntamento,

Ergue-se, e como
de árdua penha brota

Negro olho d’água,
em fio lagrimando,

Fundo suspira: "Príncipes
e amigos,

Enredou-me o Satúrnio
em lance infesto!

Para a Grécia anuiu
que eu só voltasse

Depois de Ílío assolada,
e quer arteiro

Que, perdido o meu
povo, inglório volte?

Pois vença o prepotente,
que há prostrado

Muitas, e muitas
prostrará cidades:

Ele extirpar nos
veda a excelsa Tróia;

Naveguemos à pátria,
eia, fujamos."

 

Silêncio em todos
concentrou-se mudo,

Que Diomedes quebranta
belicoso:

"A tal delírio
oponho-me, Agamémnon.

É jus deste conselho,
e não te agraves.

Perante jovens e
anciãos, primeiro

Tu de ignavo e cobarde
me arguiste:

O ceptro e mando
sumo deu-te o filho

Do cálido Saturno,
mas negou-te

O maior dos poderes,
a coragem.

Louco? e esperas
dos Graios a fraqueza

De que os apodas?
Se fugir cobiças,

Foge; tens franco
o mar, tens perto os vasos

Que alterosos da
Argólida esquipaste.

Para exício de Tróia
os mais cá ficam,

E caso os Dânaos
contamine o exemplo,

Sós Diomedes e Esténelo
bastamos

A destruí-la: um
nume nos protege."

 

O entusiasmo estronda,
e Nestor surge:

"És, Tidides,
sem-par no márcio jogo,

E entre os equevos
óptimo discorres:

Aqueu não há que
impugne e te conteste,

Mas nem tudo previste.
Bem puderas

Ser meu filho menor,
e a reis cornados

Falastes sério. Destas
cãs blasono,

E opinarei do mais:
nenhum rejeite,

Nem o máximo Atrida,
meu conselho;

Só deseja a intestina
horrenda guerra

Homem sem lar, sem
tecto, sem família.

Mas ao repasto obriga
a opaca sombra;

Fora, esperta vigia
e sentinelas:

Isto encomendo aos
jovens, que ordená-lo

Toca-te, ó rei dos
reis. É bom convides

Os mais provectos:
vinhos te sobejam,

Que a Trácia em gregas
naus contino exporta;

O necessário tens,
em cópia servos.

Então se delibere,
e o melhor colhas:

Pouca é toda a prudência,
que as fogueiras

Dos inimigos junto
às naus flamejam.

Ah ! quem se alegrará,
quando esta noite

Vai ressalvar o exército
ou perdê-lo."

 

Ouvem-no, a guarda
aprestam: sete cabos,

O maioral Nestório
Trasimedes,

Os mavórcios Ascálafo
e Jalmeno,

Afareu, Merion, Deipiro,
o nobre

Licomedos Creóncio,
rege hastatos

Cada qual cem guerreiros;
que, de vela

Por entre o muro
e o fosso iluminados,

Curam da ceia. Aos
próceres o Atrida

Abre a tenda e os
regala; os convidados

Apegam-se às gostosas
iguarias.

 

Cheio o apetite,
enceta o que antes sábio

Tanto agradara, e
seu discurso trama:

"Dos varões
glorioso augusto chefe,

Por ti começo e acabo
em ti: que Jove

Dos povos concedeu-te
a monarquia:

Cabe-te expor aos
príncipes teu voto,

E o deles atender,
se um mais discreto

Se te inspirasse.
Escuta-me e decide.

Não pode haver mais
salutar aviso

Que este que em mim
pondero, não só de hoje,

Mas desque, ó divo
garfo, em sanha Aquiles,

Da tenda arrebataste-lhe
Briseída,

Contra o nosso querer
e os meus esforços:

Tu seu prêmio reténs;
com dons e obséquios

De amaciá-lo o meio
excogitemos."

 

"Sim, prudente
ancião, responde o Atrida,

Errei, confesso:
o herói de Jove amado

Batalhões eqüivale,
e em honra sua

Jove doma os Aqueus;
mas, em desconto,

Meus presentes magníficos
o amolguem

E enumerá-los vou:
trípodes sete

Puras da chama, de
ouro dez talentos,

Caldeirões vinte
esplêndidos, com doze

Unguíssonos que ao
páreo vencedores,

Me hão tais prêmios
ganhado, que seu dono

Do precioso metal
não terá míngua.

Sete acrescentarei
prendadas moças,

Que ele apresou na
populosa Lesbos

E entre as escravas
elegi mais guapas.

Irá Briseida mesma;
e nunca, eu juro,

Fui com ela varão,
toquei seu leito.

Isto já já; mas,
quando apraza aos deuses

Demolir as Priâmeas
fortalezas,

O espólio ao dividirmos,
de ouro e bronze

As naus cumule, e
Teucras vinte escolha

As mais belas depois
de Argiva Helena.

Se Argos Acaica ubérrima
atingirmos,

Seja meu genro, e
igual ao próprio Orestes,

Que, único herdeiro,
na abundância medra.

Hei filhas três no
vasto meu palácio,

Crisotémis, Laódice
e Ifianassa:

A de seu gosto, sem
que a dote, leve

À casa de Peleu;
cá me encarrego

De a dotar, como
nunca o foi donzela:

Célebres lhe darei
cidades sete,

Cardâmile, Enope,
Hira verdejante,

Risonha Epeia, pascigosa
Anteia,

Pédaso uvífera, a
sagrada Feres;

Todas não longe da
arenosa Pilos

E à beira-mar, em
gado e armento opimas,

Têm gentes que o
honorem como a nume,

E amplos tributos
a seu ceptro paguem.

Isto lhe oferto,
se remite as iras:

Ceda exorável, que
Plutão por duro

O deus é que os humanos
mais odeiam;

Ceda, que sou do
que ele mais potente;

Ceda, que sou do
que ele mais idoso."

 

Inda o Gerénio: "Soberano
egrégio,

Dons não despiciendos
lhe destinas.

Legados, sus, ao
pavilhão de Aquiles;

Aqui mesmo os nomeio,
e não recusem:

Fénix guie, de Júpiter
privado,

O magno Ajax, o sapiente
Ulisses,

E arautos Hódio e
Euríbates com eles.

Águas às mãos, freio
às línguas, deprequemos;

De nós se comisere
o deus supremo."

 

O aviltre aceitam:
linfa arautos vertem,

E de urnas coroadas
vertem servos

Dos auspicantes pelos
copos vinho.

Fartos de libações,
iam saindo;

Nestor a cada um
lançando os olhos

E ao Laértides mais,
no empenho os firma

De abrandar o magnânimo
Pelides.

Pelas do mar fluctissonantes
praias

Ao padre Enosigeu
vão suplicando

Que as entranhas
do Eácida comova.

 

Já no arraial dos
Mirmidões o encontram

A recrear-se na artefacta
lira,

Que travessa une
argêntea, insigne presa

Dos raros muros d’Etion:
façanhas

De valentes cantava,
e só Patroclo

Tácito à espera está
que finde o canto.

Chegam-se, à testa
Ulisses; e o Peleio

Em pé, na sestra
a lira, estupefacto,

Com seu fido consócio,
as dextras cerra:

"Que urge? a
que vindes? Bem que irado, amigos,

Exulto ao ver os
Dânaos que mais prezo."

 

À tenda eis se encaminha;
sobre escanos

De purpúreo tapete
os acomoda,

E ao seu dilecto:
"Na maior cratera

Tu mescles do mais
puro e aprontes copos;

Caríssimos varões
meu tecto acolhe."

 

O camarada obedeceu
contente.

Ele, ante o lar,
em cúpreo largo disco

Dorso depôs de ovelha
e gorda cabra

E de um cevado os
suculentos lombos:

Automedon segura,
o herói perito

Em pessoa esposteja,
enrosca e espeta;

O Menécio deiforme
atiça o fogo:

Lânguida a flama,
ao rúbido brasido

Sobre as lareiras
os espetos vira,

De sal tempera-os
sacro; todo o assado

Põe da cozinha à
mesa, e o pão ministra

Em lindos canistréis.
Do ítaco em face

Toma a parede e as
carnes trincha Aquiles;

O sacrifício incumbe
ao companheiro,

Que ao fogo atira
as divinais primícias.

Deitam mãos dos manjares
os convivas.

 

Já satisfeitos, cabeceia
a Fénix

Ajax; Ulisses que
o sinal percebe,

Rasa o copo e alça
o brinde: "Aquiles salve!

Ou do Atrida na tenda,
ou nesta agora,

Semelhantes festins
nos não falecem,

Onde pratos gratíssimos
abundam

Mas os dissaboreia
o extremo risco

Da instruta armada,
se ó de Jove aluno,

Da tua intrepidez
te não revestes.

Já da trincheira
à vista acampam feros

Os Teucros e os longínquos
aliados,

Que, acesas mil fogueiras,
se gloriam

De entrar sem resistência
em nossos vasos.

O Satúrnio propício
lhes troveja:

Nele estribado e
em si, terrível senho

Rola Heitor, e sanhudo
não faz caso

De homens nem de
outros numes; freme e invoca

O lento albor; às
naus jura os aplustres

Mesmo romper, despedaçar no incêndio

Em cinza e fumo atônitos
Aquivos.

‘Premo que se efectue
essa ameaça;

Que, longe das fecundas
pátrias veigas,

O Céu nos fade a
perecer em Tróia.

Sus, bem que tarde,
acode a aflita Grécia;

Dor sentirás depois
se a desamparas,

Pois o mal consumado
é sem remédio:

Salva a tempo os
Aqueus da fatal hora.

Peleu de Ftia, amigo
ao despedir-te,

Para Agamémnon: —
Filho meu, bradou-te,

Minerva e Juno, se
o quiserem, força

Dêem-te e valor;
sopeia tu no peito

O orgulho e humano
sê, de rixas foge,

Por que moços e velhos
te honrem sempre. —

De tal pai tais conselhos
esqueceste:

Lembrem-te, enfreia
as iras; se o fizeres

Provarás as larguezas
de Agamémnon.

Ouve os dons que,
em presença da Assembléia,

O rei te destinou:
trípodes sete

Puras da chama, de
ouro dez talentos,

Caldeirões vinte
esplêndidos, com doze

Unguíssonos que,
ao páreo vencedores,

Lhe hão tais prêmios
ganhado, que seu dono

Do precioso metal
não terá míngua.

Sete acrescentará
prendadas moças

Que em Lèsbos apresaste
populosa,

E entre as escravas
elegeu mais guapas.

Virá Briseida mesma;
e, jura, nunca

Foi com ela varão,
tocou seu leito.

Isto já já; mas,
quando apraza aos deuses,

Demolir as Priâmeas
fortalezas

O espólio ao dividirmos,
de ouro e bronze

As naus cumules,
Teucras vinte escolhas

 

As mais belas depois
de Argiva Helena.

Se Argos Acaica ubérrima
atingirmos,

Serás seu genro e
igual ao próprio Orestes,

Que, único herdeiro,
na abundância medra.

Há filhas três no
vasto seu palácio,

Crisotémis, Laódíce
e Ifianassa:

A do teu gosto, sem
que a dotes, leves

À casa de Peleu;
fica-lhe o encargo

De a dotar, como
nunca o foi donzela:

Célebres haverás
cidades sete,

Cardâmile, Enope,
Hira verdejante,

Risonha Epeia, pascigosa
Anteia,

Pédaso uvífera, e
sagrada Feres;

Todas não longe da
arenosa Pilos

E à beira-mar, em
gado e armento opimas,

Têm gentes que te
honorem como a nume,

E amplos tributos
a teu ceptro paguem.

Tanto promete, as
iras se te aplaquem.

Mas, se aborreces
com seus dons o Atrida,

Os consternados arraiais
te movam,

Que hão-de às estrelas
elevar teu nome.

Anda, imola esse
Heitor, que ousa afrontar-te,

Raiva e alardeia
que nenhum o iguala

De quantos Gregos
nossas naus trouxeram."

 

E o fogoso Pelidcs:
"Sem rebuço,

Dial sangue e astutíssimo
Laércio,

Declaro-te o que
sinto, em que hei sentado;

Nem mais teimem comigo,
nem me azoinem.

Qual do Orco as portas,
abomino aquele

Que de boca desmente
o oculto n’alrna.

Descubro a minha:
o Atrida não me dobra,

Nem outro Grego,
a tanto esforço ingratos

O acre ou forte em
conflito, o imbele ou frouxo

Quinhão parelho têm
e as mesmas honras;

Têm o enérgico e
o mole igual sepulcro.

Que tirei de cruéis
padecimentos,

De infindos prélios,
de hórridos perigos?

Ave sou, que afamada
olvida as penas,

Pesquisando o cibato
a implumecs filhos.

Noites insones, sanguinários
dias

                  
Curti sem conto a contrastar guerreiros

Pelas mulheres vossas.
Praças doze

Eu devastei por mar,
onze por terra

Nessas veigas Troianas.
Vim de alfaias

E espólios carregado,
e à vista os punha

De Agamemnon; que
a bordo os ferrolhava,

E poucos repartia
a reis e a cabos.

Estes os têm consigo:
eu só dos Gregos,

Fui da querida minha
defraudado. . .

Pois que durma e deleite-se
com ela.

Por que esta guerra?
O exército Agamemnon

Por causa não chamou
da pulcra Helena?

Atridas sós entre
os falantes amam?

Ama a consorte sua
o recto e probo;

Eu muito amava aquela,
embora serva.

Arrancou-ma falaz:
pois basta, cesse

De me tentar em vão. Contigo e os outros

Busque, Ulisses, as
naus livrar do incêndio.

Sem mim já fez milagres,
celsas torres,

Profundo e largo fosso
e paliçadas:

Nem pode assim de
Heitor suster o choque!

Do fero Heitor, que
nunca, eu posto em camp

Quis longe pelejar
das portas Ceias,

Nem da faia passar!
Um dia apenas

Meu ímpeto arrostou;
salvou-se a custo.

O herói não mais profligo;
e na alvorada,

Assim que imole à
corte e ao rei celeste,

Meus baixeis bem providos
se o desejas,

Verás em nado, e ao
som da ardente voga

O piscoso Helesponto
irem sulcando.

Com favor de Neptuno,
à luz terceira

Seremos nas de Ftia
amigas varzens.

Riquezas lá deixei,
partida infausta!

Bronze e ouro, do
sorteio, airosas moças,

Ferro pulido ajunto-lhes;
que o dado

O magnânimo Atrida
retomou-me.

Repete-lhe isto às
claras ante os Gregos,

Por que todos se indignem, se impudente

Conta iludir algum. Protervo e ousado,

O descoco não teve de encarar-me.

N e m mais consulto, nem com ele t
r a t o :

Enganou-me, ofendeu-me; é de sobejo.

De mim descanse; ao precipício corra,

Que o privou da razão previsto Jove.

Como a escravo o desprezo e os dons
lhe odeio:

N e m que o décuplo e em dobro me
ofertasse

Do que amontoa e cobiçoso espera,

Quanto Orcomeno importa, quanto a
Egípcia

Hecatômpila Tebas entesoura,

Que, duzentos campeões de cada porta

Vazando, carros vinte mil despede;

N e m que prometa os mares e as areias,

Me há-de acalmar, sem que me pague
o insulto

Gota por gota. A filha, não lha quero,

Vénus fosse em beleza, em lavor P a l a s :

Aspire a genro de mais polpa e vulto.

A preservar-me o Céu, de H é l a d
e e Ftia

Peleu me escolha algumas dentre as
virgens

De príncipes colunas dos Estados,

E a que eu prefira me será consorte:

O coração me pede grata esposa,

Que se afeiçoe aos prédios meus paternos.

São à vida inferiores os tesouros

Que, antes do cerco, a populosa Tróia

Em si continha, e as do vibrante Febo

Da sáxea Pito do marmóreo templo:

Reconquistar podemos bois e ovelhas,

Trípodes e frisões de ruiva crina:

M a s do encerro dos dentes a alma
nossa

Fora uma vez, não se recobra nunca.

A mãe deia argentípede o meu duplo

F a d o abriu: se debelo a grã cidade,

N ã o regresso, mas compro glória
eterna;

Se torno ao doce ninho, murcha a glória,

   Terei velhice longa
e fim tardio.

Os mais que voguem:
não vereis o termo

De Ílio escarpada;
o mesmo Altitonante

A mão lhe estende
e exalta-lhe a coragem.

Ide anunciar aos próceres,
Aqui vos,

É dever de legados,
que outro plano

Tracem de proteger
as naus e as t r o p a s :

Este falhou, persisto
incontrastável.

Pernoite Fénix, e
amanhã me siga,

P o r gosto e não
forçado, aos pátrios lares."

 

T a l dureza os contrista,
e calam todos;

M a s geme e chora
o venerando Fénix,

De mágoa e susto pela
frota A r g i v a :

"Se furente ir
cogitas, sem livrares

De ígnea peste os
baixeis, como aqui, filho,

Me abandonas? Contigo,
estranho jovem

À guerra e discussões
que heróis afamam,

Longevo o bom Peleu
para Agamémnon

De Ftia me expediu,
que na loquela

Te amestrasse e no
o b r a r : de ti repugno

Desunir-me, ó querido,
nem que um nume

Conceba remoçar-me
e enverdecer-me,

Qual saí de H é l
a d e em beldades fértil,

Do Ormenida Amintor
pai meu fugindo.

P o r fiava pelice
este a esposa ultraja;

P a r a ter a comborça
em asco o velho,

A mãe súplice instou-me
a conhecê-la,

E fi-lo assim; mas
Amintor o aventa,

Ruge e impreca às
Euménides que nunca

Um nado meu nos joelhos
se lhe pouse:

Maldição tal os Céus,
o inferno, Jove,

A tremenda Prosérpina,
escutaram.

E n t ã o (quanto
o furor nos cega e a r r a s t a ! ‘

Pérfido eu quis. .
. O braço um deus reteve,

E me salvou de horrendo
parricídio.

P a r a ficar no antigo
irado alvergue

Faltou-me coração.
Parentes obstam

E amigos a rogar;
degolam pretos

Bífidos bois e ovelhas
vicejantes,

Ao fogo pelam saginados
porcos,

Os carlgirões paternos
se esvaziam.

Dormindo ao pé de
mim com luz constante,

Por turno, um vela
ao pórtico do pátio,

Outro ao vestíbulo
ante a minha alcova.

Décima noite negrejando,
alerta

Forço e desfecho
a porta, o claustro pulo,

Sem que o percebam
guardas, nem mulheres.

Corro a Hélade; em
Ftia pecorosa

Tratou-me o rei bem
como único herdeiro

Que em vastas possessões
tardio houvesse;

Nos confins de Ftiótide,
opulentas

Lavras doou-me; os
Dólopes governo.

Eu te criei com mimo
e igual aos Deuses;

Nem com outro ir
querias a banquetes,

Ou em casa comer,
sem que a meu colo

Te saciasse partindo
as iguarias,

Regrando o vinho,
que em vestido e seio

Me arremessavas,
caprichoso infante.

Por ti que sofrimentos,
que fadigas 1

Eu sem prole em ti
via, ó alma grande,

Filho que me valesse
em dúbio transe.

 

"Doma-te, essa
aspereza mal te assenta:

Rendem-se os deuses
de maior virtude,

Glória e poder; acalma-os
o culpado

Com libações e votos
e holocaustos.

Gérmen do Eterno,
as enrugadas Preces,

Coxas, vesgas, pós
até se apressuram;

Até incansável, de
robustas plantas,

Remexe a terra e
a vexa; atrás, as Preces

A quem quer que as
invoca o mal temperam:

Ai do que as repelir!
subindo ao padre

Exoram que até mesmo
o fira e puna.

Curva-te, Aquiles,
do Satúrnio às filhas,

Como os demais heróis
também se curvam.

Se, obstinado, o
Atrida nem presentes

Fizesse ou dons futuros,
que amainasses

Não te pedira, posto
que de auxílio

Precisamos os Gregos;
mas dá muito,

Muito promete, envia
a suplicar-te

Os do exército eleitos
que mais amas;

Nossos passos respeita
e nosso empenho.

A pertinácia tua
era excusável;

Mas de priscos varões
nos conta a fama

Que, se os picava
a cólera, exoráveis,

A brindes e razões
eram sensíveis.

 

"Ora, amigos,
me ocorre um velho exemplo.

Na amena Calidona,
encarniçados

Batiam-se os Curetes
e os Etólios,

Estes por defender,
ardendo aqueles

Com fúria marcial
por devastá-la.

Da auritrónia Diana
foi castigo,

Porque Eneu, por
olvido ou negligência

Lhe falhou com primícias
de agros férteis,

Nem de outros imortais
nas hecatombes

A aquinhoou: dorida
a casta Febe

De alvos colmilhos
despediu javardo,

Que o régio campo
estraga, árvores prostra,

Fruto e raízes confundindo
e flores.

Das vizinhanças,
Meleagro Enides

Chusmas de cães reúne
e caçadores

Para o poder matar;
tamanha fera

Muitos mandou primeiro
à triste pira.

A deusa entre os
Etólios e os Curetes,

Pela cabeça horrenda
e hirsuta pele,

Move guerra e tumulto.
Enquanto o Marte

Enides combatia,
inda que imensos,

O arraial os Curetes
não largavam;

Mas de ira, que incha
o peito aos mesmos sábios,

Contra a mãe sua
Alteia, em ócio esteve

Junto à mulher Cleópatra,
progénie

Da Evemina Marpissa,
cujo esposo

Idas, então neste
orbe o mais valente,

Pela de pé mimoso
casta ninfa

De arco arrojou-se
a Febo: Alcion em casa

A apelidaram, pois
da mãe saudosa,

Que roubado lhe tinha
o altifrecheiro:

Como Alcion gemente
suspirava.

Ele nutria a sanha,
porque Alteia

Rogava aos numes,
e das mãos ferindo

A alma terra e de
lágrimas lavadas,

Posta em joelhos,
imprecava a Dite

E à medonha Prosérpina
que a vinguem

Da morte dos irmãos
no próprio filho:

Do Erebo fundo Erínis
despiedosa,

Pelas trevas errando,
ouviu-lhe as pragas.

Às portas rui o estrondo
e abala as torres:

Disputam-lhe anciãos
e sacerdotes

A implorar que rechace
os inimigos,

Que no melhor da
Calidona escolha

Cinqüenta jeiras
de fecundo prédio,

Metade em vinhas
e metade em lavras.

Monta-lhe ao quarto
o grave Eneu, cerrados

Os batentes sacode
e observa o filho;

Arrependida a madre
e irmãs suplicam,

E companheiros e
íntimos amigos:

Ele tenaz renui,
ate que soube,

No quarto os gritos
a dobrar e os golpes,

Dos muros a escalada
e dentro o fogo.

Aqui chorando o exora
a bela esposa,

Da cativa cidade
os males pinta,

Arquejando os varões,
em cinza as casas,

Presas virgens de
rojo e as mães e os filhos.

Tanto horror o comove;
corre, veste

Brilhantes armas,
os Etólios salva

Por ti, que à vista
pulcros dons não tinha.

Nenhum demônio, amigo,
assim te influa;

É pior socorrer as
naus combustas:

As dádivas recebe
e vem conosco,

Um deus serás aos
Dânaos; se as recusas,

Mas te demoras, menos
honra alcanças,

Bem que essa invicta
mão remova a guerra."

 

Ei-lo então: "Fénix
pai, dos Céus benquisto,

Honras escuso; espero-as
só de Jove,

Que há-de a bordo
reter-me, enquanto alento

Haja o peito e sustentem-se
os joelhos.

No imo isto agora
imprime: não me turbes

Com mesto choro por
amor do Atrida;

Quero-te muito, em
ódio não me sejas;

A ti cabe agravar
a quem me agrave.

Estes que voltem;
reina tu comigo.

Meiado o meu poder,
meiada a glória:

Terás mórbida cama,
e à luz da aurora,

Se ficamos ou não,
consultaremos."

A Patroclo eis acena
estenda o leito,

A fim que os dois
mais cedo se retirem.

 

"Sábio Ulisses,
rebenta Ajax divino,

Laércio nobilíssimo,
a caminho;

Do bárbaro orgulhoso
nada obtemos.

Cumpre ao congresso,
que por nós aguarda,

Levar a atroz resposta,
aos mesmos dada

Que sem igual na frota
o veneramos.

Do irmão, do morto
filho aceita a paga,

Nunca em cidade congraçados
vivem

Ofendido e ofensor.
No âmago alojas,

Pelides sevo, um coração
de bronze,

Por conta de uma escrava,
e te ofertamos

Hoje beldades sete
e mil presentes!

Bane o despeito, reverente
aos lares;

Escolha dos Aquivos,
tens em casa

Amicíssimos teus que
mais estimas."

 

"Bem dizes, torna
Aquiles, generoso

Príncipe Telamónio;
mas a bílis

Se me íntumesce ao
recordar a afronta

Que em público me
fez o audaz Atrida

Como se eu fora ignóbil
vagabundo.

Porém desempenhar
ide a messagem:

A sangiúnosa guerra
não me importa,

Antes que aos Mirmidões
o herói Priâmeo

Com incêndio e matança
o campo ataque;

Da tenda e negra
popa aqui pretendo

Para sempre extinguir-lhe
o márcio fogo."

 

Duplicôncava taça
os dois empunham,

Libam, vão-se, e
o Lacrcio precedia.

Servos e servas,
de Patroclo ao mando,

Alastram cama de
ovelhumes peles,

Fina alva tela e
tinta cobertura;

Té que raie a manhã,
deitou-se Fénix.

Dorme Aquiles no
fundo com Diomeda,

Filha de Forbas de
rosadas faces,

Cativa em Lesbos. Dorme além Patroclo

E Ifis airosa, que
lha trouxe o amigo

Do íngreme Ciros,
de Euieu cidade.

 

Chegando aqueles
ao real, os Dànaos

Recebem-nos em pé
com áureas taças,

E Agamémnon primeiro
os interroga:

"Fala, adorno
da Grécia, ó nobre Ulisses,

Quer das naus afastar
o hostil incêndio,

Ou teimoso na cólera
persiste?"

 

"Na cólera persiste,
e inda mais agora,

O paciente Ulisses
respondeu-lhe;

Teus dons e a ti,
chefe de heróis, desdenha:

Diz que resolvas
tu, com outros Graios,

Como o exército nosso
e a frota escudes.

Vogar ameaça no luzir
da aurora,

E aconselha aos demais
também naveguem

À pátria cara: o
termo não veremos

De llio escarpada:
o mesmo Altitonante

A mão lhe presta
e exalta-lhe a coragem.

Ajax o testemunha
e os dois arautos,

Prudentes ambos.
Lá pernoita Fénix,

E Aquiles, sem forçá-lo,
prescreveu-lhe

Que em remeiros baixeis
com ele parta."

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