Junqueira Freire

LUIS JOSÉ DE JUNQUEIRA FREIRE (Bahia, 1832-1855) professou
na Ordem beneditina em sua terra natal; mas, faltando-lhe vocação para
preencher os deveres da vida monástica, impetrou e obteve Vim breve de
secularização, em 1854, sucumbindo pouco depois aos insultos da enfer-
midade cardíaca que desde a puerícia lhe minava o organismo.

Escreveu: Inspirações do Claustroe Contradições Poéticas. Dos ou-
tros escritos quase nada se pôde obter.

Nas poesias de Junqueira Freire principalmente se nota a pugna
incessante e dolorosa entre os ditames da consciência e as aspirações de
uma alma sequiosa de amor e de glória mundana.

O Hino da Cabocla (636)

Sou Índia, sou virgem, sou linda, sou débil
— É quanto vós outros, ó tapes, (637) dizeis!
Sabei, bravos tapes, que sei com destreza
Cravar minhas setas nos peitos dos reis!

Sabei que não canto somente prazeres,
Sabei que não gemo somente de amores,
Sabei que nem sempre vagueio nos bosques,
Sabei que nem sempre me adorno de flores.

Quem viu-me nas liças, quem viu-me cobarde
Aos silvos da flecha, quem viu-me escoar? (638)
Eu sou como a onça, pequena e valente,
Eu sei os perigos da guerra afrontar!

Enchi meus carcazes de agudas taquaras,
Que iguais na floresta jamais achareis;
E dessas taquaras fatais é que pendem
As vidas infames de todos os reis.

Sou Índia, não nego: meu finos cabelos,
Qual juba ferina, (639) bem longos que são!
Porém esse peito, que férvido pulsa,
É másculo, ó tapes, ou é de um leão!

Meu ânimo, ó tapes, aqui vos conjuro,
Bem cedo meu ânimo ardente vereis;
Que eu já me preparo coas setas melhores
Que saibam cravar-se no peito dos reis;

Eu tenho cingido na fronte, ó guerreiros,
Seis dentes de chefes de imigas coortes:
Na paz os meus dedos desfiam amores,
Na guerra o meus dedos disparam mil mortes.

Sou Índia, sou virgem, sou débil, sou fraca,
— Só isso vós, tapes injustos, dizeis:
Sabei, bravos tapes, que sei com destreza
Cravar minhas setas no peito dos reis.

(Junqueira Freire – Obras Poéticas, tomo II, pp. 195-197).

  • (636) caboclo origina-se — conforme diz Teodoro Sampaio — de caâ,
    mato, e boc, procedente: caaboc, tirado do mato: é, pois, o índio, antes de ampliar o sentido à fusão do indígena com o branco. O povo do interior diz de preferência caboco, sem o -l- adventício.
  • (637) Tapes — indígenas do Sul.
  • (638) A cadência do verso e a tendência de então atuaram repetidamente namá colocação da partícula átona. (639) ferino = de fera; ferino é também o que maltrata rudemente, o que é grosseiro e cruel, o que agride: setas, palavras, críticas ferinas: "…os ultrages mais ferinos…’* (Rui, no Dicion. deLaudelino e Campos). Este último sentido parece ter sofrido a influência do v. ferir, que nada tem com esse adjetivo.

Seleção e Notas de Fausto Barreto e Carlos de Laet. Fonte: Antologia nacional, Livraria Francisco Alves.

 

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